Marcelo Barros
Neste próximo domingo,
celebraremos a data em que o grande Paulo Freire completaria 100 anos. A ONU
instituiu o 08 de setembro como dia internacional da alfabetização. Por isso,
nestes dias, no mundo inteiro, a sociedade civil internacional se viu envolvida
pelos novos desafios de uma educação para todas as pessoas e a busca de novos
meios para erradicar o analfabetismo.
Conforme cálculos da ONU, em
todo o mundo, o analfabetismo absoluto diminuiu, mas ainda há grande proporção de
analfabetos/as funcionais. Na cidade de São Paulo, 17% dos/das jovens entre 15
e 24 anos não conseguem ler placas e avisos de uma estação rodoviária ou de
Metrô. Não sabem preencher dados para uma ficha de emprego.
Com o seu método revolucionário de
alfabetização de adultos/as, Paulo Freire nos ensinou que a educação é o
processo que nos torna mais humanos. Alfabetizar não é apenas ensinar a ler,
mas possibilitar a todas as pessoas a participação cidadã e crítica na
sociedade.
É verdade que nascemos
autocentrados/as. Crescemos sob a influência de tendências nocivas que tendem a
nos imobilizar quando se trata de correr riscos e abrir mão de prestígio, poder
e dinheiro. Daí a necessidade de uma educação profunda da consciência e da
sensibilidade das pessoas e das coletividades. As práticas educativas devem
infundir valores altruístas, gestos solidários e ideais sociais. Só assim, a
vida ganha sentido e as relações humanas se tornam verdadeira comunicação.
Conforme Paulo Freire, a educação
só cumpre sua função quando forma seres humanos mais felizes, dotados de
consciência crítica e capazes de aprimorar sistemas sociais e políticos no
sentido do amor solidário, da igualdade social e da justiça.
Caminhar nesse sentido implica
vencer alguns desafios da atual conjuntura. O primeiro deles é superar o
avassalador processo neoliberal de desistorização da história. Sem perspectiva
histórica não há consciência nem projetos políticos. O filósofo alemão Theodor
Adorno afirmava que o desafio mais urgente da educação é desbarbarizar a sociedade. Ele compreendia por barbárie uma
sociedade que, de um lado, se encontra em alto grau de desenvolvimento
tecnológico e, do outro, mantém as pessoas privadas de viver e expressar a sua
dignidade humana.
Paulo Freire afirmava que
somente a educação não pode mudar a sociedade, mas, ao mesmo tempo, nenhuma
sociedade mudará sem que a educação desempenhe um papel fundamental. E nessa
educação humanitária e libertadora, o diálogo é o elemento fundamental.
Diálogo não é qualquer tipo de
comunicação. Não é apenas troca de opiniões ou debate. É relação entre pessoas
que se colocam em atitude de escuta mútua para buscar juntas a verdade. Inclui
a dimensão interior do diálogo consigo mesmo. Realiza-se mais profundamente no
encontro amoroso com as outras pessoas e na comunhão com a natureza.
Para quem tem fé, tudo isso
compõe o diálogo com o mistério que as religiões chamam de Deus. O grande
educador Ruben Alves afirmava: “Educar é
mais difícil do que ensinar. Para ensinar, basta saber. Para educar, precisa
ser”.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor,
autor de 57 livros dos quais o mais recente é "Teologias da Libertação
para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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