Marcelo Barros
Em meio a tantas datas comemorativas
destes dias (dia da Mãe Terra e dia da classe trabalhadora), poderia parecer
pouco relevante que a ONU tenha consagrado o 03 de maio como “dia internacional da liberdade de imprensa”.
Quantas questões envolvidas nesta proposta!
Em nossos dias, apesar não estarmos mais
submetidos a ditaduras militares, há pessoas processadas e ameaçadas de punição
com a lei de segurança nacional, por ter se expressado contra o presidente da
República. No Brasil e em outros países, a liberdade de imprensa continua
cerceada, seja pelo poder político de índole totalitária, seja principalmente
pelo poder econômico dos grandes conglomerados que fazem da comunicação a arma
para concentrar mais poder e obter mais lucros.
O domínio econômico impõe um controle
quase total sobre as informações que a sociedade recebe. Atualmente, assiste-se
a uma concentração sempre maior de órgãos da imprensa nas mãos de poucos
proprietários. No Brasil, a grande imprensa sempre foi propriedade de poucas
famílias que, em cada região, controlam jornais, rádios e televisões. Em todo o
mundo, mais de 80% das agências de notícia e dos organismos de comunicação
pertencem a grandes empresas que controlam, ao mesmo tempo, as redes de
informação, as grandes companhias petrolíferas e também indústrias de
armamentos.
No plano político, nas décadas recentes,
os meios de comunicação têm se tornado armas mortíferas e certeiras usadas
pelos impérios para destruir governos progressistas e projetos de emancipação
política de países que não lhes agradam. O governo norte-americano gasta
milhões de dólares para que, diariamente, em todos os países da América, se
publiquem notícias negativas em relação aos governos ou aos políticos que devem
ser destruídos. A guerra de quarta geração foi usada contra a Líbia, contra a
Síria. Hoje, o império norte-americano a usa contra o governo e o povo da
Venezuela.
Este tipo de guerra se tornou muito mais
barata do que a convencional e mais eficiente. No Brasil, a produção de
notícias falsas já elegeu até presidente da República. Todo mundo sabe que a
rede da família Marinho promoveu um juizinho do interior a falso herói nacional.
Serviu-se amplamente dele para destruir a democracia e possibilitar a entrega
sistemática de todas as riquezas nacionais a empresas estrangeiras. Garantiu a
vitória do inominável para o governo do país. Depois que as coisas não saíram
de acordo com o esperado e, por várias razões, a farsa está sendo descoberta, a
Rede Esgoto descarta o juiz e quer dar ao país a impressão de que tomou a
defesa do povo.
É
verdade que todo ponto de vista é sempre vista de um ponto. Também se sabe que
é mais barato opinar do que informar objetivamente. Mas, os cidadãos têm
direito a uma informação honesta. É direito de quem informa tomar partido e
declarar suas preferências ideológicas e sociais. Basta que isso seja claro,
até para favorecer o debate e a pluralidade de opções. Embora pertença a uma
empresa particular, um meio de comunicação social é sempre serviço público.
Deve cumprir sua tarefa sem ser subjugado a interesses privados.
Em sua mensagem para o 55º Dia Mundial das
Comunicações Sociais que ocorrerá no domingo 16 de maio, o papa Francisco apontou
para os riscos de uma comunicação social que não tenha controles, diante da
expansão das chamadas ‘fake news‘. O papa afirmou: “Há algum tempo, descobrimos
como as notícias e imagens são fáceis de serem manipuladas. Isso ocorre por
diversos motivos, às vezes até apenas por um narcisismo banal. É preciso
perceber os riscos provocados pelas notícias falsas na internet, especialmente,
com a pandemia da Covid-19. Atualmente, os meios de comunicação oferecem mais
espaço para uma “informação reconfeccionada”, e são menos capazes de interceptar
a verdade das coisas ou a vida concreta das pessoas. Também não conseguem
informar sobre os fenômenos sociais mais graves. A consciência crítica nos
empurra não a demonizar os instrumentos de comunicação e sim a cuidar de termos
sempre maior capacidade de discernimento”.(...) “Todos somos responsáveis pela
comunicação que fazemos, das informações que damos, do controle que, juntos,
podemos exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos
convocados a ser testemunhas da verdade”, completou. “É necessário um
jornalismo “valente” e com coragem para
ir de encontro às pessoas e às histórias de vida”.
Quem é cristão se lembra: a palavra de
Deus nos vem através do “evangelho”, termo grego que significa boa notícia,
informação verdadeira e libertadora, a respeito do projeto divino no mundo. O
compromisso dos meios de comunicação com a humanidade é fazer com que as
notícias publicadas e seus comentários possam ser realmente como “evangelhos”,
isso é notícias que levem à vida e à liberdade humana. Independentemente de
serem ligados ou não a uma religião, serão notícias evangélicas se servirem a
um projeto de mundo mais justo e fraterno. Para isso, é indispensável e urgente
que os meios de comunicação sejam livres e democráticos.
Marcelo Barros,
monge beneditino e escritor, autor de 57 livros dos quais o mais recente é
"Teologias da Libertação para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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