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quinta-feira, 16 de abril de 2020

COVID 19 - PÁSCOA - DÉCIMA QUINTA REFLEXÃO




Por FREI ALOÍSIO FRAGOSO

    Passados os dias litúrgicos da Páscoa, somos chamados a atualizá-la cotidianamente, neste tempo em que nos é dado viver, trabalhar, crer, sofrer e amar.

   Do Senhor Ressuscitado recebemos de herança o poder inesgotável da Fé.

    No entanto, os dias atuais são dolorosos e sombrios. Quando a comoção é grande demais, seja causada pela alegria ou causada pela dor, é melhor falar por meio de metáforas, pois a realidade torna-se inexprimível.

    Gostaria de focar mente e coração em uma determinada pessoa, alguém a quem eu chamaria de Metáfora Viva da Páscoa. Alguém que, penso eu, ficará na História, para sempre, como a figura humana mais emblemática destes tempos difíceis. Alguém reconhecido universalmente, por crentes e não crentes, como o grande líder espiritual da humanidade. O Papa Francisco. Sua presença domina o palco global nestes dias de pandemia. Suas aparições públicas, sem público, dão uma dimensão gigantesca à sua pequena figura. Quando o vimos, aquela tarde, caminhando sozinho na Praça deserta de São Pedro, vivenciamos uma experiência transcendental. Nossos olhos enxergaram, ali mesmo e muito além desse espaço vazio, milhões e milhões de seres humanos atentos e ansiosos, à espera de uma palavra de conforto do Papa.

    Sua veste branca como  a neve refletia uma luminosidade real e mística, semelhante a um  facho aceso no escuro da paisagem.

    Esta visão não seria possível se ele estivesse revestido com os trajes pomposos de Sumo Pontífice. Não! Ele não é o Sumo Pontífice. Ele é apenas o Bom Pastor.

    Suas palavras simples e lúcidas vão direto ao coração, sem, contudo, fugir ao entendimento crítico da razão. Por isso elas nos comovem e nos convencem, e não sabemos se mais nos convencem ou mais nos comovem. Na verdade, elas nos impedem de chorar sem também pensar e de pensar sem ter vontade de chorar.

    Escutemos algumas destas palavras. "Não escutamos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos destemidos, pensando que continuaríamos saudáveis em um mundo doente." O Papa está lembrando nossa parte de responsabilidade nas situações trágicas que irrompem em nossa Casa Comum. A avidez de posse, de lucro, de prazer  afasta-nos da realidade e nos transtorna pela pressa. O castigo que muitos querem imputar a Deus foi imposto a nós pela natureza violentada.

    O Papa Francisco nos adverte duramente, porém não nos condena nem nos deixa abandonados à nossa própria sorte. Seus gestos falam tanto quanto suas palavras.

    No início da Semana Santa, telefonou, ele mesmo, para uma apresentadora da emissora "Raí 1" e lhe disse ternamente: "alô, Lorena, boa tarde, como está você?" Então comunicou o programa da Semana. Aí está um gesto profundamente simbólico na sua simplicidade. Este telefonema podia ser para cada um de nós, se isso fosse possível, na prática, porque ele enxerga em cada um de nós um objeto da sua ternura.

    Chegada a Sexta-Feira, ele abriu o coração: "Quero estar perto do Povo de Deus, especialmente daqueles que mais sofrem, das vítimas da pandemia, da dor do mundo, mas olhando para todos com esperança, que não tira a dor, mas não decepciona".

    Este é o nosso Papa. Como todos os grandes profetas bíblicos, ele é amado por uns e perseguido por outros. Por isso precisa de nossa solidariedade junto com nossas orações. Coloquemo-nos no lugar dele, com a palavra presa na garganta, a mente dirigida para o mundo, pensando: "Ó meu Deus, neste momento, milhões dos teus filhos estão voltados para mim, suplicantes: Fala, Francisco! Livra-nos do desespero! Salva-nos pela Fé! Restitui-nos a Esperança!"

    Quem suportaria tamanho peso senão pelo poder da Fé?

    Deus o abençoe, Papa Francisco! A Ele agradecemos por nos ter dado você, o homem certo, na hora certa, para o lugar certo. Amém! 

 FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.

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