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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

COVID 19 QUINQUAGÉSIMA OITAVA REFLEXÃO -DIABOS E DEMÔNIOS EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS


 POR FREI ALOÍSIO FRAGOSO

     Desta vez vamos permitir que se infiltrem em nossa REFLEXÃO algumas figuras sinistras chamadas demônio, diabo, satanás. Há quem, só de medo de pronunciar seus nomes, prefere dar-lhes apelidos, tais como capeta, tinhoso, rabudo, coisa ruim, capiroto, suco de sangue e outros tantos.

     Considerando o sentido etimológico de cada um destes nomes, não há motivo para tanto medo. Demônio e diabo, palavras de origem grega,  significam "espírito maléfico" e "semeador da discórdia", enquanto satanás, de procedência hebraica, se traduz por "o inimigo".

     Assim sendo, cada um de nós já andou fazendo o papel de diabo ou satanás: sempre que praticamos a maledicência estamos diabolizando, dividindo; sempre que fazemos mal ao semelhante estamos satanizando, inimizando. (Hoje entendo porque minha mãe tinha razão quando chegava ao limite da paciência com nossas trelas de crianças, e gritava: "seus diabos!". Sim, éramos cinco diabinhos quebrando a paz da casa).

     Já na boca de numerosos pregadores religiosos, estes nomes viraram armas de grande efeito "pedagógico" com o fim de aterrorizar e controlar as consciências dos simples e dos escrupulosos.

     Afinal, como definir estes personagens?

     É difícil dar-lhes uma única definição. Eles resultaram da fusão de muitas crenças de variadas culturas em diferentes épocas. Carregam, no entanto, uma característica comum, constituem a personificação do mal, a representação do mundo das trevas. Mas traduzem nuances, graduações e funções diferenciadas, de acordo com essas tradições culturais.

     Na mitologia grega, "daimôn" se traduz por "espírito", não necessariamente espírito maléfico. Havia os eudaimones (do bem) e os cacodaimones (do mal). Vale lembrar que o substantivo grego "eudaimonia" quer dizer felicidade, o somatório dos espíritos benfazejos concentrados numa pessoa.

     Já no Budismo chamam-se Mara, uma espécie de opositor de Buda, fonte das ilusões, encarnação das forças antagônicas à iluminação.

     Para o Islamismo "shaitan" (satã) não possui poderes superiores, seu papel é apenas desencorajar os fiéis de obedecer aos preceitos de Alá.

     Algumas outras culturas absorvem estes nomes como simples metáfora designativa da disposição congênita de fazer o mal.

     Na passagem do Judaísmo para o Cristianismo, adquiriram uma relevância sempre mais crescente e abrangente, entraram decididamente no imaginário dos povos ocidentais e foram alimentados por discursos e imagens aterradores. Dante Alighieri, em sua "Divina Comédia", descreve uma verdadeira iconografia do inferno inspirada nestas crenças.

     Podemos imaginar o quanto estes personagens se prestaram para os interesses de dominação dos povos mais poderosos. Foi o que se deu durante a invasão das Américas  pelos  espanhóis e portugueses. O Novo Mundo virou a representação do Anti-Cristo, legitimando e facilitando, desta maneira, a destruição das culturas e o confisco dos bens dos indígenas.

     Ao longo dos séculos de escravidão negra, a imagem mais difundida  do 😈, com chifres, tridente, manto escuro e pele negra servia para satanizar as divindades de origem africana.

    Fora disso, suas figuras estavam associadas a todo tipo de dissidentes (judeus, muçulmanos, herejes, feiticeiras, cientistas, pensadores).

     Ainda hoje, a grande mídia, porta-voz das classes dominantes, continua diabolizando os movimentos sociais que combatem seus instintos de dominação (O MST é um exemplo)

     Na verdade, jamais houve época em que o mundo dos humanos não tenha sido permeado do sobrenatural. Não devemos julgar os fatos do passado com as lentes do presente. Compreende-se que, quanto mais fraca, inculta e desigual uma sociedade, tanto mais necessitava de acreditar no diabo como meio de reforçar suas bases éticas e morais, impedir a desconstrução da imagem do mal, e assim induzir pelo medo a boa conduta dos indivíduos.

    Nada, porém, legitima a terrível destruição de valores e vidas humanas que a manipulação destas figuras causou e ainda causa à Humanidade, ao longo da sua História.

     À luz destes conhecimentos, não é difícil identificar os que estão assumindo o lugar de satanás e do diabo  no enfrentamento à pandemia do coronavirus em nossa "pátria amada Brasil". Aqueles que, em seus discursos proclamam o nome de Deus e em seus projetos são guiados pelos demônios da cobiça, da divisão e do ódio.

    Quanto aos de pura intenção, o seu poder maior de exorcizar todos os demônios está nas palavras do apóstolo João: "A VITÓRIA QUE VENCE O MUNDO É A NOSSA FÉ"*1Jo,5,4.

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