FREI ALOÍSIO FRAGOSO
Tiveram todos a mesma sorte dos grandes
profetas bíblicos, desde Isaías até João Batista: foram amados e odiados, aplaudidos e
perseguidos.
Nestes tempos sombrios de pandemia,
causada não só pelo coronavirus, mas também pelos vírus letais de políticas
nefastas, sentimos a sua partida. Que falta vocês nos fazem!
Cremos, no entanto, que eles são imortais,
assim na terra como no céu, sua memória será semente de novas profecias. Por
isso sentimos deles uma saudade diferenciada, não a que fica chorando sua morte
e sim a que se apronta para refazer a sua missão.
Olhando seu exemplo, entendemos melhor o
que disse Jesus, o Profeta Divino: "Ai de vós quando todos falarem bem a
vosso respeito, pois assim trataram os falsos profetas" Lc.6,26. Falsos
profetas são os que dizem o que lhes convém, o que seus ouvintes querem ouvir,
o que agrada a gregos e troianos, por isso "todos falam bem a seu
respeito". São falsos até mesmo no nome que usurparam e que não lhes cabe.
Não são profetas.
E os verdadeiros, como distingui-los ?
Onde se encontram?
Imaginemos alguém que assume um
compromisso irrevogável com a Verdade. Que não se deixa enquadrar nem controlar
por poderes constituídos. Que distingue com clareza entre o caos e o
fingimento, a situação real e manipulação das aparências. Que levanta o véu das
hipocrisias e revela o que está em jogo por trás dos fatos. Que vislumbra o
perigo de morte antes que ele seja visível aos olhos dos demais. Que aponta o
que está morrendo e o que está nascendo, o que deve morrer e o que há de
nascer. Que não teme anunciar tragédias para uma platéia distraída com belos
espetáculos. Que não tem complacência frente aos opressores. Que abala as
evidências e as certezas tranquilas. Que abre os olhos dos que se fingem de
cegos. Que encara os sofrimentos sem deixar-se intimidar. Que interpreta os
acontecimentos da História e lhes dá a resposta de Deus. Que não descansa
jamais, sabendo que só será reconhecido depois que tiver sido ultrapassado.
Os que mais se aproximam destas virtudes
são os verdadeiros profetas.
Deus permite que morram os profetas, mas
não que se extingam as profecias. Por isso quando faltam vocações proféticas em
sua seara, Ele as busca em outras paragens.
Por esta razão devemos estar atentos às
vozes que falam profeticamente em todos os campos da História.
Vozes de advertência: "As pessoas só
vão se dar conta da gravidade da situação quando os números se converterem em
nomes, um pai, uma mãe, um irmão, um amigo, um colega de trabalho".
Vozes de protesto frente à
insensibilidade: "Eu entendo o anti-petismo, mas não entendo o
bolsonarismo. É como a pessoa gritar para o mundo que odeia coentro e tempera a
comida com fezes" (Leandro Karnal).
Vozes de sabedoria: "Quando o último
peixe desaparecer nas águas e a última árvore for removida da terra, então o
homem compreenderá que não é capaz de comer dinheiro" (Wakia Mani, chefe
da tribo Lakota, EUA).
Vozes de dircernimento: "É a primeira
vez, possivelmente, em que há uma sensação de que somos uma única humanidade e
o que acontece com um acontece com todos".
O que distingue o verdadeiro profeta, no
entanto, é o anúncio da Esperança, a despeito de todas as calamidades. O êxito
final do trabalho humano tem a garantia antecipada pela nossa filiação divina.
Como escreve Pedro Casaldáliga: "Acredito no Deus da vida e acredito
também que a humanidade é filha de Deus. Por isso ela nunca será destruída
porque possui a genética divina".
Terminada sua missão, o profeta só precisa
para se eternizar do que Casaldáliga pediu para seu túmulo : "sete palmos
de terra, uma cruz de pau e a RESSURREIÇÃO". Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário