FREI ALOÍSIO FRAGOSO
(26/05/2021)
Dentro deste vasto mundo onde habitamos há
um mundo específico no qual eu engatinho feito criança fascinada e assustada.
Sei que fomos nós que o criamos, mas, por vezes, me pergunto se a criatura não
se apropriou do criador. Quem é que manda? Quem é que obedece? Quem tem o
controle? Quem é controlado?
Trata-se do mundo da INTERNET.
Ela está invadindo os espaços de 99,9% da
população mundial, seja na mente ou nas mãos ou no bolso ou na alma. De vez em
quando escuto uma terrível profecia: quem não entrar nela de cabeça não terá
futuro. A dúvida que me ocorre é sempre a mesma: ela veio para desenvolver a
inteligência ou para criar autômatos?
Por outra parte, confesso o meu desejo
ardente de conhecer a fundo os seus efeitos no campo dos princípios e valores
morais que orientam a sociedade humana. Desde sempre e ainda hoje, as relações
entre povos e entre indivíduos se fundam na confiança de que os interlocutores
estejam lidando com a verdade.
Contudo, nestes últimos
tempos, fomos surpreendidos por uma invasão de milhões de fake-news, via redes
sociais, desmantelando toda segurança. Parece que mentira e verdade foram
lançadas na arena para um combate aberto, sob milhões de olhares, e a primeira impressão
é que a verdade está perdendo de lavagem.
Em nosso país, particularmente, assiste-se
a uma verdadeira tragédia moral, protagonizada por figuras políticas de cúpula,
tendo como platéia 200 milhões de expectatores (a maior parte comendo pipoca).
Aí a mentira faz um strip-tease completo, sob os aplausos de uma parte e a
perplexidade de outra parte dos assistentes. Quando o Presidente da nação,
eleito por benefício de uma avalanche de fake-news, inicia seu governo citando uma frase bíblica
("conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará"), temos uma clara
noção da encruzilhada a que chegamos.
Aí vem a CPI da Covid e expõe o previsível
espetáculo onde se misturam tragédia e comédia. Não é preciso grande esforço para se conhecer a
verdade. Ela é precisamente o contrário do que está sendo dito por figuras que
ocupam funções públicas, convocadas para depor sob juramento constitucional. Os
espectadores não precisam ser
convencidos a acreditar, uma vez que o papel da mentira não é mais esconder
as intenções, mas sim escancará-las. Reproduz-se o famoso episódio do "rei
nu", do rei ludibriado por dois prestigitadores, que lhe prometeram tecer
uma veste real com fios de ouro. No dia e hora marcados, o soberano desfilou
solenemente, sob o olhar do seu povo, até que uma criança gritou do meio da
multidão: "o rei está nu!". Hoje já não é preciso ter o olhar puro de
uma criança; qualquer cidadão, bem ou mal da vista, pode ver que "os reis
estão nus".
Sem nenhum estímulo de perguntar pela
verdade, resta-nos indagar simplesmente: o que é que está acontecendo? Que país
é este? A nação virou refém do "Pai
da Mentira"? Nos corredores dos hospitais e nas consciências sensíveis, a
pergunta é mais cruel: quantas destas 450.000 mortes por covid resultaram de
omissões e mentiras oficiais?
Em meio a este apagão moral, a indignação
é um dom do Espírito Santo e a resignação, uma artimanha de satanás. Como fazer
da justa revolta uma arma eficaz
de combate à mentira?
Quem se deixa guiar pela Fé, leia todo o
capítulo 23 do Evangelho de S. Mateus, e
conhecerá um arsenal de imprecações de Jesus contra os mentirosos.
"Hipócritas, raça de víboras, sepulcros caiados! Bonitos por fora, mas,
por dentro, só podridão" Mt.23,7. Ele os acusa de chantagem: "Ai de
vós, doutores da lei e fariseus hipócritas! São vocês que fecham o Reino dos
Céus. Não entram e não deixam que entrem os que desejam entrar" Mt. 23,13.
Porém, ao final, Jesus nos adverte contra o pessimismo. "Não tenham medo
deles. São como cegos guiando outros cegos, e quando um cego guia outro cego,
caem ambos no abismo" cf. Mt.15,14.
Se a coragem de nosso Redentor custou-lhe
o preço do Calvário, não faltam hoje novos mártires da Verdade: companheiras e
companheiros nossos que estão exilados, outros enfermos ou feridos, outros
ainda fisicamente mortos, porque não foram vencidos pelo medo.
A História, mestra da vida, já provou que
nenhuma construção fundada na mentira se consolida por muito tempo. O pior de
tudo seria pensar: isso tudo é o fim para aqueles que lutam pela Verdade. Não!
Absolutamente! Isso é o começo do fim para aqueles a quem só resta a mentira.
(De sobra, um provérbio árabe: "com a mentira se consegue o almoço, mas
não o jantar")
Frei
Aloísio Fragoso é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor
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