Kinno Cerqueira [1]
As
palavras. Procuro-as como um corpo tremulante de frio busca uma coberta.
As
palavras. Desejo-as com a intensidade com que os meus lábios se apertam quando
fitam meus olhos as tesas cumeeiras de seios em dias frios.
As
palavras. Como-as como quem frui o último café no último minuto da última
primavera da vida.
As
palavras. Dão-se-me. Na seca, me dessedentam o paladar. Quando de muitas águas,
fazem dos meus lábios deserto e do meu existir, divagação.
As
palavras. Dançam-me. O ritmo imprevisto inaugura à meia-luz o entrelaçar de
dedos sem fim, ponteiros que galopam imóveis qual lua pintada nos chaveados
diários dos amantes.
As
palavras. Metamorfoseiam-se. Naquele ontem, amargura, amargor. Hoje, esquivas
de amargar, apenas amar o mar.
As
palavras. Deslizam-me os sentidos. As travessias eram, na verdade, travessuras.
O meu pudor, ah, parece que mo levaram sem dizer para onde.
As
palavras. Custa crer que se podem fazer carne, a carne é que se faz palavra. No princípio era o corpo, e o corpo se fez
palavra.
As
palavras. Balanços coloridos sob floridas laranjeiras. A fixidez não lhes é
possível – nem as seduz. É seu ir-e-vir que faz irromper chuvas de flores.
As
palavras. Vejo flores a cair, a chover. Eis que brinco sob laranjeiras...
[1] Pastor batista,
biblista e assessor do CEBI na área de estudos bíblicos.
que lindo Kinno, um artista das 'palavras', ciente de sua infinitude... me lembrou Manoel de Barros
ResponderExcluirQue Lindo !!!!
ResponderExcluirQue Lindo !!!!
ResponderExcluirComo uma sopinha de letras que Kinno que Você poeticamente come e se alimenta, transformando-a em no seu coração em palavras de Graças, que nos alimenta. Belo.
ResponderExcluirKinno e sua alma de poeta sempre com os pés no Chao.Poesia rara esta!
ResponderExcluirAs palavras. Preenchem-me a alma. Parabéns pela sensibilidade.
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