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quinta-feira, 16 de abril de 2020

COVID 19 - 17/04/2020 - DÉCIMA SEXTA REFLEXÃO




por FREI ALOÍSIO FRAGOSO

    Uma das reações mais conclusivas, frente à pandemia do coronavirus, se traduz como uma utopia: "O MUNDO NUNCA MAIS SERÁ O MESMO". É uma frase de efeito nuclear, q. d., ela bate no núcleo dos indivíduos e cada um  reage de acordo com a sua índole. Fico a imaginar a reação dos pessimistas, dos otimistas, dos realistas, dos capitalistas, dos socialistas, dos crentes e não crentes, etc.

    Ocorreu-me, hoje, expor um apanhado de prognósticos para os tempos pós-covid 19, prognósticos mais ou menos otimistas, procedentes de confiáveis analistas da sociedade, espalhados na mídia alternativa. Proponho, no entanto, que o leitor acrescente um ponto de interrogação, ao fim de cada afirmativa. Assim fica claro que não se trata de evidências e sim de conjecturas, e compete a cada um chegar às suas próprias conclusões. Vamos lá:

    - Haverá um outro mundo diferente do mundo de antes do coronavirus. E nós teremos de repensar que tipo de mundo queremos.

    - Do enorme impacto desta pandemia resultará uma aceleração de mudanças estruturais, em todos os segmentos da sociedade, mudanças que levaríamos séculos para implantar.

    - O Poder Econômico perderá a supremacia e a arrogância de querer determinar os rumos da História.

    - Serão criados modelos de Economia mais preocupados com as necessidades humanas do que com os lucros privados.

    - O COVID 19  porá em cheque-mate uma das colunas mestras do capitalismo: a maximização da produção e do lucro.

    - A Economia de Mercado, que se sustenta e se nutre da chamada "cultura da satisfação" e "sociedade do consumo", sofrerá uma crise global irreversível. As pessoas terão de economizar mais, reprimindo sua avidez de bens supérfluos.

    - O colapso do Sistema Público de Saúde, escancarado pelo COVID 19, será um divisor de águas, resgatando o papel do Estado contra a tirania das empresas privadas.
    - Segundo os entendidos, as sequelas imediatas desta pandemia deve perdurar por 2 anos, no mínimo. E o medo das aglomerações, na maioria das pessoas, permanecerá, mesmo com a liberação do isolamento social. Daí é possível fazer outros prognósticos:
    - Haverá profundas mudanças de hábitos nos estilos de vida e convivência humana, com primazia da empatia e solidariedade.

    - Crenças e valores vão passar por revisão total, favorecendo os direitos da pessoa acima dos interesses do Mercado.

    - Haverá uma emergência de novas formas de lazer, cultura e alimentação. Aumentará sempre mais a oferta de espetáculos de arte e lazer "on line", em lugar de shows em grandes espaços públicos. Restaurantes, bares, academias e outros centros de aglomeração terão de redesenhar seus espaços abertos ao público. Restaurantes "fantasmas" se multiplicarão, funcionando somente através de "delivery" (serviço de entrega).

    - Serão criadas e multiplicadas experiências de trabalho remoto e educação à distância.

    - Todas estas mudanças radicais exigirão das Igrejas e de outros grupos religiosos rever seus métodos de pregação e culto, priorizando a formação de pequenas fraternidades, em lugar da comunicação de massa.

    Quando se trata de vaticinar o futuro, gosto de misturar realismo com idealismo, de confiar tanto nos dados da inteligência quanto nas intuições do coração. Por isso acrescento este soneto que escrevi numa hora em que não tinha outra coisa a fazer, senão sonhar:

    DOCE VONTADE

A noite é mais bela que o dia
Dentro em mim, porque fora, sombra e luz
São a face geminada da beleza
Que em verso e reverso se traduz.

Dentro em mim, porém, a noite chama
Para dentro de um sonho e me seduz,
Até onde os acordes da manhã
Desencantam o mistério que transluz.

Neste sonho reencontro a alegria
De existir, refazendo, a cada dia,
Entre coisas reais, o que há de vir.

Nesta longa espera da ventura
Que reprime a solidão, enquanto dura
Esta doce vontade de partir.

FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.


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