Marcelo Barros
Mesmo
em meio à pandemia que ainda nos ameaça com novas cepas, os movimentos sociais
se unem às pastorais de Igrejas na organização do 27º Grito dos/as
Excluídos/as. Durante esta semana, na qual o Brasil recorda a sua independência
de Portugal, de norte a sul do país, as manifestações populares nos dizem que a
independência política tem de ser completada por verdadeira libertação de todas
as pessoas que vivem no país. Por isso, é importante que todos e todas escutem
o grito das multidões de brasileiros e brasileiras ainda excluídos/as dos seus
direitos básicos. O tema deste XXVII Grito resume gritos novos e antigos em um
só assim formulado: “Vida em primeiro
Lugar! “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e
renda, já!”.
Este
tema com seus diversos gritos se insere na campanha Fora Bolsonaro que não é
apenas dos excluídos e excluídas. Abrange pessoas de todas as categorias que não
querem compactuar com a barbárie. O Brasil vive sob constantes ataques à nossa
soberania e democracia. Cada dia, o presidente e sua base ameaçam o povo
brasileiro com novo golpe, ora com palavras, ora com tanques das Forças
Armadas, ora com chantagens ao Congresso. Desgasta a relação entre as
instituições, como nos últimos dias, com notícias falsas e estímulo ao ódio aos
ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e TSE (Tribunal Superior
Eleitoral).
Em
um momento no qual o mundo inteiro está alarmado com as consequências
dramáticas do aquecimento global e a ONU prepara duas conferências sobre
mudanças climáticas, o governo brasileiro privilegia o modelo depredador,
favorece queimadas e aposta na
destruição da natureza. Toma como inimigos os povos originários e, a cada dia,
aprova medidas para lhes roubar terra e direitos adquiridos.
O
povo brasileiro amarga um dos piores índices de desemprego da nossa história e
um aumento descomunal do trabalho informal e mal remunerado. Por tudo isso e
para dar um basta nesta situação, toda pessoa de boa vontade e que ama a Vida é
convidada a se manifestar nesta semana e especialmente no dia 7 de setembro, no
27º Grito dos Excluídos e Excluídas e nesta Campanha Fora Bolsonaro!
Juntos
por um país verdadeiramente independente, sem genocídio da população pobre,
negra e indígena, com justiça social e oportunidades para que o povo volte a
sonhar e ter orgulho de ser brasileiro.
É
urgente mobilizar as comunidades excluídas dos direitos básicos, para que
participem nas etapas de formação e mobilização social, especialmente pelo
direito à vacina, ao auxílio emergencial e Fora Bolsonaro, assim como nos
mutirões pela Vida da 6ª Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB e por
vários organismos da sociedade civil e
que está em processo de construção.
Ainda
há quem pense que religião nada tem a ver com Política. Os profetas da Bíblia
nunca pensaram assim. Mostraram que a atitude fundamental para adorar a Deus é
lutar pacificamente pela justiça e pelo direito de todos. Jesus Cristo tomou
como missão testemunhar o reino de Deus e nos ensinou a orar: Venha a nós o teu Reino. Isso significa
que Deus tem um projeto para o mundo e esse projeto inclui a organização social
e política da sociedade a partir da justiça eco-social e da Paz.
O
próprio termo Igreja que o apóstolo Paulo usou para denominar as comunidades de
discípulos e discípulas de Jesus era o nome das assembleias de cidadãos nas cidades
do Império. Portanto, o próprio fato de se constituir como assembleias (Igrejas)
revela que a vocação das comunidades cristãs é serem células de um mundo
transformado. Por isso, para quem tem fé, participar do Grito dos Excluídos e
Excluídas é não só ato de cidadania mas também de fé e espiritualidade. O
próprio Jesus está nesse grito e nos chama recordando suas palavras: “Eu vim para que todos e todas tenham vida e
vida em abundância” (Jo 10, 10).
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 57 livros dos quais o mais recente é "Teologias da Libertação para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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