Por FREI ALOÍSIO FRAGOSO
Passados os dias litúrgicos da Páscoa,
somos chamados a atualizá-la cotidianamente, neste tempo em que nos é dado
viver, trabalhar, crer, sofrer e amar.
Do Senhor Ressuscitado recebemos de herança
o poder inesgotável da Fé.
No entanto, os dias atuais são dolorosos e
sombrios. Quando a comoção é grande demais, seja causada pela alegria ou
causada pela dor, é melhor falar por meio de metáforas, pois a realidade
torna-se inexprimível.
Gostaria de focar mente e coração em uma
determinada pessoa, alguém a quem eu chamaria de Metáfora Viva da Páscoa.
Alguém que, penso eu, ficará na História, para sempre, como a figura humana
mais emblemática destes tempos difíceis. Alguém reconhecido universalmente, por
crentes e não crentes, como o grande líder espiritual da humanidade. O Papa
Francisco. Sua presença domina o palco global nestes dias de pandemia. Suas
aparições públicas, sem público, dão uma dimensão gigantesca à sua pequena
figura. Quando o vimos, aquela tarde, caminhando sozinho na Praça deserta de
São Pedro, vivenciamos uma experiência transcendental. Nossos olhos enxergaram,
ali mesmo e muito além desse espaço vazio, milhões e milhões de seres humanos
atentos e ansiosos, à espera de uma palavra de conforto do Papa.
Sua veste branca como a neve refletia uma luminosidade real e
mística, semelhante a um facho aceso no
escuro da paisagem.
Esta visão não seria possível se ele
estivesse revestido com os trajes pomposos de Sumo Pontífice. Não! Ele não é o
Sumo Pontífice. Ele é apenas o Bom Pastor.
Suas palavras simples e lúcidas vão direto
ao coração, sem, contudo, fugir ao entendimento crítico da razão. Por isso elas
nos comovem e nos convencem, e não sabemos se mais nos convencem ou mais nos
comovem. Na verdade, elas nos impedem de chorar sem também pensar e de pensar
sem ter vontade de chorar.
Escutemos algumas destas palavras.
"Não escutamos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo.
Avançamos destemidos, pensando que continuaríamos saudáveis em um mundo
doente." O Papa está lembrando nossa parte de responsabilidade nas
situações trágicas que irrompem em nossa Casa Comum. A avidez de posse, de
lucro, de prazer afasta-nos da realidade
e nos transtorna pela pressa. O castigo que muitos querem imputar a Deus foi
imposto a nós pela natureza violentada.
O Papa Francisco nos adverte duramente,
porém não nos condena nem nos deixa abandonados à nossa própria sorte. Seus
gestos falam tanto quanto suas palavras.
No início da Semana Santa, telefonou, ele
mesmo, para uma apresentadora da emissora "Raí 1" e lhe disse
ternamente: "alô, Lorena, boa tarde, como está você?" Então comunicou
o programa da Semana. Aí está um gesto profundamente simbólico na sua simplicidade.
Este telefonema podia ser para cada um de nós, se isso fosse possível, na
prática, porque ele enxerga em cada um de nós um objeto da sua ternura.
Chegada a Sexta-Feira, ele abriu o coração:
"Quero estar perto do Povo de Deus, especialmente daqueles que mais
sofrem, das vítimas da pandemia, da dor do mundo, mas olhando para todos com
esperança, que não tira a dor, mas não decepciona".
Este é o nosso Papa. Como todos os grandes
profetas bíblicos, ele é amado por uns e perseguido por outros. Por isso
precisa de nossa solidariedade junto com nossas orações. Coloquemo-nos no lugar
dele, com a palavra presa na garganta, a mente dirigida para o mundo, pensando:
"Ó meu Deus, neste momento, milhões dos teus filhos estão voltados para
mim, suplicantes: Fala, Francisco! Livra-nos do desespero! Salva-nos pela Fé!
Restitui-nos a Esperança!"
Quem suportaria tamanho peso senão pelo
poder da Fé?
Deus o abençoe, Papa Francisco! A Ele
agradecemos por nos ter dado você, o homem certo, na hora certa, para o lugar
certo. Amém!
FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano,
coordenador da Tenda da Fé e escritor.
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