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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Pau que bate em Chico, nem sempre bate em Francisco

 


Prof. Martinho Condini


 

A visita de Bolsonaro há Putin pelo jeito não adiantou nada. Putin não ouviu os seus conselhos e a Rússia invadiu a Ucrânia na última quinta-feira. A credibilidade de Bolsonaro na Rússia não é das melhores.

Essa invasão deixou o mundo estarrecido. Depois de tanto sofrimento nos últimos dois anos diante da pandemia, os homens foram capazes de iniciar uma guerra, injustificável para muitos. Para quem ainda não conhecia muito bem, isto é o ser humano, ele se movimenta segundo os seus desejos e interesses.

A Rússia de Putin invade a Ucrânia de Zelenski, só porque estes querem pertencer a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criado pelos países ocidentais e liderados Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.

Para a Rússia a entrada da Ucrânia na OTAN, significa a possibilidade de a Ucrânia ter tropas do exército americano na Ucrânia, ou seja, muito próximo de Moscou. O que é algo inaceitável para a Rússia de Putin. E se levarmos em conta a sigla OTAN, a Ucrânia não tem nada a ver com o Atlântico Norte e com os países ocidentais europeus, mas isso não vem ao caso neste momento. 

Pensando pelo lado da questão humanitária e em defesa da soberania nacional, nenhum país tem o direito de invadir outro porque o país invasor se sinta ameaçado por algo que não ocorreu, neste caso a entrada da Ucrânia na OTAN.

É claro que os motivos dessa invasão são muito mais complexos. O motivo da minha indignação sobre esse acontecimento é outro. Até porque não nutro nenhuma simpatia e admiração por  Putin e Zelenski e muito menos pelos seus governos.

O que me chamou atenção nesses últimos dois dias, foi a maneira como a imprensa em geral tratou esse assunto. Não que eu esteja dando razão para a atitude de Putin, muito pelo contrário, mas a forma da narrativa que o ocidente de um modo geral está tratando o assunto, como se essa invasão fosse uma catástrofe de proporções gigantescas e que algo parecido nunca tenha ocorrido na história da humanidade.

E aí eu pergunto, e as centenas de vezes que Israel bombardeou a faixa de Gaza contra os palestinos ou o Líbano preventinamente, nos últimos setenta anos?

Quantos países os Estados Unidos invadiram alegando autodefesa ou defesa de outros países desde o início da Guerra Fria e pós-Guerra Fria?

Apenas para refrescar a nossa memória, o que Putin fez na Ucrânia, Bush pai, Bush filho, Obama, Nixon, Carter e outros invadiram o Vietnã, Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão, Ruanda, Palestina e outros países que não me lembro no momento.

Eu não me recordo da midia brasileira (há exceções) se indignarem tão veementemente com esses acontecimentos, como ocorre no caso Rússia/Ucrânia, onde chegaram a dizer que é o pior conflito depois da Segunda Guerra Mundial, talvez seja mesmo, mas para os brancos.

Essa atitude me faz levantar a hipótese que boa parte da midia brasileira, agem de maneira diferente dependendo do país imperialista que comete a invasão, alguns são vistos como super-homens defensores da paz e da justiça mundial e outros são vistos como inconsequentes, irresponsáveis, causadores de uma invasão brutal e precursores do estopim de uma possível terceira guerra mundial.

Enfim, no mundo ocidental capitalista, neoliberal e judaico-cristão, ao qual está incluída a mídia brasileira, pau que bate em Chico, nem sempre bate em Francisco.

*O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros ‘Dom Helder Camara um modelo de esperança’, ‘Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo’, ‘Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire’ e o DVD ‘ Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro ‘Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza’. Contato profcondini@g

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Deus e o sofrimento humano: questão nunca resolvida

 leonardo boff 


 

A catástrofe ecológica ocorrida em Petrópolis no mês de fevereiro de 2022 com chuvas diluvianas, imensos deslizamentos de encostas, inundações de inteiras regiões, destruição de centenas de casas, caminhos e ruas e com quase 300 vítimas entre mortos e desaparecidos, coloca questões políticas, ecológicas, de responsabilidade dos poderes públicos e de consequências devidas à nova fase da Terra sob o acelerado aquecimento global.

Houve irresponsabilidade dos poderes públicos por não terem cuidado das populações pobres, empurradas para as escarpas da cidade. Há o fato geofísico da serra com densas matas sustentadas sobre rochas e solos encharcados pelas chuvas que ocasiona deslizamentos. Há a própria população que, por falta para onde ir, se instalou em lugares perigosos. Há o alarme ecológico-climático que desequilibra o regime das chuvas que se manifestou em várias regiões do país e agora na serra de Petrópolis mas de modo geral em todo o planeta, e outras razões que não cabe aqui arrolar.Todos estes dados mereceriam ser aprofundados e até apontar culpados.

Mas junto a isso, emerge uma questão existencial e teológica incontornável: Muitos se perguntam: Onde estava Deus nestes momentos dramáticos em Petrópolis, causadores de tantas vítimas, muitas delas inocentes? Por que Ele não interveio se, por ser Deus, poderia tê-lo feito? A mesma pergunta continua reboar: onde estava Deus quando os colonizadores cristãos cometeram bárbaros genocídios de indígenas ao ocuparem suas terras nas Américas? Por que Deus se calou diante da Shoá, o extermínio de seis milhões de judeus enviados às câmaras de gás pelos nazistas ou os mortos nos Gulags soviéticos? Onde Ele estava?

Esta lancinante questão não é de hoje. Possui uma longa história, desde o filósofo grego Epicuro (341-327aC) que por primeiro a formulou,chamada de “o dilema de Epicuro”. É a irrevogável relação de Deus com o mal.  Epicuro assim argumentava: “Ou Deus quer eliminar o mal e não pode, portanto, não é onipotente e deixa de ser Deus. Ou Deus pode suprimir o mal e não o quer, por isso não é bom e deixa de ser Deus”.

Num ambiente cristão, ganhou uma formulação semelhante: Ou Deus poderia ter evitado o pecado de Adão e Eva,base de nossa maldade, e não o  quis, então não é bom para nós humanos ou Deus não pôde de por isso não quis, não sendo, portanto, onipotente e, por isso, não é também bom para nós. Em ambos os casos, deixa de comparecer como o Deus verdadeiro. Esse dilema permanece aberto até hoje, sem ser respondido adequadamente com os recursos da razão humana.

As eco-feministas, com razão, sustentam que essa visão de um Deus onipotente e senhor absoluto é uma representação da cultura patriarcal que se estrutura ao redor de categorias de poder. A leitura eco-feminista se orienta por outra representação de um Deus-Mãe,ligado à vida, solidário com o sofrimento humano e profundamente misericordioso. Ele está sempre junto do sofredor.

Independente desta discussão de gênero, há que se afirmar que o Deus bíblico não se mostra indiferente ao sofrimento humano. Face à opressão no Egito de todo o povo hebreu, Deus escutou o grito dos oprimidos, deixou sua transcendência, entrou na história humana para libertá-los (Ex 3,7). Os profetas que inauguraram uma religião, baseada na ética, ao invés de nos cultos e nos sacrifícios, testemunham a Palavra de  Deus:”estou cansado e não suporto vossas festas…procurai o direito, corrigi o opressor, julgai a causa do órfão e defendei a viúva”(Is 1,14.17).Quero misericórdia e não sacrifícios!

À base desta visão bíblica houve teólogos como Bonhöfer e Moltman     que falam de “um Deus impotente e débil no mundo”, de um “Deus crucificado” e que somente este Deus que assume o sofrimento humano nos pode ajudar. O exemplo maior nos teria sido dado por Jesus, Filho de Deus encarnado que se deixou crucificar e que, no limite do desespero, grita:”Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste”(Mc 15,34)?

Essa visão nos mostra que Deus nunca nos abandona e que participa da paixão humana. O fiel pode superar o sentimento de abandono e de desamparo e sentir-se acompanhado. Pois, o terrível do sofrimento não é apenas o sofrimento, mas a solidão no sofrimento,quando  não há ninguém que lhe diga uma palavra de consolo e dê um abraço de solidariedade. Então, o sofrimento não desaparece mas se torna mais suportável.

Entretanto, a questão fica em aberto: por que Deus tem que sofrer também, mesmo estabelecendo um laço profundamente humano com o sofredor, aliviando sua dor? Por que o sofrimento no mundo e até em Deus?

Não cala nosso questionamento a constatação de que o sofrimento pertence à vida e que o caos é da estrutura do próprio universo (uma galáxia engolindo outra com uma inimaginável destruição de corpos celestes).

O que sensatamente podemos dizer é que o sofrimento pertence à ordem do mistério do ser.Não há uma resposta ao porquê de sua existência. Se houvesse, ele desapareceria. Mas ele continua como uma chaga aberta em qualquer direção para onde dirigirmos o olhar.

Talvez emerja um sentido na luta pela superação do sofrimento:sofrer para que outros não sofram ou sofram menos. Esse sofrimento é digno e nos humaniza. Mas não deixa de ser sofrimento. Por isso nos solidarizamos e sofremos junto com os familiares de Petrópolis e de outros lugares, que perderam entes queridos e rezamos pelas vítimas.

É um ato de razão, a razão reconhecer aquilo que a ultrapassa. Ela se inclina diante de Algo maior, diante do mistério e se obriga a admitir que o sofrimento está aí, produz tragédias e mortes de inocentes. Não há resposta a ele. Ela fica  reservada a Deus, Aquele Ser que faz ser todos os seres. A Ele cabe a revelação definitiva do sentido do sem-sentido.

Leonardo Boff é teólogo e escreveu:Como pregar a cruz hoje num mundo de crucificados, Vozes 2012.

 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

MUNDO À DERIVA

 Frei Betto



 

       Até meados do século XX, a mobilidade humana era muito restrita. As pessoas mantinham vínculos comunitários mais estreitos. Relacionavam-se, por toda a vida, com familiares, amigos, frequentadores da mesma igreja ou do mesmo clube. Se viagens ocorriam, eram periódicas, e quase nunca para lugares muito distantes dos limites da cidade. Avós, pais e irmãos moravam, quase todos, próximos uns dos outros. Isso reforçava os elos comunitários, a autoidentidade, o senso de agregação. Os laços de sangue falavam mais alto que o padrão de vida ou o nível de cultura.

       Tudo isso ruiu com a mobilidade geográfica facilitada pela pós-modernidade. O barco que conduzia o clã familiar congregado  foi de encontro aos penhascos da sociedade consumista e se estilhaçou. Todos ficaram à deriva. 

       Hoje, nessa enorme gaiola de cimento e ferro, chamada prédio de apartamentos, o vizinho de porta nada sabe a respeito de quem mora ao lado. Estão todos condenados à perda de identidade, ao anonimato, à estranheza. Enquanto na “aldeia” os olhares eram de familiaridade e acolhimento, agora são de suspeita e medo. Como diria Sartre, o outro é, potencialmente, o inferno. Como preservar a autoestima se a pessoa não se sente estimada?

       Soma-se a isso um novo fator que agrava a ansiedade, a solidão, as atitudes narcísicas: a aldeia digital. Assim como as pessoas buscam grupos com os quais se identificam (clube, igreja, associação, núcleo cultural etc.), elas também se inserem em vários nichos internáuticos no esforço de se afirmarem socialmente. O ser humano não pode prescindir do olhar benfazejo do outro. Mas o espaço cibernético é substancialmente narcísico. A pessoa posta algo – mensagem, foto, meme etc. – como quem joga um peixe no lago cercado de pescadores. Ansiosa, quer saber quem fisgou a sua postagem, se interagiu e de que maneira. E mergulha no círculo vicioso da digitação constante.

       Se no espaço urbano, onde os laços familiares estão geograficamente distanciados, prevalece a desconfiança, no virtual isso se torna mais acentuado. Como no paradoxo do gato de Schrodinger, o outro com quem você se relaciona pode ser e pode não ser ele. E, como é natural, cada um busca ser reconhecido dentro daquela bolha. Quando alguém posta é também em busca de si mesmo. O smartphone funciona como um espelho, no qual bilhões esperam ver a sua imagem melhorada. E o retorno, muitas vezes, é a desconstrução de quem postou. Ninguém ingressa na arena de boxe para presenciar a luta, e sim para esmurrar o outro até que ele seja aniquilado. E isso é mais fácil quando o outro é um estranho. O outro, nessa arena virtual, é sempre um concorrente, e não um parceiro. 

       Daí a usina do ódio, das fake news, de tudo que faça um sobressair sobre os outros. A emoção prevalece sobre a razão. E a imposição sobre o diálogo. Não se procura ter parceiros e, sim, seguidores. Milhões de pequenos ditadores emitem a sua verdade sobre o mundo, ainda que seja uma clamorosa mentira, e assim fuzilam virtualmente todos que se lhe opõem. 

       Um exemplo dessa tendência de isolamento e agressividade é a crescente venda de veículos utilitários (SUVs), próprios para zonas rurais, nas classes altas de áreas urbanas. Além de não serem adequados para trafegarem na cidade, criam nos passageiros uma sensação de proteção e poder. Muitos adicionam à marca modelos com expressões típicas de conflito e belicismo: Defender (defensor), Raider (agressor), Crossfire (fogo cruzado), Tracker (perseguidor), Compass (renegado), Kicks (chutes).

       Convém escutar os sábios: “É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra” (Rubens Alves:  “A Escutatória”).

 

Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas”  (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

 Frei Betto é autor de 70 livros, editados no Brasil e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org  Ali os encontrará  a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio. 

 

 

 

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Templos, Igrejas e protestos

 Marcelo Barros 


 

Nesses dias, a imprensa ávida por qualquer notícia sensacionalista que legitime denúncias contra movimentos populares e partidos considerados de esquerda, se deleitou com imagens e narrativas do que chamaram de invasão de uma Igreja em Curitiba. Autoridades eclesiásticas e civis protestaram contra o desrespeito ao lugar sagrado e o assunto está sendo debatido na própria câmara de vereadores da cidade.

 O debate se dá sobre o fato dos manifestantes terem entrado na Igreja depois da Missa e terem expressado dentro do templo a denúncia contra o assassinato truculento e cruel de Moise, jovem congolês, barbaramente torturado e assassinado, em um quiosque na Barra da Tijuca. Nestes mesmos dias, ocorreu também, no Rio de Janeiro, a morte de outro negro, baleado por vizinho policial, que o confundiu com um ladrão. Naquele final de semana, em diversas regiões do Brasil, ocorreram manifestações de protestos contra esses atos extremos de racismo contra negros. Em Curitiba, no centro histórico da cidade, o ato se reuniu em frente a uma Igreja, que, historicamente, pertenceu a uma confraria negra. Depois do horário da missa, no final da tarde, os manifestantes entraram na Igreja e encerraram ali o seu protesto pacífico.

 Sobre o fato, podem se fazer várias considerações. Antes de tudo, em termos metodológicos e estratégicos, organizações populares e partidos progressistas tomaram posições críticas em relação ao ocorrido. De fato, o grupo que fazia a manifestação não sofreu nenhuma perseguição, não fugia de nenhuma repressão e não precisava ter ocupado a Igreja, sem permissão dos responsáveis pelo templo.

 Do ponto de vista institucional, todos sabem que a maioria dos eclesiásticos católicos concorda que Igrejas sejam usadas para missas de posse de governadores ou prefeitos de direita. No entanto, considera  desrespeito ao lugar sagrado qualquer manifestação de categorias populares que possa ser vista como sendo de esquerda.

Em Roma, o papa Francisco pode considerar prioritário dialogar com movimentos populares e defender a vida de migrantes africanos, mas essa não é ainda a sensibilidade de muitos ministros e fieis católicos no Brasil. As pastorais sociais da CNBB e muitos padres e agentes de pastoral participaram dos atos de protesto e de denúncia contra o racismo. Muitos religiosos gritaram com as organizações populares que “vidas negras importam”, mas para muitos cristãos, católicos e evangélicos, esse assunto parece não fazer parte do anúncio da fé e da missão da Igreja.  

 Na época da ditadura militar brasileira, em Recife, estudantes que protestavam contra a repressão ocuparam uma Igreja no centro da cidade. Assim que soube, o próprio arcebispo Dom Helder Camara foi para a Igreja e se colocou lá ao lado dos estudantes até conseguir que eles pudessem sair do templo em segurança. O mesmo ocorreu em Salvador, BA, onde a Igreja ocupada pelos rapazes e moças foi a basílica do Mosteiro de São Bento. O abade Dom Timóteo Amoroso Anastácio não somente abriu as portas da Igreja, como declarou o Mosteiro como espaço de abrigo e santuário de proteção da juventude. Do mesmo modo, em São Bernardo do Campo, em 1980, a Igreja Matriz foi abrigo para assembleias dos metalúrgicos em greve perseguidos pela ditadura.

 Atualmente, embora em outro contexto político, a sociedade tem direito de cobrar dos responsáveis das Igrejas a coerência profética com o evangelho de libertação. Originalmente, o Cristianismo não tinha templos e sim Igrejas. Enquanto os santuários se colocam como locais sagrados, Igrejas significam espaços de assembleia. Quando o apóstolo Paulo chamou as comunidades às quais escrevia de Igrejas, estava afirmando que eram assembleias de pessoas não reconhecidas como cidadãs pelo império, mas que nas comunidades cristãs, podiam se reunir e se manifestar como assembleias de cidadãos e cidadãs do reinado divino no mundo. Ainda hoje, quando manifestantes ocupam uma Igreja, de alguma forma, interpelam aos senhores do templo: Qual é o sentido e a missão da Igreja?

 Ao mesmo tempo que desejamos que os movimentos populares sempre se esmerem por respeitar educadamente a todos os ambientes e deem exemplo de diálogo com todas as pessoas com as quais se encontram, pedimos a Deus que os discípulos de Jesus aceitem retomar o caráter profético da fé cristã.

Mesmo se a postura do arcebispo e da arquidiocese de Curitiba tem sido, em geral, mais aberta e solidária, sonhamos com tempos nos quais padres e bispos não somente não se oponham, como fiquem felizes quando suas Igrejas forem ocupadas pacificamente por grupos populares que defendem a justiça e a vida para todas as pessoas humanas e na comunhão com todos os seres vivos.

 

 Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 57 livros dos quais o mais recente é "Teologias da Libertação para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019Email: irmarcelobarros@uol.com.br  

 

 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Vil e Repugnante

Prof. Martinho Condini


Desde de o início da república nunca vivemos um momento com tantos ignorantes falando tanta asneira e se orgulhnado de sua burrice e estupidez.

Se partirmos do princípio que o território brasileiro tem oito milhões de quilômetros quadrados, estaremos sendo injustos com muita gente que se espalha por essa gigantesca área territorial e que não pode ser incluída neste seleto rol. Mas quando este primoroso grupo se manifesta em suas redes sociais, já sabemos quem são, e mais,  eles têm um patrono, o mito inominável.

Vou elencar alguns fatos que comprovam o que digo acima, não com as falas deles, mas com suas atitudes e apoios nos últimos anos, me perdoem se eu esqueci alguma outra patacoada desta laia de gente.

- Apoiaram a Máfia Jato e o justiceiro Moro, que se tornou ministro da justiça desse desgoverno genocida;

- Foram às ruas apoiar o afastamento da Presidente Dilma Housseff e o golpe, que está provado que não havia motivos administrativos para afastá-la do poder, era uma questão política;

- Acreditaram em todas as acusações que foram feitas ao ex-presidente Lula (qualquer cidadão com as faculdades mentais em ordem perceberia que aquilo era uma armação política), tanto que o ex-presidente Lula foi absolvido pelo STF;  

- Acreditaram em um capitão da reserva (vagabundo profissional), que admira o torturador (Carlos Brilhante Ustra) e apoiava suas práticas na ditadura militar, e dizia que se fosse eleito presidente da república iria acabar com a corrupção no Brasil, mesmo ele sendo ligado a milícia na cidade do Rio de Janeiro a mais de trinta anos;

- Acreditaram que a maior pandemia do planeta, era uma simples gripezinha e que a vacina não era eficaz para combate-la; e estão negando-a até hoje;

- Acreditaram que o presidente inominável , daria um golpe no dia 7 de setembro de 2021, fecharia o congresso nacional e o STF, em nome da democracia;

- Acreditaram num ministro da educação terrivelmente evangélico, pastor, reacionário e homofóbico, que em pronunciamento afirmou que a criança tem que receber castigo;

- Acreditaram em um imbecil que se dizia filósofo e era chamado de guru intelectual do inominável, e que defendia a ideia que a pandemia era uma grande bobagem;

- Acreditaram na fala do inominável que afirmava e continua afirmando que as urnas eletrônicas não são seguras, e que pode haver fraude nas eleições deste ano;

- Acreditaram desde a época do golpe em 2016 nas informações da Rede Bobo e na Bobo News;

Enfim é uma infinidade de fatos e apoios que mostram o quanto esse país retrocedeu nos últimos seis anos. Mas estou convencido que as pessoas que acreditaram e continuam acreditando em tudo isso, hoje estão vivendo num país destroçado, por causa da ignorância e do negacionismo, além da falta de vergonha na cara (no mínimo) dos que apostaram no pior e apoiaram o ser mais vil e repugnante que apareceu na sociedade brasileira desde o início da nossa república: o Bolsonaro, acompanhado do gado bolsonarento e do bolsonarismo. Que igualmente ao nazifascismo tem como ideais o desrespeito ao outro, o ódio as diferenças e a indiferença a morte. Sem contar é claro, o orgulho que eles têm de serem terrivelmente xucros.

O nosso alento é que ainda vivemos numa democracia política e quem sabe teremos este ano a oportunidade, com as pessoas de boa vontade desse país, eliminarmos esse câncer social do nosso meio e sermos feliz de novo.

O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros ‘Dom Helder Camara um modelo de esperança’, ‘Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo’, ‘Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire’ e o DVD ‘ Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro ‘Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza’. Contato profcondini@g

  

       

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Há maneiras de evitar o fim do mundo?

 Leonardo Boff


Em todas as épocas, desde as ancestrais, como por ocasião da invenção do fogo,surgem imagens do fim do mundo. De repente, o fogo poderia queimar tudo. Mas os seres humanos conseguiram domesticar os riscos e evitar ou protelar o fim do mundo. Atualmente não é diferente. Mas a nossa situação possui uma singularidade: de fato, não imaginariamente, podemos, efetivamente, destruir toda a vida visível,assim como a conhecemos. Construímos o princípio de autodestruição com armas nucleares, químicas e biológicas que,ativadas,podem de fato eliminar a vida visível sobre a Terra,salvaguardados os micro-organismos que aos quintilhões de quintilhões se ocultam debaixo do solo.

Que podemos fazer diante deste eventual Armageddon ecológico? Sabemos que cada ano, milhares de espécies de seres vivos, chegados ao seu clímax,desaparecem para sempre, depois de terem vivido milhões e milhões de anos neste planeta. O desaparecimento de muitos deles é causado pelos comportamentos vorazes de uma porção da humanidade que vive um super-consumismo e dão de ombros aos eventuais desastres ecológicos.

Será que chegou a nossa vez de sermos eliminados da face da Terra, seja por nossa irresponsabilidade, seja porque ocupamos quase todo o espaço terrestre de forma não amigável mas agressiva? Não teríamos, desta forma, criado as condições de um não retorno e daí de nosso desaparecimento?

 O planeta inteiro, afirmam alguns microbiólogos (Lynn Margulis/Dorion Sagan), seria uma espécie de “placa de Petri”: são duas placas contendo bactérias e  nutrientes. Ao perceberem o esgotamento deles, elas se multiplicam furiosamente e, de repente, todas morrem. Não seria a Terra uma placa de Petri com  o nosso destino semelhante a estas bactérias?

 Com efeito, os  humanos ocupamos 83% do planeta, exaurimos quase todos os nutrientes não renováveis (the Earth Overshoot), a população cresceu, no último século e meio, de forma exponencial e assim entraríamos na lógica das bactérias da “placa de Petri”. Iríamos fatalmente ao encontro de um fim semelhante?

Como somos portadores de inteligência e de meios técnicos além de valores ligados ao cuidado da vida e de sua preservação,não teríamos condições de “protelar o fim do mundo” (na expressão do líder indígena Ailton Krenak) ou de “escapar do fim do mundo,”expressão usada por mim? Não esqueçamos a advertência severa do Papa Francisco em sua encíclica Fratelli tutti (2021): “estamos todos no mesmo barco: ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”. Temos que mudar, caso contráro vamos ao encontro de um desastre ecológico-social sem precedentes.

Aduzo algumas reflexões que nos apontam para uma possível salvaguarda de nosso destino, da vida e de nossa civilização. Parece-nos esperançadora a afirmação recente de Edgar Morin:

“A história várias vezes mostrou que o surgimento do inesperado e o aparecimento do improvável são plausíveis e podem mudar o rumo dos acontecimentos”. Cremos que ambos – o inesperado e o plausível – sejam possíveis. A humanidade passou por várias crises de grande magnitude e sempre conseguiu sair e de forma melhor. Por que agora seria diferente?

Ademais, existe em nós aquilo que foi aproveitado pelo Papa na referida encíclclica:”convido-os à esperança que nos fala de uma realidade enraizada no profundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive”(n.55).Esse princípio esperança (Ernst Bloch) é fonte de inovações, novas utopias e práticas salvadoras.

O ser humano é movido pela esperança e comparece como um ser utópico, vale dizer, um projeto infinito. Sempre poderá escolher um caminho de salvação, pois, o desejo de vida, mais e melhor,  prevalece sobre o desejo de morte.

Geralmente, este novo possui a natureza de uma semente: começa em pequenos grupos, mas carrega a vitalidade e o futuro de toda semente. Dela brota lentamente o novo até ganhar sustentabilidade e inaugurar uma nova etapa do experimento humano.

Por todas as partes no mundo estão atuando os novos Noés, construindo suas arcas salvadoras, vale dizer, ensaiando uma nova economia ecológica, a produção orgânica, formas solidárias de produção e de consumo e um novo tipo de democracia popular, participativa e ecológico-social.

Estas são sementes, portadores de um futuro de esperança. São elas que poderão garantir uma forma nova de habitar a Casa Comum, cuidando dela, todos os ecossistemas incluídos, vivendo, quem sabe, o sonho andino do bien vivir y convivir.

Leonardo Boff é ecoteólogo, filósofo e escritor e escreveu Cuidar a Terra-proteger a vida:como escapar do fim do mundo, Record,Rio 2010.

 

CARNAVAL E SEU CONTRÁRIO

 Frei Betto



       Todo efeito tem uma causa, perceberam os gregos antigos. Quando causas nefastas não são eliminadas, efeitos danosos costumam ocorrer em cascata.

       Agora, temos a triste notícia de que o rei Momo estará impedido de desfilar em muitas ruas do Brasil, pelo segundo ano consecutivo. E deverá, como é aconselhado a todos nós, permanecer recluso na medida do possível e guardar distanciamento. Medidas que muitos não observaram entre o Natal e o Ano-Novo ao promover ou participar de aglomerações em festas e encontros familiares. Agora,  padecem de influenza e Covid.

       As causas? O surto de gripe e as variantes da Covid. Mas serão essas as “causas primeiras”, indagaria Aristóteles?

       Tudo indica que a culpa é do ecocídio praticado por nós, seres humanos, nos últimos 200 anos. Vírus que sempre transitaram entre animais supostamente irracionais, sem afetá-los seriamente, agora se transferem para os seres humanos, supostamente inteligentes, já que os ecossistemas são destruídos e as interações biológicas, rompidas. 

       Em busca de lucros e convencida de que os humanos são sujeitos e a natureza mero objeto, a concepção capitalista (também presente em países socialistas) devasta o Planeta e altera seu equilíbrio socioambiental, como denuncia o papa Francisco em sua encíclica “Laudato Si”. Agora, assistimos, como alertou Lovelock, “à vingança de Gaia”. A riqueza de uns poucos resulta em sofrimento de muitos. Como o excesso de chuvas que castiga regiões do Brasil, coincidindo com o período extremo de seca em regiões altamente produtivas, como Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. 

   Querer fazer de uma coisa o seu contrário é próprio da festa de Momo. Foi o que observou Goethe ao visitar Roma, no Carnaval de 1787: “Rapazes disfarçados de mulheres do povo, com seus trajes de festa, o peito descoberto, audaciosos até a insolência, acariciam os homens com quem cruzam; tratam, com familiaridade e sem cerimônia, as mulheres como suas colegas e se deixam levar por todos os excessos, ao sabor dos caprichos, do espírito e da vulgaridade. As mulheres também se divertem prazerosamente ao mostrar-se em trajes masculinos”. Produzem resultados que o poeta não hesita em definir como “muito interessantes”. 

 “Aqui, basta um sinal”, prossegue Goethe, “para anunciar que cada um pode enlouquecer do modo que deseja e, à exceção de golpes de porrete ou faca, quase tudo é permitido. A diferença entre castas alta e baixa parece, por um instante, suspensa; todos se aproximam uns dos outros, todos aceitam com desenvoltura seus destinos, enquanto a liberdade e a permissividade são mantidas em equilíbrio pelo bom humor universal”. 

        O escritor alemão constatou que os cocheiros se fantasiavam de senhores e os senhores, de cocheiros. E mesmo os abades, com suas túnicas negras, geralmente merecedores do maior respeito, viravam alvos ideais dos lançadores de confetes.

   Não por acaso, observou Goethe, o Carnaval não é uma celebração oferecida ao povo pelas autoridades, mas sim uma “festa que o povo oferece a si mesmo” (Viagem à Itália, São Paulo, Companhia das Letras, 1999). 

        Contudo, há algo que, neste ano, podemos fazer dele o seu contrário além do Carnaval: o Brasil. Nos últimos três anos, nosso país tem sido vítima de genocídio e ecocídio. Seria exaustivo reproduzir aqui os índices de desmatamento de nossas florestas; a contaminação dos rios pelo mercúrio do garimpo e da engrenagem química das mineradoras; o retrocesso nos direitos trabalhistas; os aumentos do desemprego, da inflação, do custo de vida, da fome, da violência, da pobreza extrema; os retrocessos na saúde e na educação. 

   O Brasil merece ter um futuro contrário a tudo isso. Mas não basta desejar. É preciso participar, desde agora, do processo eleitoral que se inicia, e encará-lo como um grande mutirão plebiscitário. Mudar os governos estaduais, o Congresso Nacional e a presidência da República. 

   Neste ano do bicentenário da nossa independência de Portugal, o Brasil merece comemorá-lo dando um basta a tudo isso que o impede de ser um país soberano e uma nação com menos desigualdade social e mais autoestima. 

 

Frei Betto é escritor, autor de “O diabo na corte – leitura crítica do Brasil atual” (Cortez), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

 

 

Frei Betto é autor de 70 livros, editados no Brasil e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org  Ali os encontrará  a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio. 

 

 

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

 Caras irmãs, caros irmãos,

Neste dia tornamos pública a Carta-denúncia aos poderes do Estado – Mais um inocente assassinado. A carta foi enviada para representantes dos três poderes no Estado de Pernambuco. Mais de 50 entidades, artistas e defensores dos Direitos Humanos se manifestaram cobrando justiça e o fim da violência no campo que cresce em nosso país.

Além disso, se colocando em vigília permanente até que “a justiça corra como um rio e o direito brote como ribeiro impetuoso” (Amós 5, 24). Segue abaixo o link de acesso à carta, com os signatários até o momento, assim como, em anexo, segue a carta em PDF.

Caso desejem assinar ou colocar o nome de alguma entidade que tenha autorizado a sua inclusão, é só nos informar, retornando essa mensagem ou enviando a informação para o e-mail: contato@jornalistasweb.com.br



 

Carta-denúncia aos poderes do Estado Mais um inocente assassinado

 

Em nossos corações tem habitado a tristeza e revolta, não apenas pelo assassinato de Jonatas Oliveira, uma criança de nove anos, mas também pela tentativa de homicídio que sofreu Geovane da Silva Santos, pai de Jonatas e presidente da Associação de Lavradores do Antigo Engenho Roncadorzinho, em Barreiros, PE. Os sete pistoleiros encapuzados que, no dia 10 de fevereiro,   invadiram a casa de Geovane para perpetrar esse ato cruel foram apenas o dedo que apertou o gatilho em mais um episódio da escalada de violência sofrida pelos lavradores e suas organizações naquela região.

Essa tragédia é consequência direta da omissão do Estado em relação à Mata Sul de Pernambuco. Há pelo menos cinco anos se arrastam conflitos ininterruptos decorrentes da ação de empresários que, apoiados por milícias armadas, tentam tomar terras de camponeses que vivem há décadas naquele território. Antes desse último acontecimento trágico já aconteceram várias tentativas de homicídio, torturas, ameaças, invasões de casas, destruição de plantações; muitos desses atos foram apoiados pela polícia militar, ou seja, pelo Estado. E não faltaram avisos e denúncias. Somos obrigados a concluir que diante de sua inércia – e às vezes colaboração – o Estado é co-autor desses crimes.

Unimo-nos a todas as entidades e organizações da Sociedade Civil para exigir dos poderes constituídos uma solução imediata. Que a insegurança e o medo não mais dominem e os lavradores e suas famílias possam viver pacificamente seus direitos à Vida, à Moradia e ao Trabalho. Que o sangue de inocentes nunca mais banhe essa terra. O Papa Francisco tem insistido que é preciso garantir a todo ser humano o acesso justo e livre à Terra, ao Teto e ao Trabalho.

Exigimos os representantes eleitos do Poder Legislativo, do Executivo e dos responsáveis pela Justiça no Estado para que não prevaleça a arbitrariedade do poder do dinheiro e das armas sobre o direito da lei e da justiça. Se os responsáveis não punirem os mandantes deste e de outros crimes na região e não garantirem aos lavradores o justo direito à Terra e à moradia, continuarão a perpetuar as estruturas escravizantes que continuam vigorando na Zona da Mata de Pernambuco.

Esperamos que esta nota seja respondida com atos eficientes de Justiça capazes de devolver a Paz à região do Engenho Roncadorzinho. Deixamos claro  que nos  colocamos em  vigília permanente, até que “a


justiça corra como um rio e o direito brote como ribeiro impetuoso” (Amós 5, 24). Por nosso compromisso de amor, imitando Jesus Cristo, nos colocamos e permaneceremos em meio ao povo que sofre na certeza que um dia a paz e a justiça reinará.

 

Assinam esta carta:

 

Bremen Comunidade Ecumênica de Espiritualidade Libertadora CNLB Conselho Nacional do Laicato do Brasil

Movimento Laudato Si’ – Capítulo Nordeste Observatório da Evangelização PUC Minas

Rede Emancipa – Movimento Social de Educação Popular MEL Movimento de Juventudes e Espiritualidade Libertadora CONIC Conselho Mundial de Igrejas Cristãs

Fórum Ecumênico ACT-Brasil

KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço

Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político CESE Coordenadoria Ecumênica de Serviço

Aliança de Batistas do Brasil Diaconia

CAIC – Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs Diocese Anglicana da Amazônia

Observatório de Educação Ambiental da UNILA

Cátedra Laudato Si’ Universidade Católica de Pernambuco

Catedral  Anglicana  do  Bom  Samaritano, Recife/PE, IEAB Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

Associação dos Poetas e Prosadores de Tabira

Comissão Socioambiental da Diocese de São José dos Campos Rede Nordeste de Mulheres Negras

Iser Assessoria - Rio de Janeiro FAOR - Fórum da Amazônia Oriental

Observatório    Educador    Ambiental   Moema    Viezzer,   Universidade Latinoamericana (UNILA)

Teia dos Povos - Pernambuco

ÁGORA Habitantes da Terra - Coletivo Brasil Centro de Estudos Bíblicos - CEBI Nacional FBES - Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Cátedra Dom Helder Câmara de Direitos Humanos Universidade Católica de Pernambuco


CORDEL Coletivo Revolucionário de Libertação SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia Trapeiros de Emaús

CENDHEC – Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social CEBI Pernambuco

Fórum Interreligioso Gente de

MCC – Movimento de Cursilho da Arquidiocese de Olinda e Recife MTC Movimento de Trabalhadores Cristãos Regional Nordeste 2

CESEEP Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular

Núcleo Ecumênico e Inter-religioso PUCPR URI Iniciativa das Religiões Unidas

Grito dos/as Excluídos/as Recife

Grupo Mulher Maravilha      

 

Gabi da Pele Preta, cantora, atriz, arte educadora Almério, cantor e compositor

José Geneci Cristóvão, poeta Surama dos Reis Gonçalves, cantora Sara da Silva Cristóvão, poetisa

Mônica Mirtes de Lima Cordeiro, poetisa Andreia Lopes Miron, poetisa

José Rufino da Costa Neto (Dedé Monteiro), poeta Maria Ivani Ferreira Bispo, poetisa

Marcelo Santa Cruz, militante dos direitos humanos e advogado

Pra Romi Bencke, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, secretária-geral do CONIC

Pra Mara Parlow, Comunidade Luterana em Belo Horizonte, Diretoria CONIC/MG

Ivo Lesbaupin, sociólogo Marquinho Mota, indigenista Cylene Araújo, cantora e compositora

Pe. José Oscar Beozzo, teólogo