Desta vez vamos permitir que se infiltrem
em nossa REFLEXÃO algumas figuras sinistras chamadas demônio, diabo, satanás.
Há quem, só de medo de pronunciar seus nomes, prefere dar-lhes apelidos, tais
como capeta, tinhoso, rabudo, coisa ruim, capiroto, suco de sangue e outros
tantos.
Considerando o sentido etimológico de cada
um destes nomes, não há motivo para tanto medo. Demônio e diabo, palavras de
origem grega, significam "espírito
maléfico" e "semeador da discórdia", enquanto satanás, de
procedência hebraica, se traduz por "o inimigo".
Assim sendo, cada um de nós já andou
fazendo o papel de diabo ou satanás: sempre que praticamos a maledicência
estamos diabolizando, dividindo; sempre que fazemos mal ao semelhante estamos
satanizando, inimizando. (Hoje entendo porque minha mãe tinha razão quando
chegava ao limite da paciência com nossas trelas de crianças, e gritava:
"seus diabos!". Sim, éramos cinco diabinhos quebrando a paz da casa).
Já na boca de numerosos pregadores
religiosos, estes nomes viraram armas de grande efeito "pedagógico"
com o fim de aterrorizar e controlar as consciências dos simples e dos
escrupulosos.
Afinal, como definir estes personagens?
É difícil dar-lhes uma única definição.
Eles resultaram da fusão de muitas crenças de variadas culturas em diferentes
épocas. Carregam, no entanto, uma característica comum, constituem a
personificação do mal, a representação do mundo das trevas. Mas traduzem
nuances, graduações e funções diferenciadas, de acordo com essas tradições
culturais.
Na mitologia grega, "daimôn" se
traduz por "espírito", não necessariamente espírito maléfico. Havia
os eudaimones (do bem) e os cacodaimones (do mal). Vale lembrar que o
substantivo grego "eudaimonia" quer dizer felicidade, o somatório dos
espíritos benfazejos concentrados numa pessoa.
Já no Budismo chamam-se Mara, uma espécie
de opositor de Buda, fonte das ilusões, encarnação das forças antagônicas à
iluminação.
Para o Islamismo "shaitan"
(satã) não possui poderes superiores, seu papel é apenas desencorajar os fiéis
de obedecer aos preceitos de Alá.
Algumas outras culturas absorvem estes
nomes como simples metáfora designativa da disposição congênita de fazer o mal.
Na passagem do Judaísmo para o
Cristianismo, adquiriram uma relevância sempre mais crescente e abrangente,
entraram decididamente no imaginário dos povos ocidentais e foram alimentados
por discursos e imagens aterradores. Dante Alighieri, em sua "Divina
Comédia", descreve uma verdadeira iconografia do inferno inspirada nestas
crenças.
Podemos imaginar o quanto estes
personagens se prestaram para os interesses de dominação dos povos mais
poderosos. Foi o que se deu durante a invasão das Américas pelos
espanhóis e portugueses. O Novo Mundo virou a representação do
Anti-Cristo, legitimando e facilitando, desta maneira, a destruição das
culturas e o confisco dos bens dos indígenas.
Ao longo dos séculos de escravidão negra,
a imagem mais difundida do 😈, com chifres,
tridente, manto escuro e pele negra servia para satanizar as divindades de
origem africana.
Fora disso, suas figuras estavam associadas
a todo tipo de dissidentes (judeus, muçulmanos, herejes, feiticeiras,
cientistas, pensadores).
Ainda hoje, a grande mídia, porta-voz das
classes dominantes, continua diabolizando os movimentos sociais que combatem
seus instintos de dominação (O MST é um exemplo)
Na verdade, jamais houve época em que o
mundo dos humanos não tenha sido permeado do sobrenatural. Não devemos julgar
os fatos do passado com as lentes do presente. Compreende-se que, quanto mais
fraca, inculta e desigual uma sociedade, tanto mais necessitava de acreditar no
diabo como meio de reforçar suas bases éticas e morais, impedir a desconstrução
da imagem do mal, e assim induzir pelo medo a boa conduta dos indivíduos.
Nada, porém, legitima a terrível destruição
de valores e vidas humanas que a manipulação destas figuras causou e ainda
causa à Humanidade, ao longo da sua História.
À luz destes conhecimentos, não é difícil
identificar os que estão assumindo o lugar de satanás e do diabo no enfrentamento à pandemia do coronavirus em
nossa "pátria amada Brasil". Aqueles que, em seus discursos proclamam
o nome de Deus e em seus projetos são guiados pelos demônios da cobiça, da
divisão e do ódio.
Quanto aos de pura intenção, o seu poder
maior de exorcizar todos os demônios está nas palavras do apóstolo João:
"A VITÓRIA QUE VENCE O MUNDO É A NOSSA FÉ"*1Jo,5,4.
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