Por FREI ALOÍSIO FRAGOSO
Neste dia era costume saudar-nos com uma
expressão de fé e júbilo: FELIZ PÁSCOA!
E
como ficava bem esta associação entre Páscoa e felicidade! Este ano, no
entanto, a notícia mais importante e jubilosa
da nossa Fé, "O SENHOR
RESSUSCITOU, ELE ESTÁ VIVO NO MEIO DE NÓS", choca-se com a tragédia
universal do coronavirus, a pior notícia que os habitantes deste planeta terra
já tiveram, desde séculos. E agora? Como é possível conciliar pela Fé o que
conflita com a realidade? Há como manter vivos os sinais do Senhor
ressuscitado? Nós não celebramos estes acontecimentos passados como simples
memorial, mas sim como iluminação do Espírito, a fim de entender o que está
acontecendo hoje.
Acontece que a Páscoa deste ano encerra
dúvidas e inquietações, mesmo entre pessoas de fé. Umas dirão: "para mim
Jesus não ressuscitou este ano". Outras dirão talvez: "acho que Ele
adiou a Ressurreição para outra oportunidade". Outros ainda pensarão:
"precisamos mergulhar fundo nos enigmas da Fé para perceber os sinais da Ressurreição".
No entanto, a novidade da Páscoa cristã é
justamente esta de que não há mais separação entre uma coisa e outra, alegria e
dor contribuem conjuntamente para a construção da Páscoa, uma vez que ambas são
constitutivas da vida humana. O caminho indicado por Jesus não se limita ao que
sucedeu ali onde os discípulos encontraram o túmulo vazio. Aconteceu também na
mesa da Última Ceia, onde Ele anunciou seu mandamento maior, e na Cruz do
Calvário, onde Ele provou com o sacrifício da vida o que tinha proclamado por palavras. E culminou na manhã da
Ressurreição, quando Jesus deu a garantia de que, ao final, o Amor sempre
prevalece, garantindo o dom da Vida.
O que os apóstolos viram e ouviram, depois
da Ressurreição, não foram evidências para os olhos; foi, antes, uma NOVA
PRESENÇA dentre deles, que não
conseguiam entender e que invadia suas almas, e
mudava todos os seus sentimentos de medo e tristeza, e conduzia suas
vidas com um novo poder, em uma nova direção, de tal maneira, que não tiveram
mais dúvida: é Ele, só pode ser Ele. Ele está vivo no meio de nós.
Hoje somos nós os herdeiros e as
testemunhas da Ressurreição. Queremos sinais concretos, em meio à catástrofe do
coronavirus? Não precisamos ser videntes para enxergá-los dentro dos fatos:
Assistimos ao despertar da consciência
coletiva, forçando os poderes constituídos a priorizar a vida das pessoas sobre
seus planos de dominação.
Testemunhamos o afloramento da bondade
humana, chegando a casos extremos de sacrificar a própria vida em favor de
vidas alheias.
Comprovamos como é inútil confiar nosso
destino aos ídolos do Poder Econômico e do Sistema Capitalista, que esconderam
suas fortunas e se mostraram indiferentes ao desespero das pessoas.
Presenciamos um fenômeno inigualável: um insignificante
elemento da natureza provar que somos mortais, desmascarando o delírio de
onipotência dos que se arvoram em senhores do mundo ("America great
again").
Com a abstinência compulsória de bens
supérfluos, redescobrimos os valores fundamentais da nossa vida, as coisas
simples, a convivência fraterna, a partilha dos sentimentos.
Se alguém se atrever a rodar um filme sobre
o COVID 19, proponho-lhe, desde já, um título bem conhecido: "ADEUS ÀS ILUSÕES". Só
em Deus devemos por a nossa confiança.
O que pode resultar de tudo isso? Pode
resultar um crescimento extraordinário das consciências na direção de construir
um outro mundo possível bem melhor do que este.
Por fim, se for difícil saudar-nos com uma
"Feliz Páscoa", por conta da realidade, há diversas outras maneiras
de saudar-nos. "CRISTO RESUSCITOU E ESTÁ VIVO NO MEIO DE NÓS" é uma
delas. Em quaisquer circunstâncias, não percamos o foco das palavras finais de
Jesus na Última Ceia: "Não tenham medo, eu venci o mundo e estarei com
vocês até o fim." Amém.
FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade
franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.
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