Frei Betto
No
sábado, 28 de agosto, cometi tremenda idiotice: comi feijoada. Tivesse dado
ouvidos a milicianos, teria caído de boca num prato de balas de fuzil. Mas se
careço de inteligência, esbanjo memória. Lembro-me do cerco de Jerusalém, no
ano 70, comandado pelo general romano Tito, filho do imperador Vespasiano. No
desespero da fome dentro da cidade sitiada, moradores ricos clamavam por trocar
joias e ouro por um pedaço de pão.
Desconfio
que os assaltantes dos bancos de Araçatuba trilharam o caminho inverso.
Armaram-se de fuzis e bombas para roubar dinheiro e comprar feijão.
Devido
aos aumentos do gás de cozinha, da gasolina e do diesel, num país cujos
produtos trafegam em quatro rodas, somados à alta da inflação e dos preços dos
alimentos, falta feijão na mesa do brasileiro. Nos últimos 12 meses, o preço do
feijão-fradinho subiu 42,4%. O do arroz, 39,7%. E todos que nascemos ao som do
grito do Ipiranga bem sabemos que o bem-estar do brasileiro se apoia em cinco
efes: feijão, farinha, futebol, festa e fé.
Se o
feijão anda escasso na mesa do brasileiro, as armas abundam nos arsenais. Dados
do Ministério da Economia informam que, em 2020, nossa população importou US$
29,3 milhões (equivalente a 150 milhões de reais) em revólveres e pistolas, um
recorde histórico. O volume importado foi 2.656% maior que a média da série
histórica, iniciada em 1997. Hoje, o Brasil importa mais armas de fogo que
bicicletas e lápis.
Segundo
Bernardo Mello Franco (O Globo, 29/08/2021), em 2020 praticamente dobrou
o número de armas registradas na Polícia Federal. Foram 186 mil, aumento de
97,1% em relação ao ano anterior. E o governo facilitou também o
acesso a armas de alto poder ofensivo, como fuzis semiautomáticos, cujo uso era
restrito às forças de segurança.
E você,
preclaro leitor ou estimada leitora, onde pensa que vai parar a maioria dessas
armas, no prato dos brasileiros ou nas mãos de bandidos como os de Araçatuba?
Não é à
toa que BolsoNero escolheu como lema de seu governo o verso truncado de nosso
hino nacional: “Pátria armada, Brasil”.
Frei Betto é escritor, autor de “O diabo na corte –
leitura crítica do Brasil atual” (Cortez), entre outros livros. Livraria
virtual: freibetto.org
Frei Betto é autor de 69 livros, editados no Brasil e no
exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org Ali os
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correio.
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