Prof.
Martinho Condini
Cara
amiga e amigo: tudo bem, quero lhes apresentar alguns números para que reflitam
comigo. No período de 2003 a 2014, foram criadas, no Brasil, 18 universidades,
173 campus universitários e 360 institutos federais – um número muito
expressivo se lembrarmos que a nossa primeira universidade baseada no tripé
ensino-pesquisa-extensão fará 100 anos em 2034. Em contra partida, temos vários
clubes de futebol no Brasil com mais de 100 anos. Com isso, não quero dizer que
no Brasil o futebol tem mais importância que a educação.
Atentem
a esse outro dado estatístico: durante os anos de 2010 até 2017, foram abertas no
Brasil 67.951 igrejas, o que corresponde a 9.707 igrejas abertas por ano – um
número no mínimo assustador. Acredito que o aspecto econômico explica esse
número estratosférico. Afinal de contas, para se abrir uma igreja é preciso um
CNPJ, um salão, algumas cadeiras de plástico, seguidores e um bom orador. Às
vezes nem isso – não se esquecendo que as mesmas não pagam impostos e os lucros
advindos do dízimo são sempre muito robustos.
Quero voltar aos números.
Neste período de 2010 a 2017, foram criadas no Brasil 2.407 instituições de
nível superior, sendo apenas 197 delas universidades. Isto significa que a abertura
de igrejas no Brasil neste mesmo período foi 345 vezes maior que a abertura de universidades.
Um
último dado estatístico. Em 2012, há oito anos, tínhamos no Brasil 3.481
livrarias, em 2014, o número caiu para 3.095, em 2018 estima-se que haviam
aproximadamente 2.500 livrarias. Isto
significa o fechamento de 164 livrarias por ano. Em2001, 2.374 municípios brasileiros
contavam com pelo 1 uma livraria, o que já era pouco, em 2018 esse número era
de 985 municípios de um total de 5.570. Aliado a esses números estarrecedores, na
semana passada a equipe econômica governista acenou com a possibilidade de
taxar os livros em 12% na reforma tributária a ser apresentada ao congresso.
Há mais de 70
anos, ou seja, desde a Constituição Federal de 1946, o livro é isento de impostos por
causa de uma emenda constitucional apresentada pelo deputado federal pelo PCB e
um dos maiores escritores da literatura brasileira, o baiano, Jorge Amado.
Para incentivar a leitura e a educação até hoje, esse dispositivo segue sendo
cláusula pétrea da nossa constituição.
Concomitante
a esses dados numéricos, tivemos o golpe à presidenta da república com o apoio maciço
da bancada da Bala e da Bíblia. Posteriormente, chegou à presidência da república
um capitão reformado utilizando-se do discurso de ódio com visões políticas
populistas e de extrema-direita demonstrando simpatia pela ditadura militar, defendendo
práticas de tortura, apoiando o porte de armas pela população, além de proferir
discursos homofóbicos, misóginos e racistas. O núcleo duro do seu governo
partilha da ideia do terraplanismo, da descrença na ciência e de uma educação
baseada na palavra de Deus (sendo que, no Brasil, o Estado é laico).
Estou
convencido que o processo de desvalorização da educação, da cultura, a chegada
ao poder de um governo conservador, retrógrado, anti-democrático e miliciano somado
ao frenético crescimento no número de igrejas em nosso país pagaremos um preço
muito alto, ou melhor, já estamos pagando, principalmente com o atraso no
desenvolvimento intelectual da nossa sociedade.
Teremos
uma jornada muito difícil pela frente, precisaremos estar ainda mais unidos em
prol da liberdade de expressão, da participação política e principalmente da
valorização da educação libertadora, ou seja, da educação que transforma o ser
humano.
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
A educação é o mais poderoso instrumento de luta para que seja feita a justiça social.
ResponderExcluirSem valorização efetiva da Educação não iremos a lugar nenhum.
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