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quarta-feira, 29 de junho de 2022

PALAVRA DE PEDRO: ESPERA-ME SEM HORA

 



Dom Pedro Casaldáliga

 

Espera-me mais velho, mais jovem, mais sem anos,

mais sem tempo; talvez

mais perto de mim mesmo

e de toda a verdade.

Desnudo e livre, como um menino índio

que ainda não puderam civilizar!

 

Pedro Casaldáliga, do livro Casaldáliga, Joan Guerrero

Foto: Joan Guerrero

#Casaldàliga!

#PedroCasaldáligaPresente!

#NãoQueremosGuerraQueremosPaz!

terça-feira, 28 de junho de 2022

Festas juninas e Ecologia

 Marcelo Barros


No momento atual que vivemos no Brasil, a cada dia, os movimentos sociais e o povo mais pobre têm ido às ruas para se manifestar pela Democracia. Em geral, por trás dessas manifestações, está a defesa da Constituição e o apelo para que o voto do povo seja respeitado. No entanto, toda manifestação popular pode ser ensaio de democracia. Um bom exemplo disso é o cuidado com o qual, em quase todo o Brasil, as pessoas preparam e organizam os festejos juninos.

Ainda há quem olhe as festas populares como expressões de mera alienação social. De fato, no tempo do antigo império romano, cada vez que alguma guerra se aproximava, ou uma lei iria tornar a vida mais difícil, os pensadores do império promoviam o que chamavam de “pão e circo”. Essa fórmula vigora até hoje em certos círculos do sistema opressor. Até hoje, jornais televisivos sem compromisso com a transformação do mundo alternam notícias de massacres e crimes com cenas de futebol. Depois de mostrar imagens da seca e fome no nordeste, filmam na mesma região algum forró de São João .

De fato, os festejos juninos têm origens pré-cristãs nas mudanças de estação. Na Bolívia, Peru e Equador, os índios festejam o ano novo andino. No Brasil, o povo faz brincadeiras caipiras, quadrilhas e comidas típicas de cada região. Algumas das danças juninas vieram das cortes da Europa e são hoje o que se chamam “quadrilhas” que ainda usam termos franceses e fazem as pessoas se vestir de caipiras e dançar como a nobreza de outros séculos. Assim, a própria história das festas juninas revela uma democratização de costumes, antes restritos aos nobres e dos quais os pobres se apropriaram. Nos casamentos matutos, figuras como padres e juízes da roça são caricaturadas porque só se interessam por dinheiro e poder. Essas críticas revelam o modo como as camadas mais empobrecidas do povo podem expressar, democraticamente, suas críticas e seu protesto social. Mesmo o fato de tomar santos da Igreja Católica, como Santo Antônio, São João Batista e São Pedro para fazer festas que revelam resistência cultural é bom porque liga os santos com a realidade da vida dos pobres de hoje.

Uma consequência positiva da tragédia que é a crise política pela qual o Brasil passa nesses dias é que os movimentos sociais conseguiram superar suas diferenças e se uniram. Não é fácil organizar uma comunidade de bairro ou ajudar as pessoas a pensar criticamente e a criticar as notícias impostas pelos grandes meios de comunicação. Em geral, nos bairros e periferias, as pessoas, crianças, jovens e adultas, se organizam com muita disciplina para ensaiar a quadrilha, preparar as danças caipiras e brincar. As festas juninas revelam que nosso povo tem uma surpreendente capacidade de se organizar,  quando deseja e se o assunto é do seu mundo afetivo. Quem, de fora, vê os ensaios e a eficiência da preparação da festa, muitas vezes, de forma espontânea e sem dinheiro, pode desejar que essa mesma energia de unidade e de organização apareça na caminhada social e política das bases e na direção da luta pacífica para transformar esse mundo.

Mesmo que não seja de forma consciente, ao preparar as brincadeiras juninas, as pessoas revelam uma capacidade de união que não se restringe apenas a uma dança de quadrilha ou uma encenação caipira. Elas se tornam capazes de ensaiar uma sociedade nova na qual todos serão protagonistas. Assim, na alegria e de forma despretensiosa, grupos e comunidades populares sinalizam uma realidade nova que se aproxima ao que os evangelhos chamam de reinado de Deus. Do seu modo e em sua linguagem lúdica, parecem traduzir uma palavra que os evangelhos atribuem a São João Batista: “Mudem de vida porque a realização do projeto de Deus no mundo está próximo!” (Mt 3, 2).

segunda-feira, 27 de junho de 2022

BARBÁRIE E TESTEMUNHO NA FLORESTA

                 Maria Clara Bingemer


 

            Muito já se escreveu, em todas as mídias, sobre o desaparecimento e assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e de Dominic (Dom) Philips, jornalista britânico radicado no Brasil em viagem pela Amazônia. Ambos tinham em comum a paixão pela floresta e a dedicação aos povos indígenas. A última vez em que foram vistos foi no último dia 5 de junho.  A viagem que deveria durar duas horas, da comunidade de São Rafael a Atalaia do Norte, foi brutalmente interrompida e jamais aportou onde devia. 

Dom e Bruno viviam impulsionados pela dedicação à causa que os apaixonava: a floresta e os indígenas.  Bruno oferecia sua experiência de indigenista, de profundo conhecedor das etnias e línguas daqueles povos. Dava suporte à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) em diversos projetos. Era experiente e profundo conhecedor da região, tendo sido Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por vários anos.  Dom punha à disposição do país que amava e escolhera para viver sua experiência de jornalista colaborador do jornal “The Guardian”. Nos últimos 15 anos, trabalhou em diversos periódicos importantes, sempre com temas ligados ao Brasil. No momento, reunia material  para um livro que pretendia escrever sobre meio ambiente.  Para isso fazia a viagem, apoiado na experiência de Bruno. 

Lamentavelmente o Brasil não devolveu a eles tudo o que deram de si, de suas vidas e energias. Quando as famílias dos dois já não conseguiam contato, a mídia e a opinião pública denunciavam  o desaparecimento de ambos, as autoridades brasileiras demoravam a mobilizar-se e davam declarações infelizes ao classificar de “aventura não recomendável” o que era elemento constitutivo de uma paixão: conhecer mais a região, os problemas que sofria, os desafios que apresentava para poder denunciar, noticiar, ajudar. A floresta ameaçada mobilizava Dom e Bruno, mas as autoridades do país que amavam moviam-se lentamente e retardavam as buscas. 

Dez dias após a última viagem de Dom e Bruno, confirmou-se a notícia dos bárbaros assassinatos.  Dois suspeitos foram presos e um deles levou a Polícia Federal até o local onde a embarcação do indigenista e do repórter foi submersa.  Restos humanos foram encontrados e encaminhados à perícia.

Os suspeitos confessaram o crime. O país baixa a cabeça, envergonhado e triste, diante da barbárie perpetrada em seu território.  A floresta amazônica, grande tesouro do Brasil, converteu-se em terra de ninguém.  Terra sem lei, sem proteção, onde campeia o crime, a violência, a ganância, e os povos indígenas vivem constantemente ameaçados, assim como aqueles que os defendem. 

Dom e Bruno entregaram suas vidas por aquilo em que acreditavam e amavam intensamente: a floresta e os indígenas.  Seus assassinos querem destruir a floresta e subjugar os indígenas a seus interesses de lucro e ambição. São predadores da natureza e da vida, responsáveis pela tragédia climática que ameaça o mundo inteiro e pela catástrofe ética e política que envolve sombriamente o Brasil, onde 33 milhões passam fome e mais de 600 mil pessoas morreram vítimas da Covid 19, muitas pelo atraso na chegada das vacinas. 

Apesar da tristeza pela perda de Dom e Bruno, pode ser consolador o fato de terem representado uma réstea de luz em um país que nos últimos tempos só respira dor e morte.  Como eles, existem  pessoas que não se conformam com a iniquidade e lutam com todas as forças para transformar a realidade.  São combatentes e lutadores impregnados da utopia que dá força a um projeto vital: salvar a vida que pulsa na floresta e também a de seus habitantes.  Pertencem à linhagem dos muitos que os precederam na mesma luta sem quartel: Dorothy Stang, Chico Mendes e tantos outros que com eles compartilharam trajetória e destino. Hoje, são luminosa inspiração para os que prosseguem nessa mesma caminhada.  

Assim serão recordados Dom e Bruno de agora em diante: como testemunhas. No início do Cristianismo, a palavra mártir equivalia a testemunha.  O jornalista britânico e o indigenista brasileiro são testemunhas eloquentes da causa da ecologia e do meio ambiente.  A trajetória radical de suas vidas os transformou em mártires da causa ecológica e deve inspirar todos que clamam por uma conversão à causa do planeta, conversão à vida e ao futuro da Terra e da humanidade. 

Vítimas da barbárie, da incúria, da violência e da corrupção que imperam no Brasil, são testemunhas veneráveis da luta difícil e necessária pela Amazônia e pelos povos indígenas. Que o testemunho de ambos possa brilhar sempre mais, para que a justiça aconteça e a esperança vença a opressão que pretende esmagar a beleza e a vulnerabilidade da vida. 

 

 

-Maria Clara Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de “Mística e testemunho em Koinonia – a inspiração que vem do martírio de duas comunidade do século XX” (Paulus Editora), entre outras obras. 

 

Copyright 2022 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato: agape@puc-rio.br>

 

 

Maria Helena Guimarães Pereira
MHP Agente Literária - Assessoria
mhgpal@gmail.com

 

sábado, 25 de junho de 2022

Tá chegando a hora

 



 

Prof. Martinho Condini

 

Caras companheiras e companheiros, a primavera está ficando mais florida, apesar de estarmos no início do inverno na latina américa. Já são oito os países governados pelos partidos de centro-esquerda e esquerda: a Argentina com Alberto Fernandez; o Chile com Gabriel Borec; a Venezuela com Nicolás Maduro; a Bolívia com Luis Arce, a Guiana com Irfaan Ali, o Suriname com Chan Santhokhi, o México com Andrés Manuel López Obrador, Pedro Castilho no Peru e na Colômbia Gustavo Petro, que tem como vice a Francia, uma afro colombiana, algo sensacional.

Essas vitórias da esquerda e centro-esquerda não nos garantem que isso se repetirá no Brasil, mas é sim, um alento que podemos chegar lá também.  Uma onda de esperança e esperançar nos invade e nos estimula a ficar atentos e cheios de brio para lutarmos até outubro, e derrotarmos esse abjeto desgoverno fascista e genocida.

Sabemos o quanto será difícil reconstruir o Brasil após quatro anos de obscurantismo, ignorância e destruição. Mas por outro lado sabemos que há pessoas competentes e capazes que irão estabelecer uma agenda propositiva e progressista para o país. Em breve restabeleceremos nossa dignidade como nação.

Já passamos da hora de vivermos num país onde as pessoas sejam tratadas com dignidade, todas as pessoas, mas principalmente, as pessoas das classes menos favorecidas e mais discriminadas: os afrodescendentes, os indígenas, os grupos LGBTQIA+, os quilombolas, enfim toda a população que ao longo da nossa história foram maltratadas e excluídas. Não é possível mais aceitar um padrão de valores estabelecido pela elite branca, cristã, capitalista, preconceituosa e reacionária. É preciso dar um basta, são mais de quinhentos de injustiça, exploração, enganação e mentiras.

É chegada a hora das forças progressistas e democráticas desse país darem as mãos, unir forças e eliminar esse antro político que aí está apenas para perpetuar privilégios e favorecer bandidos e vagabundos revestidos de classe política defensoras da família, das tradições e das propriedades, deles, que as conquistaram por meio da exploração do povo.

Só seremos uma nação soberana quando todas as crianças, jovens, adultos e idosos tenham uma vida digna, e a justiça social e racial impere neste país. A democracia política é fundamental para o desenvolvimento de uma nação, mas a ela deve estar atrelada a democracia social e a democracia racial também, se não, não é democracia de verdade.

Não podemos mais aceitar que pessoas digam que um homem ou uma mulher puxando uma carroça nas ruas do Brasil para sustentar sua família significa empreendedorismo.

Que os ventos que sopram do oeste da América Latina nos possibilitem sonhar com dias melhores e que todos nós possamos ser felizes de novo.

Acredito que esteja chegando a hora.

Boa sorte e até a breve.

  

 

sexta-feira, 24 de junho de 2022

A política de ódio e o assassinato do indigenista Bruno e do jornalista Dom


                               


            Leonardo Boff

O assassinato do conhecido indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips comoveram o país e o mundo. Esse crime  só é compreensível no quadro de uma política de ódio e perseguição que o atual governo estabeleceu como política normal, atingindo principalmente os povos originários, os negros, os de outra opção sexual e os pobres em geral.Só no tempo no nazifascismo se instalou tal prática política. Ela é expressão de barbárie, quando se passa por cima do contrato social que inaugura relações civilizadas entre os cidadãos.

Esse assassinato precisa ser investigado até o fundo e ter em conta a atmosfera de ódio e de violência estimulada de cima que tomou conta do país.Quem tem afirmado que a revolução de 64 errou em torturar pois deveria ter matado, quem explicitamente declara que se precisaria fuzilar 30 mil esquerdistas e faz aberta apologia de um notório torturador, não está isento da atmosfera que propiciou o bárbaro crime cometido no Vale do Javari amazônico. Por que a PF suspendeu as investigações? A mando de quem? As instituições jurídicas estão submetidas à prova.Devem atuar.

Apesar desta verdadeira desgraça nacional não queremos perder a esperança de que tudo virá à luz e os culpados diretos e indiretos sejam punidos. O país irá encontrar o seu verdadeiro destino. Inspira-nos o legado de um dos maiores pensadores do Ocidente,o africano Santo Agostinho (354-430). Dizia: jamais percam a esperança porque sua alternativa é o suicídio. Mas confiem nela pois ela possui duas formosas irmãs: a irmã Indignação e a irmã Coragem. A indignação para rejeitar tudo que é mau e perverso. A coragem para mudar  esta situação em benéfica. Nesse momento sombrio de nossa história temos que enamorarmo-nos da irmã indignação e da irmã coragem.

              A irmã indignação

Indignam-nos contra um governo que se propôs como tarefa destruir todo nosso passado cultural e impor outro modelo que  pretende nos conduzir a tempos obscuros de outrora. Subserviente  aos interesses norte-americanos, aliou-se ao  mais atrasado e reacionário existente naquele país.

Indignamo-nos por um chefe de estado, que por sua alta função, deveria  viver valores e virtudes que gostaria que o povo também vivesse. Ao contrário, se excede nos maus exemplos. Tem difundido a partir de cima uma onda de ódio, de mentiras, de violências e de fake news como política de estado. Tal atitude insuflou na sociedade e nos órgãos policiais  situações de barbárie com uso indiscriminado da violência dirigida contra os mais desvalidos. Mostrou-se absolutamente irresponsável em questões ambientais,de modo particular quanto à Amazônia e ao Pantanal.

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Indignamo-nos por ter-se aliado ao Covid-19,negando sua importância, tentando impor a imunização de rebanho,sacrificando com isso centenas de pessoas, e prescrever medicinas sem qualquer efeito imunizador. Negou a eficácia das vacinas a ponto de, a seu tempo, recusar  a sua aquisição. Ele é responsável de parte dos mais de  660 mil vitimados pelo Covid-19 quando poderia tê-lo evitado. Nunca mostrou empatia e solidariedade com as famílias enlutadas.

Indignamo-nos por desprezar as leis e a Constituição, atacar o STF e o TSE, ameaçar com um golpe de estado e claramente afirmar que reconhece nas eleições apenas um único resultado, a sua reeleição. Caso contrário haverá convulsão social, manipulando sua base fanatizada e armada.

Indignamo-nos por ter traído a si mesmo e ao povo brasileiro, retomando inescrupulosamente a velha política que queria superar, aliando-se a grupos políticos oportunistas e conservadores com os quais articulou vergonhosamente um orçamento secreto,fonte de alta corrupção.

Indignamo-nos, por fim, por ser corrupto no sentido originário da palavra: ter um coração (cor) corrupto (corruptus). Pior que a corrupção monetária existente no atual governo mas impedida de ser investigada ou colocada sob sigilo, é a corrupção de sua mente e de seu coração. Ele é visivelmente tomado pela pulsão de morte, pelo descuido que mostra da vida das pessoas e da natureza. É desta corrupção fundamental que nasce seu ódio, sua boçalidade, as palavras de baixo calão, as mentiras  e a distorção da realidade. Como pode dizer que tem Deus no coração?

              A irmã coragem

Encorajam-nos a oposição e a resistência de políticos ligados aos interesses gerais da nação, especialmente dos movimentos sociais populares do campo e da cidade e de vários estratos maltratados por seu governo como os artistas e atrizes, cultores da cultura,  os negros,os quilombolas,os indígenas e os pobres.

Encorajam-nos os meios de informação e de opinião alternativos seja impressos, seja pelas mídias virtuais que mantém viva a consciência crítica e denunciam os desmandos governamentais e parlamentares.

Encorajam-nos os vários manifestos de professores e professoras, de intelectuais, artistas, gente dos movimentos sociais e do povo organizado contra as reformas que desmontaram conquistas históricas de direitos dos trabalhadores e de aposentados, entre outros.

Encoraja-nos a consciência nacional e coletiva em defesa de  nossa democracia representativa que embora não seja de alta intensidade, comparece com o grande instrumento político para a manutenção de um estado de direito, da vigência e respeito à constituição e às leis, sendo o  espaço das liberdades de opinião e da elaboração dos consensos.

Encorajam-nos  as iniciativas populares e dos movimentos sociais, a despeito da falta de apoio dos órgãos oficiais, de viverem concretamente a ética da solidariedade em tempos de pandemia, ofecendo toneladas de alimentos orgânicos e milhões de quentinhas aos milhares e milhares de desempregados e afetados pelo Covid-19.

Encorajam-nos os centenas de encontros virtuais, via LIVES, promovidos por grupos ou organizações sobre temas atuais, reforçando o engajamento e a esperança. Cabe enfatizar o alto valor civilizatório do Instituto Conhecimento Liberta (ICL) fundado pelo ex-banqueiro Eduardo Moreira e seu grupo,oferecendo, virtualmente, 145 cursos, ministrados pelas melhoras cabeças nacionais e internacionais, atingindo mais de 60 mil alunos a preço se um sanduíche (42-49 reais) podendo  por esse preço seguir todos os cursos. Centenas recebem bolsas gratuitas de estudo.

Encoraja-nos a possibilidade de elegermos representantes políticos desde as assembleias estaduais e do parlamento que poderão dar sustentação a um eventual governo de resgate da democracia, dos direitos perdidos e de uma soberania ativa e altiva com repercussão internacional.

Encoraja-nos  o apoio internacional às nossas forças democráticas, contra o autoritarismo, a barbárie social e resgatando nossa importância conquistada nas relações internacionais, especialmente pelas políticas de combate à fome e pelas demais políticas de inclusão social, técnica e universitária.

Encoraja-nos, por fim, a relevância que nosso país possuí, devido à sua privilegiada situação ecológica, no equilíbrio dos climas, na manutenção do sistema-vida e do sistema-Terra em beneficio nosso e de toda a humanidade.

Estamos convencidos de que nenhuma sociedade se constrói sobre o ódio ou sobre a pulsão de morte,mas sobre a convivência pacífica entre todos, no cuidado de uns para com os outros e da  grande Casa Comum,a natureza incluída, especialmente a Amazônia, bem comum da humanidade.

Leonardo Boff é teólogo,filósofo e escreveu O pecador ambicioso e o peixe encantado: a busca da justa medida, Vozes 2022.

 

quinta-feira, 23 de junho de 2022

CARLITO MAIA, SENHOR CIDADANIA

 Frei Betto     


                 

 
       Meu querido Carlito, você partiu há 20 anos. Viver não pode ser sinônimo de sofrer, e a sua agonia se prolongou por muito tempo. A última vez que nos vimos foi na terça, 18 de junho de 2002. Você estava muito sereno quando, ao lado de Tereza, dei-lhe a bênção da despedida. Agradecemos ao Pai/Mãe de Amor o dom de sua existência. Agora, no colo de Deus, você ri de suas inquietações quanto aos mistérios que, para nós, se escondem do outro lado da vida. 
       Lamentamos a sua partida. Com a sua ausência, ficamos órfãos de quem nos ensinou a lutar por cidadania. "Brasil? Fraude explica", bradou você diante de tanta corrupção. Você era a cidadania em carne e osso. O último pré-socrático. Com suas frases curtas e certeiras, proverbiais e irônicas,  construiu uma obra literária e contestatária de inestimável valor, inclusive filosófico, com o mérito de proferir axiomas que todos entendem. 
       Viramos cúmplices desde 1966, quando nos conhecemos no convento dos dominicanos, no bairro de Perdizes, na capital paulista. Convidado por um dos padres, você veio pronunciar palestra sobre TV. Contou como funcionava a sua agência de publicidade, a Magaldi, Prosperi & Maia; como descobriu Roberto Carlos num show de calouros da TV Tupi; como desenhou o perfil da Jovem Guarda, que se tornou, naquela década, o programa da TV Record de maior audiência nacional. 
       Desde então, não perdemos mais contato, mesmo porque sua irmã Dulce se tornou minha companheira no Teatro Oficina, na resistência à ditadura e no cárcere. E a minha admiração só cresceu, pois você jamais pôs a alma a leilão. Depois de beber tudo a que tinha direito num coquetel de indignações, transformou-se num ébrio de utopias. "Sonho, logo existo", era o seu lema.
       Espelhado em Chaplin, seu alter-ego, você combateu o regime militar sem perder o humor e o amor. Virou contrabandista de gente, produtor de fugas, alcoviteiro de guerrilheiros, semeador de esperançasAcionou sua metralhadora giratória de frases e citações, e fez da ironia uma arma capaz de derrubar prepotências e denunciar safadezas. 
       Poeta do cotidiano, socialista compulsivo, sempre partilhou com amigos e amigas a irreverência de seus textos e recortes de jornais e revistas. Artífice da vida, jamais esqueceu aniversários e homenagens, celebrados por você com a alegria das flores, como quem semeia primavera ainda que reine rigoroso inverno neste país e em nossos corações. E agora, quem nos mandará "beijares e abraçares" em papéis timbrados da Rede Globo, com a sua assinatura acompanhada de uma estrela vermelha? 
       Quem, como você, soube fazer amigos? Betty Milan retratou esse dom em "O Clarão", sua biografia afetiva. Você, que viveu "livre e solitário como uma árvore, porém solidário como uma floresta", sabia e nos ensinava que "nós não precisamos de muita coisa. Só precisamos uns dos outros." 
       Mineiro como eu, você nunca foi daqueles que ficam em cima do muro para ver melhor os dois lados. Homem de opções e ações, teve a dignidade embonezada pelo MST, que sempre contou com o corajoso apoio de quem soube enfatizar que "a luta é entre os sem-terra e os sem-vergonha".
       Fundador do PT, você cunhou as expressões "Lula-lá" e "Sem medo de ser feliz", e preferia "perder com as bases a vencer sem elas". Desconfiado, sabia que "quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita". 
       Sua vida, coerente e bela, foi o brado maior de quem jamais teve medo de algo tão simples e, no entanto, hoje raro: vergonha na cara. Fiel às suas raízes, você sempre nos recordava que "é de pequenino que se torce o destino". Tanta coerência refletia esta sua autodefinição: "Sou o que de mim fiz, porque assim quis."
       Louvo a Deus, pleno de gratidão, pela dádiva de sua existência. "A esperança já perdi várias vezes. A fé jamais”, dizia você. Ainda bem, meu querido amigo, tão amado por Deus e por todos nós que, nesta terra de papagaios, sentimos muito a falta de quem não desperdiçava palavras e esbanjava bom humor.
       Em um dos bilhetes que me enviou, você transcreveu esta frase de Antonin Artaud: "Parto à procura do impossível. Vamos ver se o encontro." Guardo a certeza de que, aqui nesta Terra, valeu o esforço de quem, em vida, teve a honra de ver o próprio nome batizando o Troféu Cidadania da revista Imprensa. No avesso desta existência sei que, agora, não há mais nada impossível para você. Para sempre, sua vida é terna. 
       Mais uma vez, a Deus, Carlito.


 
Frei Betto é escritor, autor de “Minha avó e seus mistérios” (Rocco), entre outros livros. 
Livraria virtual: freibetto.org    

 

 

Frei Betto é autor de 70 livros, editados no Brasil e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org  Ali os encontrará  a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio. 

 

 

 

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quarta-feira, 22 de junho de 2022

Palavra de Pedro: A TRINDADE

 


Dom Pedro Casaldáliga

 

        Crer no Deus bíblico, a partir de Jesus, é necessariamente crer na Santíssima Trindade. O Deus de Jesus, o Deus cristão, é o Pai e o Filho e o Espírito, a Santíssima Trindade.1

        Em Jesus está pessoalmente o Filho do Pai eterno. Ele é historicamente o Filho unigênito de Deus. E no mistério de Jesus vive e age historicamente o Espírito eterno do Pai e do Filho.

        A unidade comunitária das três pessoas divinas conflui, se expressa, ama e salva na tensa unidade histórica dessas duas naturezas que constituem o único Jesus, Cristo Senhor. O Deus de Jesus é, vive e nos revela, nem é solitário nem é distante; é tanto transcendente como imanente. É tanto de fé cristã “a história da Trindade como a Trindade na história”.2 É o Deus-trinamente-consigo-mesmo, que se faz o Deus-conosco. Ele é Uma comunidade e é a Eternidade-História.

        A Santíssima Trindade é a melhor comunidade, proclamam nossas Comunidades Eclesiais de Base. É fonte, exigência, e término de toda verdadeira comunidade. A Igreja de Jesus ou é trinitária ou não é cristã. A espiritualidade cristã é necessariamente trinitária. A espiritualidade cristã na Igreja e no mundo tem a vocação de tornar presente o mistério da Trindade dentro dos vaivéns e esperanças da história humana.

        A Trindade é, em si, o princípio e o fim do Reino. O Reino, na terra e no céu, é a doação efusiva, processual, histórica e trans-histórica da Trindade na plenificação de vida de seus filhos

e filhas e da integridade e beleza de sua criação.

        A glória da Trindade é a realização do Reino.

        A trinitariedade é nota essencial de toda verdadeira evangelização, da autêntica Igreja de Jesus e da espiritualidade que quer ser cristã.

        A comunitariedade e a historicidade dessa Trindade que o Evangelho nos revelou, devem ser anunciadas pela evangelização, celebradas e “institucionalizadas” na Igreja, e vivenciadas – em fé, esperança e caridade – por todas as pessoas cristãs e pela comunidade eclesial inteira.

        As atribuições pessoais do Pai, do Filho e do Espírito devem ser também explicitamente vivenciadas, como tais, numa verdadeira espiritualidade cristã e com características próprias na Espiritualidade da Libertação.

 

Como o Pai,

        que é fonte-mãe da vida, criatividade inesgotável, acolhida total, origem e regresso de tudo quanto existe...,

        os cristãos e cristãs, na América Latina, devemos desenvolver dentro de nós e em todos os ambientes de nossa atuação:

        - a paixão pela vida e sua promoção,

        - a ecologia integral,

        - a atitude de compreensão, de acolhida, de paternidade-maternidade tanto biológica como espiritual, tanto política como artística,

        - a memória de nossas origens e o sentido da vida e da história.

 

Como o Filho,

        que é ser humano e ser divino,

        o Filho de Deus e um filho de mulher,

        a Palavra e o Serviço,

        o Eleito e o sem-rosto,

        o pobre do presépio e o proclamador das bem-aventuranças,

        o aniquilado e o Nome acima de todo nome,

        a compaixão e a ira de Deus,

        Morte e Ressurreição...,

 

        nós devemos integrar harmonicamente, superando toda dicotomia:

        - a filiação divina e a fraternidade humana universal,

        - a contemplação e a militância, a gratuidade e a práxis, o anúncio e a construção do Reino,

        - a dignidade dos filhos/filhas de Deus e o “opróbrio de Cristo”,

        - a infância espiritual e a “perfeita alegria”,

        - a loucura da cruz e a segurança de saber em quem confiamos,

        - a misericórdia e a profecia, a paz e a revolução,

        - o fracasso e a vitória da Páscoa.

 

Como o Espírito,

        que é o Amor interpessoal do Pai e do Filho e “o Amor que está em todo amor”;

        - a interioridade insondável do próprio Deus e de todos os que o contemplam, e ao mesmo tempo a dinamização de tudo o que é criado, vive, cresce, se transforma;

        - o “Pai dos pobres”, o Consolador dos aflitos, o go'el dos marginalizados, o incitador da liberdade e de toda libertação e o Advogado da justiça do Reino;

        - o Óleo da Missão, o Júbilo da Páscoa e o Vento de Pentecostes;

        - o testemunho na boca e no sangue dos mártires; o que levanta, reveste e congrega os ossos ressequidos e as utopias sufocadas...

 

nós,

        - em contemplação militante e em libertação evangélica,

        - em conversão permanente e em profecia diária,

        - em ternura, em criatividade e em parresia,

        - levados por esse Espírito que já é para sempre o Espírito do Ressuscitado,

 

assumiremos:

        - todas as causas da Verdade, da Justiça e da Paz,

        - os direitos humanos pessoais e o direito dos povos à alteridade, à autonomia e à igualdade,

        - os processos da sociedade alternativa e as fecundas tensões de uma Igreja que sempre há de ser impelida a se converter,4

        - a herança de nossos mártires,

        - o diário amanhecer da utopia, acima de todos os ocasos, e o Final da História, contra o iníquo “fim da história”.

        Na América Latina a Espiritualidade da Libertação faz seu “o lema dos reformadores socialistas ortodoxos da Rússia no final do século XIX: ‘a Santíssima Trindade é nosso programa social”’,5 sem deixar de ser o programa total de nossa fé. Porque a Trindade não é só mistério, é “o programa”, a Trindade é o lar e é o destino: dela viemos, nela vivemos, para ela vamos.

        Um pintor latino-americano poderia transpor muito bem, em figuras e símbolos nossos, o ícone da Trindade de Andrej Rublev: os Três são iguais em comunhão de Amor; os Três estão a caminho, com o báculo na mão, porque entraram na história humana; os Três estão sentados à mesa partilhando o alimento da Vida; os Três deixam o espaço aberto para acolher na própria comensalidade a todos os caminhantes dispostos a compartilhar.

 

1. Ver o volume dedicado à Trindade nesta mesma coleção: L. BOFF. A Trindade e a sociedade. Petrópolis, Vozes, 1987.

2. Bruno FORTE. La Trinidad como historia. Salamanca, Sígueme, 1988.

3. Como o irmão Charles de Foucald, os irmãozinhos e irmãzinhas de Jesus e milhares de sacerdotes, religiosas e religiosos, leigos e leigas na América Latina uniram maravilhosamente à espiritualidade da libertação essa aspiração tão humanitária e tão evangélica de ser “Irmãos e irmãs universais”.

4. A Igreja “semper reformanda”: UR 6; GS 43; LG 7,9,35.

5. L. BOFF. Trinidad. Em: Mysterium Liberationü, I, p. 516

 

Pedro Casaldáliga e José María Vigil, Espiritualidade da Libertação, Pág. 104...

Desenho: Cerezo Barredo

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sábado, 18 de junho de 2022

Folha em branco

 


Prof. Martinho Condini


Durante os séculos XX e XXI vários esportistas negros se manifestaram de maneiras diferentes contra o racismo e a favor de políticas antirracistas em seus países.         

Em 1968, nos jogos olímpicos da cidade do México os atletas negros norte-americanos Tommie Smith e John Carlos protagonizaram uma das cenas mais emblemáticas da história dos jogos olímpicos. Ao subirem ao pódio e receberem as medalhas de ouro, e ao tocar o hino do seu país baixaram a cabeça e ergueram o punho usando luvas pretas, saudação dos Panteras Negras (organização política socialista e revolucionária estadunidense). Um gesto de protesto contra o racismo, o preconceito e a violência contra os negros nos Estados Unidos.

Lembrando que na década em que ocorreram os jogos olímpicos no México os ativistas e líderes negros Malcolm X e o pastor protestante Martin Luther King foram assassinados.

         Nesta mesma década, o pugilista negro Cassius Clay (que posteriormente mudou o seu nome para Mohammed Ali) campeão olímpico e mundial de boxe perdeu seu cinturão por se negar a ir lutar na Guerra do Vietnã (1955-1975). Mohammed Ali sempre foi uma voz importante na luta contra a violência aos negros norte-americanos.

         Em 2020 os jogadores de basquete negros e brancos do Milwakee Bucks boicotaram as partidas dos playoffs da NBA, em protesto pelo assassinato de um cidadão negro, George Floyd, por um policial branco. 

         Um dos astros do basquete norte americano, o negro Lebron James do Los Angeles Lakers frequentemente utilizou as quadras como espaço do movimento ativista afro americano Black Lives Mater.

         Nos jogos olímpicos na cidade de Tóquio, em 2021, a atleta americana, a negra  Raveb Saunders medalhista de prata no arremesso, ao receber a medalha levantou os braços e cruzou os punhos sobre a cabeça como um gesto de apoio e solidariedade em favor dos oprimidos espalhados pelo mundo.

         Esses relatos me despertaram o interesse em escrever um artigo sobre a história do ativismo dos atletas brasileiros contra o racismo ou em apoio a práticas antirracistas.  

         A folha em que eu ia começar a escrever este artigo está em branco até agora.

         Será que o Brasil é um país diferente dos Estados Unidos? Será que aqui não há racismo, preconceito, violência contra a população negra? Ou vivemos numa democracia racial como sugere Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala?

         Se partirmos do princípio que nossos atletas cresceram profissionalmente em bolhas alienantes em relação às questões sociais e raciais, esses atletas, em algum momento se não vivenciaram ou presenciaram situações de preconceito e racismo, pelo menos sabem que elas ocorrem diuturnamente em nosso país desde sempre.         Nós sabemos o quanto é forte a voz de um atleta, de um astro do esporte. A sua fala repercute e ecoa por todos os cantos, principalmente para os milhares de jovens que os tem como ídolos e em muitos casos querem ser como eles.

         Muitos atletas poderiam ter se tornado protagonistas, ou melhor, ainda podem, mas se calam. Isso é uma constatação, não é uma crítica, afinal de contas, todas as pessoas são livres para agirem da maneira que bem entendem.

         Mas tenho a impressão que se  esses atletas não tivessem se calado, a história da luta contra o racismo e da construção de políticas antirracistas no Brasil poderia estar mais fortalecida.

As vozes de lideranças do esporte fazem muita diferença nas lutas contra todos os tipos de injustiças, porque eles são porta vozes dos que não tem vez e voz.

         Mas infelizmente, a minha folha continua em branco.

          

quarta-feira, 15 de junho de 2022

PALAVRAS DE PEDRO - 15.06.2022

 



 

A noite escuta dos pobres é também a noite escuta dos seus aliados.

Os três verbos cardinais da nossa vida são:

acolher, comprometer-se, esperar.

 

Pedro Casaldáliga, Agenda Latinoamericana 98

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ESPERA-ME SEM HORA

 

Espera-me mais velho, mais jovem, mais sem anos,

mais sem tempo; talvez

mais perto de mim mesmo

e de toda a verdade.

Desnudo e livre, como um menino índio

que ainda não puderam civilizar!

 

Pedro Casaldáliga, do livro Casaldáliga, Joan Guerrero

Foto: Joan Guerrero

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