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quinta-feira, 9 de abril de 2020

COVID 19 - QUINTA- FEIRA SANTA - DÉCIMA PRIMEIRA REFLEXÃO QUARESMAL



Por  FREI ALOÍSIO FRAGOSO

    Nesta quinta-feira, eu não me sinto à vontade para falar de outro assunto, senão da Última Ceia de Jesus com seus apóstolos. Na minha vida de padre, ela tem sido um espaço infinito da minha realização pessoal. Os fatos narrados nos Evangelhos transcendem em mistério só acessível à Fé, mas capaz de comover a crentes e não crentes.

    Uma das mais famosas obras de arte da História é a "Ceia Larga" do italiano Leonardo da Vinci. Nela o pintor parece querer retratar lances deste Mistério, ao transpor para a tela o exato momento em que Jesus declara: "um de vocês vai me trair". Os corpos estão em movimento e os rostos tensionados convergem numa mesma indagação: "quem é o traidor?"

    Numerosas tradições, reais ou fictícias, acompanharam a história desta genial pintura. Uma delas conta o seguinte: Da Vinci passou anos procurando dois jovens que servissem de modelo para dois de seus personagens, Jesus, o Salvador e Judas, o traidor. Encontrou o primeiro e retratou-o; após anos de intervalo, encontrou o segundo e também o retratou. Passado algum tempo, todos ficaram sabendo de um segredo: estes dois personagens coincidiram em uma única pessoa. Sem que o pintor percebesse, o modelo de Jesus fora o mesmo modelo de Judas, estando este com a face desfigurada pelas marcas do pecado.

    Voltando aos Evangelhos, em  um climax  de tensões, emoções e surpresas, Jesus expõe ao vivo o último capítulo da sua missão redentora. Institui o Memorial da Eucaristia ("Isto é meu corpo, isto é meu sangue. Tomai e comei, tomai e bebei"). Institui o Sacerdócio Ministerial ("Fazei isto  memória de mim"). Estabelece os fundamentos da sua Fraternidade ("Se eu, o Senhor, lavei os seus pés,  quanto mais vocês devem lavar os pés uns dos outros'). Promete a vinda do Espírito Santo ("Eu mandarei o Espírito da Verdade e Ele lhes comunicará toda Verdade"). Anuncia a sua Segunda Vinda ("Eu voltarei e, então, lhes darei uma alegria que ninguém mais poderá tirar de vocês").

   Em meio a estas emoções, revelam-se ali as verdades de cada um e, nelas, a grandeza e a pequenez do ser humano . O fiel amigo Pedro jura fidelidade ("Ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei") e,  pouco depois, nega seu Senhor covardemente ("Eu não conheço este homem"). Os demais apóstolos choram a partida do Mestre amado para, a seguir, abandoná-lo ao Tribunal dos fariseus. Sem falar na traição do Iscariotes.

    Jesus os prepara para o futuro ("O servo não é maior do que o seu Senhor, assim como me perseguiram, perseguirão também vocês"). E se levanta da mesa com um enigmático apelo de Fé: "Não tenham medo, eu venci mundo".

    Fica para nós, herdeiros desta Fé, descobrir como isso é possível, como é possível, em meio a tantos sinais evidentes de fracasso, Alguém se declarar Vencedor. No entanto, é neste embate entre os sinais da vida e da morte, que podemos entender o Mistério maior da Páscoa.

    Neste momento, a quarentena compulsória, imposta pelo COVID 19, não impede, pelo contrário, convida-nos a reviver a Ceia Larga. Ela oportuniza chances maiores de reunir os familiares em torno da mesa comum, com a presença de todos os comensais. Como na Ceia de Jesus, aí também haverá tensões e emoções. E também aí os pais terão o direito de tomar o pão e o vinho em suas mãos e repetir estas palavras:

"isto é meu corpo, isto é meu sangue", pois o pão sobre a mesa da família é infinitamente mais do que matéria, é o pão do amor, sacrifício amoroso do trabalho. Com certeza Jesus estará no centro desta eucaristia familiar.

   Que assim seja, que, por este caminho, vivamos a experiência de que fala São Paulo: "A VITORIA QUE VENCE O MUNDO É A NOSSA FÉ." 
Amém.

FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.


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