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domingo, 12 de abril de 2020

COVID 19 - DOMINGO DA PÁSCOA - DÉCIMA QUARTA REFLEXÃO QUARESMAL




Por FREI ALOÍSIO FRAGOSO

    Neste dia era costume saudar-nos com uma expressão de fé e júbilo: FELIZ PÁSCOA!

    E  como ficava bem esta associação entre Páscoa e felicidade! Este ano, no entanto, a notícia mais importante e jubilosa  da  nossa Fé, "O SENHOR RESSUSCITOU, ELE ESTÁ VIVO NO MEIO DE NÓS", choca-se com a tragédia universal do coronavirus, a pior notícia que os habitantes deste planeta terra já tiveram, desde séculos. E agora? Como é possível conciliar pela Fé o que conflita com a realidade? Há como manter vivos os sinais do Senhor ressuscitado? Nós não celebramos estes acontecimentos passados como simples memorial, mas sim como iluminação do Espírito, a fim de entender o que está acontecendo hoje.

     Acontece que a Páscoa deste ano encerra dúvidas e inquietações, mesmo entre pessoas de fé. Umas dirão: "para mim Jesus não ressuscitou este ano". Outras dirão talvez: "acho que Ele adiou a Ressurreição para outra oportunidade". Outros ainda pensarão: "precisamos mergulhar fundo nos enigmas da Fé para perceber os sinais da Ressurreição".

    No entanto, a novidade da Páscoa cristã é justamente esta de que não há mais separação entre uma coisa e outra, alegria e dor contribuem conjuntamente para a construção da Páscoa, uma vez que ambas são constitutivas da vida humana. O caminho indicado por Jesus não se limita ao que sucedeu ali onde os discípulos encontraram o túmulo vazio. Aconteceu também na mesa da Última Ceia, onde Ele anunciou seu mandamento maior, e na Cruz do Calvário, onde Ele provou com o sacrifício da vida o que tinha proclamado  por palavras. E culminou na manhã da Ressurreição, quando Jesus deu a garantia de que, ao final, o Amor sempre prevalece, garantindo o dom da Vida.

    O que os apóstolos viram e ouviram, depois da Ressurreição, não foram evidências para os olhos; foi, antes, uma NOVA PRESENÇA dentre deles,  que não conseguiam entender e que invadia suas almas, e  mudava todos os seus sentimentos de medo e tristeza, e conduzia suas vidas com um novo poder, em uma nova direção, de tal maneira, que não tiveram mais dúvida: é Ele, só pode ser Ele. Ele está vivo no meio de nós.

    Hoje somos nós os herdeiros e as testemunhas da Ressurreição. Queremos sinais concretos, em meio à catástrofe do coronavirus? Não precisamos ser videntes para enxergá-los dentro dos fatos:

    Assistimos ao despertar da consciência coletiva, forçando os poderes constituídos a priorizar a vida das pessoas sobre seus planos de dominação.

    Testemunhamos o afloramento da bondade humana, chegando a casos extremos de sacrificar a própria vida em favor de vidas alheias.

    Comprovamos como é inútil confiar nosso destino aos ídolos do Poder Econômico e do Sistema Capitalista, que esconderam suas fortunas e se mostraram indiferentes ao desespero das pessoas.

    Presenciamos  um fenômeno inigualável: um insignificante elemento da natureza provar que somos mortais, desmascarando o delírio de onipotência dos que se arvoram em senhores do mundo ("America great again").

    Com a abstinência compulsória de bens supérfluos, redescobrimos os valores fundamentais da nossa vida, as coisas simples, a convivência fraterna, a partilha dos sentimentos.

    Se alguém se atrever a rodar um filme sobre o COVID 19, proponho-lhe, desde já, um título bem  conhecido: "ADEUS ÀS ILUSÕES". Só em Deus devemos por a nossa confiança.

    O que pode resultar de tudo isso? Pode resultar um crescimento extraordinário das consciências na direção de construir um outro mundo possível bem melhor do que este.
   
Por fim, se for difícil saudar-nos com uma "Feliz Páscoa", por conta da realidade, há diversas outras maneiras de saudar-nos. "CRISTO RESUSCITOU E ESTÁ VIVO NO MEIO DE NÓS" é uma delas. Em quaisquer circunstâncias, não percamos o foco das palavras finais de Jesus na Última Ceia: "Não tenham medo, eu venci o mundo e estarei com vocês até o fim." Amém.


FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.


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