Marcelo Barros[1]
No mundo inteiro, esta
semana é marcada pela terça-feira, 21 de setembro que a ONU consagra como “dia
internacional de promoção da cultura de paz”. No hemisfério sul, este dia marca
o início da primavera e a ONU propõe que possamos todos/as colaborar para que desponte
uma nova primavera de paz e justiça para o planeta e para todos os povos da
terra.
Filmes e
noticiários de televisão nos habituam de tal modo com notícias de violência e
crueldade humana que nem nos espantamos mais. E não deixa de ser trágico que,
além dos assaltos e crimes ocasionais de cada dia, a violência mais estrutural
e permanente é cometida por Estados e governos contra migrantes e estrangeiros
e contra a população mais pobre. Muitas vezes, essa violência é cometida em
nome da democracia e da salvaguarda da Paz.
Por ocasião do recente sete de setembro, aqui no Brasil, aquele que
ainda ocupa o posto de presidente da República incitou a população à violência.
Depois, inconformado por não ter visto o banho de sangue com o qual sonhara,
recordou o velho princípio: Se queres a paz, prepara a guerra.
O mundo inteiro vê
com sofrimento o modo como o Brasil está tratando os povos indígenas, ameaçados
em seus direitos fundamentais à Terra e a viver a partir de suas culturas
próprias. Ao mesmo tempo, a sociedade civil internacional denuncia o que se
passa no Afeganistão, destruído pelo império dos Estados Unidos e agora
entregue a um grupo extremista de direita. Em meio a tudo isso, a ONU se
prepara para dois encontros internacionais sobre mudanças climáticas e a crise
ecológica.
Há poucos dias, o
papa Francisco, Bartolomeu I, patriarca ecumênico de Constantinopla e Justin
Welby, arcebispo primaz da Igreja Anglicana assinaram juntos um Apelo à
Humanidade com o título: “Respostas
urgentes à catástrofes ambientais e à injustiça devastante”.
A ONU compreende
que somente uma cultura de paz pode verdadeiramente vencer a violência. Neste
ponto, todas as religiões e tradições espirituais têm uma função essencial. Com
urgência precisam ajudar as pessoas, pertencentes às mais diversas tradições
espirituais, ou mesmo sem nenhuma pertença religiosa, a desenvolver a
consciência da responsabilidade por todos os seres vivos. Fazemos parte de uma única
família que partilha a mesma terra e bebe do mesmo poço.
Crentes das mais
diversas religiões devem rever a própria imagem de Deus, como autor e principio
da paz. Se cremos em um deus intransigente e severo que pede sacrifícios e
divide os seres humanos em crentes e descrentes, fiéis e infiéis, o resultado
disso será sempre uma cultura de intransigência e intolerância. Este tipo de
deus supõe organizações religiosas baseadas no dogmatismo e no autoritarismo de
suas hierarquias. Neste caso, esses grupos podem até falar de paz, mas, na
prática, plantam sementes de divisão entre as pessoas.
No Brasil de hoje,
alguns ministros e comunidades eclesiais, tanto católicas, como evangélicas e
também pentecostais têm apoiado uma política de violência e confronto social. Alguns
padres e pastores têm feito apologia de armas e de intolerância. Essa violação
criminosa ao evangelho da Paz e do Amor que Jesus propôs faz deles figuras
semelhantes aos talibãs que agora dominam o Afeganistão. Tanto os talibãs
islâmicos, como padres e pastores de extrema-direita seguem a religião do
fundamentalismo fanático, que pode ser islâmico, budista, judaico ou cristão.
É preciso
escutarmos hoje e para a nossa realidade a palavra de Jesus à toda a
humanidade: “Bem-aventuradas as pessoas
que promovem a paz. São elas que podem ser chamadas de filhas e filhos de Deus”
(Mt 5. 9).
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