por Frei Aloísio Fragoso
A VERDADE EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS
Desde algum tempo, o Papa
Francisco vem alertando a consciência do mundo para o fato de que a Terceira
Guerra Mundial já está sendo travada. Não se trata de uma guerra convencional,
igual a tantas outras conhecidas da História. Ela se dá por meio de batalhas
fragmentadas e reincidentes, que explodem aqui e ali, sem campos
pré-determinados, ceifando milhões de vidas, sob o olhar calculista de seus
autores e a ignorância das massas adormecidas
pelo que o Papa chama de "cultura da indiferença".
A pandemia não estava nas
previsões deles, chegou do nada virulentamente, mas logo enquadrou-se nos seus
propósitos políticos: os Estados Unidos acusaram a China de ter produzido o
coronavírus em seus laboratórios. A China, por sua vez, rebateu com a mesma
virulência, e os demais países poderosos trataram de contribuir com um lado ou
outro, de acordo com seus interesses políticos e econômicos. Cada um fez seus
cálculos: quem primeiro encontrar uma evidência para o que deseja provar, terá
descoberto uma nova bomba nuclear, de efeitos
incalculáveis. Não importa que sejam provas reais ou forjadas, basta que
sejam "convincentes". Foi assim que o Presidente George Bush
convenceu os países aliados da urgência de invadir o Iraque, com o argumento
irrefutável de que Sadam Hussein escondia arsenais nucleares. Milhares de vidas
jovens, iraquianas e norte-americanas, foram sacrificadas, enquanto nenhum
indício destes arsenais foi encontrado até hoje.
Com esta "prova"
em mãos, Bush ou Trump estaria legitimado para contra-atacar com as mesmas
armas, a saber, novos vírus letais produzidos em seus laboratórios (lembram do
napalm, durante a guerra do Vietnam?). Se daí resultarem milhões de mortes
inocentes, não haverá culpados, pois já se conhece um nome capaz de isentá-los da
culpa. Chamam-se "efeitos colaterais".
Costuma-se dizer que, em
toda guerra, a primeira vítima fatal é a Verdade. Certamente, como sugere
Jesus, quem faz o papel do lobo, procura
proteger-se com a pele do cordeiro. Daí nasce o pior dos sacrilégios: criar
inimigos em nome de Deus. Cobrir de bençãos os que tem na boca o discurso do
ódio. Usar as Escrituras Sagradas para disfarçar a mentira com aparências de
Verdade.
Quem diria que, passados 4
séculos, Maquiavel ainda seria seu principal conselheiro! É para eles que o filósofo medieval escreve
em sua obra "O Principe": "um governante hábil não pode e não
deve guardar sua palavra quando isso é contrário a seus interesses.... Ele
precisa ser um perfeito simulador e dissimulador. Os homens são tão simplórios
e se deixam de tal modo dominar pela necessidade do momento, que, aquele que
saiba enganar achará sempre quem queira ser enganado.... Importa que ele se
conserve no bem, enquanto possível, mas saiba recorrer ao mal, se
necessário."
As cenas grotescas dos que
foram às ruas gritar contra o isolamento social, nos dias em que a pandemia
alcançava seu pic, pareciam refletir um
outro pensamento de Maquiavel: "a pessoa esquece mais facilmente a morte
do pai do que a perca do seu patrimônio".
Em situações assim tão
graves, onde encontrar porta-vozes autênticos da Verdade? - Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça o Papa Francisco, em suas homilias mais recentes. Ele abre as
comportas e libera muitas verdades aprisionadas: "Fechamos os ouvidos aos
gritos dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos destemidos,
pensando que avançaríamos saudáveis, em um mundo doente". Agora "O
risco é que podemos ser atingidos por um vírus ainda pior, o da indiferença
egoísta. Um vírus que se infiltra no pensamento de que a vida é melhor se for
melhor para mim e tudo ficará bem, se for bom para mim."
Tantas vezes já ouvimos
dizer que crise é oportunidade. E também que a Verdade é um dom em movimento, a
ser conquistado passo a passo.
Aproveitemos esta oportunidade
única para pensar e repensar os valores sobre os quais se assentam nossa vida
individual, nossas relações comunitárias e nossa consciência política. Não
cansemos do silêncio que a quarentena nos impõe. Muitas vezes é de dentro do
silêncio que irrompem as verdades
reprimidas.
Está próxima a festa de
Pentecostes. Que o Espírito Santo, Patrono da Verdade, nos ilumine! Amém.
FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.
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