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domingo, 25 de dezembro de 2011

É NATAL EM BAGDAD E FALLUJAH




por Maria Clara Bingemer





Quando o profeta Isaías olhou para a mulher do rei, sua rainha, e viu que estava grávida, sentiu o Espírito de Deus apossar-se dele e proclamou em nome de Deus o sinal que via antes de todos: “ ...o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.“ O sinal predizia um futuro de paz para Israel. E o profeta continuaria mais adiante a dizer: “ O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz... Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”


Muitos séculos depois, enquanto esperava ansiosamente o Messias que viria libertá-los, o povo recebeu outro anúncio, não de um profeta, mas de um anjo: Gabriel. E viu em outro menino, nascido de Maria, essa criança abençoada por Deus que traria paz e alegria sem fim para o povo. A jovem mulher virgem e grávida era Maria de Nazaré, esposa do carpinteiro José, e seu filho, o Santo que de seu seio puro nascera, seria chamado Jesus, Yeoschuá, que quer dizer Deus salva. E o rei, o único rei em todo esse episódio, era Deus mesmo. Ele , e ele apenas, libertaria o povo de seu pecado. E a comunidade creu e se alegrou e louvou a Deus. Jesus de Nazaré, o príncipe da paz, foi reconhecido e proclamado Filho de Deus!


Hoje, o anúncio do profeta Isaías e do anjo Gabriel se faz ouvir novamente. Algo, um broto de vida nova e de esperança nasceu e espera-se que cresça no sofrido Iraque. A retirada das tropas norte-americanas aconteceu. A bandeira da potência estrangeira foi enrolada e guardada. O Iraque não é mais um país ocupado, mas livre. E a liberdade emerge machucada, ferida, mas real, dos escombros que dão testemunho de uma ocupação longa e incessante.


Como já foi dito, trata-se de uma vitória de Pirro. Mais uma vez, os Estados Unidos concluem uma guerra sem ganhá-la, por não conseguir impor sua plena vontade ao país que ocuparam. Os soldados norte-americanos, embora não saiam do Iraque como saíram do Vietnam, cruelmente derrotados, saem. Desta vez, eles primeiro arrasaram o Iraque durante uma década de bombardeios constantes. Agora saem silenciosamente.


A bandeira arriada inicia um processo que deverá acabar até 31 de dezembro. A saída das tropas marca o fim da guerra que deixou um saldo de milhares de mortos: 4.500 estadunidenses e mais de 100 mil iraquianos, e fragilizou ainda mais a precária infraestrutura do país.


Não se pode dizer que haja vitória ou derrota clara com o fim da guerra do Iraque por parte de um lado ou de outro. O Iraque apresenta dúvidas sobre se vai conseguir levar adiante de forma sadia seu processo político. Os EUA saem uma vez mais sem vencer mas – infelizmente, parece – sem aprender de todo as lições da história.


No entanto, o fato de poder viver livremente em seu próprio território, sem estar mais sob o jugo de uma potência estrangeira, sem mais pavor de sair às ruas e ser metralhado por soldados ou atingido pela explosão de uma bomba, já é uma grande coisa. E a partir daí, se houver vontade política e ajuda de outros, poderá ser o caminho para uma nova era feita de paz e concórdia capazes de triunfar sobre o ódio e da violência.


Para o Iraque, combalido pela cruel ditadura de Sadham Hussein durante tantos anos e agora por uma guerra sangrenta, é Natal. Pois isso é o Natal: a chegada da liberdade, da paz, da possibilidade de vida e vida em plenitude. Que Bagdá e Fallujah celebrem com a alegria que lhes for possível.



Quanto a nós, que cremos que essa paz e essa alegria nos foram dadas em um menino envolto em faixas e deitado em uma manjedoura, fica a ação de graças e a lição. Ação de graças porque a paz encontra caminho para uma vitória, ainda que tímida, em alguma parte do mundo. E a lição de retirar-nos dos “Iraques” nossos de cada dia, sendo agentes de paz e não de guerra; de concórdia e não de violência; de alegria e não de desolação.



Hoje, como sempre, o Príncipe da Paz nos é dado na pessoa de um menino frágil. Que Ele reine em nós, em nossas casas, em nossa vida. FELIZ NATAL!


Autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco). Copyright 2011 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

ENTRE PAPAI-NOEL E MENINO JESUS



por Frei Betto






Da última vez que visitei Oslo, reuniam-se na capital norueguesa ministros do turismo de países escandinavos e bálticos para decidir: qual é a terra de Papai-noel? Ministros da Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia quebravam a cabeça para decidir como evitar propaganda enganosa junto ao público infantil. A criançada queixava-se: alguém mentia. Papai-noel não pode ter nascido - como sugeria a concorrência entre agências de turismo - na Lapônia e na Groenlândia, lugares distintos e distantes um do outro.

Não conheço o resultado da conferência de Oslo. Espero que, se não chegaram a um acordo, pelos menos a guerra, se vier, seja apenas de travesseiros. Mas é a Finlândia que melhor explora a figura do velho presenteador transportado no trenó puxado por renas. Assinala inclusive a sua terra natal: Rovaniemi, onde o Santa Park é, todo ele, tematizado por Papai-noel, lá denominado Santa Claus. Sabemos todos que Papai-noel nasce, de fato, na fantasia das crianças. Acreditei nele até o dia em que me perguntei por que o Paulo, filho da empregada, não recebera tantos presentes de Natal como eu. O velhinho barbudo discrima os pobres?

Malgrado tais incongruências, Papai-noel é uma figura lendária, reaviva a criança que trazemos em nós. E disputa a cena com o Menino Jesus, cujo aniversário é o motivo de festa e feriado de 25 de dezembro. Papai-noel enriquece os correios no período natalino, tantas as cartas que são remetidas a ele. Aliás, basta ir aos Correios e solicitar uma das cartas que crianças remetem ao velhinho barbudo. Com certeza o leitor fará a alegria de uma criança carente. Não se sabe o dia exato em que Jesus nasceu.

Supõem alguns estudiosos que em agosto, talvez no dia 7, entre os anos 6 ou 7 antes de Cristo. Sabe-se que morreu assassinado na cruz no ano 30. Portanto, com a idade de 36 ou 37 anos, e não 33, como se crê. Tudo porque o monge Dionísio, que no século 6 calculou a era cristã, errou na data do nascimento de Cristo.

Até o século 3, o nascimento de Jesus era celebrado a 6 de janeiro. No século seguinte mudou, em muitos países, para 25 de dezembro, dia do solstício de inverno no hemisfério Norte, segundo o calendário juliano. Evocavam-se as festas de épocas remotas em homenagem à ressurreição das divindades solares. Os cristãos apropriaram-se da data e rebatizaram a festa, para comemorar o nascimento Daquele que é "a luz do mundo". Para não ficar de fora da festa, os não cristãos paganizaram o evento através da figura de Papai-noel, mais adequado aos interesses comerciais que marcam a data.

Vivemos hoje num mundo desencantado, porém ansioso de reencantamento. Carecemos de alegorias, mitos, lendas, paradigmas e crenças. O Natal é das raras ocasiões do ano em que nos damos o direito de trocar a razão pela fantasia, o trabalho pela festa, a avareza pela generosidade, centrados na comensalidade e no fervor religioso. Pouco importa o lugar em que nasceu Papai-noel. Importa é que o Menino Jesus faça, de novo, presépio em nosso coração, impregnando-o de alegria e amor. Caso contrário, corremos o risco de reduzir o Natal à efusiva mercantilização patrocinada por Papai-noel.

Isso é particularmente danoso para a (de)formação religiosa das crianças filhas de famílias cristãs, educadas sem referências bíblicas e práticas espirituais. Lojas não saciam a nossa sede de Absoluto. Há que empreender uma viagem ao mais íntimo de si mesmo, para encontrar um Outro que nos habita. Esta é, com certeza, uma aventura bem mais fascinante do que ir até a Lapônia. Contudo, as duas viagens custam caro. Uma, uns tantos dólares. Outra, a coragem de virar-se pelo avesso e despir-se de todo peso que nos impede de voar nas asas do Espírito.

Frei Betto é escritor, autor do romance Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

DIA DE JUÍZOSOBRE NOSSA CULTURA?




por Leonardo Boff





O final do ano oferece a ocasião para um balanço sobre a nossa situação humana neste planeta. O que podemos esperar e que rumo tomará a história? São perguntas preocupantes pois os cenários globais apresentam-se sombrios.



Estourou uma crise de magnitude estrutural no coração do sistema econômico-social dominante (Europa e USA), com reflexos sobre o resto do mundo. A Bíblia tem uma categoria recorrente na tradição profética: o dia do juízo se avizinha. É o dia da revelação: a verdade vem à tona e nossos erros e pecados são denunciados como inimigos da vida. Grandes historiadores como Toynbee e von Ranke falam também do juízo sobre inteiras culturas. Estimo que, de fato, estamos face a um juízo global sobre nossa forma de viver na Terra e sobre o tipo de relação para com ela.Considerando a situação num nível mais profundo que vai além das análises econômicas que predominam nos governos, nas empresas, nos foros mundiais e nos meios de comunicação, notamos, com crescente clareza, a contradição existente entre a lógica de nossa cultura moderna, com sua economia política, seu individualismo e consumismo e entre a lógica dos processos naturais de nosso planeta vivo, a Terra. Elas são incompatíveis. A primeira é competitiva, a segunda, cooperativa. A primeira é excludente, a segunda, includente.



A primeira coloca o valor principal no indivíduo, a segunda no bem de todos. A primeira dá centralidade à mercadoria, a segunda, à vida em todas as suas formas. Se nada fizermos, esta incompatibilidade pode nos levar a um gravíssimo impasse. O que agrava esta incompatibilidade são as premissas subjacentes ao nosso processo social: que podemos crescer ilimitadamente, que os recursos são inesgotáveis e que a prosperidade material e individual nos traz a tão ansiada felicidade. Tais premissas são ilusórias: os recursos são limitados e uma Terra finita não agüenta um projeto infinito.



A prosperidade e o individualismo não estão trazendo felicidade mas altos níveis de solidão, depressão, violência e suicídio. Há dois problemas que se entrelaçam e que podem turvar nosso futuro: o aquecimento global e a superpopulação humana. O aquecimento global é um código que engloba os impactos que nossa civilização produz na natureza, ameaçando a sustentabilidade da vida e da Terra. A conseqüência é a emissão de bilhões de toneladas/ano de dióxido de carbono e de metano, 23 vezes mais agressivo que o primeiro.



Na medida em que se acelera o degelo do solo congelado da tundra siberiana (permafrost), há o risco, nos próximos decênios, de um aquecimento abrupto de 4-5 graus Celsius, devastando grande parte da vida sobre a Terra. O problema do crescimento da população humana faz com que se explorem mais bens e serviços naturais, se gaste mais energia e se lancem na atmosfera mais gases produtores do aquecimento global.As estratégias para controlar esta situação ameaçadora praticamente são ignoradas pelos governos e pelos tomadores de decisões. Nosso individualismo arraigado tem impedido que nos encontros da ONU sobre o aquecimento global se tenha chegado a algum consenso.



Cada pais vê apenas seu interesse e é cego ao interesse coletivo e ao planeta como um todo. E assim vamos, gaiamente, nos acercando de um abismo.Mas a mãe de todas as distorções referidas é nosso antropocentrismo, a conviccção de que nós, seres humanos, somos o centro de tudo e que as coisas foram feitas só para nós, esquecidos de nossa completa dependência do que está à nossa volta. Aqui radica nossa destrutividade que nos leva a devastar a natureza para satisfazer nossos desejos.Faz-se urgente um pouco de humildade e vermo-nos em perspectiva. O universo possui 13,7 bilhões de anos; a Terra, 4,45 bilhões; a vida, 3,8 bilhões; a vida humana, 5-7 milhões; e o homo sapiens cerca de 130-140 mil anos.



Portanto, nascemos apenas há alguns minutos, fruto de toda a história anterior. E de sapiens estamos nos tornando demens, ameaçadores de nossos companheiros na comunidade de vida. Chegamos no ápice do processo da evolução não para destruir mas para guardar e cuidar este legado sagrado. Só então o dia do juízo será a revelação de nossa verdade e missão aqui na Terra.

PARA UM ANO NOVO MAIS FELIZ




por Marcelo Barros





O desejo é uma palavra mágica. Quando desejamos com força interior, emitimos uma energia misteriosa que nos impulsiona para o compromisso de realizarmos aquilo que desejamos. Isso pode ter conseqüências concretas para as pessoas e para o mundo. Nesses dias, há quem diga aos amigos e amigas “feliz ano novo” como mera formalidade. Entretanto, o mundo e nosso continente necessitam muito de que 2012 seja um ano mais feliz e de paz para cada um de nós e para nossa pátria grande. Por isso, quem almeja de coração os melhores votos de ano novo precisa saber como transformar o seu desejo em caminho positivo que construa um futuro novo e melhor.


Quando eu era menino, as pessoas acreditavam muito no poder do olhar. Diziam que existe o olhar bom que emite energia positiva e existe o mau olhado que provoca problemas. As vizinhas gostavam de contar histórias de uma visita que receberam. A mulher gostou da planta ornamental que havia no terraço da casa. Olhou-a com inveja. No dia seguinte, a planta que estava viçosa e florescente, amanheceu seca e murcha. As antigas culturas e religiões crêem na força da palavra. Em algumas religiões, as palavras curam ou, ao contrário, podem matar. Na Bíblia, vários salmos pedem a Deus que nos proteja das pessoas que, com sua palavra, podem provocar males como doenças e tragédias ecológicas (Cf. Sl 6, 39, etc). Essa cultura de pessoas que amaldiçoam vinha de Sumer, onde havia rituais de Shurpu, maldições comuns em algumas culturas populares que não tinham outra força além da palavra.


No tempo da escravidão, um senhor de engenho mandava dizer a um escravo que, naquela noite mandasse a sua filha de menor idade à casa grande. O negro já sabia quais as intenções do senhor. Ele não tinha outro recurso do que a ameaça de uma maldição, principalmente se o senhor acreditasse que o despacho lhe faria mal. De fato, a própria Bíblia diz que a maldição de um empobrecido é ouvida e atendida por Deus (Cf. Eclo 4, 6). No Novo Testamento, a carta de Pedro insiste que temos a vocação de abençoar e não de maldizer. Somos chamados para invocar o bem sobre as pessoas e o universo (1 Pd 3, 9).


A palavra é eficaz quando nasce no mais profundo do coração e é precedida pela prática da vida. A Bíblia diz que é como uma espada de dois gumes que penetra até as entranhas (Hb 4). Isaías compara a palavra de Deus com a chuva que cai, molha a terra. E não volta ao céu sem ter cumprido sua missão de fecundar e produzir o grão (Is 55). O Mahatma Gandhi ensinava: “Comece por você mesmo a mudança que deseja para o mundo”. Somente pelo fato de desejar, não temos a força para transformar organizações e sistemas do mundo, mas podemos sim colaborar para que se façam as condições necessárias para que elas mudem.


Então, que você expresse para os seus e para todos o desejo de um feliz ano novo, através de um verdadeiro compromisso social, solidário e renovador. Então se tornarão verdadeiras em sua vida, as palavras de uma antiga bênção irlandesa: “O vento sopre suave em teus ombros. Que o sol brilhe suavemente sobre o teu rosto, as chuvas caiam serenas onde vives. E até que eu te encontre de novo, Deus te guarde na palma de sua mão”.


MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. .

domingo, 18 de dezembro de 2011

PARA UM NATAL NOVO E FELIZ



por Marcelo Barros








O próprio termo Natal significa nascimento e, portanto, vida nova. O comércio faz das festas natalinas uma incessante repetição das mesmas músicas, mesmos tipos de ornamentação e até os mesmos artigos de consumo. Ao contrário, a festa cristã do Natal não deve ser apenas a repetição de outros natais que já vivemos e sim celebração de uma nova e atual visita divina à humanidade. O Natal não é o aniversário do nascimento de Jesus, visto que ninguém sabe o dia exato em que ele nasceu. Os cristãos antigos transformaram a festa do solstício do inverno na festa do nascimento de Jesus para testemunhar que, através de Jesus, o próprio Deus veio assumir nossa história e trazer ao mundo o seu projeto de paz, justiça e amor.

Atualmente, o Natal tomou uma dimensão maior do que a celebração cristã. Mesmo entre pessoas não religiosas ou de outras tradições, o Natal se tornou ocasião de confraternização e unidade. Uma vez, em Caracas, na porta de uma mesquita, vi um cartaz, através do qual os muçulmanos desejavam a todos que passassem por ali um feliz Natal. Nessa época, é comum as famílias se encontrarem. Mesmo irmãos que moram longe uns dos outros viajam à casa dos pais para passar o Natal outra vez juntos. As mães e pais têm alegria de preparar a casa para receber os filhos que nesses dias voltam ao aconchego familiar. No âmbito da fé, a celebração do Natal tem este mesmo espírito: preparar a casa e o coração para acolhermos o mistério de amor (que as religiões chamam de Deus) e que se oferece ao nosso alcance.


Neste Natal, a casa da humanidade está pouco preparada. Uma grave crise de civilização assola o mundo. Em todos os continentes, a pobreza e a injustiça aumentaram. Nas casas, as pessoas enfeitam salas e armam presépios, mas Jesus continua a dizer: “É quando vocês socorrem um pequenino que acolhem a mim” (Mt 25, 31 ss).


Na América Latina, há muitos sinais de mudanças. Vários países aprovaram novas constituições políticas. Pela primeira vez na história, os mais pobres estão sendo sujeitos ativos de um processo de transformação social e política que não se limita a figuras importantes como o presidente da República ou tal chefe político. O processo envolve grupos e comunidades de pessoas pobres, índios, lavradores e gente de periferia urbana. Em vários países, dificilmente isso teria ocorrido se não tivesse sido preparado pela participação de cristãos nos grupos e movimentos sociais. Apesar de muitos sofrimentos e de contradições inerentes a todo processo deste tipo, para muitos latino-americanos, neste ano, isso significa poder celebrar um Natal novo e renovador.


Muitos se negam a crer em qualquer novidade e outros torcem o nariz procurando defeitos e erros nestes processos sociais e políticos. O profeta João escreveu: “nós somos as pessoas que acreditam no amor” (1 Jo 3). Este Natal vem como uma interpelação para que cada pessoa se reveja e responda: “Como você está de utopia?”


O Natal nos chama para revigorarmos em nós a capacidade de crer, esperar e preparar a realização do projeto divino nesse mundo. Esta é a proposta de Jesus. Quando o evangelho nos diz “a palavra se fez carne” (Jo 1, 14), está nos convidando a sermos cada vez mais humanos, como ele, Jesus. Carlos Drummond de Andrade interpretava isso ao dizer que, no Natal, imaginava o verbo outrar que, precisaria ser inventado na língua portuguesa. No Natal, uma das músicas cantadas pelas comunidades eclesiais de base no Centro-oeste foi composta por um lavrador do Pará. Tem como refrão: “Dentro da noite escura, da terra dura do povo meu, nasce uma luz radiante, no peito errante, já amanheceu”.

NATAL: A CHEGADA DO OUTRO




por Maria Clara Lucchetti Bingemer,




O tempo do Advento vai chegando ao fim. Tempo marcado pela espera – a espera de Alguém, de um Outro que vem e mobiliza toda a nossa vida – encontra-se já em proximidade estreita com sua culminância, que é a Noite Feliz. Esse Outro desejado e esperado; esse Outro cuja espera é comemorada e vivida pela Igreja em tenso e intenso desejo é Jesus, o filho de Maria, o Filho de Deus.



Parece incrível que os tempos que vivemos, marcados pela impaciência e pela pressa; que não valorizam os rituais de espera e preparação dos momentos importantes da vida, mas procuram freneticamente antecipá-los e saber seu conteúdo prematuramente, ainda se deixem tocar pela espera e a chegada desse Outro. Parece incrível que o Natal ainda seja marca importante nos calendários e nas vidas modernas.



E, no entanto, para além de toda a febre consumista e pagã que se apossa das pessoas, do comércio e da mídia durante o final do ano; para além de todo o olhar desviado com que tantas pessoas exacerbam durante esta época do ano seu narcisismo, hedonismo e autocomplacência, o Natal continua acontecendo e sendo celebrado. A chegada que coroa a espera desse que é humano como nós e ao mesmo tempo totalmente Outro, inteiramente diferente de tudo que nossos cinco sentidos podem perceber, ainda encontra um lugar nas vidas e corações humanos.



Para o Novo Testamento e para a fé cristã, Jesus de Nazaré - em quem as primeiras comunidades reconheceram e proclamaram o Cristo de Deus - não é só alguém que revela Deus, mas é o próprio Deus revelado. A fé cristã é constitutivamente fé em Jesus Cristo. No centro da experiência de fé do Cristianismo está a pessoa de Jesus de Nazaré, reconhecido e confessado pela comunidade primitiva como o Cristo de Deus, o Senhor exaltado, sentado à direita do Pai.



Os Evangelhos não são biografias, nem o Novo Testamento, em sua totalidade, um documento meramente histórico. Mas, sobre uma base histórica real e autêntica, os autores neotestamentários oferecem sua interpretação de fé dos fatos histórico-transcendentes que marcam a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Aproximar-se dele é aproximar-se do mistério de sua pessoa, de sua figura, e por ela ser interpelado em cada momento histórico e cultural que toca a humanidade viver.



Por não ser simplesmente uma figura histórica entre outras, Jesus Cristo é referência para todas as pessoas de todos os tempos e lugares. Por não ser somente uma projeção das primeiras comunidades, mas ter solidez histórica, Jesus Cristo pode ajudar concretamente cada ser humano em sua inserção real e histórica, em suas circunstâncias espaço-temporais.



Por tudo isso e na verdade, a Festa de Natal, apesar de toda a ternura que a envolve, não deveria nunca perder o poder de assombrar-nos. Justamente por ser a celebração da grande “loucura” amorosa de Deus, que sem perder sua transcendência e divindade, arma sua tenda entre nós e assume nossa carne vulnerável, mortal e pecadora. Sendo totalmente Outro, torna-se semelhante a nós em tudo, menos no pecado. Chega depois de tanta espera, criança recém-nascida de ventre de mulher, fragilmente exposta aos perigos, conflitos e violências da condição humana. O Onipotente se deixa ver, tocar e sentir na impotência de uma vida humana recém começada. O Senhor do mundo, a Palavra que existia desde o princípio, deve começar um itinerário semelhante ao de toda criatura: ser nutrido, aprender a falar, aprender a andar, passar pelo doloroso e fascinante processo de crescer e viver.



Em Jesus no presépio, a Festa do Natal nos deixa contemplar Aquele que o mundo não pode conter, e no entanto coube no ventre de Maria. E cabe numa vida humana, com todas as suas limitações e finitudes. O Outro que esperamos e finalmente chega, se apresenta a nós como mistério, como algo que não podemos compreender com a nossa razão, mas apenas sentir e viver com nosso coração. Como Alguém que é totalmente Outro e diferente, e se faz próximo a ponto de podermos contemplá-lo na indefesa figura de um bebê recém-nascido.



O novo catecismo da Igreja Católica assim define o mistério de Jesus Cristo que celebramos no Natal: “O acontecimento único e singular da encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem(n464)



Diante deste mistério, caem por terra as posturas soberbas e as especulações frenéticas. Tornam-se inúteis as correrias consumistas e as confraternizações vazias. Pois nenhum outro sinal nos será dado a não ser “um menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura.” E nenhuma outra atitude se torna possível e sensata a não ser os joelhos que se dobram em adoração e o coração e as portas que se abrem para o acolhimento.



Pois a figura de Jesus Cristo une constantemente o presente e o futuro. Não é uma figura dualista, que se feche na oposição entre o terreno e o celestial. Na pessoa de Jesus Cristo estão definitivamente reconciliados e em feliz síntese, Deus e o ser humano, a palavra e a perfeita escuta obediente, a revelação e a fé, a história e a interpretação da fé, a terra e o céu, a carne e o espírito.


Professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio Autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco). Copyright 2011 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

O NATAL DE ANTIGAMENTE




por Leonardo Boff






O Natal de antigamente: velho e sempre novoVenho de lá de trás, dos anos 40 do século passado, num tempo em que Papai Noel ainda não havia chegado de trenó. Nas nossas colônias italianas, alemães e polonesas, desbravadoras da região de Concórdia-SC, conhecida por ser a sede da Sadia e da Seara com seus excelentes produtos de carne, só se conhecia o Menino Jesus. Eram tempos de fé ingênua e profunda que informava todos os detalhes da vida.




Para nós crianças, o Natal era culminância do ano, preparado e ansiado. Finalmente vinha o Menino Jesus com sua mulinha (musseta em italino) para nos trazer presentes.A região era de pinheirais a perder de vista e era fácil encontrar um belo pinheirinho. Este era enfeitado com os materiais rudimentares daquela região ainda em construção. Utilizavam-se papel colorido, celofã e pinturas que nós mesmos fazíamos na escola.




A mãe fazia pão de mel com distintas figuras, humanas e de bichinhos, que eram dependuradas nos galhos do pinheirinho. No topo havia sempre uma estrela grande revestida de papéis vermelhos.Em baixo, ao redor do pinheirinho, montávamos o presépio, feito de recortes de papel que vinham numa revista que meu pai, mestre-escola, assinava. Ai estava o Bom José, Maria, toda devota, os reis magos, os pastores, as ovelhinhas, o boi e o asno, alguns cachorros, os Anjos cantores que dependurávamos nos galhos de baixo. E naturalmente, no centro, o Menino Jesus, que, vendo-o quase nu, imaginávamos, tiritando de frio, e nos enchíamos de compaixão.Vivíamos o tempo glorioso do mito.




O mito traduz melhor a verdade que a pura e simples descrição histórica. Como falar de um Deus que se fez criança, do mistério do ser humano, de sua salvação, do bem e do mal senão contando histórias, projetando mitos que nos revelam o sentido profundo do eventos? Os relatos do nascimento de Jesus contidos nos evangelhos, contem elementos históricos, mas para enfatizar seu significado religioso, vem revestidos de linguagem mitológica e simbólica. Para nós crianças tudo isso eram verdades que assumíamos com entusiasmo.Mesmo antes de se introduzir o décimo terceiro salário, os professores ganhavam um provento extra de Natal. Meu pai gastava todo este dinheiro para comprar presentes aos 11 filhos.




E eram presentes que vinham de longe e todos instrutivos: baralho com os nomes dos principais músicos, dos pintores célebres cujos nomes custávamos de pronunciar e riamos de suas barbas ou de seu nariz ou de qualquer outra singularidade. Um presente fez fortuna: uma caixa com materiais para construir uma casa ou um castelo. Nós, os mais velhos, começamos a participar da modernidade: ganhávamos um gipe ou um carrinho que se moviam dando corda, ou um roda que girando lançava faíscas e outros semelhantes.




Para não haver brigas de baixo de cada presente vinha o nome do filho e da filha. E depois, começavam as negociações e as trocas. A prova infalível de que o Menino Jesus de fato passou lá em casa era o desaparecimento dos feiches de grama fresca. Corríamos para verificá-lo. E de fato, a musetta havia comido tudo.Hoje vivemos os tempos da razão e da desmitologização. Mas isso vale somente para nós adultos.




As crianças, mesmo com o Papa Noel e não mais com o Menino Jesus, vivem o mundo encantando do sonho. O bom velhinho traz presentes e dá bons conselhos. Como tenho barba branca, não há criança que passe por mim que não me chame de Papai Noel. Explico-lhes que sou apenas o irmão do Papai Noel que vem para observar se as crianças fazem tudo direitinho. Depois conto tudo ao Papai Noel para ganharem um bom presente.




Mesmo assim muitos duvidam. Se aproximam, apalpam minha barba e dizem: de fato o Sr. é o Papa Noel mesmo. Sou uma pessoa como qualquer outra, mas o mito me faz ser Papai Noel de verdade.Se nós adultos, filhos da crítica e desmitologização, não conseguimos mais nos encantar, permitamos que nossos filhos e filhas se encantem e gozem o reino mágico da fantasia. Sua existência será repleta se sentido e de alegria. O que queremos mais para o Natal senão esses dons preciosos que Jesus quis também trazer a este mundo?




Leonardo Boff é autor de O Sol da Esperança: Natal, histórias, poesias e símbolos, Editora Mar de Idéias, Rio de Janeiro 2007.

O OVO DA SERPENTE



por Frei Betto







Não é preciso ser economista para perceber a grave turbulência que afeta a economia globalizada. Se a locomotiva freia, todos os vagões se chocam, contidos em seu avanço. E o Brasil, apesar do PIB de US$ 2,5 trilhões, ainda é vagão... Todo ano, desde 1980, cumpro a maratona de uma semana de palestras na Itália. Desde o início deste novo milênio eram evidentes os sintomas de que a próxima geração não desfrutará do mesmo nível de bem-estar dos últimos 20 anos.


.Nenhuma economia podia suportar tamanho consumismo e a monopolização crescente da riqueza. Agora, a realidade o comprova. A carruagem da Cinderela virou abóbora. A União Europeia patina no pântano... Muitas são as causas da atual crise econômica. Apontá-las com precisão é tarefa dos economistas que não cultivam a religião da idolatria do mercado. Como leigo no assunto, arrisco o meu palpite. Desde os anos 80, a especulação se descolou da produção. O mundo virou um cassino global. Sem passaporte e sem vistos, bilhões de dólares trafegam livremente, dia e noite, em busca de investimentos rentáveis. Enquanto o PIB do planeta é de US$ 62 trilhões, o cacife do cassino é de US$ 600 trilhões.


A famosa bolha... Haja papel sem lastro! A lógica do lucro supera a da qualidade de vida. A estabilidade dos mercados é, para os governos centrais, mais importante que a dos povos. Salvar moedas, e não vida humanas. Todos sabemos como a prosperidade da Europa ocidental foi alcançada. Para se evitar o risco do comunismo, implantou-se o Estado de bem-estar social. Combinaram-se Estado provedor e direitos sociais. Reduziu-se a desigualdade social, e as famílias de trabalhadores passaram a ter acesso à escolaridade, assistência de saúde, carro e casa própria. Em contrapartida, para não afetar a robustez do capital, desregularam-se as relações de trabalho, desativou-se a luta sindical, sepultou-se a esquerda.


Tudo indicava que a prosperidade, que batia à porta, viera para ficar. Não se deu a devida importância a um pequeno detalhe aritmético: se há duas galinhas para duas pessoas, e uma se apropria das duas, a outra fica a ver navios... E quando a fome bate, quem nada tem invade o espaço de quem muito acumulou. Assim, os pobres do mundo, atraídos pelo novo Eldorado europeu, foram em busca de um lugar ao sol. Ótimo, a Europa, como os EUA, necessitava de quem, a baixo custo, limpasse privadas, cuidasse do jardim, lavasse carros...


A onda migratória viu-se reforçada pela queda do Muro de Berlim. A democracia política chegou ao Leste europeu desacompanhada da democracia econômica. Enquanto milhares tomaram o rumo de uma vida melhor no Ocidente, seus governos acreditaram que, para chegar ao Paraíso, era preciso ingressar na zona do euro. A Europa entrou em colapso. A culpa é de quem? Ora, crime de colarinho branco não tem culpado. Quem foi punido pela crise usamericana em 2008? Os desmatadores do Brasil não estão sendo anistiados pelo novo Código Florestal? Culpados existem. Todos, agora, se escondem sob a barra da saia do FMI.


E nós, brasileiros, sabemos bem como este grande inquisidor da economia pune quem comete heresias financeiras: redução do investimento público; arrocho fiscal, desemprego, aumento de impostos, corte de direitos sociais, punição a países com déficit público etc. O descaramento é tanto que o pacote do FMI inclui menos democracia e mais intervencionismo. Quando Papandréu, primeiro-ministro da Grécia, propôs um plebiscito para ouvir a voz do povo, o FMI vetou a proposta, depôs o homem e nomeou Papademos, um tecnocrata, para o seu lugar. Também o governo da Itália foi ocupado por um tecnocrata. Como se o fim da crise dependesse de uma solução contábil.


A história recente da Europa ensina que a crise social é o ovo da serpente – chocado pelo fascismo. Sobretudo quando a crise não é de um país, é de um continente. Não adiantam mobilizações em um país, é preciso que elas se expandam por toda a Europa. Mas como, se não existem sindicalismo combativo nem partidos progressistas? As mobilizações tipo Ocupem Wall Street servem para denunciar, não para propor, se não houver um projeto político. Quem se queixa do presente e teme o futuro, corre o risco de se refugiar no passado – onde se abrigam os fantasmas de Hitler e Mussolini.


Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de “Conversa sobre fé e ciência” (Agir), entre outros livros.


Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

domingo, 11 de dezembro de 2011

CALENDÁRIO DOM HELDER 2012



Está a venda o calendário 2012produzido pelo Memorial Dom Helder Camara O Memorial compreende a Igreja das Fronteiras, a Casa-Museu do Dom, o Centro de Documentação Helder Camara e o Espaço Dom José Lamartine. A exposição permanente do acervo pessoal do Dom funcionará na parte superior da Igreja associada a visita guiada por todo o complexo do Memorial.

Em 2012 comemoram-se os 50 anos do Concílio Vaticano II. O calendário está primoroso, com apresentação de Pe. João Pubben e frases do Dom em cada mês, ele é um convite à reflexão, além de ser um lindo presente de Natal.

O calendário pode ser adiquiro na rua Henrique Dias, 278 - Boa Vista, de segunda a sexta-feira das 8h às 12h e das 13h às 17h.
Fone: (81) 3231-5341 ou 3421-1076

O preço é apenas R$ 10,00.

"TENHO TEU CORAÇÃO DIANTE DE MIM, NÃO TE AFLINJAS"



Assuero Gomes







E foi com o espírito combalido de tanta doença sobre si que o pobre sacerdote se prostrou com um derradeiro suspiro, procurando alívio, em frente a uma imagem de Maria.
A dificuldade de caminhar, o cansaço, o desconforto em respirar, as dores crônicas nas pernas que às vezes se exacerbavam insuportavelmente, oprimia o sacerdote.
Caminhar era difícil, falar mais ainda.


Refletia sobre o sofrimento humano, sem encontrar resposta convincente para si mesmo, como poderia reconfortar os enfermos? Ele mesmo se sentia enfermo e não estava encontrando consolo.


Naquele cair de tarde entrou quase em desespero. Lembrou de Elias quando estava desistindo de sua missão e pediu para que Deus providenciasse sua morte, ao que o próprio Deus enviou um anjo com um pedaço de pão e o mandou continuar. Talvez, quem sabe, o padre esperasse um anjo, um aviso, um sinal, um conforto. No íntimo, no íntimo mesmo ele não acreditava muito em anjos, visões, sinais miraculosos e outras coisas mais da nossa prática religiosa.
Deixou o corpo cair ajoelhado e os músculos relaxaram. A visão embaçou um pouco. A respiração também (a respiração pode embaçar a vida das pessoas).

Fez uma revisão de vida. O Seminário Menor o qual adentrou muito cedo, a despedida prematura do convívio familiar, as regras de observância um tanto rígidas, a dedicação aos pobres e os conflitos que teve que superar, de várias origens, sociais, políticos e até eclesiais.
Agora o que restava daquele jovem determinado que atravessou mares e sobreviveu a marés?
Maria parecia indiferente à sua reflexão.
Saindo então da genuflexão, sentou-se. Frente a frente, olho no olho, suplicantes olhos de sofredor peregrino.


Silêncio apenas, silêncio.
Nem um vento súbito, nem um raiozinho de luz, nem uma folha morta se arrastando, nem um besouro zunindo, nada, nada. O ambiente mergulhara na penumbra e no silêncio absoluto, e absorveu o nosso sacerdote, de tal maneira que quem passasse por ali, mesmo olhando não o veria.


Lembrou, como uma última lembrança, que todas as pessoas que se aproximaram de Jesus, segundo o relato dos evangelhos, foi por causa de uma doença ou sofrimento e um pedido de cura, e que através desse encontro mudaram suas vidas para sempre. Isso paradoxalmente o atormentou mais ainda, pois estava diariamente com Jesus no serviço aos pobres e na Eucaristia, sabia que Jesus sabia de sua aflição, portanto, então, ele não seria digno de receber uma graça que o aliviasse um pouco. Triste e pesaroso foi se levantando para se recolher. Nesse momento olhou para a imagem e percebeu como uma voz dentro de si dizendo suavemente: “Não te aflijas, pois tenho o teu coração diante de mim”.

NOVO OLHAR SOBRE O UNIVERSO



Frei Betto





A visão que temos do mundo interfere em nossa visão de Deus, assim como o modo como entendemos Deus influi em nossa visão da vida e do mundo. Ao longo de 1.000 anos predominou, no Ocidente, a cosmovisão de Ptolomeu, que considerava a Terra centro do Universo. Isso favoreceu a hegemonia espiritual, cultural e econômica da Igreja, encarada pela fé como imagem da Jerusalém celestial.Com o advento da Idade Moderna, graças à nova cosmovisão de Copérnico, logo completada por Galileu e Newton, constatou-se que a Terra é apenas um pequeno planeta.


Qual mulata de escola de samba, dança em torno da própria cintura (24 horas, dia e noite) e do mestre-sala, o Sol (365 dias, um ano). O paradigma da fé deu lugar à razão, a religião à ciência, Deus ao ser humano. Passou-se da visão geocêntrica à heliocêntrica, da teocêntrica à antropocêntrica.Agora, a modernidade cede lugar à pós-modernidade. Mais uma vez, a nossa visão do Universo sofre radicais mudanças. Newton cede lugar a Einstein, e o advento da astrofísica e da física quântica nos obrigam a encarar o Universo de modo diferente e, portanto, também a ideia de Deus.


Se na Idade Média Deus habitava “lá em cima” e, na Idade Moderna, “aqui embaixo”, dentro do coração humano, agora conhecemos melhor o que o apóstolo Paulo quis dizer ao afirmar: "Ele não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dentre os poetas de vocês disseram: 'Somos da raça do próprio Deus'" (Atos dos Apóstolos 17, 27-28).A física quântica, que penetra a intimidade do átomo e descreve a dança das partículas subatômicas, nos ensina que toda a matéria, em todo o Universo, não passa de energia condensada.


No interior do átomo, a nossa lógica cartesiana não funciona, pois ali predomina o princípio da indeterminação, ou seja, não se pode prever com exatidão o movimento das partículas subatômicas. Essa imprevisibilidade só predomina em duas instâncias do Universo: no interior do átomo e na liberdade humana.Em que a física quântica modifica nossa visão do Universo? Ela nos livra dos conceitos de Newton, de que o Universo é um grande relógio montado pelo divino Relojoeiro e cujo funcionamento pode ser bem conhecido estudando cada uma de suas peças.


A física quântica ensina que não há o sujeito observador (o ser humano) frente ao objeto observado (o Universo). Tudo está intimamente interligado. O bater de asas de uma borboleta no Japão desencadeia uma tempestade na América do Sul... Nosso modo de examinar as partículas que se movem no interior do átomo interfere no percurso delas... Tudo que existe coexiste, subsiste, pré-existe, e há uma inseparável interação entre o ser humano e a natureza. O que fazemos à Terra provoca uma reação da parte dela.


Não estamos acima dela, somos parte e resultado dela; ela é Pacha Mama ou, como diziam os antigos gregos, Gaia, um ser vivo. Deveríamos manter com ela uma relação inteligente de sustentabilidade.Esse novo paradigma científico nos permite contemplar o Universo com novos olhos. Nem tudo é Deus, mas Deus se revela em tudo. Nossa visão religiosa é agora panenteísta. Não confundir com panteísta. O panteísmo diz que todas as coisas são Deus. O panenteísmo, que Deus está em todas as coisas. “Nele vivemos, nos movemos e existimos”, como disse Paulo.


E Jesus nos ensina que Deus é amor, essa energia que atrai todas as coisas, desde as moléculas que estruturam uma pedra às pessoas que comungam um projeto de vida. Como dizia Teilhard de Chardin, no amor tudo converge, de átomos, moléculas e células que formam os tecidos e órgãos do nosso corpo às galáxias que se aglomeram múltiplas nesta nossa Casa Comum que chamamos, não de Pluriverso, mas de Universo.



Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
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É POSSÍVEL ALIMENTAR SETE BILHÕES DE PESSOAS?



Leonardo Boff







Já somos 7 bilhões de habitantes. Haverá alimentos suficientes para todos? Há várias respostas. Escolhemos uma do grupo Agrimonde (veja Développement et civilizations, setembro 2011), de base francesa, que estudou a situação alimentar de seis regiões críticas do planeta. O grupo de cientistas é otimista, mesmo para quando seremos 9 bilhões de habitantes em 2050.


Propõe dois caminhos: o aprofundamento da conhecida revolução verde dos anos 60 do século passado e a assim chamada dupla revolução verde. A revolução verde teve o mérito de refutar a tese de Malthus, segundo o qual ocorreria um descompasso entre o crescimento populacional, de proporções geométricas e o crescimento alimentar de proporções ariméticas, produzindo um colapso na humanidade.


Comprovou que com as novas tecnologias e uma melhor utilização das areas agricultáveis e maciça aplicação de tóxicos, antes destinados à guerra e agora à agricultura, se podia produzir muito mais do que a população demandava.Tal previsão se mostrou acertada pois houve um salto significativo na oferta de alimentos.


Mas por causa da falta de equidade do sistema neoliberal e capitalista, milhões e milhões continuam em situação de fome crônica e na miséria. Vale observar que esse crescimento alimentar cobrou um custo ecológico extremmente alto: enveneraram-se os solos, contaminaram-se as águas, empobreceu-se a biodiversidade além de provocar erosão e desertificação em muitas regiões do mundo, especialmene na África.


Tudo se agravou quando os alimentos se tornaram mercadoria como outra qualquer e não como meios de vida que, por sua natureza, jamais deveriam estar sujeitos à especulação dos mercados. A mesa está posta com suficiente comida para todos mas os pobres não tem acesso a ela pela falta de recursos monetários. Continuaram famintos e em número crescente. O sistema neoliberal imperante aposta ainda neste modelo, pois não precisa mudar de lógica, tolerando conviver, cinicamente, com milhões de famintos, considerados irrelevantes para a acumulação sem limites.


Esta solução é míope senão falsa, além de ser cruel e sem piedade. Os que ainda a defendem não tomam a sério o fato de que a Terra está, inegavelmente, à deriva e que o aquecimento global produz grande erosão de solos, destruição de safras e milhões de emigrados climáticos. Para eles, a Terra não passa de mero meio de produção e não a Casa Comum, Gaia, que deve ser cuidada.Na verdade, quem entende de alimentos são os agricultores.


Eles produzem 70% de tudo o que a humanidade consome. Por isso, devem ser ouvidos e inseridos em qualquer solução que se tomar pelo poder público, pelas corporações e pela sociedade pois se trata da sobrevivência de todos. Dada superpopulação humana, cada pedaço de solo deve ser aproveitado mas dentro do alcance e dos limites de seu ecossistema; devem-se utilizar ou reciclar, o mais possível todos os dejetos orgânicos, economizar ao máximo energia, desenvolvendo as alternativas, favorecer a agricultura familiar, as pequenas e médias cooperativas.


Por fim, tender a uma democracia alimentar na qual produtores e consumidores tomam consciência das respectivas responsabilidades, com conhecimentos e informações acerca da real situação da suportabilidade do planeta, consumindo de forma diferente, solidária, frugal e sem desperdício.


Tomando em conta tais dados, a Agrimonde propõe uma dupla revolução verde no seguinte sentido: aceita prolongar a primeria revolução verde com suas contradições ecológicas mas simultaneamente propõe uma segunda revolução verde. Esta supõe que os consumidores incorporem hábitos cotidianos diferentes dos atuais, mais conscientes dos impactos ambientais e abertos à solidariedade internacional para que o alimento seja de fato um direito acessível a todos.


Sendo otimistas, podemos dizer que esta última proposta é razoavelmente sustentável. Está sendo implementada, seminalmente, em todas as partes do mundo, através da agricultura orgânica, familiar, de pequenas e médias empresas, pela agroecologia, pelas ecovilas e outras formas mais respeitadoras da natureza. Ela é viável e talvez tenha que ser o caminho obrigatório para a humandade futura.

CIDADE PLANETÁRIA




Marcelo Barros






O termo parece vir da ficção científica. Entretanto, nos ajuda a compreendermos que não somos apenas cidadãos de um país ou região e sim membros da única família humana que, por sua vez, é parte da comunidade da vida no planeta Terra. O termo universal não pode mais se referir apenas à humanidade. Diz respeito a todos os seres vivos e até a natureza que abrange um universo sideral que estamos apenas começando a conhecer.


Nesta semana se completam 63 anos em que, no dia 10 de dezembro de 1948, a assembléia geral da ONU assinou a declaração universal dos direitos humanos. Esta primeira declaração diz respeito a direitos individuais de toda pessoa humana. Até hoje, muitos deles são absolutamente ignorados e desrespeitados.



Onde existe pobreza extrema – e esta só tem aumentado nos últimos anos – vários dos direitos estabelecidos na carta da ONU são violados. As nações que assinaram a declaração nunca garantiram a todos os seus cidadãos o direito de comer, de ter saúde, de morar dignamente, de se locomover livremente e assim por diante. Muitas vezes, compreendeu-se como sendo democracia o sistema político que dá aos pobres o direito de viver na miséria, morrer na indigência e respeitar a lei da desigualdade social que garante o mundo apenas para uma elite de privilegiados.



Há algumas décadas, um famoso ex-presidente do Brasil confessava a amigos: “Se eu governar o país para 20% do povo, me dou por satisfeito!”. A partir da década de 90, a emergência dos movimentos indígenas e populares começou a mudar isso. .


Desde a metade do século XX, a ONU aprovou outros documentos que contemplam direitos especiais: das crianças, idosos, povos indígenas e comunidades tradicionais... Hoje a comunidade internacional fala em “direitos da terra” e também em “direitos do ar” no sentido de que a humanidade não tem direito de depois de poluir o planeta, também encher de lixo e material tóxico o espaço sideral.



Calculam-se em mais de 1800 satélites espaciais quebrados e peças de foguetes ou artefatos, soltos pela órbita da terra sem ser desintegrados pela força da gravidade.
Os direitos coletivos dos grupos, etnias, categorias sociais e gênero são fundamentais porque se a comunidade não é respeitada em seus direitos a viver em sua terra, expressar-se em sua cultura própria e exercer a religião na qual crê, os indivíduos também não terão seus direitos respeitados.



Além disso, os direitos básicos à segurança alimentar, saúde, educação e moradia se juntam aos direitos de sonhar, brincar, cantar e principalmente amar. Por isso, podemos dizer junto com Rubem Alves: “Para além de todas as misérias e sofrimentos, o universo tem mesmo um destino de felicidade. O ser humano deve mesmo a cada época e sempre reencontrar e reconstruir o seu paraíso”.



Segundo o evangelho, no seu primeiro discurso público, Jesus começou proclamando as bem-aventuranças, isto é, caminhos para que as pessoas empobrecidas, sofridas, famintas de justiça e mesmo perseguidas por causa do projeto de um mundo novo sejam desde já felizes e abençoadas.

PRIMAVERA ÁRABE E AD-VENTO



Maria Clara Lucchetti Bingemer






Quanto ao calendário, ainda estamos na primavera. Apenas no final de dezembro ela cederá lugar ao terrível verão tropical que faz suar e gemer sob sol inclemente e altíssimas temperaturas. E justamente porque enquanto estação do ano, a primavera é aquela que apresenta temperatura amena, estendendo-se de setembro a dezembro, foi logo identificada com tudo que é recomeço, renovação, renascer. Por isso, em sentido figurado primavera é época primeira, tempo primordial, aurora. Aplicada às pessoas, a categoria de primavera quer designar alguém muito jovem, que é ainda promessa de um desabrochar ou de futura plenitude.


Alguém que já mostra o que será mas ainda não o visibiliza plenamente. Esta é a razão de a infância e a juventude serem designadas como a primavera da vida. Entende-se, portanto, por que os protestos que eclodiram no mundo árabe a partir de 2010 e até hoje permanecem foram batizados de Primavera Árabe. Iniciando-se na Tunísia, em 18 de dezembro de 2010, o movimento rapidamente se espalhou pelo norte da África e também pelo Oriente Médio, encontrando talvez sua manifestação mais forte, além da própria Tunísia, no Egito e na Líbia. Ali, naqueles dois países, foram derrubados regimes de exceção que pareciam até então muralhas inexpugnáveis.


Dentre os três chefes de estado assim removidos do poder, o tunisino Bem Ali fugiu, o egípcio Mubarak renunciou e o terceiro , Gaddafi (ou Kadafi) foi capturado, torturado por rebeldes, arrastado por carreta em público e executado com um tiro na cabeça. Os protestos tomaram diversas formas e utilizaram diversas técnicas, como greves, manifestações, passeatas, resistência civil em campanhas reivindicatórias e comícios.


As mídias sociais como o Facebook, Twitter, Youtube foram largamente usadas para apoiar a movimentação e convocar a população, informando-a e sensibilizando-a, a fim de que não se deixasse enganar ou envolver pelo que os Estados objetos dos protestos espalhavam pela mídia: censura e desinformação. À queda dos três chefes de Estado seguiu-se uma onda de anúncios da queda do poder de outros governantes: no Iêmen, no Sudão, no Iraque, na Jordânia.


É, inegavelmente, o fim de uma era e de uma forma de organização política que tem como consequência uma renovação profunda naquela parte do mundo onde proliferavam os regimes fortes e autocráticos. A primavera árabe é a primeira revolução democrática acontecida no mundo árabe no século em que vivemos.Ao fundo, a insatisfação de povos que cansaram de ser oprimidos, manipulados e injustiçados pela pobreza, desemprego, falta de liberdade e alta militarização de suas forças vivas.


Revela-se igualmente o cansaço desses povos de verem suas nações dependentes de potências estrangeiras que, com a conivência de seus governantes, ditavam a agenda e as prioridades para seu duro cotidiano.Esses regimes, nascidos do nacionalismo árabe entre os anos 1950 e 1970, converteram-se em governos repressores que impediam a oposição política sadia e democrática. E igualmente apossavam-se de todo o benefício das economias em crescimento, negando-se a distribuir seus frutos à população.


Assim, abriram um vácuo de participação, que foi sendo preenchido pelas lideranças e movimentos sociais que temos visto à frente da Primavera Árabe nos últimos tempos.Os protagonistas deste primaveril movimento são jovens e isso chama a atenção. Não em vão os protestos do Egito receberam o nome de “Revolução da juventude”. Além disso e por isso são informados, bem formados e muitos têm estudos universitários. Sabem usar as redes sociais e comprovam, com o sucesso e a rápida difusão de seu movimento, que realmente o mundo tornou-se plano com a chegada da internet e a comunicação em rede. É o novo que chega ao mundo árabe e, embora infelizmente com um importante saldo de violência e morte, traz vento e perfume libertador.


Por isso, o tempo litúrgico do Advento, vivido hoje pela Igreja Católica, é uma chave de leitura importante para iluminar nossa reflexão e vivência. Advento é aparecimento, chegada de alguém ou de algo. É algo que começa, se institui, rompe o estabelecido e traz um novo estado de coisas.Por isso, a Igreja chama de Advento o período de cinco semanas que antecedem o Natal, destinado à preparação espiritual e à purificação de seus fiéis para a vinda do Salvador que libertará o povo de suas cadeias e lhe trará a Boa Notícia da vida em plenitude.


Enquanto o Ocidente volta os olhos surpresos para o mundo árabe que vive sua primavera libertadora, os cristãos celebram o Advento do Messias esperado e levantam a cabeça com alegre esperança. A chegada do Sol Invicto, festa pagã que foi relida pelo Cristianismo, será o apogeu desta primavera ad-ventícia que prepara a celebração da liberdade. .



Autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco). Copyright 2011 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

sábado, 26 de novembro de 2011

ASSUERO GOMES






Assuero Gomes é médico pediatra.


Quem entende as crianças, não pode deixar de entender também a beleza das artes, onde a criatividade, por vezes, leva a divagações e a centenas de conjecturas.

E, gostando tanto de arte, dedica o pouco tempo livre que tem à ela, pintando, desenhando e escrevendo textos que são publicados em jornais e livros, como os quatro que já publicou: Partindo de Emaús, Réquiem para um Bispo, O Profeta e a Serpente e Farol de Solidão, filhos das palavras, frutos da imaginação e do sonho desse poeta contador de histórias.

Cristão católico, seguidor inconteste de Jesus Cristo, Assuero ainda arranja tempo para se dedicar a outras atividades como o restaurante popular O Dom da Partilha que fundou com um grupo de amigos, para fornecer alimentação a preços populares à pessoas carentes.

Nascido em 1º de outubro é casado e pai de três filhos.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

EDUARDO HOORNAERT





O historiador e padre casado Eduardo Hoornaert nasceu na Bélgica e reside há vários anos no Brasil. Ensinou História da Igreja nos Seminários de João Pessoa, Fortaleza e no SERENE II do Recife. Foi professor do extinto ITER (Instituto de Teologia do Recife) durante os anos em que morou em Recife. É um dos fundadores do CEHILA (Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina) e ado acessor das CEB's (Comunidades Eclesiais de Base).

É autor de vários artigos e livros sobre História do Cristianismo Antigo, História da Igreja e História da Igreja na América Latina, entre eles ‘História do Cristianismo na América latina e no Caribe', pela editora Paulus, São Paulo.

Coordenou o Projeto: História do Cristianismo no 3º Mundo, através do qual publicou, em 1995, o livro "O Movimento de Jesus". Foi pesquisador no Mestrado de História da Universidade Federal da Bahia.

E-mail: hoornaert@ig.com.br

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

FREI BETTO



Carlos Alberto Libânio Christo, Frei Betto, é frade dominicano, estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Em 1983, ganhou o prêmio "JabutiI", o principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasilera dp Livro , por seu livro "Batismo de Sangue". Em 1986, foi eleito "Intelectual do Ano", pelos escritores filiados à União Brasileira de Escritores, que deram-lhe o prêmio "Juca Pato". Em 1987 recebeu o prêmio de "Direitos Humanos" da Fundação Bruno Kreisky, em Viena. Na Itália, foi a primeira personalidade brasileira a receber o prêmio "Paolo E. Borselino", por seu trabalho em prol dos direitos humanos, concedido em maio de 1998. Em dezembro de 1998, recebeu o prêmio concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, de melhor obra infanto-juvenil, com o livro "A Noite em que Jesus Nasceu".
Integrou, por cinco anos (1991-1996), o conselho da Fundação Sueca de Direitos Humanos. Foi também membro do Institute for Critical Research, Amsterdã, e diretor da revista "América Libre". É articulista de vários jornais e revistas do Brasil e do exterior.
Foi coordenador da ANAMPOS (Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais), participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da CMP (Central de Movimentos Populares). 
Prestou assessoria à Pastoral Operária do ABC (São Paulo), ao Instituto Cidadania (São Paulo) e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Foi também consultor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 
Em 2003 e 2004 atuou como Assessor Especial do Presidente da República e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. 
Com obras editadas em várias países, tem 52 livros publicados, em diversos idiomas .
Entre suas obras, destacam-se na área de ficção: "A Menina e o Elefanate" e "Uala , o Amor", "O Vencedor", "Entre Todos os Homens", "Hotel Brasil" e “Treze Contos diabólicos e um angélico?”. Este último a ser lançado no próximo mês de março.
Na área de Ensaio: Fidel e a Religião, Batismo de Sangue, Cartas da Prisão, Essa Escola Chamada Vida ( Co-autoria com Paulo Freire), Mística e Espiritualidade (co-autoria com Leonardo Boff). O Paraíso Perdido - Nos Bastidores do Socialismo, Alucinado Som de Tuba, Sinfonia Universal - A Cosmovisão de Teilhard de Chardim e A Obra do Artista - Uma Visão Holística do Universo.
Seu primeiro livro publicado foi "Cartas da Prisão". O livro foi publicado em italiano, em Milão, Itália. Preso de 1969 A 1973, recebeu o livro ainda na prisão. Só em 1974 saiu a edição brasileira. Esta obra não se encontra em livrarias.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

GORETTI SANTOS



Maria Goretti Santos é pernambucana de São José do Egito.

Fisioterapeuta apaixonada por seu trabalho, tem sempre uma palavra de carinho e ânimo para os seus pacientes.

Sempre engajada em movimentos religiosos ou sociais, acredita que depende de cada um de nós a construção de uma mundo mais justo e mais humano.

Herdou dos pais o dom de fazer poesias, nas quais coloca todo o sentimento e inspiração.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

JURACY ANDRADE







Juracy Andrade é jornalista e licenciado em teologia. É colunista do Jornal do Commercio.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

LEONARDO BOFF





Leonardo Boff nasceu em Concórdia, Santa Catarina, aos 14 de dezembro de 1938. 

Durante 22 anos, foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em Petrópolis, no Instituto Teológico Franciscano. Professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além de professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heilderberg (Alemanha).
Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso indignado frente à miséria e à marginalização com o discurso promissor da fé cristã gênese da conhecida Teologia da Libertação. Foi sempre um ardoroso defensor da causa dos Direitos Humanos, tendo ajudado a formular uma nova perspectiva dos Direitos Humanos a partir da América Latina, com "Direitos à Vida e aos meios de mantê-la com dignidade".
Em 1993 prestou concurso e foi aprovado como professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

domingo, 20 de novembro de 2011

MARCELO BARROS




Marcelo Barros, monge beneditino da comunidade do Mosteiro da Anunciacao do Senhor, da Cidade de Goiás, e peregrino de Deus, procura testemunhar o seu amor por todas as regiões do Brasil e do mundo onde e chamado para assessorar grupos de base, coordenadores eclesiais e pessoas que buscam viver uma espiritualidade ecumênica ligada à paz, à justiça e à comunhão com a natureza. Nasceu em Camaragibe, cidade do Grande Recife, em uma família católica de operários muito pobres e e o mais velho de três irmãos e seis irmãs, das quais a mais nova é adotiva (seus pais a adotaram com dois dias de nascida).Quando era criança, queria ser veterinário para cuidar de jardins zoológicos e lidar com elefantes, girafas e animais selvagens. Estudou o segundo grau numa escola agricola. Aos 18 anos, apaixonado pela vida comunitária e pela Palavra de Deus e conquistado pelo ideal de viver uma vida radicalmente consagrada, entrou no Mosteiro de Sao Bento de Olinda.Durante 3 anos, morou com irmãos evangélicos (comunidade de Taizé em Olinda) e trabalhou com Dom Hélder Câmara para assuntos ecumênicos. Ingressou na comunidade do Mosteiro da Anunciacao do Senhoronde esta ate hoje, porque precisava de uma comunidade de monges no meio do povo e com a opção da Igreja dos pobres. Trabalhou 14 anos no secretariado nacional da Pastoral da Terra e até hoje do que mais gosta é quando assessora grupos de lavradores e quando e chamado para algum encontro com o MST.Também se realiza quando esta junto com grupos negros e indígenas, mas sua experiência maior tem sido mais ser testemunha da presença de Deus nos terreiros de Candomblé que freqüenta contemplativa e amorosamente.

Vive escrevendo (tem mais de 30 livros escritos e uma porção de artigos), mas descobriu que faz isso como forma de se comunicar e se sentir junto de tanta gente que ama. Diz ser afetivamente carente e precisar dos amigos e amigas que tem como o maior tesouro da sua vida. A eles e elas, procura ser fiel e se consagrar religiosamente, fazendo da amizade um verdadeiro culto, lugar de encontro com Deus.

sábado, 19 de novembro de 2011

MARIA CLARA BINGEMER




Carioca, nascida e criada na Cidade Maravilhosa, e vibradora de suas belezas naturais, de sua gente, de sua música, e da luz do sol que se põe no fim do dia sobre a baía de Guanabara e suas ilhas.

Nasceu a 19 de maio de 1949, filha única, neta única e sobrinha única.

Nasceu Lucchetti, neta de italianos, catalães e portugueses. A 2 de junho de 1969 tornou-se Bingemer pelo casamento com um argentino filho de alemães que há trinta e três anos a faz feliz e que lhe deu os três mais belos presentes de sua vida: seus três filhos: Maria Laura, Carlos Frederico, e Maria Cândida. 
Moça típica de sua geração, trancou a faculdade de Comunicação que havia recém começado para seguir o marido por dois anos de Mestrado na Europa. 
Ao voltar ao Brasil, em 1971, retomou a faculdade. Em 1975 concluiu o bacharelado em Comunicação Social na PUC do Rio. Foi quando, procurando um trabalho que não me tomasse o dia inteiro, por causa das crianças, foi convidada pelo então Padre Alfredo Novak (hoje bispo de Paranaguá, PR) a trabalhar na sede da Conferência dos Bispos do Brasil, que naquele tempo funcionava no Rio de Janeiro. Ali começou a desenvolver a área de Meios de Comunicação audiovisuais.
Em 1976 entrou para a Faculdade de Teologia da PUC-Rio. Seu primeiro professor, o Pe. João Batista Libanio abria diante de seus olhos fascinados os caminhos da Teologia Fundamental, da fé e da revelação. O desejo de permanecer no terreno da Teologia e o estímulo de começar a ser convidada para dar assessorias e palestras sobre temas teológicos, juntamente com a mudança da CNBB do Rio rumo a Brasília a levaram a tomar a decisão. de terminar a graduação, e ingressar no mestrado e depois no doutorado, a fim de servir a Igreja e poder ajudar a fazer crescer o Reino de Deus.


Foi nesta mesma época que se deu em sua vida, um encontro decisivo com Inácio de Loyola. A experiência dos Exercícios Espirituais, método que Inácio deixou como legado à Igreja para buscar e encontrar a Deus em todas as coisas passou a moldar sua maneira de rezar e de viver. Foi sobre Inácio, portanto, e sua teologia trinitária que fez sua tese de mestrado e depois de doutorado. Para a última, desloucou-se até Roma, na Universidade Gregoriana, defendendo-a a 3 de maio de 1989.
Após o doutorado, voltou à PUC , seu lar acadêmico desde sempre. Retomou as aulas, a pesquisa e a orientação de teses de mestrado e doutorado. Começou a escrever para periódicos acadêmicos, a publicar livros e artigos e a assessorar dioceses, congregações religiosas e movimentos leigos sobre temas teológicos específicos.
Entre suas linhas de pesquisa ao longo destes anos, ao lado dos sempre amados e nunca abandonados Santo Inácio e a Santíssima Trindade, estiveram : a Mulher e as relações de gênero, a mística inter-religiosa, a crise da modernidade e o pluralismo religioso. No momento, sua atenção se encontra voltada para o pensamento de uma filósofa que se tornou grande amiga, apesar de nunca tê-la encontrado pessoalmente: Simone Weil. A partir dela, desdobrou novos caminhos de pesquisa, onde a violência, o diálogo inter-religioso e o gênero também estavam presentes.
Finalmente, nos últimos anos, a Comunicação vem voltando à sua vida, imbricando-se com a Teologia. Coordenando há quase 10 anos um Centro de fé e cultura da PUC, que se dedica à formação de leigos, começou a ter oportunidade de maior visibilidade na mídia, em especial na televisão e nos jornais. Em 2002, assumiu uma coluna quinzenal no Jornal do Brasil, desde onde procura testemunhar a fé que a levou em seus caminhos desde criança e a fez assumir como missão o magistério teológico.

 

MARTINHO CONDINI



Martinho Condini é doutor em Educação e mestre em Ciências da Religião, ambos pela PUC-SP e graduado em Estudos Sociais e História pela UNICID. Registrado desde 2008 como Jornalista Profissional MTB 54967 SP.

Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Possui experiência na área da educação, com ênfase em Formação de Professores, Didática, Prática Pedagógica e Currículo.

Atua principalmente com os temas: pensamento freireano, ética, direitos humanos e educação libertadora. Integra o grupo de pesquisa do CNPQ (O pensamento de Paulo Freire na educação brasileira), na linha de pesquisa (Pensamento de Paulo Freire - legado e reinvenção) na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Leciona em cursos de graduação e pós graduação e realiza palestras.

É editor assistente da Editora Diálogo Freiriano. Publicou pela Paulus Editora os livros Dom Helder Camara um modelo de esperança (2008), Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo (2011), Fundamentos para uma educação liberadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire (2014) e o DVD Educar para a liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire (2013).

Pela Pablo Editorial, Bogotá, Colômbia, publicou o livro Monsenhor Hélder Câmara um ejemplo de esperanza (2014). Publicou capítulos em livros editados pelo Instituto Paulo Freire e Editora Diálogo Freiriano.

 

Contato: profcondini@gmail.com 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ROBERTA BARROS




Roberta Barros, nasceu no Morro da Conceição, é pedagoga e fundadora do CAMM, uma organização não governamental que atua há mais de vinte e cinco anos, com crianças e adolescente em situação de risco em Recife.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ROSSANA MENEZES


Rossana Menezes é jornalista, fotógrafa e designer gráfica. Nascida em Recife, reside desde 2010 em Toronto, no Canadá. Lugar pelo qual é apaixonada desde que esteve lá pela primeira vez com 15 anos. 

Apaixonada por cinema, livros e jogos, Rossana escreve para a coluna de O Porta-Voz CINEMANIA, onde publica sua opinião sobre filmes, sejam eles recém - lançados no cinema, DVD e Blu-ray ou não, de maneira mais descontraida.

Rossana também é criadoras dos Blogs There and Back Again sobre imigração para o Canadá e Canada on Demand sobre dicas turísticas e culturais.

sábado, 5 de novembro de 2011

DO CAPITAL AO SOCIAL




por Frei Betto







O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, calcula que, em 2010, através de programas sociais, o governo federal repassou a 31,8 milhões de brasileiros - a maioria, pobres - R$ 114 bilhões. Ao incluir programas de transferência de renda de menor escala, o montante chega a R$ 116 bilhões.



Este valor é mais que o dobro de todo o investimento feito pelo governo no mesmo ano - R$ 44,6 bilhões, incluindo construção de estradas e obras de infraestrutura.



Os R$ 116 bilhões foram destinados à rede de proteção social, que abarca aposentadoria rural, seguro-desemprego, Bolsa Família, abono salarial, Renda Mensal Vitalícia (RMV) e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Esses programas abocanharam 3,1% do PIB.


A RMV, criada em 1974, era um benefício previdenciário destinado a maiores de 70 anos ou inválidos, definitivamente incapacitados para o trabalho, que não exerciam atividades remuneradas, nem obtinham rendimento superior a 60% do valor do salário mínimo. Também não poderiam ser mantidos por pessoas de quem dependiam, nem dispunham de outro meio de prover o próprio sustento.



Em janeiro de 1996, a RMV foi extinta ao entrar em vigor a concessão do BPC. Hoje, a RMV é mantida apenas para quem já era beneficiário até 96. Já o BPC é pago a idosos e portadores de deficiências comprovadamente desprovidos de recursos mínimos.



Há quem opine que o governo federal “gasta” demais com programas sociais, prejudicando o investimento. Ora, como afirma Lula, quando o governo canaliza recursos para empresas e bancos, isso é considerado “investimento”; quando destina aos pobres, é “gasto”...
O Brasil, por muitas décadas, foi considerado campeão mundial de desigualdade social. Hoje, graças à rede de proteção social, o desenho da pirâmide (ricos na ponta estreita e pobres na ampla base) deu lugar ao losango (cintura proeminente graças à redução do número de ricos e miseráveis, e aumento da classe média).



Segundo o Ipea, entre 2003 e 2009, 28 milhões de brasileiros deixaram a miséria. Resultado do aumento anual do salário mínimo e da redução do desemprego, somados ao Bolsa Família, às aposentadorias e ao BPC.



A lógica capitalista considera investimento o que multiplica o lucro da iniciativa privada, e não o que qualifica o capital humano. Essa lógica gera, em nosso mercado de trabalho, a disparidade entre oferta de empregos e mão de obra qualificada. Devido à baixa qualidade de nossa educação, hoje o Brasil importa profissionais para funções especializadas.



Se o nosso país resiste à crise financeira que, desde 2008, penaliza o hemisfério Norte, isso se deve ao fato de haver mais dinheiro em circulação. Aqueceu-se o mercado interno.
Há queixa de que os nossos aeroportos estão superlotados, com filas intermináveis. É verdade. Se o queixoso mudasse o foco, reconheceria que nossa população dispõe, hoje, de mais recursos para utilizar transporte aéreo, o que até pouco tempo era privilégio da elite.



Há, contudo, 16,2 milhões de brasileiros ainda na miséria. O que representa enorme desafio para o governo Dilma. Minha esperança é que o programa “Brasil sem miséria” venha resgatar propostas do Fome Zero abandonadas com o advento do Bolsa Família, como a reforma agrária.
Não basta promover distribuição de renda e facilitar o consumo dos mais pobres. É preciso erradicar as causas da pobreza, e isso significa mexer nas estruturas arcaicas que ainda perduram em nosso país, como a fundiária, a política, a tributária, e os sistema de educação e saúde.

Frei Betto é escritor, autor de “Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin” (Vozes), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.

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