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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ENTRE A PERVERSA CORDIALIDADE BRASILEIRA E O CAOS DESTRUTIVO: UM BALANÇO DE 2018



Por Leonardo Boff

Dizem notáveis cosmólogos que tudo começou com um imenso caos, o big bang. Matéria e antimatéria se chocaram. Sobrou ínfima porção de matéria que deu origem ao atual universo. O caos foi generativo. Este ano conhecemos também grande caos em todas as instâncias. Irrompeu o lado perverso da cordialidade brasileira. Segundo Sergio Buarque de Holanda (Raizes do Brasil, 5.capitulo) “a inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, visto que uma e outra nascem do coração”(p.107).

Nas eleições de 2018, o lado perverso da cordialidade ocupou a cena: muito ódio, difamações, milhões de fake news, até a facada no candidato Bolsonaro que acabou se elegendo presidente do país. Esse caos foi só destrutivo não mostrou ainda ser generativo. E deve ser para não entrarmos num beco sem saída.

Nunca em nossa histórica republicana tivemos um presidente de extrema-direita, homofóbico, misógeno, inimigo declarado de homoafetivos, quilombolas, ameaçador das reservas indígenas, promotor da venda generalizada de armas, tendo como símbolo de campanha os dedos em forma de arma.

Descendente de italianos Sem Terra, chegados ao Brasil no final do século XIX, pretende criminalizar o Movimento dos Sem Terra e dos Sem Teto como terroristas. Os temas sensíveis da corrupção, do anti-PT, do resgate dos valores tradicionais da família (mas Bolsonaro mesmo está já no terceiro casamento) e da luta contra o aborto, foram temas que turbinaram sua campanha. Algumas igrejas neo-pentecostais foram aliados fundamentais, máquinas de falsas notícias.

O eleito mostra-se ignorante dos principais problemas nacionais e mundiais. Tem uma leitura de caserna, fixada ainda nos tempos da ditadura militar a ponto de declarar herói um famoso torturador Brilhante Ustra. Escolheu ministros na contra-mão da história, negacionistas do aquecimento global, com ideias bizarras como são os das Relações Exteriores , o da Educação e o do Meio Ambiente. Alinhou-se subalternamente à política do presidente Trump, conflitando com aliados históricos.

Diz introduzir uma nova política que de novo não possui nada. Como diz um jovem filosofo que bem articula filosofia com política, Raphael Alvarenga: ”A novidade consiste na combinação monstruosa de necropolítica, lawfare, fundamentalismo religioso e ultraliberalismo econômico”.

O neoliberalismo econômico geral no mundo, ganhou aqui uma forma ainda mais radical, pondo nossos “commons” à venda no mercado internacional como o petróleo e a privatização de outros bens públicos.

O pacto social criado pela Constituição de 1988 foi rompido, primeiro, com o discutível impeachment da presidenta Dilma Rousseff e depois com a mudança das leis trabalhistas, com a negação da universal presunção de inocência, com as arbitrariedades da PF, do MPF e não em ultimo lugar, com o comportamento confuso e pouco digno do STF, ora muito leniente, ora excessivamente severo, ora submetido ao controle militar pela presença de um general, assessor do Presidente da Casa.

Vivemos de fato num Estado de exceção, pós democrático e sem lei, como o denunciou em dois livros, com esse título, o juiz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Rubens R.R. Casara. Boaventura de Souza Santos, conhecido sociólogo português, afirma mais peremptoriamente: ”O sistema jurídico e judicial criado para garantir a ordem jurisdicional é, nesse momento, um fator jurídico de desordem; é uma perversão perigosa….O STF é uma guerra social e institucional”.

O propósito dos que chegaram ao poder com seus aliados é destruir o PT e seu líder Lula, preso político e refém, borrar da memória popular as políticas sociais que beneficiaram milhões de pobres e permitiram a milhares de destituídos, o acesso à universidade.

Corrupção houve no PT bem como em quase todos os partidos. Um juíz de primeira instância, Sérgio Moro, perseguidor, foi treinado nos USA para aplicar a lawfare (distorcer a lei para condenar o acusado). Foi de uma parcialidade palmar, denunciada pelos juristas nacionais e internacionais mais sérios.

Mas não sejamos ingênuos: a sonegação fiscal anual de mais de 500 bilhões de reais, sete vezes maior que a corrupção política, revela o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional. Só com sua cobrança dispensar-se-ia a Reforma da Previdência. Mas a oligarquia brasileira, atrasada e anti-povo esconde o fato e a imprensa, cúmplice se cala.

Que podemos esperar? É uma incógnita. Por amor ao país e aos condenados da Terra, as grandes maiorias enganadas e iludidas, desejamos que o atual caos seja generativo e a cordialidade signifique benquerença para que a sociedade já muito injusta não seja tão malvada.

Leonardo Boff é filosofo e teólogo e escreveu Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependência, Vozes 2018.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

VOTOS DE FELIZ NATAL




Por Frei Betto

      Neste Natal, quero me despojar de todo visgo consumista e, de presentes, dar e receber apenas presenças. Haverei de partilhar o pão do espírito e a fome de beleza. Não permitirei que o sal da amargura roube a alegria da renascença solidária.

      Manterei mudo o celular para escutar minhas vozes interiores. Pela via da oração, buscarei intuir o que Deus sussurra ao coração. Livre de amarras virtuais, irei ao encontro de diálogos reais. E me recusarei a beber a copa de ódio com a qual brindam os que conhecem apenas um mandamento: armar uns aos outros.

      Neste Natal, não mais admitirei que os conceitos flutuem nos tetos das academias e que as palavras sejam oxidadas pelo discurso insano de quem invisibiliza seus semelhantes. Farei com que a verdade seja, de fato, a adequação da inteligência ao real. E espalharei por toda a cidade as pétalas da rosa dos ventos, para que perfumem o futuro isento das trevas do passado.

      No bazar das hipotecas, não aceitarei trocar liberdade por segurança. Armarei o presépio no espaço inconsútil de minha subjetividade e, atento, escutarei o que o Menino tem a segredar ao ouvido do menino que ainda perdura em mim.

      Neste Natal, não irei às lojas nem prestarei culto ao fetiche da mercadoria. Limparei toda a neve retórica que se acumula sobre o desassossego dos excluídos, para que a transparência cale a insolência dos arrogantes. Despedirei Papai Noel para acolher o Deus criança. E cantarei um bendito a todos que guardam o pessimismo para dias melhores.

      Não permitirei que a ira e o ressentimento me acerquem da sanha assassina de Herodes. Seguirei a estrela de Belém até que me conduza à fonte da bem-aventurança da fome e sede de justiça.

      Neste Natal, descartarei nozes e castanhas para me inebriar de aleluias. E convidarei à ceia aqueles que a ganância afasta do pão deles de cada dia. E reafirmarei meu radical ateísmo ao deus que suporta, indiferente, o mundo no qual poucos têm muito e muitos têm pouco.

      Não darei falsos abraços a quem retorce nós em meus laços. Nem erguerei a minha taça de vinho àqueles que oferecem cicuta. Festejarei tão somente com quem trilha comigo as sendas da utopia e acredita que o mundo será melhor quando o menor acreditar no menor.

      Reunirei músicos que, abraçados às suas violas, haverão de ressignificar a palavra violência, assim como é prenúncio de paz a paciência. Livrarei a festa de Jesus desse punhado de gente que, sem sabor de comunhão, recheia de prendas o vazio do coração.

      Neste Natal, quando o canto do galo despertar outros galos e repletar a aurora de encantos, dobrarei os joelhos ao mistério da vida e ao dom inestimável da existência. Recolhido ao mais íntimo de mim mesmo, fecharei os olhos para ver melhor. E, com certeza, encontrarei o outro que não sou eu e, no entanto, funda a minha verdadeira identidade.

      Pedirei aos pastores não trazerem ouro, incenso e mirra. O Menino que padece em tantos meninos esquálidos quer apenas pão e paz. Venham de mãos dadas, prestar-lhe culto no presépio, as duas filhas da esperança: a indignação, para denunciar tão injusta realidade, e a coragem, para mudá-la.

      Neste Natal, não enfeitarei falsas árvores com os brilhos intermitentes do cinismo. Protegerei as que se erguem sobre raízes firmes, fortes, fundas e férteis. Farei das motosserras enxadas para cultivar os dons da natureza e haverei de proclamar a soberania dos povos originários.

      Não deixarei que o desalento semeie sombras no horizonte de meus sonhos. Em cada esquina anunciarei que a esperança viceja onde a cegueira do poder vislumbra apenas ameaças com seus tentáculos. E cantarei com Maria o magnífico louvor ao Senhor que despede os abastados com as mãos vazias e sacia de bens os famintos.  

Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.
      
 Copyright 2018 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) 
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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A PROFECIA DO NATAL PARA TODA A HUMANIDADE




Por Marcelo Barros

Na véspera do Natal, nos mosteiros, se repete um refrão, baseado no livro do Êxodo: “Hoje, todos saberão que o Senhor virá e amanhã poderão ver a sua glória”. Parece irreal cantar: “Hoje ainda poderá ser destruída a iniquidade do mundo. Amanhã reinará sobre nós o Salvador”.

No mundo atual, a iniquidade do mundo se tornou mais escandalosa. A desigualdade social se multiplica. Milhões de pessoas são excluídas do trabalho digno. Fome e miséria aumentam. Diariamente, milhares de crianças morrem por não terem acesso à água potável. Além disso, a praga do armamentismo ameaça a própria segurança do planeta.

O evangelho do Natal nos assegura: “A Palavra divina se faz carne em nós e em todas as criaturas” (Jo 1, 14). Essa palavra ressoa, hoje, no grito surdo da mãe Terra, agredida e ameaçada em suas condições de vida. Ecoa nos campos contaminados pelos agrotóxicos. É o grito sufocado da irmã Água transformada em mercadoria e privatizada pelas Coca-cola e Nestlé da vida. Essa Palavra de dor e de resistência se faz carne e é acolhida e respondida na luta de resistência dos índios, na caminhada dos lavradores sem-terra e dos pequenos agricultores.

Cantar que amanhã será destruída a iniquidade do mundo é uma profecia que nos anima na esperança. E essa esperança vai além das fronteiras da fé cristã. É algo que diz respeito a toda a humanidade. Ao ser palavra de amor para toda a humanidade, essa mensagem de Natal nos chama a sermos cada vez mais humanos e cuidadores/as do planeta. Isso significa nos abrir cada vez mais aos outros. Implica em priorizar o diálogo, a convivência; reconhecer a dignidade inviolável das pessoas e de todo ser vivo. Quem não é capaz de aceitar o diferente não sabe o que é Natal.

Jesus de Nazaré se revelou como homem, mas acolhe também a dimensão divina do feminino. Revela que Deus é Pai e Mãe e permite que o chamemos de Ele ou Ela. Na realidade do nosso mundo tão ferido por desigualdades sociais, raciais e de gênero, o Natal nos revela os rostos plurais do Espírito Divino. Faz-nos descobrir cada ser humano, homem ou mulher, homo, hetero, ou transexual, como imagens do amor divino.

Desde criança, Jesus quis ser encontrado não pelos religiosos de Jerusalém e sim pelos pastores do campo. Manifestou-se não no templo e sim na manjedoura de Belém. Assim, hoje, o Espírito, Ventania do Amor Divino,  quer que o encontremos de formas diversas, desde que seja na realidade da pobreza e da marginalização social. A Palavra feita carne no Natal nos faz reconhecer a presença divina nas manifestações de todas as culturas e religiões. Aqui no Brasil, o Natal nos compromete na defesa diária e intransigente das comunidades indígenas e afrodescendentes, tanto na sua luta sagrada pela terra e pelo direito a viver suas culturas e expressões religiosas. Mais do que isso, nos faz reconhecer e valorizar a permanente encarnação do Espírito Divino nos terreiros afro e nas ocas indígenas.

Vamos encontrá-lo nas tradições dos Orixás. Ele se revela nos Espíritos da Umbanda e nos Encantados indígenas. Vem dançar com seus filhos e filhas índios e negros para confirmá-los na sua resistência profética e dar a toda humanidade a esperança de um mundo renovado.

Hoje, o cântico dos anjos de Belém se torna o cantar discreto e misterioso que o Xamã ianomâmi David Kopenawa escuta dos Xapiris da floresta. Toma a forma do Toré dos  índios do Nordeste. São os novos cânticos do Natal da mãe Terra e da natureza ferida que renovam o universo de amor e de vida.

O mundo inteiro se transforma em um imenso presépio. Não do Menino Jesus que, hoje, já não é mais menino e sim o Cristo Ressuscitado que nos vêm pelo Espírito. É essa energia materna de amor que cobriu Maria com sua sombra e, hoje, fecunda o universo com seu amor e sua força libertadora. Feliz Natal para você e para todos os seus entes queridos.

MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos quais  “O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

A GRAVIDEZ E A ESPERA



 Por Maria Clara Lucchetti Bingemer

            Nada de mais humano existe do que uma mulher grávida.  E, no entanto, nada mais divino.  Aquelas de nós que já fizeram essa experiência sabem a que me refiro. Trata-se de estar habitada e esperar ao fio dos dias e das horas que essa “in-habitação” chegue a termo e derrame seu fruto em outro espaço: o mundo. 

            Andando pela rua podemos ver os ventres crescidos das mulheres habitadas.  Primeiro é algo invisível e quase insensível.  Há sinais: os seios mais escuros, os enjoos quando os há, a sensação de estar “diferente”.  Mas a forma no início ainda é apenas visível pela alta tecnologia das ultrassonografias. De uma certa maneira é um tempo mais de fé do que de certeza.

 Depois essa fé vai tomando vulto e se convertendo em certeza ao ritmo do crescimento do hóspede no seio materno. O “outro” que habita o corpo da mulher faz sentir sua presença com movimentos, cambalhotas, chutes, socos. Pode ser visto pelas lentes do ultrassom chupando o dedo, abrindo os olhos, estirando-se e espreguiçando-se.

À mãe resta esperar e acompanhar. Sentir em si mesma essa alteridade que é si mesma, mas, no entanto, tão diferente.  Sentir e esperar que cresça, que chegue a termo.  Sentir e esperar a hora.  Quando as contrações chegam, o corpo se abre e se parte, e o parto acontece.  O choro rompe o silêncio e anuncia sua presença única e desejada.

Estamos acostumados a pensar no Natal como uma festa solene e sobrenatural.  Ela o é. Mas o que nela se celebra é o termo de uma gravidez.  É o fato inaudito de que na plenitude dos tempos Deus haja enviado ao mundo seu filho nascido de mulher.  O tempo do Natal que ora vivemos é o tempo de acompanhamento, espera e diálogo com o ventre grávido e os seios túrgidos de uma jovem mulher – Maria de Nazaré da Galileia – que se prepara para dar à luz um filho. 

Por que a solenidade?  Por que os sinos, as velas, o incenso?  Se a cada momento, em cada esquina, em cada casa, há uma mulher que esperou por nove meses a criança querida que um dia chegou, nasceu e chorou, o que há de extraordinário nesse tão ordinário fato de uma gravidez e uma espera que deverá ter o mesmo desfecho de milhares, milhões ao redor do mundo?

O extraordinário está justamente no ordinário.  Está no fato de que o Senhor do Tempo e da História, o Criador do mundo com tudo que ele contém esteja vindo ao nosso encontro pelo ventre de uma mulher como todo ser humano nascido nesta terra. O Verbo que existia desde antes da Criação, que estava diante de Deus e que era Deus disse sua primeira palavra entre nós.  E foi um choro de recém-nascido. O Verbo se fez carne e habitou entre nós e a primeira manifestação de sua glória foi um choro de criança que só quer mamar e estar acalentado no colo da mãe. 

Aquele que habitava o ventre de Maria e mamou em seu peito passou a habitar o mundo.  Aprendeu a caminhar, a falar, a comunicar-se. Sentiu fome, frio.  Cresceu em graça e sabedoria.  E quando se manifestou aos seus contemporâneos, estes disseram: “Ninguém jamais falou como este homem”. E acrescentaram, perplexos: “Mas não é ele o filho do carpinteiro?  Não se chama sua mãe Maria? “

Sim, ela se chama Maria.  E o mistério de seu ventre grávido e seu corpo habitado continua acontecendo hoje como há 2000 anos atrás.  Às vezes é gravidez de risco.  Outras, o parto se dá no chão de um hospital porque não há leito disponível.  Como outrora no estábulo e entre os animais, o menino deve nascer sobre ladrilho e cimento, sem ninguém para ajudar por perto, contando apenas com a própria mãe para fazê-lo emitir o grito primal, o choro libertador que anuncia a vida. 

Não é por isso algo menos extraordinário, menos divino, menos misterioso.  Uma mulher está grávida e espera um filho.  É a humanidade que acolhe novamente este dom inaudito da vida que se reproduz e multiplica.  É o Advento de um novo ser que rompe as paredes do útero e aporta na luz e no ruído do mundo.  

É Natal. Nosso olhar se dirige a essa mulher.  É muito mais importante que o Papai Noel, que a árvore, que os presentes, que a ceia.  É a maternidade, é o milagre da vida acontecendo de novo.  É a carne humana habitada pelo Espírito de Deus.  Isto é o Natal: a festa da vida frágil e desprotegida que chora.  É a celebração da gravidez e da espera. Cheia de graça. Habitada pelo Verbo.  Ave Maria. 

Maria Clara Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de “Mística e Testemunho em Koinonia” (Editora Paulus),  entre outros livros.
  
Copyright 2018 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato: agape@puc-rio.br>


sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

APESAR DAS TRIBULAÇÕES AINDA É NATAL



Por Leonardo Boff
Vivemos no mundo e no nosso país tempos sombrios. Há muita raiva e até ódio. Mais que tudo reina falta de sensibilidade para nossos semelhantes, especialmente para com as crianças, como o Menino Jesus, vivendo nas ruas e sofrendo abusos. Mesmo assim vivemos a humanidade de nosso Deus que assumiu nossa condição humana tão  contraditória.
O cristianismo não anuncia a morte de Deus, mas a humanidade, a benevolência e o amor misericordioso de Deus. Olhemos para o Menino entre o boi e o asno: nele sorri a jovialidade e a eterna juventude do próprio Deus.
Passei por Belém de Judá e ouvi um sussurro terno. Era a voz de Maria embalando o filhinho: ”Sol, meu filho, como vou cobrir-te de panos? Como vou amamentar-te, se és tu, que nutres todas as criaturas”?
Do presépio também veio uma voz angelical que me dizia: “Oh criatura humana, por que tens medo de Deus? Não vês que sua mãe enfaixou seu corpinho frágil? Uma criança não ameaça ninguém. Nem condena ninguém. Não escutas seu chorinho doce? Mais que ajudar, ela precisa ser ajudada e carregada no colo”.
Não deixemos que seja verdade o que escreveu o evangelista São João: “Ele veio para o que era seu e os seus não o receberam”. Nós queremos estar entre aqueles que O recebem como irmão e companheiro de caminhada.
A entrada de Deus no mundo não foi estrepitosa. Deu-se à margem da história oficial, fora da cidade, no meio da noite escura, numa gruta de animais. Em Roma, capital do império e em Jerusalém, o centro religioso do Povo de Israel, ninguém soube de nada. Quase ninguém o percebeu. Somente aqueles que tinham um coração simples como os pastores de Belém, estes seguiram até a gruta, onde tiritava de frio a Divina Criança.
O Natal nos oferece a chave para decifrar alguns mistérios insondáveis de nossa atribulada existência. Os seres humanos sempre se perguntaram e perguntam: por que a fragilidade de nossa existência? Por que a humilhação e o sofrimento? E Deus silenciava. Eis que no Natal nos vem uma resposta: Ele se fez frágil como nós. Ele se humilhou e sofreu como os humanos. Esta foi a resposta de Deus: não por palavras mas por um gesto de identificação. Não estamos mais sós na nossa imensa solidão. Ele está conosco. Seu nome é Jesus.
O Natal nos descortina também uma resposta derradeira ao sentido do ser humano. Somos um projeto infinito. Só um Infinito pode realizar nossa plena humanidade. Eis que o Infinito se faz humano para que o humano realizasse seu projeto Infinito. O infinito se fez ser humano para que o ser humano se fizesse Infinito.
Para concluir nada mais comovedor do que estes versos de Fernando Pessoa, o grande poeta português, sobre o Menino Jesus:
Ele é a Eterna Criança, o Deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
É por isso que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
É a criança tão humana que é divina.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro.
Mas vivemos juntos os dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro de tua casa.
Despe meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Feliz Natal a todos e a todas. Confiemos: há uma Estrela como a de Belém a iluminar o nosso caminho por mais sombrio que se apresente. E se eu não souber o caminho, Menino, tu o sabes e bem certo.
Leonardo Boff é teólogo e escreveu Natal: a humanidade e a jovialidade de nosso Deus, Vozes, 8.edição 1976.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

BRASIL, NAÇÃO MUITO DESIGUAL





Frei Betto

       Duas pesquisas acabam de nos informar que a situação social do Brasil sofreu considerável piora nos dois últimos anos do governo Temer. A pesquisa extraoficial, feita pela Oxfam Brasil e intitulada “País estagnado, um retrato das desigualdades brasileiras”, foi divulgada em 26/11. A oficial, tornada pública em 5/12, é a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE.

       A redução da desigualdade estagnou entre 2016 e 2017. Hoje, a renda média da metade mais pobre da população é de R$ 787,69 por mês, inferior ao valor do salário mínimo (R$ 954). Sessenta por cento dos brasileiros sobrevivem com menos de um salário mínimo por mês.

       O Brasil recuou cinco anos na questão social. Voltou ao patamar de 2012. A população em situação de extrema pobreza, com renda inferior a R$ 8 por dia, passou de 13,5 milhões de pessoas, em 2016, para 15,2 milhões de pessoas, em 2017. Em um ano foram condenados à miséria 1,7 milhão de brasileiros.  

       Ampliou-se o número dos que sobrevivem abaixo da linha da pobreza, com renda diária inferior a R$ 22. Em 2016, eram 52,8 milhões de pessoas. Em 2017, 54,8 milhões sobreviviam com menos de US$ 5,50 por dia (R$ 406 por mês), patamar que, segundo o Banco Mundial, designa o nível de pobreza. Três vezes a população do Chile.

       Em 2016, os pobres tinham renda média de R$ 217,63. No ano seguinte, R$ 198,03. Perda de 9%. Já os 10% mais ricos tiveram 2,09% de aumento na renda, que chegou a R$ 9.519,10 por mês. Desses 10%, 12 milhões ganharam até R$ 17,8 mil de renda tributável. E a parcela de 1% mais rico, que abrange 1,2 milhão de brasileiros, teve rendimento médio superior a R$ 55 mil por mês.

       Para que todo esse contingente populacional deixe a pobreza é preciso investir R$ 10,2 bilhões por mês ou R$ 187 mensais por pessoa! O governo prevê destinar ao Bolsa Família, em 2019, R$ 30 bilhões. Erradicar a extrema pobreza no Brasil significa canalizar à área social quatro Bolsas Famílias.

       Para reduzir a desigualdade não bastam medidas conjunturais. São necessárias atitudes estruturantes, como a reforma tributária. Quem ganha mais deve pagar mais impostos. O sistema fiscal precisa ser progressivo, como em muitos países. Não adiantam ajustes fiscais sem políticas sociais. Nem cortar gastos da administração pública sem promover a reforma tributária com novas alíquotas de imposto de renda para os mais ricos. É preciso reduzir a tributação sobre bens e serviços e aumentá-la sobre rendimentos e patrimônios. De que vale salvar as contas do governo e jogar a maior parte da nação no desamparo?

       Se em 20 anos o nosso país reduziu pela metade a mortalidade infantil, ampliou de cinco para oito os anos de escolaridade e diminuiu o número de famílias na miséria, isso não resultou apenas da austeridade fiscal. Foi sobretudo fruto de políticas sociais.   

  Porém, nada indica que estamos na direção certa. O Judiciário reajusta seus gordos salários e os royalties do pré-sal destinados à educação são reduzidos pela metade! A renda do 1% de brasileiros mais ricos é 36 vezes superior à media do que ganham os mais pobres. O Brasil é o segundo país que mais concentra renda no topo da pirâmide social. Só perde para o Qatar.

       Em 2017, 28% da população eram crianças de 6 a 14 anos fora de escola, pessoas com mais de 14 anos analfabetas e acima de 15 anos sem o ensino fundamental completo. Sem investimento em educação não haverá redução do desemprego.

       Fala-se muito que tudo será melhor se for aprovada a reforma da Previdência. Mas  afetará os privilégios do funcionalismo público? Estudo do Ministério da Fazenda, divulgado no último dia 5, demonstra que a Previdência paga 12 vezes mais para os ricos do que para os mais pobres. De todos os benefícios previdenciários, apenas 3,3% vão para os mais pobres. O que equivale a R$ 17,8 bilhões. Os mais ricos embolsam 40,6% do bolo, ou seja, R$ 243,1 bilhões – 12 vezes mais.

       Enquanto não for dado um basta ao patrimonialismo – a ideia de que o Estado é patrimônio da elite – não haverá erradicação da pobreza e, portanto, redução da violência e da exclusão social.

Frei Betto é escritor, autor de “Por uma educação crítica e participativa” (Rocco/Anfiteatro), entre outros livros.

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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

CHAMADO A UMA NOVA HUMANIDADE




Por Marcelo Barros

Ninguém se dá vida a si mesmo. A mãe dá a luz ao filho ou filha. Todos nós recebemos a vida de nossos pais e mães. Maria Zambrano, filósofa espanhola do século XX, afirmava que se a vida é sempre doada de um ser a outro, é dada para ser desenvolvida. Ninguém nasce de uma vez por todas. O nascimento é apenas começo de um processo que consiste em nascimentos constantes. Assim, nascer não é apenas um evento do passado que lembramos no dia do aniversário. Coloca-se diante de nós, como algo a ser aperfeiçoado e completado. Viver é renascer continuamente, como renasce a aurora de cada novo dia.

A transformação interior das pessoas não pode ser desligada da tarefa de mudar a sociedade. Os grupos de esquerda tendem a privilegiar o coletivo e nem sempre educam as pessoas para o processo de permanente mudança interior. Os espiritualistas têm a sensibilidade oposta. Pensam que, à medida que cada pessoa mudar interiormente, o mundo inteiro começa a mudar. Conta-se a parábola do passarinho que, ao ver a floresta pegar fogo, voa até o rio e traz no bico uma gota d’água para apagar o incêndio. Joga a gota d’água e volta ao rio para buscar outra gota d’água. Outros pássaros lhe dizem que aquele seu trabalho não conseguirá apagar o incêndio. Mas, o herói alado responde: - Ao menos, estou fazendo a minha parte. 

Quem analisa melhor a sociedade sabe que é importante, como dizia Gandhi “começar por si mesmo a mudança que se quer para o mundo”. No entanto, isso só funciona se a parte mais sadia da sociedade conseguir se organizar para lutar contra estruturas que vão além das vontades humanas e do coração das pessoas. Esse processo supõe que a dimensão pessoal se articule dialeticamente com a social. É preciso uma mudança que atinja o plano interior das pessoas e concomitantemente a dimensão social.

Esse tem sido sempre o apelo que todas as religiões e caminhos espirituais acolhem como apelo divino. Conforme a maioria das tradições, é o Espírito de Deus em nós que nos chama permanentemente a uma renovação total do mais íntimo do nosso ser e à transformação do mundo. É isso que o Cristianismo se propõe a celebrar no Natal. Os antigos pastores das Igrejas cristãs afirmavam: “No Natal, o Espírito de Deus se manifestou no homem Jesus, para que o ser humano se tornasse divino”. Isso significa que para os cristãos não é apenas Jesus que se parece com Deus (o Pai). É Deus que se apresenta a nós parecido com Jesus, pessoa humana como qualquer um de nós. Isso nos leva a assumir mais e melhor nossa realidade humana. Deus nos ama como somos. Como a vida é constante processo de renovação interior, somos chamados a sim a nos transformar e amadurecer permanentemente, mas sem que isso nos leve lutar contra nós mesmos. Só seremos capazes de conviver com os outros e compreendê-los, se aprendermos a conviver melhor conosco mesmos.

No Natal, ao nos dar Jesus como sua palavra de amor, Deus puxou o diálogo conosco. Ele tinha iniciado esse diálogo através das mais diferentes revelações de sua presença e seu amor, nas mais diferentes religiões e caminhos espirituais. Na Bíblia, revelou o seu projeto para o mundo: uma humanidade de irmãos que cuidam do mundo com amor e cuidado. No nascimento de Jesus, se revela como pequeno e pobre. É uma indicação de caminho de como podemos nos tornar mais humanos e mais capazes de dialogar.

Não é fácil dialogar em um mundo no qual a sociedade é organizada contra o respeito aos diferentes e o diálogo com o outro. Em um Brasil no qual muitos escolheram como caminho de organização social e política uma proposta de intolerância e mesmo de violência, mais ainda do que antes, o diálogo claro e positivo será a nossa profecia. Não cansaremos de afirmar nossa opção pela vida da humanidade e do planeta. Não deixaremos de combater as desigualdades sociais e a injustiças. Estaremos sempre do lado dos índios, negros e de todas as minorias sociais e sexuais.

Em Gênova, na Itália, o padre e biblista Paulo Farinella anuncia que nesse Natal, ele e sua comunidade não celebrarão nenhum culto público como protesto contra a lei do governo italiano que discrimina estrangeiros e persegue migrantes. Assim como Jesus, ainda criança, teve de fugir para o Egito afim de não ser morto por Herodes, atualmente os migrantes se tornam clandestinos para não morrerem. Não tem sentido celebrar Natal nesse contexto e quando muitos cristãos parecem insensíveis a essa tragédia.

No Brasil, celebraremos o Natal com esse sabor de festa e de dor. É através da solidariedade humana e da opção pelos excluídos que aprofundamos juntos o caminho de Jesus e reafirmamos o sentido do Natal. 


MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos quais  “O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br


 


sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

REVENDO OS DIAS PASSADOS, TENHO A MENTE VOLTADA PARA A ETERNIDADE: 80 ANOS DE VIDA



Por Leonardo Boff

Hoje, dia 14 de dezembro, completo 80 anos  de vida. Estou descendo a montanha da vida.

Primeiramente agradeço a Deus por ter chegado até aqui e por ter sobrevivido. De pequeno, com alguns meses, estava destinado a morrer. Naqueles interiores profundos de Santa Catarina, Concórdia, não havia ainda médicos. Todos, desolados, diziam: ”coitadinho, vai morrer”. Minha mãe, desesperada, depois de fazer o pão familiar num forno de pedra, deixou que ficasse morno e sobre uma pá de madeira me colocou por bons minutos lá dentro. A partir deste experimento derradeiro, melhorei e estou aqui como sobrevivente.

Achei que nunca passaria da idade de meu pai que morreu de um enfarte fulminante aos 54 anos. Sobrevivi. Escrevi um balanço aos 50. Depois achava não passaria da idade de minha mãe que também morreu  de enfarte com 64 anos. Sobrevivi. Fiz mais um balanço aos 60. Então, estava seguro de que não chegaria aos 70. Sobrevivi. Tive que escrever outro balanço aos 70. Por fim, pensei, convicto, de todas as maneiras, não chegarei aos 80. Sobrevivi. E tenho que escrever outro balanço.  Como sai desmoralizado nas minhas previsões, não penso mais em nada. Quando chegar a hora que só Ele sabe, irei alegremente ao encontro do Senhor.

Relendo os vários balanços, surpreendentemente e sem intenção prévia, vejo que há constantes que perpassam todas as memórias. Tentarei fazer uma leitura de cego que apenas capta o que é relevante. Sempre fui movido por alguma paixão mais forte que me levava a falar e a escrever.

A primeira paixão foi pela Igreja renovada pelo Concílio Vaticano II. Escrevi minha tese doutoral em Munique: A Igreja como sacramento; Igreja: carisma e poder (que me levou ao silêncio obsequioso) e Eclesiogênese: as CEBs reinventam a Igreja.

A segunda paixão foi pelo Jesus histórico, sua gesta que o levou à cruz. Escrevi Jesus Cristo Libertador; Nossa ressurreição na morte; O evangelho do Cristo cósmico; Via Sacra da justiça.

A terceira paixão foi por São Francisco de Assis, o primeiro depois do Último (Jesus).Escrevi Francisco de Assis: ternura e vigor; São Francisco: saudades do Paraíso; Comentário à sua oração pela paz.
A quarta  paixão foi pelos pobres e oprimidos. Nasceu a teologia da libertação e escrevi  Teologia do cativeiro e da libertação; O caminhar da Igreja com os oprimidos; junto com meu irmão Frei Clodovis escrevemos Como fazer teologia da libertação.

A quinta paixão foi pela Mãe Terra super-explorada. Escrevi A opção Terra: a solução para a Terra não cai do céu; O Tao da libertação: uma ecologia da transformação junto com Mark Hathaway; Como cuidar da Casa Comum.

A sexta paixão foi pela condição humana sapiente e demente. Escrevi O destino do homem e do mundo; A  Águia e a galinha: metáfora da condição humana; Despertar da águia : o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade; Saber cuidar; O cuidado necessário; Feminino –Masculino junto co Rose-Marie Muraro; O Ser humano como projeto infinito.

A sétima paixão foi pela vida do Espírito: Traduzi o principal da obra do místico Mestre Eckhart; retraduzi de forma atualizadora a Imitação de Cristo de 1441 acrescentando-lhe uma parte nova; O seguimento de Cristo; Experimentar Deus hoje; A SS.Trindade é a melhor comunidade; O Espírito Santo: fogo interior, doador de vida e pai dos pobres; Espiritualidade: um caminho de transformação.

Publiquei cerca de cem livros. É trabalhoso, com apenas 25 sílabas, compor as palavras e depois com as palavras formular as frases e por fim com frases conceber o conteúdo pensado de um livro. Quando me perguntam: “o que faz na vida”? Respondo: “sou trabalhador como qualquer outro como um marceneiro ou um eletricista. Apenas que meus instrumentos são muito sutis: apenas 25 sílabas”.

“E o que vc pretende com tantas letras”? Respondo: “apenas pensar, em sintonia, as preocupações maiores dos seres humanos à luz de Deus; suscitar neles a confiança nas potencialidades escondidas em si para encontrarem soluções; procurar chegar ao coração das pessoas para que tenham compaixão pelo injusto sofrimento do mundo e da natureza, para que nunca desistam de sempre melhorar a realidade, começando por melhorar a si próprios. Independente de sua condição moral, devam sentir-se sempre na palma da mão de Deus-PaI-e-Mãe de infinita bondade e misericórdia”.

“Valeu a pena tantos sacrifícios para escrever”? Respondo com o poeta Fernando Pessoa:”Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Esforcei-me para que não fosse pequena. Deixo a  Deus a última palavra. Agora no tramontar da vida, revejo os dias passados e tenho a mente voltada para a eternidade.

Leonardo Boff escreveu “Destino e Desatino da Globalização” em: Do iceberg à Arca de Noé, Mar de Ideias,Rio 2010 pp. 41-63.