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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Cartãozinho de Natal do menino Jesus às crianças de hoje

 


Queridos irmãozinhos e irmãzinhas,

Se vocês olhando o presépio e virem lá o Menino Jesus e se encherem de fé de que Deus se fez um menino,uma criança, como um de nós e que Ele é o Deus que está sempre conosco,especialmente com as crianças que estão famintas e no meio de guerras,

Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas a presença secreta do Menino Jesus, de modo especial naqueles que perambulam pelas ruas,sujas e pedindo comida,

Se vocês conseguirem fazer renascer a criança escondida no seus pais, nas pessoas adultas e em todos os convidados para que surja nelas o amor, a ternura, o carinho, o cuidado e a amizade com todo mundo,de modo particular nesse tempo no qual reinou ódio, mentiras, calúnias e até mortes por terem opiniões diferentes,

Se vocês ao olharem para o presépio descobrirem Jesus pobremente vestido, quase nuzinho, como milhares de crianças nestes tempos sombrios de pandemia e lembrarem de tantas crianças igualmente pobres e mal vestidas e sofrerem no fundo do coração por esta situação desumana e se quiserem dividir um pouco do que têm e desejarem quando forem adultas, mudar este estado de coisas,

E se vocês, imbuídas da fé, se derem conta de que, embora criança que choraminga e busca o peito de sua mãe Maria, é o Divino que não veio para nos julgar, mas para brincar e se alegrar conosco,

Se vocês ao verem, no presépio, a vaca, o boi, as ovelhas, os cabritos, os cães, os camelos e o elefante pensarem que o universo inteiro é também iluminado pela Menino Jesus e que todos, estrelas, pedras,  árvores, animais e humanos, somos todos irmãos e irmãs e formamos a grande Casa de Deus,

Se vocês olharem para o alto e virem o céu enfeitado de estrelas, grandes e pequenas e recordarem que sempre há uma estrela semelhante a de Belém sobre vocês, acompanho-os, iluminando-os, mostrando-lhes os melhores caminhos,

Então saibam que eu  estou chegando de novo e renovando o Natal. Estarei sempre perto de vocês, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia, que só o Pai saberá, em que chegaremos todos, humanidade e universo, na Casa do Pai e Mãe de bondade para sermos juntos eternamente felizes. E então será uma festa como a do Natal, sem fim, pela eternidade afora.

                                    Belém, 25 de dezembro do ano 1.

                                    Assinado: Menino Jesus

 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS INDUTIVAS

 


Frei Betto

 

       A teoria marxista tem como um de seus pilares metodológicos a análise do desenvolvimento das forças produtivas. É considerada força produtiva tudo que concorre para a produção: capital, terra, matérias-primas, equipamentos etc. A principal, entretanto, é o trabalho humano. 

       O marxismo pouco se refere ao desenvolvimento das forças indutivas, determinantes em tudo que o ser humano faz. O que motiva o trabalhador a produzir não é a imponência do prédio que o pedreiro ajuda a erguer nem a velocidade do carro que o metalúrgico produz na montadora. É a necessidade do salário para poder sobreviver. 

       O que move o ser humano, em última instância, são fatores subjetivos como interesses, ambições, sonhos e ideais. Os trabalhadores, interessados em obter renda para o próprio sustento e de suas famílias, aceitam se alienar ao fazer o que não condiz com a sua índole - como o caminhoneiro que gostaria de trocar seu volante pelo arco de um violino -, e ao produzir mais-valia apropriada pelo patrão. 

       As forças indutivas têm suas fontes na necessidade (a busca de um emprego); na religião (assumir, em nome de uma crença, a missão que implica riscos); na ideologia (arriscar a vida por uma causa); na arte (dedicar-se a uma atividade artística ainda que haja penúria); no amor (a uma pessoa ou causa). E essas forças indutivas podem servir para legitimar a (des)ordem social, por omissão ou cumplicidade, ou modificá-la reacionária ou revolucionariamente.

       Considero a principal falha dos governos progressistas da América Latina  não investir o suficiente no desenvolvimento das forças indutivas que adotam postura crítica e revolucionariamente transformadora frente às atuais forças produtivas. É um equívoco supor que eleitores de governos e políticos progressistas pensem como os eleitos. Há muitos fatores que induzem um eleitor a votar em um candidato, e nem sempre quem vota em candidato de esquerda é necessariamente de esquerda. 

       Transitei muitos anos por países socialistas, como descrevo no livro “Paraíso perdido – viagem pelo mundo socialista” (Rocco). Estive com inúmeros dirigentes comunistas. Lembro-me de russos que me encaravam com espanto: como um frade católico pode ser de esquerda e socialista? Hoje me pergunto se aqueles que ocupavam funções de poder na União Soviética lutam para derrubar o capitalismo bárbaro que ali se instalou e por um futuro socialista...

       Naqueles contatos, parecia óbvio que muitos eram induzidos a apoiar o socialismo porque desfrutavam dos privilégios do poder, e não por serem convictamente revolucionários. Se o coração tem razões que a razão desconhece, a ambição tem razões que a razão ratifica e o coração se apega, em especial quando se afaga o ego e o bolso.

       Como explicar que, após 14 anos de o PT governar o Brasil, Bolsonaro tenha sido eleito em 2018? Faltou desenvolver as forças indutivas da população. Em outras palavras: não se investiu na educação política do povo. A direita, através da ideologia dominante e dos grandes veículos de comunicação, faz a cabeça de milhões que aceitam, passivamente, que fora do capitalismo não há salvação; a desigualdade social é tão natural como o dia e a noite; valores monetários estão acima de valores morais. 

       Desenvolver as forças indutivas implica uma metodologia pedagógica, como a adotada pelo MST na Escola Florestan Fernandes e o Levante Popular na Escola Paulo Freire. E está sobejamente explicitada nas obras de Paulo Freire. Por isso, os neofascistas o temem tanto. Sabem o quanto contêm de poder de conscientização, organização e mobilização populares. 

       Esta me parece uma das principais tarefas do novo governo Lula, ao lado do combate à fome e a redução da desigualdade social: desenvolver as forças indutivas. Não se trata de promover uma ampla campanha nacional de formação ideológica. A disseminação de ideias não resulta, inevitavelmente, em práticas que as reflitam. O governo deveria incluir em todos os seus programas sociais e políticas públicas recursos de indução das motivações subjetivas.

       Dou dois exemplos. As condicionalidades do Bolsa Família são, na educação, frequência escolar mensal mínima de 85% para beneficiários de 6 a 15 anos, e de 75% para os adolescentes que recebem o Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ); e, na saúde, vacinação e acompanhamento nutricional (peso e altura) de crianças menores de 7 anos, e pré-natal de gestantes.

       Por que não incluir um curso de capacitação profissional dos pais, seja de língua portuguesa (ensinar a gostar de ler e escrever melhor), seja de culinária (evitar o desperdício doméstico), seja aprimorar ofícios que já exercem? Através dessas atividades pode-se fazer um excelente trabalho de educação popular.

       No Brasil, existem cerca de 265 mil Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que monitoraram milhares de famílias atendidas pelo poder público, verificam se as vacinas estão em dia, encaminham gestantes para o pré-natal e prestam outros serviços considerados de atenção básica. Não valeria a pena incluir educação popular na formação desses agentes com tanta capilaridade nacional? 

       Além desse trabalho de base a ser feito, o governo dispõe de uma poderosa rede de comunicações via Anatel, Correios, EBC e Telebras, cujos conteúdos deveriam ser adequados a fortalecer as forças indutivas em prol das políticas públicas. 

       Se o governo e os movimentos populares que o apoiam não atuarem nessa direção, a direita sem dúvida fará soprar os ventos contrários e porá em risco o barco da governabilidade. Sem poder contar com o apoio do Congresso, resta ao governo somente a alternativa da educação popular para mobilizar a sociedade civil e suscitar seu protagonismo político.

 

Frei Betto é escritor, autor de “Por uma educação crítica e participativa” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

 Frei Betto é autor de 73 livros, editados no Brasil e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org  Ali os encontrará  a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio. 

 

 

 

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

PALAVRAS DE PEDRO - 27.12.2022

  Dom Pedro Casaldáliga


        Somos as Causas que assumimos, as que vivemos, pelas quais lutamos, e pelas quais estamos dispostos a morrer. Eu sou eu e minhas causas. Minha vida valerá o que valham minhas Causas. A América Latina é o Continente mais consciente de sua comunitária identidade. Pela sua unidade histórico-militante, de sangue e utopia, de morte e esperança, ela pode falar coletivamente de umas Causas próprias.

        E essas Causas, enquanto latino-americanas e enquanto assumidas como desafio existencial e como processo político, levam consigo três constantes, tão utópicas quanto necessárias, e complementares entre si: a) a opção pelos pobres, opção pelo povo; b) a libertação integral; c) a solidariedade fraterna.

 

Pedro Casaldáliga, Agenda Latino-americana 1993

#Casaldàliga!

#PedroCasaldáligaPresente!

#PereCasaldàliga

#NãoQueremosGuerraQueremosPaz!

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

A profecia do Natal para toda a humanidade

 Marcelo Barros


 

No dia 24, véspera da festa do Natal, a liturgia latina costuma repetir um refrão, baseado no livro do Êxodo: “Hoje, todos saberão que o Senhor virá e amanhã verão a sua glória”. “Do mundo, será destruída a iniquidade e sobre nós brilhará a salvação”.

Atualmente, a iniquidade do mundo se tornou mais escandalosa. A desigualdade social se multiplica. Milhões de pessoas são excluídas de condições mínimas de vida sadia. Fome e miséria aumentam. Diariamente, milhares de crianças morrem por não terem acesso à água potável. Além disso, o armamentismo ameaça a própria segurança do planeta. 

O evangelho do Natal nos assegura: “A Palavra divina se faz carne em nós e em todas as criaturas” (Jo 1, 14). Essa palavra ressoa, hoje, no grito surdo da mãe Terra, agredida e ameaçada em suas condições de vida. Ecoa nos campos contaminados pelos agrotóxicos. É o grito sufocado da irmã Água transformada em mercadoria e privatizada.

Essa palavra de dor e de resistência da mãe Terra, da Água e de toda a natureza se faz carne e é acolhida e respondida na luta de resistência de tantas pessoas. Pensemos na luta heroica de tantos/as profissionais da saúde nos tempos mais difíceis da pandemia e ainda hoje. Assim, a resistência dos povos indígenas, dos lavradores sem-terra e dos pequenos agricultores, assim como a organização dos trabalhadores/as das cidades e a sobrevivência de tanta gente sem teto, sem trabalho e sem comida. 

Neste Natal, cantar que será destruída a iniquidade do mundo é profecia que nos anima e nos compromete com a esperança. Esperança vai além das fronteiras da fé cristã. É algo que diz respeito a toda a humanidade. Ao ser palavra de amor para toda a humanidade, a mensagem de Natal nos chama a sermos cada vez mais humanos e cuidadores/as do planeta. Isso significa nos abrir cada vez mais aos outros. Implica em priorizar o diálogo, a convivência; reconhecer a dignidade inviolável das pessoas e de todo ser vivo. Quem não é capaz de aceitar o diferente não sabe o que é Natal.

Jesus de Nazaré se revelou como homem (do gênero masculino), mas acolhe também a dimensão divina do feminino. Revela que Deus é Pai e Mãe e permite que o chamemos de Ele ou Ela. Na realidade do nosso mundo tão ferido por desigualdades sociais, raciais e de gênero, o Natal nos revela os rostos plurais do Espírito. Faz-nos descobrir cada ser humano, homem ou mulher, homo, hetero, ou trans, como imagens do amor divino.

Desde criança, Jesus não é encontrado pelos religiosos de Jerusalém e sim pelos pastores do campo. Manifesta-se não no templo e sim nos barracos e acampamentos, como foi a gruta e a manjedoura de Belém. Assim, hoje, o Espírito, Ventania do Amor Divino,  se revela de formas diversas, mas sempre a partir da comunhão com as pessoas mais vulneráveis.

A Palavra feita carne no Natal nos faz reconhecer a presença divina nas manifestações de todas as culturas e religiões. No Brasil, o Natal nos compromete na defesa das comunidades indígenas e afrodescendentes, na luta pela terra e pelo direito a viver suas culturas e expressões religiosas.

A encarnação de Jesus, celebrada neste Natal, deve nos fazer reconhecer e valorizar a permanente encarnação do Espírito Divino nos terreiros afro e ocas indígenas. Em nosso continente, mais do que o Cristianismo, as religiões negras e indígenas foram instrumentos de resistência cultural. Ajudaram as pessoas escravizadas de ontem e as excluídas de hoje a manter reconhecida a sua dignidade humana. 

O mundo inteiro se transforma em imenso presépio. Não do Menino Jesus que, hoje é o Cristo Ressuscitado que nos vem pelo Espírito. É essa energia materna de amor que cobriu Maria com sua sombra e, hoje, fecunda o universo com seu amor e sua força libertadora.

 

Feliz Natal para você e para todos os seus entes queridos. 

Abraço carinhoso do irmão Marcelo Barros

 

 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

PARTIDAS E CHEGADAS

 



 Maria Clara Lucchetti Bingemer

 

            O ano vai acabando com tristezas e alegrias.  Partiu a fantástica escritora e acadêmica Nélida Piñon.  Além de mulher de letras inspirada e fecunda, foi a primeira a presidir a Academia Brasileira de Letras e até hoje mantinha intensa atividade no mundo da cultura brasileira e também ibérica.  A conexão entre sua Espanha Natal e o Brasil era um ponto constante e importante de sua agenda.  

            Além disso, Nélida constituía uma quase unanimidade.  Jamais encontrei alguém que não a admirasse e estimasse.  Doce, próxima, alegre, presença agradabilíssima e enriquecedora em qualquer ambiente, tinha uma incontável legião de amigos e admiradores.  Partiu inesperadamente, em Lisboa, onde se encontrava.  E deixa um vazio grande em termos humanos e literários.  

            Fica conosco o legado de sua alegria e esperança.  Nélida já havia tido um encontro próximo com a morte há alguns anos.  Felizmente o diagnóstico que lhe foi dado não se concretizou e pudemos contar com ela novamente entre nós por mais tempo.  Desde aí, segundo seu próprio testemunho, passou a ver a vida de outra maneira e por outro ângulo.  E isso a fez ainda mais profunda e adorável. 

            Mas esse fim de ano também celebra chegadas.  Uma delas aconteceu ontem.  A tão esperada Copa do Mundo voltou para as mãos da América Latina após vinte anos.  A orquestra do time albiceleste foi dirigida com genialidade pelo maestro Leonel Messi, que também traz consigo a marca da unanimidade.  Não há quem não admire seu talento, sua força em campo.  Sobretudo admirável é sua capacidade de unir o time e fazê-lo trabalhar como realmente uma equipe. 

            Messi não faz questão de “assinar” seus gols.  Com tranquilidade e alegria leva a bola aos pés dos companheiros para que eles finalizem a jogada.  Consola um, anima outro, insiste no esforço.  Traz em si, além do talento do jogador e da disciplina do atleta, a marca do verdadeiro líder.  A equipe por ele capitaneada teve um belo desempenho e mereceu a taça que levantou após longo jejum.  Parabéns, Argentina! 

Tomara que a chegada dessa vitória entre tantas derrotas do país da albiceleste, assim como de todo o continente, nos deixe algumas lições.  A primeira seria o desprendimento que exige trabalhar em equipe.  Não importa quem marca o gol, importa que o gol seja marcado ainda que não por mim e a equipe triunfe.  Importa a união que faz realmente a força, como diz o ditado popular.  A combalida e fragmentada Argentina, dividida em polarizações várias, com a inflação pelas alturas, que luta por maior justiça e paz, hoje canta feliz com a vitória da sua seleção.  Que a beleza desse triunfo possa se refletir na sociedade do país vizinho. 

Quanto a nós, vizinhos mais ao norte, temos também lições a levar para casa após esta Copa do Qatar.  Esqueçamos por um momento a tradicional rivalidade em campo entre os dois países.  Após a sofrida derrota nas quartas de final, o Brasil poderia aprender bastante com a seleção do país ao sul. Espera-se para o futuro uma seleção mais focada em disciplina e desempenho, sem tanta frivolidade.  Queremos atletas e não celebridades.  Não se pretende aqui generalizar injustamente, apenas apontar algo que apareceu desta vez e que seria bom que mudasse para o futuro próximo. 

O mesmo acontece em nível do país.  Neste momento de transição de governos, onde as disputas por cargos se veem ferozes e devoradoras. A impressão é de que o que menos importa é o bem do país e a integração de forças para conseguir reconstruí-lo.  Interesses individuais e partidários se atravessam no caminho daquilo que poderia ser uma bela e rica reconstrução nacional.  Não importa quem faz que gol.  Importa que o placar seja cheio de gols diversos e convergentes para um futuro promissor. 

A grande chegada deste período ocorrerá, porém, daqui a alguns dias.  Temos vivido sua espera, sua preparação, e sobretudo seu ardente desejo.  Vamos celebrar o Natal que nos diz que quando nem nós acreditamos mais em nós mesmos, Deus continua apostando nessa humanidade torta, mas ao mesmo tempo tão bela que somos e que sai constantemente de Suas mãos. 

O Menino vai chegar.  Belo . Como diz João Cabral de Melo Neto: “...tão belo como um sim/numa sala negativa.../... Belo como a última onda que o fim do mar sempre adia/ é tão belo como as ondas em sua adição infinita./ Ou como o caderno novo/ quando a gente o principia./...E belo porque o novo/ todo o velho contagia...Belo porque corrompe/com sangue novo a anemia./...Infecciona a miséria/com vida nova e sadia.”

 

Maria Clara Bingemer, é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio  autora de “Santidade:chamado à humanidade” (Editora Paulinas), entre outros livros.

 

 Copyright 2022 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato: agape@puc-rio.br>

 

 

Maria Helena Guimarães Pereira
MHP Agente Literária - Assessoria

mhgpal@gmail.com 

 

sábado, 17 de dezembro de 2022

“MINHA SENHORA DONA, UM MENINO NASCEU E O MUNDO TORNOU A COMEÇAR”




João Guimarães Rosa, no livro "Grande Sertão Veredas)

Reflexão de Natal para EDUCADORES


Luis Moura


Chegou para nós um tempo muito esperado; para educadores, porque as atividades escolares já sinalizam um fim de semestre muito desejado; agora longe da academia, refazemos as forças, as ideias e renovamos propostas; a isso chamamos de tempo propício. Oh! Bem-aventurado tempo propício! Para educadores cristãos, o tempo é de Natal: ‘um menino nasceu e o mundo tornou a começar’. Natal é festa de aniversário de alguém muito especial. Festa de aniversário é universal; todos fazem no tamanho de suas possibilidades, mas fazem. No Brasil ainda existem pessoas (minha prima por exemplo) que não sabem o dia em que nasceu, quantos anos têm e por isso não celebram seu aniversário natalício; mas sabem que no dia 25 de dezembro se comemora o nascimento de um Deus que se faz pessoa; se faz gente como a gente e assume a condição de ‘carne viva e sofredora’. Quando a festa é grande e importante, tem tempo de preparação; conhecemos uma expressão que se parece mais com um ditado que diz: o melhor da festa é esperar por ela. Assim, a quaresma é o tempo de espera e preparação para a grande festa da Páscoa e o Advento é o tempo destinado aos cristãos de se prepararem bem para a festa da chegada de Deus em forma de uma criança entre nós. “Menino Deus (...) por um momento haverá mais futuro do que jamais houve; dando sentido aos mundos, aos corações sentimentos profundos de terna alegria, no dia do Menino Deus” (Menino Deus – Caetano Veloso). A preparação da festa do menino Deus começa um mês antes de sua celebração oficial mas o comércio, muito vivo, dá início logo após o dia das crianças em outubro; o foco não é a criança divina mas o dinheiro; de importante fica a seta que aponta para a festa que vai chegar. Maria, a mãe do menino, era pobre mas o povo a enfeitou feito uma rainha. Quem não gosta de ver sua mãe toda bela? Assim também o menino que nasce, é muito pobre mas a comemoração de seu aniversário é rodeado de luzes, cores e enfeites diversos; é que a criança aniversariante é mais que um simples de nós; é Deus mesmo que arma sua tenda entre nós. Natal não é uma festa que aconteceu no passado e que a gente tem saudade. Natal é todo dia. Todo nascimento ou todo natal é sempre explosão de vida nova. Celebrar o Natal é sempre um convite à renovação. Natal é uma festa revolucionária porque nos incentiva à mobilização, vida nova, transformação e mudança de mentalidade; como diz Caetano: ‘haverá mais futuro do que jamais houve’. A sociedade não quer mudança; prefere assegurar seus privilégios por isso prefere papai Noel; o projeto de Jesus é exigente. Ficam esses questionamentos: em que, em nossas atividades de educadores, há necessidade de mudança de mentalidade e vida nova? Como, a partir do Natal ser um novo educador em uma instituição que se renova?

 

Luiz Moura – Comissão de Pastoral da educação da Arquidiocese de Olinda e Recife

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O improvável acontece e aconteceu

 LEONARDO BOFF


Os fatos são sempre feitos. São feitos a partir de virtualidades presentes na realidade que surpreendentemente ou por  causas previsíveis, acabam vindo à existência.

Nas eleições presidenciais deste ano o improvável aconteceu. Alguém que as Escrituras chamam de o “inimicus homo”, o homem do mal, no afã de se perpetuar no poder usou todos os meios legítimos e principalmente os  ilegítimos para conseguir seu objetivo. Ele possui as características do “anti-cristo” que para o Novo Testamento o  “anti-cristo” é mais um espírito do que uma pessoa concreta. Pode ganhar corpo num movimento e no seu líder, mas é, fundamentalmente, uma realidade inimiga de tudo que é vida e de tudo o que é sagrado.

A característica do “anti-cristo” é arrogar-se o lugar de Deus. É sentir-se para além do bem e do mal. E então usa a ambos,mas principalmente o mal: promove a mentira, difunde fake news, estimula a calúnia, incentiva a violência real, assassinando, ou simbólica, propalando difamações: tudo o que provém do transfundo mais ancestral de nossas sombras irrompe com toda a desfaçatez.

O nosso país viveu durante todo um governo sob o espírito do “anti-cristo”.Nunca se viu em nossa história tanta maldade, tanta mentira estabelecida como método de governo, tanta insensibilidade exaltada como virtude, tanta proclamação da maledicência como forma de comunicação oficial. E com disse São Paulo em sua Epístola aos Romanos, “aprisionaram a verdade sob a injustiça”(1,18).

É próprio do espírito do “anti-cristo” ocultar-se no mundo do obscuro, das zonas inimigas da luz  e destroçar todos os traços de transparência. É próprio também deste tipo de espírito arrebanhar pessoas que se deixam fascinar pela brutalidade dos comportamentos, pela insensatez das decisões e pela violência infligida aos mais fracos, aos covardemente postos à margem como os pobres, as mulheres, os negros, os indígenas e aqueles que, por si só,não conseguem se defender. Dizem exultantes: “é isso mesmo;, tem que se usar de violência; é bom ser grosso e grotesco”; “é isso que tem que ser”. E proclamam aquele com quem se sentem representados como “mito” ou o “nosso herói”.

Mas a experiência secular humana tem mostrado que a noite nunca perdura por todo o tempo, que não há tempestade que, num dado momento, não cesse e dê lugar a alegria do brilho do sol. Pois assim ocorreu em nosso país. Quem tinha a absoluta certeza de triunfar, até por pretensa promessa divina, se viu, no último momento, derrotado. O “mito” se desfez com a  rapidez de um pequeno bloco de gelo, simplesmente se sentiu um morto-vivo, como que escondido em sua própria sepultura. As palavras morreram-lhe na garganta. As lágrimas nunca antes choradas, quando era digno chorá-las, não paravam de escorrer pelo rosto entumecido.

Comprova-se o que  história irreversivelmente tem revelado: o improvável acontece. Por isso temos que contar com o improvável e com o inconcebível. Eles pertencem à história. Quem usou de tudo, mas de tudo mesmo, até do mais sagrado que é o espaço do Religioso, não impediu que o improvável irrompesse e o derrotasse surpreendentemente.

Demos uns exemplos. O mais improvável dos USA era que um negro chegasse, um dia, à presidência da república. E Obama  chegou. Que  um prisioneiro político, com anos de prisão sob trabalhos forçados, também negro, chegasse a ser o presidente da África do Sul, Mandela. Seria totalmente improvável que alguém vindo “do fim do mundo” praticamente desconhecido, fosse eleito ao supremo pontificado, como o Papa Francisco. Era absolutamente improvável que uma jovem camponesa de 17 anos chefiasse um exército, como Joana d’Arc, vencendo parte do exército inglês na guerra dos cem anos.

Portanto,o improvável existe e pode acontecer. Nenhum fato realiza todas as possibilidades escondidas dentro dele.Inúmeras virtualidades estão lá dentro e quando a história madura ou o mal chegou ao seu paroxismo e tem que ser vencido. Então o improvável irrompe vitorioso. Contra todas as expectativas o “inimicus homo” perdeu. O improvável o derrotou.

A Brasil voltou a respirar um pouco de ar menos contaminado pelo veneno da injustiça, da covardia e da mentira.

O improvável realizado nos leva a sonhar com os olhos acordados.Quem tem fome pode ter a certeza que vai comer, quem está desempregado sabe que vai poder trabalhar. Quem suportou todo tipo de injúria e de humilhação se sente protegido pela lei que vai valer para todos. E a esperança esperante,finalmente, voltou para nos possibilitar um destino mais auspicioso que nos propicie viver com a paz possível, concedida aos filhos e filhas dos bíblicos Adão e Eva.

Leonardo Boff escreveu A busca da justa medida: o pescador ambicioso e o peixe encantado, Vozes 2022.

 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

CARTÃO DE NATAL

 

Frei Betto

 



Feliz Natal a quem cultiva ninhos de pássaros no beiral da utopia e coleciona no espírito as aquarelas do arco-íris. E a todos que trafegam pelas vias interiores e não temem as curvas abissais da oração. 


Feliz Natal aos que reverenciam o silêncio como matéria-prima do amor e arrancam das cordas da dor melódicas esperanças. Também aos que se recostam em leitos de hortênsias e bordam, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura. 


Feliz Natal aos que trazem às costas aljavas repletas de relâmpagos, aspiram o perfume da rosa dos ventos e levam no peito a saudade do futuro. Também aos que semeiam indignações, mergulham todas as manhãs nas fontes da verdade e, no labirinto da vida, identificam a porta que os sentidos não veem e a razão não alcança. 


Feliz Natal aos que dançam embalados pelos próprios sonhos e nunca dizem sim às artimanhas do desejo. Aos que ignoram o alfabeto da vingança e jamais pisam na armadilha do desamor, pois sabem que o ódio destrói primeiro a quem odeia. 


Feliz Natal a quem acorda, todas as manhãs, a criança adormecida em si. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé. 


Feliz Natal a quem recolhe cacos de mágoas pelas ruas a fim de atirá-los no lixo do olvido e guardam recatados os seus olhos no recanto da sobriedade. A quem, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo. 


Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar e se recusam a ser reféns do pessimismo. 


Feliz Natal aos que fazem do estrume adubo de seu canteiro de lírios. Também aos poetas sem poemas, aos músicos sem melodias, aos pintores sem cores e aos escritores sem palavras. E a todos que jamais encontraram a pessoa a quem declarar todo o amor que os fecunda em gravidez inefável. 


Feliz Natal aos ébrios de transcendência e aos filhos da misericórdia que dormem acobertados pela compaixão. E a quem não se deixa seduzir pelo perfume das alturas e nem escala os picos em que os abutres chocam ovos. 


Feliz Natal a quem, no leito de núpcias, promove despudorada liturgia eucarística e transubstancia o corpo em copo para inundá-lo do vinho embriagador da perda de si no outro. E a quem corrige o equívoco do poeta e sabe que o amor não é eterno enquanto dura, mas dura enquanto é terno. 


Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão e convocam os famélicos à mesa feita com as tábuas da justiça e coberta com a toalha bordada de cumplicidades. 


Feliz Natal aos que secam lágrimas no consolo da fé e plantam no chão da vida as sementes do porvir. E aos que criam hipocampos em aquários de mistério e se embebedam de chocolate na esbórnia pascal da lucidez crítica. E a todos que, com o rosto lavado das maquiagens de Narciso, dobram os joelhos à dignidade dos carvoeiros.

 

 Queira Deus que renasçamos com o coração desenhado em forma de presépio para aconchegar o Menino que embala o nosso esperançar.

 

Frei Betto é escritor, autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

 Frei Betto é autor de 73 livros, editados no Brasil e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org  Ali os encontrará  a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio. 

 

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

PALAVRAS DE PEDRO

 Dom Pedro Casaldáliga



 

Memória dos seis anos da Páscoa de Dom Paulo Evaristo Arns.

 

Dom Paulo Evaristo Arns, um protetor fraterno na caminhada!

 

Dom Paulo Evaristo Arns, no fim de uma longa caminhada nos aparece como um profeta plural que soube dar a palavra certa em todos os setores da sociedade como bispo Franciscano, enfrentando a injustiça, confortando os pobres, denunciando e anunciando.

 

Um profeta da nossa América que soube atender a todos os apelos, em favor dos direitos humanos em diálogo ecumênico, vivenciando o evangelho nas várias situações da vida que ele tocava assumir.

 

A Prelazia de São Félix do Araguaia tem uma dívida imenso com Dom Paulo e ele continuará sendo protetor fraterno na caminhada.

 

Dom Pedro Casaldáliga, 2016

#Casaldàliga!

#PedroCasaldáligaPresente!

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#NãoQueremosGuerraQueremosPaz!