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domingo, 28 de agosto de 2011

A FALTA QUE O RESPEITO FAZ



Por Leonardo Boff






A cultura moderna, desde os seus albores no século XVI, está assentada sobre uma brutal falta de respeito. Primeiro, para com a natureza, tratada como um torturador trata a sua vítima com o propósito de arrancar-lhe todos os segredos(Bacon). Depois, para com as populações originárias da América Latina.

Em sua “Brevíssima Relação da Destruição das Indias”(1562) conta Bartolomé de las Casas, como testemunho ocular, que os espanhóis “em apenas 48 anos ocuparam uma extensão maior que o comprimento e a largura de toda a Europa, e uma parte da Ásia, roubando e usurpando tudo com crueldade, injustiça e tirania, havendo sido mortas e destruídas vinte milhões de almas de um país que tínhamos visto cheio de gente e de gente tão humana”(Décima Réplica).

Em seguida, escravizou milhões de africanos trazidos para as Américas e negociados como “peças” no mercado e consumidos como carvão na produção.Seria longa a ladainha dos desrespeitos de nossa cultura, culminando nos campos de extermínio nazista de milhões de judeus, de ciganos e de outros considerados inferiores.

Sabemos que uma sociedade só se constrói e dá um salto para relações minimamente humanas quando instaura o respeito de uns para com os outros. O respeito, como o mostrou bem Winnicott, nasce no seio da família, especialmente da figura do pai, responsável pela passagem do mundo do eu para o mundo dos outros que emergem como o primeiro limite a ser respeitado. Um dos critérios de uma cultura é o grau de respeito e de autolimitação que seus membros se impõem e observam. Surge, então, a justa medida, sinônimo de justiça. Rompidos os limites, vigora o desrespeito e a imposição sobre os demais.

Respeito supõe reconhecer o outro como outro e seu valor intrínseco seja pessoas ou qualquer outro ser.Dentre as muitas crises atuais, a falta generalizada de respeito é seguramente uma das mais graves. O desrespeito campeia em todas as instâncias da vida individual, familiar, social e internacional. Por esta razão, o pensador búlgaro-francês Tzvetan Todorov em seu recente livro “O medo dos bárbaros”(Vozes 2010) adverte que se não superarmos o medo e o ressentimento e não assumirmos a responsabilidade coletiva e o respeito universal não teremos como proteger nosso frágil planeta e a vida na Terra já ameaçada.O tema do respeito nos remete a Albert Schweitzer (1875-1965), prêmio Nobel da Paz de 1952.

Da Alsácia, era um dos mais eminentes teólogos de seu tempo. Seu livro “A história da pesquisa sobre a vida de Jesus” é um clássico por mostrar que não se pode escrever cientificamente uma biografia de Jesus. Os evangelhos contém história mas não são livros históricos. São teologias que usam fatos históricos e narrativas com o objetivo de mostrar a significação de Jesus para a salvação do mundo. Por isso, sabemos pouco do real Jesus de Nazaré. Schweitzer comprendeu: histórico mesmo é o Sermão da Montanha e importa vivê-lo.

Abandonou a cátedra de teologia, deixou de dar concertos de Bach (era um de seus melhores intérpretes) e se inscreveu na faculdade de medicina. Formado, foi a Lambarene no Gabão, na Africa, para fundar um hospital e servir a hansenianos. E ai trabalhou, dentro das maiores limitações, por todo o resto de sua vida.Confessa explicitamente:”o que precisamos não é enviar para lá missionários que queiram converter os africanos mas pessoas que se disponham a fazer para os pobres o que deve ser feito, caso o Sermão da Montanha e as palavras de Jesus possuam algum sentido. O que importa mesmo é, tornar-se um simples ser humano que, no espírito de Jesus, faz alguma coisa, por pequena que seja”.

No meio de seus afazares de médico, encontrou tempo para escrever. Seu principal livro é:”Respeito diante da vida” que ele colocou como o eixo articulador de toda ética.

“O bem”, diz ele, “consiste em respeitar, conservar e elevar a vida até o seu máximo valor; o mal, em desrespeitar, destruir e impedir a vida de se desenvolver”. E conclui:”quando o ser humano aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante; a grande tragédia da vida é o que morre dentro do homem enquanto ele vive”.Como é urgente ouvir e viver esta mensagem nos dias sombrios que a humanidade está atravessando.


Leonardo Boff é autor de “Convivência, Respeito, Tolerância”,Vozes 2006.

CORRUPÇÃO: ENDEMIA POLÍTICA



Por Frei Betto






A política brasileira sempre se alimentou do dinheiro da corrupção. Não todos os políticos. Muitos são íntegros, têm vergonha na cara e lisura no bolso. Porém, as campanhas são caras, o candidato não dispõe de recursos ou evita reduzir sua poupança, e os interesses privados no investimento público são vorazes.


Arma-se, assim, a maracutaia. O candidato promete, por baixo dos panos, facilitar negócios privados junto à administração pública. Como por encanto, aparecem os recursos de campanha. Eleito, aprova concorrências sem licitações, nomeia indicados pelo lobby da iniciativa privada, dá sinal verde a projetos superfaturados e embolsa o seu quinhão, ou melhor, o milhão.


Para uma empresa que se propõe a fazer uma obra no valor de R$ 30 milhões – e na qual, de fato, não gastará mais de 20, sobretudo em tempos de terceirização – é excelente negócio embolsar 10 e ainda repassar 3 ou 4 ao político que facilitou a negociata. Conhecemos todos a qualidade dos serviços públicos. Basta recorrer ao SUS ou confiar os filhos à escola pública. (Todo político deveria ser obrigado, por lei, a tratar-se pelo SUS e matricular, como propõe o senador Cristovam Buarque, os filhos em escolas públicas).


Vejam ruas e estradas: o asfalto cede com chuva um pouco mais intensa, os buracos exibem enormes bocas, os reparos são frequentes. Obras intermináveis... Isso me lembra o conselho de um preso comum, durante o regime militar, a meu confrade Fernando de Brito, preso político: “Padre, ao sair da cadeia trate de ficar rico.


Comece a construir uma igreja. Promova quermesses, bingos, sorteios. Arrecade muito dinheiro dos fiéis. Mas não seja bobo de terminar a obra. Não termine nunca. Assim o senhor poderá comprar fazendas e viver numa boa.” Com o perdão da rima, a ideia que se tem é que o dinheiro público não é de ninguém.


É de quem meter a mão primeiro. E como são raros os governantes que, como a presidente Dilma, vão atrás dos ladrões, a turma do Ali Babá se farta. Meu pai contava a história de um político mineiro que enriqueceu à base de propinas. Como tinha apenas dois filhos, confiou boa parcela de seus recursos (ou melhor, nossos) à conta de um genro, meio pobretão. Um dia, o beneficiário decidiu se separar da mulher.


O ex-sogro foi atrás: “Cadê meu dinheiro?” O ex-genro fez aquela cara de indignado: “Que dinheiro? Prova que há dinheiro seu comigo.” Ladrão que rouba ladrão... Hoje, o ex-genro mora com a nova mulher num condomínio de alto luxo. Sou cético quanto à ética dos políticos ou de qualquer outro grupo social, incluídos frades e padres. Acredito, sim, na ética da política, e não na política. Ou seja, criar instituições e mecanismos que coíbam quem se sente tentado a corromper ou ser corrompido, A carne é fraca, diz o Evangelho.


Mas as instituições devem ser suficientemente fortes, as investigações rigorosas e as punições severas. A impunidade faz o bandido. E, no caso de políticos, ela se soma à imunidade. Haja ladroeira! Daí a urgência da reforma política – tema que anda esquecido – e de profunda reforma do nosso sistema judiciário.


Adianta a Polícia Federal prender se, no dia seguinte, todos voltam à rua ansiosos por destruir provas? E ainda se gasta saliva quanto ao uso de algemas, olvidando os milhões surrupiados... e jamais devolvidos aos cofres públicos. Ainda que o suspeito fique em liberdade, por que a Justiça não lhe congela os bens e o impede de movimentar contas bancárias? A parte mais sensível do corpo humano é o bolso.


Os corruptos sabem muito bem o quanto ele pode ser agraciado ou prejudicado. As escolas deveriam levar casos de corrupção às salas de aula. Incutir nos alunos a suprema vergonha de fazer uso privado dos bens coletivos. Já que o conceito de pecado deixou de pautar a moral social, urge cultivar a ética como normatizadora do comportamento. Desenvolver em crianças e jovens a autoestima de ser honesto e de preservar o patrimônio publico.




Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro”, que a editora Rocco faz chegar às livrarias esta semana. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

PRECISAMOS DE PROFETAS





Por Marcelo Barros




Quem passa por um edifício em construção, pode ver placas dizendo: “Precisamos de pedreiros”. Lojas de comércio alternam: “Precisamos de vendedores”. Infelizmente não podemos colocar nas portas das Igrejas: “Precisamos de profetas e profetizas”. Entretanto, é bom espalhar por aí que isso é uma necessidade urgente e que se apresentem os/as candidatos/as. Não estranhem o fato de que, diferentemente de outros ofícios, a missão de profeta quase nunca é bem aceita e reconhecida. Muitas vezes, gera até incompreensões e rejeições injustas. No tempo em que viveu no sertão do Nordeste, o padre Alfredo Kunz dizia: “Aqui, os urubus é que fazem o serviço de limpeza pública, já que as prefeituras não assumem. Todo mundo sabe disso. Entretanto, eu já vi gente criando todo tipo de pássaros, mas nunca vi ninguém criar urubu. Os urubus são necessários, mas ninguém os quer perto. Urubus me lembram os profetas de Deus, necessários, mas frequentemente rejeitados”.


Não é difícil celebrar a memória de profetas mortos. O evangelho denuncia que os fariseus e mestres da lei matam os profetas e depois erguem para eles belos túmulos, contanto que continuem mortos (Mt 23). Atualmente, em certos ambientes eclesiásticos, quando alguém fala em profetas como Mons. Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado por militares da ditadura salvadorenha e, aqui no Brasil, Dom Hélder Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife, há quem os elogie, mas conclua com certo cinismo: “o tempo deles era outro. Hoje não pode mais ser assim”. E assim, estes religiosos dos tempos novos se recolhem em seu mundinho de paramentos, ritos paroquiais e segredos de cúria.


Para quem a espiritualidade significa caminho de amor e solidariedade universal, o mês de agosto recorda a memória de vários mártires da justiça do reino divino. No dia 10 de agosto de 1974, frei Tito Alencar, terrivelmente torturado em seu corpo e sua alma, procurava a paz na morte. No 12 de agosto de 1983, na Paraíba, era assassinada Margarida Alves, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. Além de vários homens e mulheres que deram a vida pela causa do reino, em agosto, partiram deste mundo três bispos católicos que marcaram muito a caminhada da Igreja no Brasil como profetas da paz e da justiça: Dom Antônio Fragoso, bispo emérito de Crateús, no Ceará e um dos primeiros bispos ligados à Teologia da Libertação; Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, MG, e ex-presidente da CNBB que, em 2006, partiu no dia 27 de agosto, mesma data em que, sete anos antes, no Recife, nos tinha deixado Dom Hélder Câmara.


A missão de uma pessoa religiosa é ser testemunha da presença divina no mundo e atuar para que a sociedade se transforme de acordo com o projeto divino de paz e justiça para todos. Por isso, é bom recordarmos a profecia de pastores como Hélder Câmara, Antônio Fragoso e Luciano Mendes de Almeida. Todos os três, cada qual em sua área de atuação e do seu modo, conduziram a Igreja do Brasil pelo caminho da profecia.


Na memória destes três profetas da Igreja, nos damos conta da herança profética que recebemos e, junto com cristãos, pessoas de outras confissões e todos os homens e mulheres que acreditam no amor e na justiça, renovamos nosso compromisso de serviço aos irmãos e luta pacífica para transformarmos este mundo.


Em 1994, Dom Hélder mandava esta mensagem ao movimento italiano Mani Tesi (Mãos Estendidas): “Não estamos sós. Por isso, não aceito nunca a resignação nem o desespero. Um dia, a fome será vencida e haverá paz para todos. A última palavra neste mundo não pode ser a morte mas a vida! Nunca pode ser o ódio, mas o amor! Precisamos fazer com que não haja mais desespero e sim esperança. Nunca mais vençam as mãos enrijecidas contra o outro e sim o que o movimento de vocês valoriza: Mãos estendidas! Unidas na solidariedade e no amor para com todos”.

Marcelo Barros, monge beneditino e autor de 40 livros, dos quais o mais recente é "Para onde vai Nuestra América” (Espiritualidade socialista para o século XXI). São Paulo, Ed. Nhanduti, 2011. Email: irmarcelobarros@uol.com.br

SAÚDE NATIMORTA




Por Maria Clara Lucchetti Bingemer





O paraense Raimundo Cícero e sua esposa Vanessa são jovens, com menos de 30 anos. Não são ricos e lutam para viver. Apesar disso, esperavam com cuidado e alegria os gêmeos que habitavam o ventre de Vanessa havia sete meses. Ela fazia o pré-natal no hospital da Santa Casa de Belém, acompanhando passo a passo o delicado processo de uma gravidez gemelar. Por isso, quando começou a sentir contrações, foi com o marido à mesma Santa Casa, às 4h30 da madrugada. Os bebês pareciam querer nascer antes da hora.

Foram informados de que não seria possível internar Vanessa, porque não havia leitos disponíveis. O casal procurou, então, o Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, mas também aí não encontrou lugar. Desesperado, Cícero pediu apoio ao Corpo de Bombeiros e retornou à Santa Casa de ambulância. Vanessa deu à luz o primeiro bebê, que nasceu morto. Mais tarde, Vanessa foi finalmente atendida no hospital e teve a amarga notícias de que seu segundo filho também nascera morto.

Um soldado do Corpo de Bombeiros deu voz de prisão à médica plantonista, alegando omissão. Os corpos dos bebês foram enviados à perícia para apurar a “causa mortis”. A plantonista afirma que a morte ocorreria de qualquer forma. Por sua vez, a administradora do hospital descreve com riqueza de detalhes a infernal situação em que se encontra o hospital, com as unidades cheias, falta absoluta de leitos disponíveis e fila de pessoas implorando uma vaga.

O secretário de Saúde do Pará declara que mesmo com a superlotação a paciente deveria ter sido encaminhada para um leito até que fosse transferida para outro hospital. Os médicos da Santa Casa alegam que Vanessa estava na 30ª semana de uma gravidez de alto risco. O que mais assusta é o caso dos gêmeos de Belém não ser um fato isolado nem esporádico. Em Barreiros, há poucos dias, a fotógrafa Marcela Maria da Silva, 21 anos, esperou 18 horas por atendimento obstétrico, porque não havia especialista no plantão. Mãe e filho morreram.

Em Maceió, também há poucos dias, o Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (SAMU) não dispunha de motorista para buscar Jardilane Maria do Carmo, de 19 anos, quando ela pediu ser transportada até a maternidade. Orientaram-na que pegasse um táxi. Desesperada, a jovem viu seu bebê de 32 semanas morrer a caminho do hospital. No Recife, Clara e Josenilton esperavam o segundo filho. Já em trabalho de parto, ele a levou em seu carro do bairro da Várzea, onde moram, ao Hospital das Clínicas, na Cidade Universitária.

O carro chegou rápido, mas o hospital não dispunha de uma maca para transportar Clara até o setor de obstetrícia, que se situa no 4º andar. O menino de 3,7 quilos nasceu dentro do carro após 50 minutos de espera, enquanto o pai corria desesperado pelo hospital para conseguir uma maca. Quando chegou, não havia mais nada a fazer. O bebê estava morto. Não havia leito, não havia especialista, não havia ambulância, não havia maca. E com essa não existência das mínimas condições para o funcionamento de um hospital o resultado é que não havia vida depois de um tempo curto, mas longo demais para os pais que esperavam uma criança que ia alegrar-lhes a casa e dar sentido às suas vidas. Todos esses casos aconteceram no Norte e no Nordeste do país, regiões sempre mais penalizadas pelas deficiências no equipamento e atendimento quando se trata da saúde pública.

Porém, as grandes capitais não estão tão longe deste estado de coisas. Não são poucos os casos similares de que se tem notícia nas grandes cidades do país. Diante desta triste situação, o mais cômodo e mais fácil é declarar o feto natimorto, com óbito acontecido ainda no ventre. No entanto, não deveria ser outro o veredicto? Não será a saúde que, com tal estado dos hospitais públicos, encontra-se natimorta? Não será a instância que deveria garantir a vida que se encontra tomada pela contramão da morte, que faz com que a vida se esvaia e flua pelas brechas abertas da carência, do descaso e muitas vezes do descuidado e da incompetência?

De nada adianta ser o país do futuro, a superpotência do momento se a vida não pode ser vivida. Mais: se a vida não tem lugar para acontecer. Não é a gravidez dessas jovens mulheres que é de alto risco. É toda a vida dos brasileiros que se encontra em situação de risco se providências drásticas não forem tomadas a respeito das condições de atendimento de nossos hospitais.



Maria Clara Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.Copyright 2011 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

domingo, 7 de agosto de 2011

TERRORISTA LOURO DE OLHOS AZUIS



por Frei Betto




Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente.

Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque. Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele “é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli? Anders é um típico escandinavo.

Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética? O ser humano é a alma que carrega.

Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.


Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto. Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

AINDA O FUNDAMENTALISMO



por LEONARDO BOFF




O ato terrorista perpetrado na Noruega de forma calculada por um solitário extremista norueguês de 32 anos, trouxe novamente à baila a questão do fundamentalismo. Os governos ocidentais e a mídia induziram a opinião pública mundial a associar o fundamentalismo e o terrorismo quase que exclusivamente a setores radicais do Islamismo.

Barack Obama dos USA e David Cameron do Reino Unido se apressaram em solidarizar-se com governo da Noruega e reforçaram a idéia de dar batalha mortal ao terrorismo, no pressuposto de que seria um ato da Al Qaeda.

Preconceito. Desta vez era um nativo, branco, de olhos azuis, com nivel superior e cristão, embora o The New York Times o apresente “sem qualidades e fácil de se esquecer”.Além de rejeitar decididamente o terrorismo e o fundamentalismo devemos procurar entender o porquê deste fenômeno. Já abordei algumas vezes nesta coluna tal tema que resultou num livro “Fundamentalismo, Terrorismo, Religião e Paz: desafio do século XXI”(Vozes 2009).

Ai refiro, entre outras causas, o tipo de globalização que predominou desde o seu início, uma globalização fundamentalmente da economia, dos mercados e das finanças. Edgar Morin a chama de “a idade de ferro da globalização”. Não se seguiu, como a realidade pedia, uma globalização política (uma governança global dos povos), uma globalização ética e educacional.

Explico-me: com a globalização inauguramos uma fase nova da história do Planeta vivo e da própria humanidade.

Estamos deixando para trás os limites restritos das culturas regionais com suas identidades e a figura do estado-nação para entrarmos cada vez mais no processo de uma história coletiva, da espécie humana, com um destino comum, ligado ao destino da vida e, de certa forma, da própria Terra. Os povos se puseram em movimento, as comunicações universalisaram os contactos e multidões, por distintas razões, começam a circular pelo mundo afora.A transição do local para o global não foi preparada, pois o que vigorava era o confronto entre duas formas de organizar a sociedade: o socialismo estatal da União Soviética e o capitalismo liberal do Ocidente. Todos deviam alinhar-se a uma destas alternativas.

Com o desmonte da União Soviética, não surgiu um mundo multipolar mas o predomínio dos EUA como a maior potência econômico-militar que começou a exercer um poder imperial, fazendo que todos se alinhassem a seus interesses globais. Mais que globalização em sentido amplo, ocorreu uma espécie de ocidentalização mundo e, em sua forma pejorativa,uma hamburguerização. Funcionou como um rolo compressor, passando por cima de respeitáveis tradições culturais.

Isso foi agravado pela típica arrogância do Ocidente de se sentir portador da melhor cultura, da melhor ciência, da melhor religião, da melhor forma de produzir e de governar. Essa uniformização global gerou forte resistência, amargura e raiva em muitos povos. Assistiam a erosão de sua identidade e de seus costumes. Em situações assim surgem, normalmente, forças identitárias que se aliam a setores conservadores das religiões, guardiães naturais das tradições. Dai se origina o fundamentalismo que se caracteriza por conferir valor absoluto ao seu ponto de vista. Quem afirma de forma absoluta sua identidade, está condenado a ser intolerante para com os diferentes, a desprezá-los e, no limite, a eliminá-los.Este fenômeno é recorrente em todo o mundo.

No Ocidente grupos significativos de viés conservador se sentem ameaçados em sua identidade pela penetração de culturas não-européias, especialmente do Islamismo. Rejeitam o multiculturalismo e cultivam a xenofobia.

O terrorista norueguês estava convencido de que a luta democrática contra a ameaça de estrangeiros na Europa estava perdida. Partiu então para uma solução desesperada: colocar um gesto simbólico de eliminação de “traidores” multiculturalistas.

A resposta do Governo e do povo norueguês foi sábia: responderam com flores e com a afirmação de mais democracia, vale dizer, mais convivência com as diferenças, mais tolerância, mais hospitalidade e mais solidariedade. Esse é o caminho que garante uma globalização humana, na qual será mais difícil a repetição de semelhantes tragédias.




Leonardo Boff é autor de “Virtudes para um outro mundo possivel” 3 vol. Vozes 2008-2009.

QUEM PREPARA A MESA?






por ASSUERO GOMES





Quem prepara mesa do banquete real? Da festa do embaixador? Da presidenta e sua comitiva? Quem limpa o chão e o carpete? Quem espana os móveis e arruma as cadeiras? Quem lavou a toalha de fino linho e seus guardanapos? Quem polirá os metais nesta noite tão linda? Quem despertou ainda de noite e saiu para levar a galinha, o porco, os ovos para vender na feira para ser comprado pelo mercado e ser vendido aos compradores do palácio? Quem suou e rezou de sol a sol para que chovesse um pouco na hora certa para que o trigo brotasse e a alface não perecesse e a tomate lhe rendesse alguns centavos por quilos?
Quem ceifou o trigo na hora certa e colheu as uvas? Quem foi a Babette e o Vatel na hora palaciana enquanto seus próprios filhos choravam de fome e de abandono?
Tantas perguntas não feitas entre a degustação de vinhos finos harmonizados e entre queijos de deliciosos matizes que jamais serão experimentados por quem realmente os fez. Para que perguntas se a noite está tão galante e o cerimonial impecável?
Quem iluminou o salão e abriu a porta principal com um gesto curvo? Quem ficará depois recolhendo o lixo do luxo até cair exausto, para pegar duas conduções até seu casebre? Talvez consiga burlar a vigilância feita por um igual seu e leve algum pedaço de bolo mordido para a filha.
Quem cuida de todas as refeições do mundo de maneira silenciosa e servil para que o alimento chegue à mesa do senhor e da senhora, mesmo que seja desperdiçado. Quem transforma o arado em garfo e em arado de novo e em garfo numa eterna e fatigante jornada invisível? Quem recolherá o desperdício de cada mesa, de cada transporte, de cada safra, de cada manada? Quem paga a conta de quem se alimenta de lixo na terra que mana leite e mel?
A noite continua dançante ao som de uma valsa vienense ou de uma banda de jazz dos anos 40, quem notou a vida do garçom ou da copeira, senão apenas as notas da canção e a agilidade da bela moça de decote vermelho que pulsa roubando a atenção de quantos se vêem cegos no salão como num perfume de mulher.
Quem prepara a mesa é o mesmo que paga a conta, sem ser convidado para o banquete, como um fantasma que ronda a Europa na festa do baile da ilha fiscal.

Assuero Gomes
assuerogomes@terra.com.br

NO PRINCÍPIO, A BÊNÇÃO



por Marcelo Barros




Nesta época do ano em que o litoral do Nordeste corre o risco de sofrer novas inundações, grande parte do Brasil vive, ao contrário, a estação da seca. A região sul é visitada por ondas de frio e o Centro-oeste sofre a falta de umidade. Neste tempo, o cuidado com a natureza e a prevenção contra as queimadas se tornam ainda mais importantes e urgentes.

As festas juninas e celebrações andinas, que se encerraram com o final de junho, comemoram a vitória do sol e da vida sobre o frio e a morte. Muitas pessoas que, neste mês, aproveitam alguns dias de férias desejam que o tempo seja favorável. É também para que a estação nos seja propícia que grupos indígenas, em Minas e em outras partes do Brasil, fazem rituais de cura da Mãe Terra.
As Igrejas despertam para a responsabilidade ecológica. Na Igreja Católica, a Campanha da Fraternidade deste ano tinha como tema o cuidado com a criação. A teologia cristã nunca negou a bondade das coisas criadas e a presença amorosa do Espírito em todo o universo.

Mas, por motivos culturais, acabou se concentrando mais na história do pecado humano e da redenção realizada pelo Cristo. Esta teologia dá pouco espaço ou valoriza menos a relação entre o Espírito de Deus e o universo.

Este Espírito é a energia amorosa que, a cada instante, cria, recria e fecunda tudo o que existe. Nenhum cristão nega a centralidade da morte e ressurreição de Jesus para a fé bíblica, mas procura ligar todas as coisas. Não podemos ver a redenção como se fosse desligada da criação e da presença divina atuante no universo.

Paulo escreve que “onde o pecado abundou, a graça divina foi ainda mais transbordante” (Rm 5, 20). A desordem humana, presente na história, não diminui a beleza e a energia amorosa da vida, bênção divina para todo o universo. Mattew Fox, teólogo norte-americano, traduz assim o início do evangelho de João: “No princípio de tudo, existia a Energia Criadora. Esta Energia criadora comunicada por Deus como uma Palavra viva (o Verbo) era divina. Por meio dela, todas as coisas foram criadas e nada existe sem esta energia amorosa. (...) Ela (a Palavra que criou tudo) se tornou carne e no meio de nós plantou sua tenda.

Nela, vimos a presença divina, glória que é sua, como Filha única do Criador, cheia de graça e verdade” (no livro In principio era la gioia, pp. 19- 20). Apóstolos como João e Paulo nos falam que esta esta energia amorosa é uma comunicação de amor ao universo (uma palavra divina) e teve como máxima expressão a pessoa de Jesus Cristo que assume todo o universo em sua pessoa e se manifesta como presença divina em toda criatura.
Conforme os evangelhos, Jesus veio anunciar e trazer para nós o reino de Deus. A natureza é o primeiro elemento deste reinado divino no mundo. Afirmar que Deus é rei significa lembrar que, como uma mãe que dá à luz a todas as criaturas existentes, o seu amor governa a ordem cósmica. Jesus disse: “Olhem os pássaros do céu. Olhem os lírios do campo. Deus cuida deles. Não vai cuidar de vocês?” (Mt 6 e Lc 12). E, aos pobres, confirma: “vosso é o reino divino” (Lc 6, 20). Isso significa que todo ser humano tem uma dignidade de rei neste mundo. Mestre Eckhart, místico medieval, ensinava: “Todo ser humano é de sangue real. Nasceu das profundezas mais íntimas da natureza divina e é representante de Deus para espalhar amor e recriar permanentemente toda criação divina”.
Muitas vezes, a humanidade compreendeu a dignidade do ser humano como supremacia sobre os outros seres e direito de dominar e explorar a natureza. Ao contrário, Deus nos fez jardineiros e gerentes da sua criação, para agirmos como ele age conosco e manifestarmos que todo ser vivo é obra de um amor eterno que atua permanentemente como energia de vida e de bênçãos. Esta revelação de que Deus é energia de amor está na liturgia da Igreja. Em cada eucaristia, os cristãos cantam: “a terra está cheia da vossa glória”. Esta bênção divina restaura a cada dia a natureza, nos faz sentir parte desta criação divina, unidos a todos os seres vivos. Quem crê em Jesus Cristo o encontra nesta inserção no universo. Ele se manifesta como o Cristo cósmico que leva à plenitude a criação, até que, como diz São Paulo, “Deus seja tudo em todos”.

OVO DA SERPENTE AO NORTE DO PLANETA




por Clara Lucchetti Bingemer





A Noruega viveu na última sexta-feira, dia 22, a maior tragédia do país desde a Segunda Guerra Mundial. Dois atentados causaram 76 mortes. Primeiro, uma bomba explodiu no centro da capital, Oslo, na região onde estão localizados vários prédios governamentais. A segunda tragédia aconteceu em uma ilha próxima da capital, Utoya. Lá, Anders Behring Breivik, um homem de 32 anos, vestido com uniforme da polícia, abriu fogo contra jovens reunidos em um acampamento de verão. Ele foi detido logo depois pela polícia e admitiu o crime.

O atirador – ligado à extrema-direita - também é responsável pelo ataque em Oslo.Perplexo, o mundo contempla o país com altos índices de desenvolvimento que é a Noruega gemer de dor, impotente ao chorar seus mortos.

E compartilha da perplexidade do povo norueguês por não compreender o objetivo e o sentido de tão brutal atentado. O que poderia mover uma pessoa jovem como Anders Behring Breivik a abrir fogo contra outros jovens que pacificamente faziam um acampamento de verão? Mais: como compreender o que o próprio Breivik declara no manifesto, afirmando estar movendo "guerra de sangue" a imigrantes e marxistas?

O manifesto, divulgado na internet na própria sexta-feira, poucas horas antes dos dois ataques, parece, em boa parte, copiado de um texto do terrorista americano Ted Kaczynski, conhecido como "Unabomber", e que entre 1978 e 1995 matou três pessoas, enviando até 16 bombas a alvos diversos, como universidades e companhias aéreas. Porém, introduz outros conceitos, diferentes do predecessor. Conceitos tão herméticos e obscuros – dentro do contexto em que são invocados – como "multiculturalismo" e "marxismo cultural".

Os alvos de Breivik, pelo visto, são os comunistas, os muçulmanos e quem sabe quem mais? Assim começou há mais de 60 anos, outra história que tinha como inimigos mortais, alvos de total extermínio não os muçulmanos e comunistas, mas os judeus. Enquanto o predecessor de Breivik, Adolf Hitler, fazia sua demencial trajetória Europa afora, 60 milhões de seres humanos foram deportados para os campos da morte, assassinados, torturados e usados como cobaias em laboratórios.O estilo espetacular e exibicionista também ajuda a conectar os dois exterminadores.

Ambos se acreditavam investidos de uma missão que para ser levada a cabo necessitaria de uma “revolução”, dolorosa, mas necessária. Além disso, têm ânsia por visibilidade. Enquanto Hitler organizava verdadeiros shows públicos de sua pessoa e de todo o exército que comandava, Breivik se dispôs a falar perante o juiz, mas com a presença da imprensa. Isso não lhe foi permitido.Breivik é um fanático, que parece não recuar diante de nada para eliminar de sua frente aqueles que considera indesejáveis ou ameaçadores para o “sonho europeu” que persegue e difunde em suas mensagens pela internet.

Os ataques que protagonizou, fundamentados por teorias de extrema-direita, deixam a Europa e o mundo em estado de alerta, já que uma onda de repulsa a imigrantes, declínio econômico, aumento do desemprego e medo crescente de retaliação de fundamentalistas islâmicos têm tomado conta de vários países do velho continente.O que os tristes acontecimentos da Noruega nos dizem é que parece que o apoio a teorias xenófobas, como as que segue o atirador fanático de Oslo e da ilha de Utoeya, está crescendo.

Vem da Bíblia o conceito de que a coexistência com ideias e companhias maléficas equivale a chocar o ovo de uma serpente. Em 1977, o notável cineasta Ingmar Bergman fez um filme com o título "O Ovo da Serpente", ambientado entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, quando o nazismo nasceu e prosperou na Alemanha, encantando governantes de índole totalitária em vários cantos do mundo.

O resultado é bastante conhecido e lamentado até os dias de hoje.Eventos como o da Noruega parecem assustadoramente apontar nesta direção. Através do gesto tresloucado e das palavras mais ainda de Breivik, pode-se discernir o futuro provável da Europa e do mundo se providências enérgicas não forem tomadas para reprimir a expansão desta ideologia de extrema direita que retorna. Através das membranes finas do ovo, pode-se vislumbrar o réptil peçonhento e letal, perfeitamente concebido e pronto para atacar.








Autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco). Copyright 2011 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)