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sexta-feira, 30 de junho de 2017

UM DESAFIO:COMO ENTENDER A ATERRADORA FALTA DE CONSCIÊNCIA DOS CORRUPTOS

Por Leonardo Boff



Como fica a consciência dos corruptos que roubam milhões dos cofres públicos ou os empresários que superfaturam por milhões de reais os projetos e pagam propinas milionárias para agentes do Estado? Pior ainda: como fica a consciência daqueles perversos que desviam centenas de milhões de reais da saúde? E aqueles desumanos que falsificam remédios e condenam à morte aqueles que deles precisam? Sem esquecer os desvergonhados que roubam da boca dos escolares a merenda, sabendo que para inúmeros pobres representa a única refeição do dia? Muitos desses corruptos são apenas denunciados. E fica por isso mesmo, rindo à toa. Não raro são cristãos e católicos que por seus crimes continuam mantendo Cristo na cruz nos corpos dos crucificados deste mundo.
Para entender esta maldade temos que considerar realisticamente a condição humana: ela é simultaneamente dia-bólica e sim-bólica, compassiva e perversa. No linguajar concreto de Santo Agostinho, em cada um de nós há uma porção de Cristo, o homem novo, e uma porção de Adão, o homem velho. Depende do projeto de nossa liberdade dar mais espaço a um ou a outro. Assim pode surgir uma pessoa honesta, justa, amante da verdade e do bem. E pode crescer também uma pessoa maldosa, corrupta e distante de tudo o que é bom e justo.
Mas não precisava ser assim. No mais profundo de nós mesmos, não obstante a ambiguidade referida, vige uma primeira natureza que se expressa por uma bondade frontal, por uma tendência para o justo e o verdadeiro. Quanto mais penetrarmos na nossa radicalidade, mais nos damos conta de que essa é a nossa essência verdadeira, a nossa natureza primeira. Mas sem sabermos como e porquê, ocorreu algo em nosso processo antropogênico – desafio permanente para os pensadores religiosos e os filósofos de todas as tradições – que fez com que a nossa natureza primeira decaísse e se pervertesse. Immanuel Kant constatava que somos um lenho torto do qual não se consegue tirar uma tábua reta.
Criamos, em consequência, uma segunda natureza feita de maldades de todo tipo. Esta terminologia se encontra já em Santo Agostinho, em Santo Tomás de Aquino e posteriormente retomada por Pascal e por Hegel. Ela está presente em todas os povos e instituições e, num certo nível, em cada um de nós. Ela resulta da sequência continuada e uniforme de nossos maus hábitos, gerando uma verdadeira cultura de distorções. É a cultura do negativo em nós. É o reino da corrupção que se naturalizou.
Personalizemos esta segunda natureza. Se alguém se habituou a mentir, a enganar a roubar, a corromper ativamente e a se deixar corromper passivamente, acaba criando em si esta segunda natureza. Rouba sem se dar conta de que esta sua prática é perversa e anti-ética porque prejudica os outros ou o bem comum. Pratica tudo isso sem culpa e sem remorsos, porque nele a corrupção virou natural, uma segunda natureza. Os corruptos continuam caras-de-pau como se pode observar, que emagrecem, não pela má consciência que os corrói por dentro, mas pelas péssimas condições carcerárias,.
Além deste dado da condition humaine decadente, o sociólogo Jessé Souza no livro a sair A elite do atraso: da escravidão à Lava-Jato nos fornece um dado de nossa própria história: a escravidão. Esta coisificava os escravos considerando-os “peças”, objetos de violência e de desprezo. ”Sua função era vender energia muscular, como animais” (J.Souza). Esse desprezo foi transferido aos nordestinos, aos pobres em geral e aos LGBT entre outros discriminados.
Nos tempos recentes, boa parte dos endinheirados se sentiu ameaçada pela ascensão destes condenados da terra; começou a se irritar porque os via nos shoppings centers e nos aeroportos; para eles bastava o ônibus e jamais o avião. Aqui já não se trata de corrupção financeira, mas de corrupção das mentes e dos corações, tornando as pessoas desumanas e sem sentido de solidariedade.
Finalmente, por uma mudança de rumo de nossa política judicial ante os crimes de colarinho branco, os donos de grandes empresas e outros políticos que fizeram, em grande parte, suas fortunas pela corrupção, estão sentido o peso da justiça, o rigor das prisões e o escárnio publico. Estão atrás das grades, fato é inédito em nossa história.
O sofrimento sempre dá duras lições. Oxalá, pelos seus  padecimentos, a primeira natureza, a consciência, venha à tona e se descubram reféns da segunda natureza decadente que eles mesmos criaram. Mudem de sentido de vida e devolvam o dinheiro roubado. E como teólogo digo: no momento supremo de suas vidas, enfrentarão, trêmulos, os rostos das vítimas que fizeram por causa de suas corrupções e que morreram antes do tempo, na verdade, foram por eles assassinadas. As fortunas não os salvarão. E então como ficarão?
Leonardo Boff é articulista do JB on line, teólogo e filósofo, escreveu com Anselm Grün o livro O divino em nós 2017, Vozes.



quinta-feira, 29 de junho de 2017

FORMAÇÃO DE MILITANTES

Por Frei Betto


      Há quem se mova, se desinstale e se mobilize em função de causas políticas. Nos últimos tempos, estudantes ocuparam escolas e, agora, manifestantes gritam nas ruas FORA TEMER!

      Ora, entusiasmo é bom na ação política, mas não forma militantes. Passado o embalo, tudo volta como antes no quartel de Abrantes. O que forma militantes revolucionários para toda a vida é a articulação entre prática e teoria.

      A prática se dá em movimentos sociais, sindicatos, partidos ou mesmo instâncias pastorais, como Comunidades Eclesiais de Base. A formação teórica exige ferramentas adequadas para se compreender a realidade e saber como transformá-la.

      Nos anos da ditadura se investiu nessa dupla face da moeda: prática e teoria. Movimentos sociais se multiplicavam pelo país, e equipes de educação popular, que cuidavam da parte teórica, se proliferaram Brasil afora. O movimento sindical e o PT chegaram a dirigir, em Cajamar (SP), uma escola-hotel para a qual afluíam militantes de todos os estados. Hoje, o MST mantém, em Guararema (SP), a Escola Florestan Fernandes para aprimorar a formação de seus militantes.

      Fico me perguntando o que foi feito dos jovens que ocuparam as escolas no início do ano. Cessado o movimento, findou o entusiasmo? Quem lhes ofereceu ferramentas teóricas para que compreendessem que a luta de um setor da sociedade é a luta de um povo, é o antagonismo da liberdade contra a opressão, é a busca de uma sociedade na qual o capital deixe de prevalecer sobre os direitos humanos?

      As ferramentas teóricas estão disponíveis e são de fácil acesso: as obras clássicas do marxismo; os livros de Paulo Freire; a história das revoluções sociais; a história da América Latina e do Brasil.
      Mudanças sociais não são feitas apenas com entusiasmos. São feitas sobretudo com convicções arraigadas, capazes de tornar os e as militantes imunes às três principais tentações na luta política: poder, dinheiro e sexo.

      Quando se foca a luta em alcançar o poder e/ou nele se manter, troca-se um projeto de nação por uma feira de cargos e salários. Quando se corre atrás do dinheiro e do aumento do patrimônio pessoal, cede-se à corrupção. Quando se cai na promiscuidade, ferindo sentimentos de companheiras e companheiros, mina-se a base ética da construção de homens e mulheres novos.

      Na história do Brasil há suficientes exemplos de militantes que se destacaram por suas firmes convicções ideológicas e práticas revolucionárias: Tiradentes, Prestes, Olga Benário, Mauricio Grabois, Marighella, Apolônio de Carvalho, Frei Tito, Chico Mendes, Margarida Alves, irmã Dorothy Stang, padre Josimo etc.

      Basta estudar suas histórias para saber como se formaram e foram capazes de enfrentar todo tipo de adversidades para se manterem fiéis à causa de libertação de nosso povo.

Frei Betto é escritor, autor de “Batismo de sangue” (Rocco), entre outros livros.
      
     

Copyright 2017 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) 

quarta-feira, 28 de junho de 2017

NOTA DA COMISSÃO BRASILEIRA DE JUSTIÇA E PAZ

Amigos e Amigas da Rede Brasileira Justiça e Paz, 

As centrais sindicais convocaram uma Greve Geral para o dia 30 de junho, sexta-feira. A greve tem como motivação impedir a retirada dos direitos dos trabalhadores, através da tramitação das Reformas Trabalhista e da Previdência no Congresso Nacional.

A ação das Centrais Sindicais tem resultado em grandes mobilizações: nos dias 08 de março, 15 de março, na Greve Geral de 28 de abril e no Ocupa Brasília em 24 de maio.

Como resultado do amplo debate com a sociedade e das mobilizações, houve um congelamento temporário na tramitação da Reforma da Previdência e obteve-se uma primeira vitória na Reforma Trabalhista, com a reprovação na CAS (Comissão de Assuntos Econômicos do Senado).

Apesar disso, há sinais de que o Governo priorizará a Reforma Trabalhista, mais fácil de aprovar em razão de ser necessário maioria simples, diferentemente da tramitação da reforma da previdência que, por se tratar de reforma constitucional, segue um rito mais moroso, exigindo 2/3 da Câmara e igual escore no Senado.

As fortes mobilizações promovidas pelas centrais sindicais, frentes e movimentos sociais tem obtido inegável êxito e não poucos atores sociais afirmam que parte considerável da capilaridade e potência se deve ao apoio de muitas dioceses, escolas católicas, pastorais, comunidades de base e, evidentemente, das comissões justiça e paz.

Diante disso, exorto aos confrades e confreiras da Rede Brasileira Justiça e Paz a se engajarem nas mobilizações, informando o bispo diocesano das razões da greve e se possível, motivá-los a uma palavra de encorajamento às comunidades para que participem das mobilizações e que estas transcorram pacificamente e sem provocações.

Um abraço fraterno!

Brasília, 27 de junho de 2017



Carlos Moura
Secretário Executivo

Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB

terça-feira, 27 de junho de 2017

HORA DE CAMINHAR, HORA DE PARAR

Por Marcelo Barros



"Debaixo do céu, há momento para tudo e tempo certo para cada coisa. Tempo para nascer, tempo para morrer. Tempo para plantar, tempo para colher. tempo para construir e tempo para destruir... Que proveito o trabalhador tira de todo o seu cansaço?" (Ecle 3, 1- 9).

Enquanto, na Bíblia, o Eclesiastes, um dos livros sapienciais, relativiza cada tempo, Jesus propõe que busquemos sempre discernir o que ele chama de "sinais do tempo presente" e agir de acordo com os desafios do momento. Nesses dias, o Catolicismo popular faz milhares de pessoas viajarem de suas casas até santuários como o de Trindade ou do Bom Jesus da Lapa. A fé faz os fieis superarem todas as dificuldades e deixarem tudo para, através do gesto de caminhar até o santuário e cumprir sua devoção.

Do mesmo modo que a peregrinação é um dos mais antigos atos religiosos nas mais diferentes tradições, também o ato de parar as atividades e fazer greve tem uma dimensão espiritual. As antigas religiões orientais propõem a quietude e até a imobilidade, como atos proféticos, diante da agitação e quando não se sabe como reagir às provocações do mundo opressor. Na cultura judaica, o termo shabbat designa o sábado, dia sagrado do descanso. Mas, mesmo no hebraico moderno, esse termo também significa "greve" como direito sagrado dos trabalhadores.  Os profetas bíblicos sempre se insurgiram contra os que impedem os trabalhadores de parar quando isso é o direito deles. Se o dia consagrado e os cultos religiosos não têm como fundamento o cuidado com a justiça e a preocupação com os direitos dos pobres, eles são idolátricos e fazem Deus afirmar: "O país de vocês está devastado, as terras são devoradas por estrangeiros. A realidade é de desolação. O que me interessa a quantidade dos seus sacrifícios religiosos? (...) Quando vocês vêm à minha presença e pisam no santuário, quem exige isso de vocês? Parem de fazer cultos inúteis. Para mim, o incenso é algo nojento. .. Não suporto injustiça junto com festa religiosa... Quando vocês erguem as mãos para mim, eu desvio o olhar. Ainda que multipliquem suas orações, eu não escutarei" (Isaías 1, 7 e 12- 15).

Nesses dias, em todo o Brasil, de uma forma suprapartidária, os movimentos de trabalhadores do campo e da cidade, centrais sindicais, pastorais sociais e toda a sociedade civil organizada, concordam que a realidade que o nosso país enfrenta exige uma reação de todo o povo. Por isso, planejam mais uma greve geral. É a continuação da paralização ocorrida no dia 28 de abril, que contou com o apoio de mais de cem bispos católicos, de várias Igrejas evangélicas e do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. Nessa sexta feira, 30, a greve vai parar o país. Milhões de pessoas irão às ruas para gritar contra as medidas tomadas pelo governo que rouba direitos conquistados dos trabalhadores e entrega as riquezas nacionais a corporações estrangeiras.

No contexto atual brasileiro, essa convocação para a greve geral é um apelo para a responsabilidade de todos no destino do país. Ao parar os trabalhos e mesmo sair às ruas para exigir mudanças na realidade social e política do país, as pessoas estarão afirmando que, mesmo com toda a anestesia social provocada pelos grandes meios de comunicação, a preocupação com o bem comum, o exercício da cidadania e a fraternidade humana continuam vivas.

Conforme o evangelho, quando Jesus entrou em Jerusalém para celebrar a Páscoa, a multidão de peregrinos o aclamou como o enviado de Deus para libertar o povo dos seus opressores. A expressão Hosanah que era a aclamação litúrgica de um salmo podia ser compreendida como o grito: Liberta-nos! Lucas conta que, ao verem que aquela peregrinação tomava o caráter de  manifestação política nas ruas, alguns mestres da religião disseram a Jesus para mandar os discípulos e o povo se calarem. Jesus lhes respondeu: "Se eles se calarem, até as pedras gritarão"(Lc 19, 40). Certamente, essas palavras de Jesus servem para descrever a realidade atual brasileira e a responsabilidade de todo o povo gritar por mudanças. Quem tem fé pode acreditar que o Espírito de Deus que conduziu o povo bíblico da escravidão a uma terra livre, agora, impulsiona os grupos sociais e as pessoas que têm fome e sede de justiça para a felicidade de realizar o projeto divino nesse mundo. 



 Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países. 

segunda-feira, 26 de junho de 2017

MÃE NATUREZA


Por Maria Clara Lucchetti Bingemer



Às vezes, a Mãe Natureza faz as coisas pelo avesso.  Em quase todos os pontos do país a água cai torrencialmente, não apenas em pancadas ocasionais, como as tradicionais chuvas de verão, mas em verdadeiras torrentes que a tudo inundam, arrastando casas e vidas em sua marcha implacável e destruidora.

Nas grandes cidades, o desastre não é menor. Os rios transbordam, a rede de esgotos mal preparada para assumir a avalanche de água que cai inclemente e incessante inunda ruas, entra nas casas sem para isso ser convidada e obriga as pessoas a subirem no teto dos ônibus a fim de não morrerem afogadas.  As águas  transformam o outono em um contínuo e violento dilúvio.

Talvez esta situação que vivemos nos convide a uma frutífera reflexão sobre o que andamos fazendo com o nosso planeta, de tal modo que a Mãe Natureza, a Criação, resolveu rebelar-se e mandar-nos tristes e mortíferos sinais.  Em que irresponsáveis desmatamentos e enlouquecidas construções nos estamos metendo para que a água que São Francisco chamou de irmã e que experimentamos tantas vezes como  aquela substância translúcida, que cai dos céus nos dias tórridos de verão, refrescando-nos, e que corre, mansa e benfazeja, pelos sulcos da terra, encantando os olhos e fecundando a vida, pareça ser, como nunca, neste ano,  nossa inimiga. 

Apresenta-se avassaladora, como todas as outras forças da natureza. Sua energia descomunal vem produzindo desastres assombrosos. E num processo crescente, a cada ano parece que mais e mais perdemos o controle que de alguma forma acreditávamos exercer sobre os elementos da natureza, ou pelo menos sobre as conseqüências que seu ímpeto pode provocar. As chuvas não se limitam a fecundar a terra, mas ceifam vidas e mesmo colheitas.  Os mares, onde crianças nadam e se deleitam, mostram sua face aterradora: sua vastidão imensurável, seu volume espantoso, sua profundidade inacessível, sua força indomável, faz-nos sentir dramaticamente insignificantes e frágeis.  São múltiplas e muitas as experiências humanas face a este elemento. Muitos e múltiplos são, por isso, também os significados da água no universo arquetípico e simbólico.

As Escrituras Sagradas, no Primeiro Testamento conservaram, em suas páginas e relatos, esta ambivalência experiencial da água em dois relatos ricamente simbólicos:  o dilúvio e a passagem do Mar Vermelho. No primeiro, a água inunda, destrói e se configura como uma força, frente à qual as criaturas pouco valem. No segundo,  ela é representação da justiça divina, abrindo-se para deixar passar os hebreus, o povo eleito do Senhor e fechando-se sobre o Faraó e seus soldados, que perecem castigados pelo próprio pecado.  Nos dois casos, podemos, de fato, entrever que, apesar das circunstâncias diferentes, as águas não apenas são essenciais à vida humana, como também remetem ao mistério de Deus. Sua magnitude infinita provoca-nos fascínio mas também temor. Inescrutável, como os abismos do mar, é o seu profundo mistério. Ele nos é verdadeiramente próximo e íntimo. Esta proximidade, porém, não anula sua infinita distância e mistério. À sua frente, nada somos por nossa própria força e o que somos, devemo-lo a Ele. Suave, como a água que escorre sobre o dorso dos corpos e da terra, é a sua presença. Mas igualmente vigorosa e impressionante, como as tempestades que vergam as árvores e revolvem os mares, é a força de seu poder. Justa, abrindo-se diante de seu povo e fechando-se mortalmente sobre seus inimigos, é o braço forte de sua justiça que restaura e corrige. 

Diante de mais uma estação que deixa como nunca um saldo amargo de morte e destruições, respeitemos a Mãe Natureza, criação de Deus, que ao ser desrespeitada, torna-se fonte de morte e não de vida para o ser humano que com ela não soube relacionar-se.
  
 Maria Clara Bingemer é teóloga, professora do Departamento de Teologia  da PUC-Rio e autora de "Deus amor: graça que habita em nós” (Editora Paulinas), entre outros livros.
 
Copyright 2017 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo 


sexta-feira, 23 de junho de 2017

O PORQUÊ DA VIOLÊNCIA NO SER HUMANO E NA SOCIEDADE


 Por Leonardo Boff


 Vivemos no nível nacional e mundial situações de violência que desafiam nosso entendimento. Não apenas de seres humanos contra outros seres humanos, especialmente no Norte da África, no Sudão, no Oriente Médio e entre nós mas também contra a natureza e a Mãe Terra. O Papa Francisco em sua encíclica ecológica Sobre o Cuidado da Casa Comum escreveu acertadamente:”Nunca maltratamos e ferimos a nossa Casa Comum como nos últimos dois séculos”(n.53). Não sem razão que está se impondo a ideia de que inauguramos uma nova era geológica, o antropoceno segundo o qual o grande meteoro rasante ameaçador da vida no planeta é o próprio ser humano. Ele se fez o Satã da Terra quando foi chamado a ser o anjo bom e cuidador do Jardim do Éden.
A existência da violência, não raro sob forma de aterradora crueldade, representa um desafio para o entendimento. Teólogos, filósofos, cientistas e sábios não encontraram até hoje uma resposta convincente.
Quero apresentar, sumariamente, a proposta de notável pensador francês que viveu muitos anos nos EUA e que faleceu em 2015: René Girard (1923-2015). Apreciava meus textos e a Teologia da Libertação em geral a ponto de ele mesmo ter organizado em Piracicaba-SP um encontro (25-29 de junho de 1990) com vários teólogos e teólogas, pois via nos propósitos deste tipo de teologia a possibilidade da superação da lógica da violência.
De sua vasta obra destaco duas principais: “O sagrado e a violência” (Rio 1990) e “Coisas escondidas desde o princípio do mundo”(Rio 2005). Qual é a singularidade de Girard? Ele parte da tradição filosófico-psicanalítica que afirma ser o desejo uma das forças estruturantes do ser humano. Somos seres de desejo. Este não conhece limites e deseja a totalidade dos objetos. Por ser o desejo indeterminado, o ser humano não sabe como desejar. Aprende a desejar, imitando o desejo dos outros (“desejo mimético” na linguagem de Girard).
Isso se vê claro na criança. Não obstante os muitos brinquedos que possui, o que mais ela quer, é o brinquedo da outra criança. E aí surge a rivalidade entre elas. Uma quer o brinquedo só para si, excluindo a outra. Se outras crianças entrarem nesse mimetismo, origina-se um conflito de todos contra todos.
Esse mecanismo, afirma Girard, é paradigmático para toda a sociedade. Supera-se a situação de rivalidade-exclusão, quando todos se unem contra um, fazendo-o bode expiatório. Ele é feito culpado de querer só para si o objeto. Ao se unirem contra ele, esquecem a violência entre eles e convivem com um mínimo de paz.
Com efeito, as sociedades vivem criando bodes expiatórios. Culpados são sempre os outros: o Estado, o PT, os políticos, a polícia, os corruptos, os pobres e por ai vai. Importa não esquecer que o bode expiatório apenas oculta a violência social, pois todos continuam rivalizando entre si. Por isso, a sociedade goza de um equilíbrio frágil. De tempos em tempos, com ou sem sem bode expiatório explícito, a violência se manifesta especialmente naqueles que se sentem prejudicados e buscam compensações.
Bem o expressou Rubem Fonseca em seu livro “O Cobrador”. Um jovem de classe média empobrecida, por força das circunstâncias, pratica atos ilícitos. Sente-se roubado pela sociedade dominante e confessa: “Estão me devendo colégio…sanduíche de mortadela no botequim, sorvete, bola de futebol…estão me devendo uma garota de vinte anos, cheia de dentes e perfume. Sempre tive uma missão e não sabia. Agora sei… sei que se todo fodido fiezesse como eu o mundo seria melhor e mais justo”.
Aqui busca-se uma solução individual para um problema social. Na medida em que permanece individual não causa grande problema. Pelo contrário, os causadores principais da violência estrutural  são as classes dominantes que acumulam para si à custa do empobrecimento dos outros. Quanto mais duramente se aplicam as leis contra os empobrecidos mais seguras se sentem. Destarte, conseguem ocultar o fato de serem  elas as principais causadoras de uma situação permanente de violência que o empobrecimento implica.
Mais ainda, vivemos num tipo de sociedade cujo eixo estruturador é a magnificação do consumo individualista. A publicidade enfatiza que alguém é mais alguém quando consome um produto exclusivo que os outros não têm. Suscita-se um desejo mimético de se apossar do bem do outro.  Esta lógica perpetua a violência.
Mas o desejo não é só concorrencial, diz Girard. Ele pode ser cooperativo. Todos se unem para compartilhar do mesmo objeto. De concorrentes se fazem aliados. Tal propósito gera uma sociedade mais cooperativa que competitiva e uma democracia participativa. Aqui Girard via o sentido político da Teologia da Libertação porque propõe uma educação que não imita o oppressor, mas se faz livre e ensina a não criar bodes expiatórios mas a assumir a tarefa de construir uma sociedade mais igualitária e  inclusiva. Então sim haverá mais paz que violência.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo e autor de “A violência da sociedade capitalista e do mercado mundial” e articulista do JB on line


quinta-feira, 22 de junho de 2017

FESTA DE SÃO JOÃO

por Frei Betto



      João, santo cuja festa se celebra no próximo sábado, era primo de Jesus, filho de Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, e de Isabel, prima de Maria. Por ter nascido seis meses depois de seu primo Jesus, João tem a sua festa natalícia a 24 de junho.

      As duas festas decorrem das festividades pagãs, apropriadas pela Igreja, dos solstícios de verão e inverno no hemisfério norte. Solstício vem do latim sol + sistere, “que não se mexe”. É quando o sol, medida a sua latitude a partir da linha do equador, se encontra em sua maior declinação em relação à Terra. Então, neste dia, no hemisfério norte o dia é o mais longo do ano e, a noite, a mais curta. No hemisfério sul ocorre o contrário.

      Os solstícios variam conforme o ano. Mas quase sempre entre os dias 20 e 25 de junho e de dezembro. Por isso, os dias 21 de junho e 21 de dezembro marcam mudanças de estações. No hemisfério sul, do outono para o inverno, em junho; e da primavera para o verão, em dezembro.

      Há indícios de que João, decidido a não seguir a carreira sacerdotal do pai no Templo de Jerusalém, preferiu unir-se aos monges essênios de Qumran, junto ao Mar Morto. Talvez por discordar do elitismo espiritual dos essênios, que se consideravam os prediletos de Deus, João trocou a vida monástica pela pregação ambulante às margens do rio Jordão. Ali formou a sua própria comunidade, selada pelo batismo cuja espiritualidade se centrava na prática da justiça. Daí passou a ser conhecido como João Batista (aquele que batiza). Jesus aderiu à comunidade de seu primo e foi por ele batizado nas águas do Jordão. 

      João denunciou a vida corrupta e devassa do governador da Galileia, Herodes Antipas, que se juntara à mulher de seu irmão, Felipe. Preso, foi degolado a pedido de Salomé, enteada do governador, orientada pelo ódio vingativo de sua mãe, Herodíades. Em plena festa palaciana, a cabeça de João foi exibida em uma bandeja.

      A atuação de Jesus só teve início após o martírio de João. É como se o primo firmasse posição para demonstrar a Herodes Antipas, a quem chamava de “raposa”, que a luta continua... Seus primeiros discípulos, André e Simão, o cananeu, vieram do grupo de João.

      Da comunidade dos doze apóstolos, o mais jovem também se chamava João, autor do quarto evangelho. Ele abre o seu relato em homenagem ao xará, a quem chama de “enviado de Deus para ser testemunha da luz.”

      A festa de São João é marcada, no hemisfério sul, pela fogueira e os fogos de artifício, que simbolizam a “luz do mundo”, e o fato de a luz (Jesus) vencer as trevas (da noite mais longa do ano).

      Desde o século XVIII, a festa é comemorada no Brasil com adereços que os portugueses trouxeram da Ásia, especialmente da China, como balões, bandeirinhas e fogos de artifício.

 Neste ano, todos nós, devotos de São João, devemos pedir muita luz para o Brasil, onde felizmente muitas cabeças vêm sendo degoladas pela corrupção e pelos desmandos administrativos, enquanto outras mantêm indisfarçável cumplicidade com os responsáveis pelo nosso desgoverno.

Frei Betto é escritor, autor de “Parábolas de Jesus – ética e valores universais” (Vozes), entre outros livros.  
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terça-feira, 20 de junho de 2017

A FESTA NO MEIO DA LUTA

Por Marcelo Barros


Alguém que viesse de outro planeta poderia se espantar com o povo brasileiro. Em meio a todos os problemas sociais e políticos do país, em várias regiões, o povo se entrega às alegrias das festas juninas.

Evidentemente, as festas populares podem ser expressões de mera alienação social e política. Através delas, as pessoas esquecem, ao menos por instantes, as lutas cotidianas da vida. No entanto, podem também servir de ensaio para uma mais eficiente organização popular. Assim, revelam uma resistência cultural que os meios de comunicação não conseguem vencer.

Na Bolívia, Peru e Equador, na noite do 24 de junho ou nos dias próximos, os índios festejam o Inti-Rami, festa do Sol, celebração principal do ano novo andino. É o correspondente aos festejos juninos do Brasil. Algumas dessas danças tiveram sua origem em cortes da Europa. Hoje, as pessoas se vestem como gente da roça, mas executam danças da nobreza de outros séculos. Em brincadeiras como casamentos caipiras, figuras como padres e juízes da roça são caricaturadas, porque só se interessam por dinheiro e poder. 

Essas críticas revelam o modo como as camadas mais empobrecidas do povo podem expressar sua crítica e seu protesto social. Até os santos são envolvidos no clima de festa. Santo Antônio é considerado santo casamenteiro. São João Batista é uma criança que vem brincar nas fogueiras do povo e São Pedro se torna companheiro de festas. O povo liga os santos às realidades da vida cotidiana.  


O caráter lúdico da crítica popular, latente nas brincadeiras juninas pode ser ensaio de uma sociedade nova na qual todos são protagonistas. Assim, na alegria e de forma despretensiosa, grupos e comunidades populares sinalizam uma realidade nova que se aproxima ao que os evangelhos chamam de reinado de Deus. Do seu modo e em sua expressão laical, essas festas trazem alegria e criam certa unidade nas comunidades. Parecem cumprir a palavra do mensageiro de Deus no evangelho que, ao anunciar o nascimento do profeta João Batista, prometeu: "Por seu nascimento, muitos se alegrarão" (Lc 1, 14). Ao criticar a sociedade dominante e expressar uma palavra dos pobres, as festas juninas expressam a verdade que os evangelhos atribuem a São João Batista: “Mudem de vida porque a realização do projeto de Deus no mundo está próximo!” (Mt 3, 2). 

 Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países. 

segunda-feira, 19 de junho de 2017

QUANDO A AMIZADE CHEGA TARDE

 Maria Clara Lucchetti Bingemer



            A amizade é uma das formas mais nobres de amor.  Já o grande filósofo Aristóteles, na Grécia Antiga, a definia como  "uma forma de excelência moral" ou "concomitante com a excelência moral", "extremamente necessária à vida".  E prosseguia:  "De fato, ninguém deseja viver sem amigos, mesmo dispondo de todos os outros bens".

            Em seu livroÉtica a Nicomaco, o Estagirita disserta sobre a amizade:  "Com efeito, a amizade é uma parceria, e uma pessoa está em relação a si própria da mesma forma que em relação ao amigo; em seu próprio caso, a consciência de sua existência é um bem, e, portanto, a consciência da existência de seu amigo também o é, e a atuação desta conscientização se manifesta quando eles convivem; é, portanto, natural que eles desejem conviver. E qualquer que seja a significação da existência para as pessoas e seja qual for o fator que torna a sua vida digna de ser vivida, elas desejam compartilhar a existência de seus amigos; sendo assim, alguns amigos bebem juntos, outros jogam dados juntos, outros se juntam para os exercícios do atletismo ou para a caça, ou para o estudo da filosofia, passando seus dias juntos na atividade que mais apreciam na vida, seja ela qual for; de fato, já que os amigos desejam conviver, eles fazem e compartilham as coisas que lhes dão a sensação de convivência".

            Os amigos de Carlos Eduardo Albuquerque Maranhão, o Sarda, o Cadu, desejavam com ele conviver como faziam no tempo em que eram alunos do Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro.  Naquele tempo, todos admiravam o colega rebelde, de cabelos longos, luminosa inteligência e grande sensibilidade artística.  Diferente, Cadu contestava a disciplina, as diretrizes do colégio, mas era alguém alegre, do bem, querido e com muitos amigos entre os colegas.

            Essa convivência um dia foi interrompida quando o Sarda tropeçou com as drogas em seu caminho.  Aliás, esse fantasma disfarçado de amigo aparece e assombra muito pessoas de grande sensibilidade, que buscam seu lugar no mundo com mais trabalho que os outros. E Cadu, ou Sarda, ou Carlos Eduardo cedeu às seduções das substâncias que o faziam viajar e certamente nos primeiros tempos lhe proporcionavam euforia, gostosas sensações; que lhe aguçavam a inteligência e aumentavam ainda mais a sensibilidade e o gosto musical. A morte do melhor amigo contribuiu certamente para que a “viagem” do querido colega e companheiro de tantos se aprofundasse em mergulho sem volta que foi acabar na Cracolândia, em São Paulo.

            Ali ele foi encontrado, muitos anos depois, pelos amigos que nunca o esqueceram.  Ao verem sua foto no jornal, em meio ao reboliço da polícia que invadia o local, retirando dali os habitantes, os que nunca haviam esquecido Carlos Eduardo foram à sua procura.  Pois amigo não esquece.  Pode ficar longe no tempo e no espaço, mas quando recebe um alerta, a amizade reemerge, volta e sai no encalço do amigo para encontrá-lo, abraçá-lo e retomar a convivência.  Igualmente para ajudá-lo se necessário.

            E Sarda estava em situação de extrema necessidade.  Chegara a um grau perigoso de uso de drogas.  Sua saúde se encontrava seriamente debilitada.  Perdera peso, dentes.  Só não perdera a sabedoria e a alegria que o levavam a fazer declarações extremamente articuladas sobre a ação da prefeitura na Cracolândia e outras coisas mais. Foi encontrado pelos amigos, que o atenderam no mais urgente e imediato: deram-lhe banho, roupas, alimento.  Buscaram uma clínica para interná-lo, a fim de quí se tratasse e tornasse a ser livre. Abriram uma lista de doações para custear-lhe o tratamento, caro e dispendioso, em uma clínica especializada. 

            Sarda estava alegre, feliz com o reencontro.  A mídia publicou suas fotos e tudo levava a esperar por um final feliz.  Ele queria tratar-se, desejava libertar-se do vício.  E os amigos se desvelavam e punham à disposição tudo que podiam para ajudar a que esse desfecho acontecesse. No entanto, a morte se antecipou e colheu Sarda pelo coração.  Aquele coração sensível, enfraquecido ao máximo pelo uso contínuo de substâncias químicas, parou de bater poucos dias após o ingresso na clínica.

            A amizade chegou tarde e não conseguiu arrancar Sarda ou Cadu das garras dessa que é a inevitável companheira de todo viciado.  Mas – e isso é talvez o mais importante – alegrou seus últimos dias de uma maneira que apenas a relação gratuita e amorosa consegue fazer.  Sarda se sentiu acompanhado, querido, amado.  Voltou a ver que era importante para outras pessoas, que sua vida tinha valor e sentido para aqueles que com ele cresceram e se formaram nos bancos escolares, nos recreios, nas conversas intermináveis, nos passeios a pé de volta do colégio. 

            A tristeza e a frustração dos amigos foram pungentes.  Agora que ele estava começando a viver, como aconteceu isso que ceifou seu projeto tão brutalmente?  Agora que o tinham reencontrado era muito cruel perdê-lo novamente. No entanto, que os acompanhe novamente o grande Aristóteles, que diz: "Quando as pessoas são amigas não têm necessidade de justiça, enquanto mesmo quando são justas necessitam da amizade". 

            Esse grupo que se dispôs a ajudar o colega em situação de rua e de vício com o mesmo carinho dos anos da infância e da adolescência experimentou a graça da amizade que independe do êxito das iniciativas e ultrapassa as maiores frustrações.  Foi bom experimentar que é possível amar alguém profundamente mesmo quando ele ou ela não tem absolutamente nada para dar em troca.  É bom sentir a gratuidade da relação que sempre os ligará a Sarda/Cadu, para além dos limites da vida e da morte. 

            Sarda descansa em paz.  Sem crises de abstinência, angústia, fissura ou outros incômodos e distúrbios provocados pela droga.  A seus amigos fica a saudade, temperada por aquilo que o grande Jorge Luis Borges chamou de vício: a amizade que não pode não amar, não ajudar, não conviver, não se relacionar.  A amizade que dispensa até a justiça, pois pertence à ordem da graça e da gratuidade.  Bendito Sarda, que do fundo do poço onde caiu ainda pôde ensinar tudo isso a seus colegas e amigos que agora se sentem mais unidos graças à sua passagem tardia e efêmera em meio a eles. 

Maria Clara Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.

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