O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

domingo, 30 de abril de 2017

NOTA DE AGRADECIMENTO E SOLIDARIEDADE


O MOVIMENTO DE TRABALHADORES CRISTÃOS- Regional Nordeste II no momento q seus militantes estão realizando a 5¤ Semana da Classe Trabalhadora, vem por meio dessa nota expressar profunda felicidade em Cristo e agradecimento ao Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Antonio Fernando Saburido, por seu apoio e sensibilidade às nossas bandeiras de vida digna para a Classe Trabalhadora, em consonância com a convocação de Francisco por uma Igreja que tenha sua presença no meio do povo.

A convocação feita ao Povo de Deus para que participe da luta contra o desmonte da previdência, desmonte da CLT e contra a terceirização que precarizam os trabalhadores e trabalhadoras, é mais que um gesto solidário, é um gesto profético e corajoso.
A denúncia das desigualdades e dos desmandos que atinge quem trabalha é o que de mais evangélico esperamos neste momento, daqueles que confirmam seus irmãos e irmãs na fé em Jesus Cristo Libertador.

Sabemos que aqueles que se dispõem a sentir a dor do trabalhador muitas vezes não são compreendidos. Na verdade, os que não veem o gesto de denúncia e convocação como gesto cristão já escolheram seu lado, já assumiram posição e certamente não é o lado do povo, para quem nosso Deus quer sempre vida e vida em abundância.
Retribuindo o gesto receba nosso apoio, Dom Fernando, sempre que agir com zelo pastoral e aceite nossa gratidão. Somos irmãos.
Movimento de Trabalhadores Cristãos - MTC NE II


Recife, 25 de Abril de 2017
Semana da Classe Trabalhadora.


sábado, 29 de abril de 2017

CARTA DO IDHeC A DOM FERNANDO SABURIDO

Do Instituto Dom Helder Camara
Ao  Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife
Dom Antônio Fernando Saburido


“Há momentos em que não se tem o direito de calar,      sejam quais forem as consequências”. (Dom Helder) 

Prezado Dom Fernando

          Estamos vivendo no nosso querido Brasil um desses momentos a que se referia o nosso saudoso profeta da justiça e da paz Dom Helder Camara.

É com tristeza que constatamos que, de forma cada vez mais explícita, o atual governo  faz a opção de privilegiar o rentismo e o capital financeiro à custa do sacrifício de conquistas sociais consagradas na nossa constituição.

As emendas à constituição negociadas às caladas da noite, sem discussão com a sociedade, retiraram recursos da educação, da saúde, da habitação, do saneamento, da ciência e tecnologia e de programas sociais cujo êxito era de reconhecimento mundial, para assegurar o pagamento de juros em patamares jamais vistos no mundo,  a bancos e instituições financeiras.

Um governo que faz essa opção em detrimento da educação de suas crianças e adolescentes, de gerar postos de trabalho para seus jovens e assegurar dignidade de vida para seus idosos, não pode ser o condutor de um projeto de construção de uma nação justa, fraterna e com oportunidade para todos.

Nesta hora, conforta-nos e revigora-nos sua posição firme, clara e fiel ao evangelho de Jesus Cristo, “sejam quais forem as consequências”. Parabéns!

Receba  do Instituto Dom Helder Camara a manifestação de apreço e orgulho por termos em Olinda e Recife um pastor da Igreja povo de Deus, a Igreja em saída, tão desejada e estimulada por nosso papa Francisco.

Que as bênçãos de Deus continuem a iluminar hoje e sempre a sua vida e o seu pastoreio.

Com um fraterno abraço de toda a diretoria do Instituto Dom Helder Camara,  somos,

cordialmente
Antonio Carlos Maranhão de Aguiar
Diretor Executivo do IDHeC.

  


sexta-feira, 28 de abril de 2017

EXISTEM AINDA AQUELES QUE ESPERAM GODOT


por Leonardo boff



Conheci um homem que fez de tudo na vida. Dizem que foi ateu e marxista e que chegou a ser mercenário da Legião Estrangeira francesa e que atirou contra muita gente.
De repente se converteu. Fez-se monge sem sair do mundo. Foi trabalhar como estivador. Mas todo o tempo livre dedicava-o à oração e à meditação. Durante o dia recitava mantras: “Jesus, valei-me”. “Jesus, perdoai meus pecados”. “Jesus santificai-me”. “Jesus, fazei-me amigo dos pobres”. “Jesus, fazei-me pobre com os pobres”.
Estranhamente, tinha um jeito próprio de rezar. Pensava: se Deus se fez gente em Jesus, então foi como nós: fez chichi, choramingava pedindo o peito, fazia biquinho com as coisas que o incomodavam como a fralda molhada.
No começo Jesus teria gostado mais de Maria, depois mais de José, coisas que os psicólogos explicam. E foi crescendo como nossas crianças, brincando com formigas, correndo atrás dos cachorrinhos, atirando pedras em burros e, maroto, levantando os vestidinhos das meninas para vê-las furiosas como imaginou irreverentemente Fernando Pessoa.
E então rezava à Maria, a mãe do Menino, imaginando como ela ninava Jesus, como lavava no tanque as fraldinhas e como cozinhava o mingau para o Menino as comidas fortes para o esposo, o bom José. E se alegrava interiormente com tais matutações porque as sentia e vivia na forma de comoção do coração. E chorava com frequência de alegria espiritual.
Ao fazer-se monge, decidiu por aqueles que fazem do mundo a sua cela e que vivem radicalmente a pobreza junto com os pobres: os Irmãozinhos de Foucauld. Criou uma pequena comunidade na pior favela da cidade. Tinha poucos discípulos. A vida era muito dura: trabalhar com os pobres e meditar. Eram apenas três que acabaram indo todos embora. Essa vida, assim exigente, não era para eles.
Viveu em vários países, mas foi sempre ameaçado de morte pelos regimes militares e tinha que se esconder e fugir para outro país. Aí, tempos depois, lhe ocorria a mesma sorte. Mas ele se sentia na palma da mão de Deus. Por isso vivia despreocupado.
Indispunha-se também com a Igreja institucional, essa do cristianismo apenas devocional e sem compromisso com a justiça dos pobres. Mas, finalmente, conseguiu agregar-se a uma paróquia que fazia trabalho popular. Trabalhava com os sem-terra, com os sem-teto e com um grupo de mulheres. Acolhia prostitutas que vinham chorar suas mágoas com ele. E saiam consoladas.
Corajoso, organizava manifestações públicas em frente à prefeitura e puxava ocupações de terrenos baldios. E quando os sem-terra e sem-teto conseguiam se estabelecer, fazia belas celebrações ecumênicas com muitos símbolos, as chamadas “místicas”.
Mas todos os dias, depois da missa da noite, ficava enfurnado, por longo tempo, na igreja escura. Apenas a lamparina lançava lampejos titubeantes de luz, transformando as estátuas mortas em fantasmas vivos e as colunas eretas, em estranhas bruxas. E lá se quedava, Impassível, olhos fixos no tabernáculo, até que viesse o sacristão para fechar a igreja.
Um dia fui procurá-lo na igreja. Perguntei-lhe de chofre: “meu irmãozinho, (não vou revelar seu nome porque o entristeceria), você sente Deus, quando depois dos trabalhos, se mete a meditar aqui na igreja? Ele lhe diz alguma coisa”?
Com toda a tranquilidade, como quem acorda de um sono profundo, olhou-me meio de lado e apenas disse:
“Eu não sinto nada. Há muito tempo que não escuto a voz do Amigo (assim chamava Deus). Já senti um dia. Era fascinante. Enchia meus dias de música. Hoje não escuto mais nada. Talvez o Amigo não me falará nunca mais”.
Retruquei eu, “por que continua, todas as noites, aí na escuridão sagrada da igreja”?
“Eu continuo”, respondeu, “porque quero estar disponível; se o Amigo quiser chegar, sair de seu silêncio e falar, eu estou aqui para escutar. Imagine, se Ele quiser falar e eu não estiver aqui? Pois ele, cada vez, vem apenas uma única vez. Que seria de mim, infiel amigo do Amigo”? Sim, ele continua sempre “esperando Godot. E não se move” como termina  a peça de Samuel Beckett.
Deixei-o em sua plena disponibilidade. Sai maravilhado e meditativo. É por causa desses que o mundo é poupado e Deus continua a manter sua misericórdia sobre aqueles que o esquecem ou o consideram morto, segundo disse um filósofo que ficou louco. Mas há os que vigiam e esperam, contra toda a esperança esperam Godot. Esta espera fará que,cada dia, tudo seja novo e cheio de jovialidade.
Um dia o sacristão o encontrou inclinado sobre o banco da Igreja. Pensou que dormia. Percebeu que o corpo estava frio e enrijecido.
Como o Amigo não veio, ele foi ao encontro dele. Agora não precisa mais esperar Godot e o seu advento. Estará com o Amigo, celebrando uma amizade, no maior entretenimento, pelos tempos sem fim.
Leonardo Boff é filósofo, teólogo e colunista do JB on line.


quinta-feira, 27 de abril de 2017

SETE LIÇÕES DA LISTA DE FACHIN

por Frei Betto


       A divulgação da lista de políticos delatados pelos réus da Lava Jato nos deixam importantes lições:

       1. Nós votamos, o poder econômico elege. Sempre foi assim, desde que se introduziu o voto na política brasileira, em 1891. Candidatos criam caixa dois, compram votos, distribuem brindes, fazem ameaças.

       Os custos da campanha não costumam sair do bolso deles. Saem dos cofres de bancos, empresas, instituições (como a Fiesp), Igrejas, paraísos fiscais e contravenção (jogo do bicho, narcotráfico etc).

       Aprovou-se agora uma lei que proíbe o financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas. Ilusão supor que não haverá caixa dois. O capitalismo é intrinsecamente corrupto. Nele o capital não conhece fronteiras e impera acima da lei.

       2. Muitos políticos são eleitos, não para representar seus eleitores, e sim para servir aos interesses de quem banca a campanha eleitoral. É o que a Lava Jato comprova. Até Medidas Provisórias foram encomendadas pela Odebrecht. Leis são modificadas em função de interesses corporativos.

       3. A maioria dos políticos brasileiros não tem ideais, projetos ou propostas. Eles têm negócios. Fazem da função pública um balcão de negócios privados. Lixam-se para o povão. Odeiam pobres e se sentem incomodados com a mobilização dos movimentos populares.
       4. A política brasileira virou um regime de dinastia. Pais elegem filhos, e maridos elegem a mulher, e eles, por sua vez, abrem caminho às suas descendências. É a nobreza da República. E, assim, ampliam largamente o patrimônio e o poder de barganha.

       5. A Lava Jato jogou uma ducha de água fria na safadeza generalizada de muitos políticos. Querem desesperadamente amenizar os estragos por terem sido denunciados. Sonham em não perder o foro privilegiado. Por isso, mexem os pauzinhos para limitar a ação do Judiciário e do Ministério Público sob o pretexto de “abuso de autoridade”. Descaradamente propõem o voto em lista para que o eleitor vote sem saber  quem elege. A escolha dos eleitos ficaria a critério dos caciques que mandam em seus partidos, como um latifundiário manda em suas terras.

       6. Você, eu, todos nós pagamos a roubalheira levantada pela Lava Jato. Isso mesmo, porque o dinheiro das propinas veio dos nossos impostos. Dinheiro que deveria ter sido aplicado na saúde, na educação, na agricultura familiar etc. As obras encomendadas pelos políticos desonestos foram superfaturadas, para que as empreiteiras repassassem a eles as propinas.

       Embora haja políticos éticos, não se deve exigir apenas ética dos políticos, mas sobretudo ética na política.

       7. Só uma profunda reforma política, com um governo que tenha projeto de nação, e não apenas de poder, poderá reduzir as anomalias da política brasileira. Porém, enquanto perdurar a desigualdade social haverá de vigorar o império da corrupção e do cinismo. Só haverá verdadeira democracia política quando houver de fato democracia econômica.

Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros.  
 Copyright 2017 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) 


quarta-feira, 26 de abril de 2017

FÓRUM ARTICULAÇÃO DE LEIGOS CRISTÃOS ENVIA CARTA DE APOIO A DOM FERNANDO SABURIDO

Recife 25 de Abril de 2017

Ao Reverendíssimo Arcebispo de Olinda e Recife Dom Fernando Saburido

"Quanto a você, arregace as mangas, levante-se e diga a eles tudo o que eu mandar. Não tenha medo; senão eu é que farei você ter medo deles”. (Jr 1,17)

Foi com grande alegria que ouvimos a conclamação de V. Ex.ª Revma. ao rebanho de Cristo de nossa Arquidiocese para participar da Greve Geral no próximo dia 28 de abril, legítima e legitimada pelos graves ataques feitos ao povo brasileiro.

Em um momento em que a grande mídia quando não cala, coaduna-se com as posições ilegítimas de um Governo igualmente ilegítimo, a posição firme e franca da Igreja Católica, alinhada a orientação de nosso pastor Francisco, é um farol claro e forte, apontando os rumos que devemos seguir.

Vivemos um momento histórico, em que a Igreja Católica, fiel ao exemplo se Jesus Cristo, se posiciona ao lado dos pequeninos e amados de Deus, os mais fracos, os oprimidos, dando-lhes esperança e tornando-se a sua voz.

Como tão bem o disse o nosso papa Francisco, em um de seus discursos, preocupado com o futuro dos direitos trabalhistas: "Terra, teto, trabalho. É estranho – disse –, mas quando falo sobre estas coisas, para alguns parece que o Papa é comunista. Não se entende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Portanto, terra, casa e trabalho são direitos sagrados, é a Doutrina social da Igreja”.

Finalizamos com as palavras de Dom Helder que, em nosso entendimento, se encaixam no momento difícil em que vivemos:

"Enfrentar sem ódio, mas com decisão, os perigos internos e externos que ameaçam a classe trabalhadora. Quem nos obriga a estar do vosso lado, para vencer ou para perder, para triunfar ou para sofrer, quem nos incita e encoraja é o amigo número 1 dos trabalhadores: Nosso Senhor Jesus Cristo". - Dom Helder Camara, 1968.

Conte conosco. Fraternalmente,



CEBs – Comunidades Eclesiais de Base
CEBI - Centro de Estudos Bíblicos
Centro Educacional Profissionalizante do Flau (Turma do Flau)
Fé e Política Dom Helder Câmara
Grupo de Leigos Católicos Igreja Nova
Grupo Mulher Maravilha
Grupo de Partilha Amigos para Sempre na Fé e na Vida
Encontro da Partilha
Tenda da Fé
IDHeC - Instituto Dom Helder Câmara
Mística e Revolução - MIRE
Movimento de Cursilhos de Cristandade da Arquidiocese de Olinda e Recife
Movimento de Evangelização Encontro de Irmãos
Movimento de Mulheres Contra o Desemprego
MPC – Movimento de Profissionais Cristãos
MTC/NE II - Movimento de Trabalhadores Cristãos –
Pastoral Carcerária
Pastoral da Saúde
PJMP – Pastoral da Juventude do Meio Popular
RCB – Renovação Cristã do Brasil

DOM FERNANDO CONVOCA ARQUIDIOCESE A PARTICIPAR DO MOVIMENTO NA SEXTA-FEIRA 28







terça-feira, 25 de abril de 2017

SALVE A MÃE TERRA


Marcelo Barros



Nessa semana, a sociedade civil internacional retoma a reflexão sobre o cuidado com o nosso planeta e como evitar as mudanças climáticas que tantos problemas têm trazido ao mundo. Já há mais de 40 anos que a ONU assumiu o 22 de abril como "o dia internacional da Mãe-Terra". Essa data não é iniciativa de nenhum governo e sim resposta  a uma preocupação cada vez mais comum a toda a humanidade. Ainda mais em nossos tempos conturbados, nos quais Donald Trump,  atual presidente dos Estados Unidos, declara que não se preocupa com Ecologia. Para mostrar como concretiza esse pensamento, ele anulou todos os tratados internacionais de cuidado com a natureza que o seu antecessor havia assinado. Também decidiu refazer a indústria extrativa de carvão que tinha sido paralisada pelos danos que provoca à terra e à natureza. Ao mesmo tempo, em grande parte da África, milhões de pessoas estão sofrendo com a pior seca das últimas décadas. Na República Democrática do Congo, para garantir a posse das grandes minas de diamante, empresas estrangeiras armam grupos locais em conflito. Africanos se matam uns aos outros em uma guerra civil que provoca milhares de vítimas, principalmente na população civil e entre mulheres e crianças.

O planeta Terra está doente e, dessa vez, somos nós, humanos os principais responsáveis. Esse modelo de desenvolvimento que a sociedade dominante continua impondo como único possível se baseia na destruição implacável da natureza para gerar mais lucro. No Brasil, desde o começo, governos e técnicos sabiam: a construção da hidroelétrica de Belo Monte tem como preço pior a destruição da floresta, prejuízo para o rio e para todo o bioma ali circundante. Além disso, as obras da hidroelétrica provocaram a desestabilização de diversas comunidades indígenas e dos ribeirinhos. Todas as estatísticas revelam que, na Amazônia, as queimadas e a destruição da floresta chegaram à maior proporção que tinham alcançado desde o começo dos anos 90. No Nordeste, em um rio São Francisco, com mais de sete metros abaixo do seu nível normal e com todos os sinais de estar moribundo, o governo continua o projeto da transposição. A publicidade é de que os canais feitos a preço de ouro servirão às populações locais. No entanto, os principais beneficiados serão as indústrias de agronegócio. Em Minas Gerais e no Espírito Santo, os efeitos da destruição que a Samarco provocou em todo o vale do Rio Doce não será revertido por várias décadas. Mais de quarenta outras mineradoras estão em operação em nosso território. Usam os mesmos métodos e acarretam para os rios e principalmente para as populações locais riscos semelhantes aos da região de Mariana.

A criação de postos de trabalho e benefícios a prazo curto levaram muitos governos latino-americanos a acolherem em seus países empresas mineradoras e a reduzirem ao mínimo necessário a legislação de proteção à natureza. Nas regiões mais distantes, mineradoras saqueiam a terra e a natureza sem se preocupar minimamente com os prejuízos ecológicos e humanos. Por isso, toda a sociedade civil internacional comemorou como uma vitória o fato de que, na semana passada, o governo de El Salvador assinou um decreto que proíbe a extração de ouro e de outros minérios em todo o território nacional (Cf. Revista Internazionale, 07/ 04/ 2017, p. 17). Quem sabe, essa vitória animará as entidades ecológicas, os grupos indígenas e as populações locais a ampliarem as lutas pacíficas que já existem e possamos, em breve, conseguir outras vitórias para a mãe-Terra.

Durante a Campanha da Fraternidade desse ano, a Igreja Católica no Brasil refletiu sobre a importância do cuidado dos seis biomas nacionais, todos em situação de risco. Nessa campanha, ficou claro que todos os cuidados com os biomas serão meramente paliativos, se não mudarmos os critérios de civilização que norteiam o caminho de nossas sociedades. É urgente assumir os paradigmas da sustentabilidade e do Bem-Viver coletivo como objetivos principais e prioritários dos governos e da sociedade civil. Esses critérios se baseiam não apenas em princípios ideológicos e critérios técnicos, mesmo se esses são sempre importantes. São propostas que se inserem nas tradições espirituais da humanidade e propõem uma verdadeira espiritualidade ecológica. Essa forma de crer e de orar na relação amorosa com a terra e o universo ultrapassa os limites das confissões religiosas. Abre-se a todos os caminhos espirituais e culturas. Um documento cristão do século II dizia: “Queres encontrar a Deus? Olha uma planta, ouve a voz de um animal, ou mesmo quando contemplas uma pedra,  poderás descobrir que ali está presente o amor que te gerou”.


Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países. 

segunda-feira, 24 de abril de 2017

A MORTE QUE VEM DO AR


Por Maria Clara Lucchetti Bingemer


A Paixão de Cristo, contemplada nesta Semana Santa que há pouco vivemos, foi povoada com rostos de crianças inocentes, vítimas da violência. Sua inocência agredida povoou minha oração. É difícil não ficar comovido e perplexo quando os atingidos são pequenos que mal começam a vida e já dela são arrancados pelas armas brutais que hoje se empregam. E essas armas não são apenas de fogo, mas também químicas. 

Tocou-me de maneira especial a foto dos dois bebês gêmeos Ahmed e Ayad, de nove meses, mortos pelo gás sarin, substância tóxica e letal que atingiu a Síria no último dia 6 de abril.  O pai, Abdel, que segura os filhos já mortos com um carinho triste e ainda perplexo, perdeu além deles e a esposa, mais vinte membros de sua família. 

Como se deu essa chacina?  A morte veio do ar. O gás tóxico e letal foi jogado de um avião.  Abdel viu as aeronaves cruzando o céu quando saía, de manhã cedo, de casa com a mulher e os filhos.  Minutos depois começou a sentir um gosto terrível na boca e intuiu o que acontecia.  Entregou os filhos à mãe dizendo-lhe que partisse. Enquanto isso, foi procurar seus parentes para ajudá-los e salvá-los.  Não houve tempo. 

No caminho, ia contando os mortos de sua família, um a um, assassinados pela inspiração da morte gasificada que desceu no ar. Ele mesmo começou a passar mal e foi levado ao hospital.  Uma espuma saía da boca de todos e da sua própria. Depois de quatro horas foi ao encontro da mulher e dos filhos.  Já estavam mortos. Tomou os dois bebês no colo e assim, com o rosto devastado de tristeza, foi fotografado e sua imagem reproduzida pela imprensa mundial. 

Como é possível viver ali onde se decretou que a vida não pode mais florescer?  Primeiro, se atira nas pessoas, depois se invadem as casas.  Bombas são atiradas e devastam cidades e populações inteiras. Pessoas se explodem a si e ao que está ao redor, ceifando vidas, a sua e a de muitos.   As pessoas correm, se abrigam, procuram proteção debaixo da terra, em edifícios, etc.  Nem sempre o conseguem.

Mas o que fazer quando a morte vem do ar, do ar que se respira, do sopro da vida insuflado no princípio nas narinas de Adão, o feito do barro.  Quando Deus criou o céu e a terra, criou o ser humano para que em sua finitude feita de perecível barro, igualmente fosse cheio do Espírito divino. Como explicar que esse ar que encheu as narinas, o corpo e todo o ser de Adão, é meio e veículo para substâncias químicas que matam vidas em lugar de animá-las?

 O que fazer quando a morte se infiltra e se confunde com a Ruach que soprava desde o início sobre o caos primevo, tornado cosmo pelo pronunciar da Palavra criadora?  Espírito de vida e não de morte, a Ruach engendra o mundo do nada; o nefesh de Deus transforma a argila perecível da qual somos feitos em corpo animado e destinado à plenitude.

Aquilo a que assistimos e que contemplamos no rosto sofredor de Abdel parece ser um processo cruel de des-criação, de destruição irremissível.  Respirar tornou-se um ato perigoso? Não é mais encher os pulmões de vida?  O ar não é mais a fonte de toda inspiração, de todo sopro que configura, transfigura, deifica, diviniza? Inspirar não pode mais ser compreendido e experienciado como ser habitado pelo Espírito divino, que conduz a criação do artista, a mão do escritor e impulsiona ao seguimento de Jesus, o carpinteiro fazedor de milagres, vivo, morto e ressuscitado?

Diante da dor tamanha daquele pai carregando os corpos inertes dos filhos pequenos, mortos por haverem respirado, não cabem muitas palavras.  Apenas o silêncio da fé e o fio da esperança que nos diz que Deus, o Pai de infinita misericórdia e eterno amor, sofreu também a morte do Filho Unigênito e Bem-Amado.  Na Paixão de Jesus, o Filho sofre a tortura e a morte. Sofre o Pai, atingido mortalmente naquilo que é sua identidade mais profunda: sua paternidade.  O Espírito é amordaçado e emudecido.

Abdel é muçulmano fiel e crê que Allah fará justiça.  Desde o lado de cá da comum fé abraâmica, com o olhar do Cristianismo, sofro a tentação do desespero.  Mas penso e creio que Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos, como não nos dará igualmente com Ele todas as coisas? 

Gostaria de encontrar Abdel e dizer-lhe respeitosamente que seus filhos vivem, pois o verdadeiro Espírito que Deus insuflou em suas narinas não foi conspurcado e envenenado pelo gás letal.  Não posso falar-lhe ao ouvido, por isso o acompanho na oração.  Penso que coisa parecida viveram os discípulos quando viram Crucificado seu Mestre, Amigo e Senhor. Mas Ele se manifestou vivo no terceiro dia e confirmou suas promessas.  

Neste tempo pascal, o desafio é crer que a morte que vem pelo ar não extinguirá o Espírito.  Ainda que a morte de crianças inocentes nos encha de perplexidade e indignação.  O vento santo que soprou no princípio e inaugurou o mundo continuará soprando em Pentecostes e encherá toda a face da terra. Aqueles que matam crianças e pessoas inocentes distribuindo a morte sob forma de gás não terão a última Palavra.  E Abdel poderá fazer a travessia de sua dor e reencontrar sua esposa e seus filhos na alegria que é dom que não termina. 
 
 Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco).    


Copyright 2017 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato: agape@puc-rio.br>


sexta-feira, 21 de abril de 2017

22 DE ABRIL: DIA DA MÃE TERRA


Por Leonardo Boff



No dia 22 de abril de 2009 realizou-se a 63ºAssembleia da Onu, cujo objeto de discussão era se convinha chamar a Terra de Mãe Terra. Caso fosse aprovada a ideia, o dia 22 de abril não seria mais simplesmente o Dia da Terra, como a patir de vários anos se havia introduzido, mas o Dia da Mãe Terra. O Presidente da Bolívia Evo Morales Ayma, em nome das nações indígenas, fez o  discurso mais de ordem política, provocando grande aplauso da platéia. A mim coube a tarefa de fazer a fundamentação filosófica-ecológica desta proposta. O discurso recebeu ampla acolhida de forma que, por unanimidade, se tomou a resolução de celebrar sempre o dia 22 de abril como o Dia da Mâe Terra. O Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si: como cuidar da Casa Comum assumiu esta expressão Mãe Terra. Publico aqui o discurso proferido nesta 63º Assembleia Geral da Onu de  22/04/2009 para reforçar esta compreensão verdadeiramente revolucionária, pois transforma nossa visão da Terra, como mãe e correspondenteemente os comportamentos face a ela. Eis o texto do discurso feito aos 192 representantes dos povos que compõem a Assembleia da ONU. É excusado dizer que os dados correspondem àquela data, pois hoje são outros com uma natueza muito mais grave.
***********************
No de 2000 a Carta da Terra nos fazia esta severa advertência:: «Estamos num momento crítico da história da Terra, na qual a humanidade deve escolher o seu futuro…A escolha nossa é: ou formamos uma aliança global para cuidar da Teerra e cuidarnos uns dos outros ou arriscamos a nossa própria destruição e a da diversidade da vida”(Preâmbulo).

Se a crise econômico-financeira é preocupante, a crise da insustentabilidade da Terra se apresenta ameaçadora. Os cientistas que acompanham o estado da Terra, especialmente a Global Foot Print Network têm falado do Earth Overshoot Day, do dia em que foram ultrapassados os limites da Terra. E isso ocorreu exatamente no dia 23 de setembro de de 2008, uma semana após o estouro da crise econômico-financeira nos EUA. A Terra ultrapassou em 40% sua capacidade de reposição dos recursos necessários para as demandas humanas. Neste momento necessitamos mais de uma Terra para atender a nossa subsistência.

Como garantir a sustentabilidade da Terra já que esta é a premissa para resolver as demais crises: a social, a alimentária, a energética e a climática? Agora já não temos uma Arca de Noé que salve alguns e deixa perecer os demais. Todos devemos nos salvar juntos.

Como asseverou recentemente com muita propriedade o Secretário Geral desta Casa, Ban Ki-Moon: ”não podemos deixar que o urgente comprometa o essencial”. O urgente é resolver o caos econômico, mas o essencial é garantir a vitalidade e a integridade do planeta Terra. É decisivo superar a crise financeira, porém o imprescindível e essencial é: como vamos salvar a Casa Comum e a Humanidade que é parte dela? Esta é a razão para termos adotado a resolução sobre o Dia Internacional da Mãe Terra que, a partir de agora, se celebrará no dia 22 de abril de cada ano.

Dado o agravamento da situação ambiental, especialmente do aquecimento global, temos que atuar juntos e rápido. Não temos tempo a perder nem nos é permitido errar. Caso contrário, há o risco de que a Terra possa continuar mas sem nós.

Em nome da Terra, nossa Mãe, de seus filhos e filhas sofredores e dos demais membros da comunidade de vida, quero agradecer a esta 63º Assembleia Geral da ONU por haver sabiamente aprovado esta resolução.

Neste contexto, me permito fazer uma breve apresentação do fundamento que sustenta a ideia da Terra como nossa Mãe.

Desde da mais alta ancestralidade, as culturas e religiões sempre têm testemunhado a crença na Terra como Grande Mãe, Magna Mater, Inana e Pachamama.

Os povos originários de ontem e de hoje tinham e têm clara consciência de que a Terra é geradora de todos os viventes. Somente um ser vivo pode produzir vida em suas mais diferentes formas. A Terra é, pois, nossa Mãe universal.

Durante séculos e séculos prevaleceu esta visão até a emergência recente do espírito científico no século XVI. A partir de então, a Terra já não é mais considerada como Mãe, senão como uma realidade sem espírito, entregue ao ser humano para ser submetida, mesmo com violência. A mãe-natureza que devia ser respeitada se transformou em natureza-selvagem que deve ser dominada. A Terra se viu convertida num baú cheio de recursos naturais, disponíveis para a acumulação e o consumo humano.

Neste novo paradigma não se coloca a questão dos limites de suporte do sistema-Terra nem dos bens e serviços naturais não renováveis. Pressupunha-se que os recursos seriam infinitos e que poderíamos ir crescendo ilimitadamente na direção do futuro. O que efetivamente é uma grande ilusão.

A preocupação principal era e é: como ganhar mais no tempo mais rápido possível e com um investimento menor? A realização histórica deste propósito fez surgir um arquipélago de riqueza rodeado por um mar de miséria.

O PNUD de 2007-2008 o confirma: os 20% mais ricos do mundo absorvem 82,4% de todas as riquezas da Terra enquanto os 20% mais pobres têm que se contentar com apenas 1,6%. Estes dados provam que uma ínfima minoria monopoliza o consumo e controla os processos econômicos que implicam pilhagem da natureza e grande injustiça social.

Entretanto, a partir dos tardios anos 70 do século passado se tem imposto a constatação de que um planeta pequeno, velho e limitado como a Terra já não pode suportar um projeto ilimitado. Faz-se urgente outro modelo que tenha como eixo a Terra, a vida e o bem viver planetário no quadro de um espírito de colaboração, de responsabilidade coletiva e de cuidado.

Agora a preocupação central é: como viver e produzir em harmonia com a Terra, com os seres humanos, como o universo e com a Última Realidade, distribuindo equitativamente os benefícios entre todos e alimentando solidariedade para com as gerações presentes e futuras? Como viver mais com menos?

Foi neste contexto que se resgatou a visão da Terra como Mãe. Já não é mais a percepção dos antigos mas uma constatação empírica e científica. Foi mérito dos cientistas e sábios como Vladimir Vernadsky, James Lovelock, Lynn Margulis e José Lutzenberger nos anos 70 do século passado, ter demostrado que a Terra é um superorganismo vivo que se autoregula. Ela articula permanentemente o físico, o químico e o biológico de forma tão sutil e equilibrada que, sob a luz do sol, propicia a produção e a manutenção de todas as formas de vida. Por milhões de anos o nível do oxigênio, essencial para a vida, se mantem em 21%, o nitrogênio, decisivo para o crescimento, em 79% e o nível de sal dos oceanos em 3,4%. E assim todos os elementos necessários para a vida. Não é que sobre a Terra haja vida. A Terra mesma é viva, chamada de Gaia, a deusa grega para significar a Terra viva.

Que toda a Terra está cheia de vida no-lo comprova o conhecido biólogo Edward O. Wilson. Escreve ele: ”Num grama de terra ou seja, em menos de um punhado, vivem cerca de dez bilhões de bactérias pertencentes até a seis mil espécies diferentes”. Efetivamente, a Terra é Mãe fecunda.

A Terra existe já há 4, 4 bilhões de anos. Num momento avançado de sua evolução, de sua complexidade e de sua auto-organização, começou a sentir, a pensar e a amar. Foi quando emergiu o ser humano. Com razão nas línguas ocidentais homo/homem vem de húmus, terra fecunda. E em hebraico Adam se deriva de adamah, terra cultivável. Por isso, o ser humano é a própria Terra que anda, que sente, que pensa e que ama, como dizia o poeta indígena e cantador argentino Atahualpa Yupanqui.

A visão dos astronautas confirma a simbiose entre Terra e Humanidade. De suas naves espaciais testemunhavam de forma comovedora: ”daqui, contemplando este resplandecente planeta azul-branco, não se percebe nenhuma diferença entre Terra e Humanidade. Formam uma única entidade”. Mais que como povos, nações e etnias devemos nos entender como criaturas da Terra, como filho e filhas da Mãe comum.

Entretanto, olhando a Terra mais de perto, nos damos conta de que ela se encontra crucificada. Possui o rosto do terceiro e quarto mundo, porque vive sistematicamente agredida. Quase a metade de seus filhos e filhas padecem fome e sede e são condenados a morrer antes do tempo. A cada quatro segundos, consoante dados da própria ONU, morre uma pessoa estritamente de fome.

Por isso, são expressões de amor à Mãe Terra, as políticas sociais de muitos países, como por exemplo, de meu pais, o Brasil, sob o governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, particularmente o programa Fome Zero e Bolsa Família Em seis anos se devolveu vida e dignidade a 50 milhões de pessoas que antes viviam na pobreza e na fome.
Temos que baixar a Terra da cruz e ressuscitá-la. Para esta tarefa gigantesca somos inspirados por um documento precioso: a Carta da Terra. Nasceu da sociedade civil mundial. Em sua elaboração envolveu mais de cem mil pessoas de 46 países. Em 2003 uma resolução da UNESCO a apresentou “como um instrumento educativo e uma referência ética para o desenvolvimento sustentável”. Participaram ativamente de sua concepção Mikhail Gorbachev, Maurice Strong e Steven Rockfeller e eu mesmo entre otros. A Carta entende a Terra como dotada de vida e como nosso Lar Comum. Apresenta pautas concretas que podem salvá-la, cuidando-a com compreensão, com compaixão e com amor, como cabe a toda mãe. Oxalá, um dia, esta Carta da Terra, possa ser apresentada, discutida e enriquecida por esta Assembleia Geral. Caso seja aprovada, teríamos um documento oficial sobre a dignidade da Terra junto com a declaração sobre a dignidade da pessoa humana.

Mas cabe fazer uma advertência. Para sentir a Terra como Mãe não é suficiente a razão dominante que é funcional e instrumental. Necessitamos enriquecê-la com a razão sensível, emocional e cordial, pois ai se enraíza o sentimento profundo, se elaboram os valores, se cultivam o cuidado essencial, a compaixão e os sonhos que nos inspiram ações salvadoras. Nossa missão, no conjunto dos seres, é a de ser os guardiães e cuidadores desta sagrada herança que recebemos do universo: a Terra, nossa Mãe.

Para terminar permito-me fazer uma sugestão: que se coloque na cúpula interna da Assembleia uma destas imagens belíssimas e plásticas da Terra vista a partir de fora da Terra. Suspensa no transfundo negro do universo, ela evoca em nós sentimentos de reverência e de mútua pertença. Ao contemplá-la, tomamos consciência de que ai está o nosso Lar Comum.

Pediria ainda que fosse aprovada uma recomendação de que no dia 22 de abril, dia Internacional da Mãe Terra, se fizesse um momento de silêncio em todos os lugares públicos, nas escolas, nas fábricas, nos escritórios, nos parlamentos para que nossos corações entrem em sintonia com o coração de nossa Mãe Terra.

Concluo. Tal como está, a Terra não pode continuar. É urgente que mudemos nossas mentes e nossos corações, nosso modo de produção e nosso padrão de consumo, caso quisermos ter um futuro de esperança. A solução para a Terra não cai do céu. Ela será o resultado de uma coalizão de forças em torno a uma consciência ecológica integral, uns valores éticos multiculturais, uns fins humanísticos e um novo sentido de ser. Só assim honraremos nossa Casa Comum, a Terra, nossa grande generosa Mãe.

Muito obrigado.

Prof. Dr.Dr.Leonardo Boff

Representante do Brasil na Assembleia da ONU  e  membro da Comissão da Carta da Terra.
Discurso proferido no dia 22 de Abril de 2009 na 63º Assembleia Geral da ONU.