Por Marcelo Barros
É importante
aprofundar a função dos meios de comunicação social na construção de uma
sociedade justa e mais igualitária.
Cada vez mais, a função dos meios de comunicação
social tem sido assunto de discussões e debates. A ONU consagra o 03 de maio
como “dia internacional da liberdade dos
meios de comunicação”. No mundo atual, é difícil falar em liberdade se, no
mundo inteiro, mais 80% dos meios de comunicação pertencem a pouquíssimas
empresas, as mesmas que dominam o mercado de armas e de petróleo. No Ocidente,
quase todas as agências internacionais de notícias tem sede nos Estados Unidos.
Já há algumas décadas, o governo dos Estados Unidos descobriu que vencer um
governo inimigo com a difusão permanente de notícias falsas (fakes news) é mais
eficiente e muito mais barato do que as batalhas com armas contemporâneas. E
para isso os soldados dessa guerra são os meios de comunicação, agências de
notícias, a imprensa, canais de rádio e televisão. Quem quiser se informar mais
como isso tem funcionado no mundo inteiro leia o livro editado no Brasil: Guerras Híbridas, das revoluções coloridas
aos golpes, da autoria de Andrew Korybko, editado no Brasil pela Expressão
Popular. Depois do livro publicado, aqui na América Latina, temos a experiência
triste do que o império norte-americano tem feito na Venezuela. Paga à elite da
sociedade venezuelana e assim os próprios venezuelanos se batem entre si para
destruírem o seu governo. E o império cuida de ajudá-los a cada dia com a
implantação na imprensa internacional de notícias falsas que destroem a
credibilidade e semeiam a confusão no país a ser dominado. Além disso, garantem
que o petróleo, principal fonte de reservas da Venezuela perca preço e assim o
país é como terra sitiada. Ou se rende ou morre. É a teoria da guerra híbrida,
já experimentada em vários países e neste momento em utilização total na
Venezuela.
No Brasil, o 5 de maio foi instituído como Dia Nacional das Comunicações. Poucas
pessoas sabem que nesta data, em 1865, nascia em Mimoso, perto de Cuiabá (MT),
uma grande figura das telecomunicações brasileiras: o Marechal Rondon. O nome
deste grande brasileiro, descendente de índios Terena, Bororo e Guaná, é
lembrado quando se trata de defesa dos povos indígenas e da integração do
território nacional, mas poucas pessoas o ligam às telecomunicações. Em 1955,
quando Cândido Mariano da Silva Rondon completava 90 anos, passou a ser
homenageado como Patrono das Comunicações do Brasil. Talvez sua origem o
impelisse a uma comunicação mais humana com os indígenas. "Morrer, se preciso for. Matar, nunca"
- era o seu lema. Com ele, Rondon ganhou projeção e reconhecimento
internacionais. Este princípio deveria servir para nortear a pauta dos meios de
comunicação em uma sociedade que convive mais com a guerra do que com a paz e
acha mais natural a competição do que a colaboração entre pessoas e povos. Nunca
foi tão necessário lembrar a figura de Rondon e o seu lema do que agora quando,
no Brasil, o constante massacre de líderes indígenas e invasão de suas terras
deixam a impressão de que o governo brasileiro e empresários do agronegócio
abriram a temporada de caça aos povos indígenas.
Em muitos noticiários de televisão e das principais
agências de notícias, há um ataque permanente aos direitos dos mais pobres e a
criminalização dos movimentos sociais. De fato, ficam ignorados e desconhecidos
tantos exemplos de ética no trato da coisa pública e na vida pessoal, assim
como muitas pessoas admiráveis na dedicação aos outros. As conquistas sociais e
morais da sociedade civil são negadas.
No mundo religioso, as Igrejas e grupos espirituais
independentes têm se servido dos meios de comunicação. Em meio a essa
quarentena que impede reuniões coletivas, Igrejas realizam cultos e missas por
internet. E grupos que na prática apoiam a violência e as discriminações
sociais, usam a religião para difundir seus preconceitos e justificar a cultura
do desamor.
Como evangelho é a boa noticia de que, apesar de tudo,
o projeto divino de paz e justiça começam a se realizar neste mundo, muitas
vezes, tem sido fora do universo religioso que jornalistas cumprem a função de
verdadeiros evangelizadores e fazem com que os meios de comunicação cumpram sua
função de fazer deste mundo espaço de comunhão para toda a humanidade e no
cuidado com a Mãe Terra.
MARCELO BARROS é monge
beneditino e escritor. Tem 57 livros publicados. O mais recente
é Teologias da Libertação para os nossos dias (Vozes). Email:
contato@marcelobarros.com
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