O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

terça-feira, 31 de julho de 2018

CENÁCULOS DE RESISTÊNCIA E UTOPIA


  

Por Marcelo Barros

No mundo atual, sem dúvida, na base da crise econômica, sócio-política e ecológica da humanidade há um problema cultural. Quando há um terremoto, os técnicos procuram onde se deu o epicentro, isso é, o ponto nodal de onde partiu a falha da camada geológica. O epicentro da crise que a humanidade vive pode estar em uma violência cultural que nos fez romper com a dimensão comunitária que está inserida no DNA de cada ser humano e aceitar o individualismo, a cultura de competição e de absolutização do lucro que o papa Francisco chama de "cultura da indiferença" com  o sofrimento dos pobres, tratados como descartáveis.

Por isso, cada vez mais aumenta o número de pessoas que acreditam: um elemento fundamental na luta básica contra esse sistema dominante é organizar a humanidade contra a barbárie. Isso é feito quando os pobres se organizam em movimentos sociais e quando buscamos fortalecer uma democracia participativa e direta. No entanto, para quem crê, o desafio cotidiano é acompanhar essa luta social por uma necessidade de permanente conversão pessoal. Ora, isso só é possível em comunidade.

Cenáculo é o nome com o qual a tradição cristã chama "a sala alta", na qual, segundo os evangelhos, Jesus fez sua última ceia com os discípulos e discípulas, antes de ser preso. Segundo o evangelho de Lucas, depois que Jesus desapareceu da vista deles, os discípulos e discípulas, reunidos com Maria, mãe de Jesus, ficaram no cenáculo em um primeiro retiro do grupo, à espera do Espírito. Ali, naquela sala, aconteceu o primeiro Pentecostes cristão, com a descida do Espírito de Deus sobre a comunidade reunida.

De fato, na história da Igreja, o cenáculo ficou sendo o símbolo de uma comunidade que, mesmo em meio às tensões, resiste unida. É parábola da utopia do reino de Deus. Em meio à resistência, anuncia a esperança da libertação. Por isso, para nós mesmos e para os irmãos e irmãs, precisamos formar sempre novos cenáculos que possam ser espaços de comunhão recíproca, de resistência à sociedade dominante e de fortalecimento dos irmãos e irmãs no caminho da utopia. Precisamos de células de resistência, de círculos de cultura da comunhão e da solidariedade.

É preciso que, mesmo dispersos/as por diversos lugares e cada um/a com a sua luta, no meio da dispersão do mundo, formemos uma rede de cenáculos, ou seja uma teia invisível, ecumênica e libertadora, importante para as Igrejas e para o mundo.

Em 1968, quando na Europa, a juventude protestava contra tudo, o sociólogo tcheco Theodore Rozvak escreveu sobre a Contracultura. Em um texto citado por Luiz Alberto Gomez de Souza - Rozvak afirma que quando o Império Romano entrou em declínio e as sociedades na Europa buscavam uma base para se firmarem, encontraram essa base no que ele chama de "paradigma monástico". De tato, naquela época, foram os mosteiros beneditinos que ao insistirem na cultura da paz (em uma Europa convulsionada pelas constantes invasões dos então chamados bárbaros), na prática da agricultura, no valor do trabalho e nos valores comunitários, conseguiram formar gerações e construir um novo modelo de civilização.

Rozvak propõe que, atualmente, para além de qualquer pertença religiosa, o paradigma cultural monástico possa oferecer algo de novo e de importante para refazer as relações sociais e refazer uma cultura de paz.
Nesse mundo dividido, o projeto comunitário de tipo alternativo e subversivo ao modelo do mundo atual continua atual e necessário.

Uma pesquisa recente que apareceu no site do IHU (Instituto Humanitas - de São Leopoldo, RS) dizia que no Brasil, existiam 775 projetos ou experiências concretas de comunidades religiosas de tipo novo. A maioria delas ligada a movimentos carismáticos e com fortes acentos conservadores e "de direita". No entanto, algumas são mais abertas e originais. É cada vez mais urgente que as pessoas com vocação para transformar esse mundo formem redes ecumênicas de apoio mútuo e de abertura espiritual a toda humanidade, círculos comunitários, verdadeiros cenáculos de resistência e comunhão que ajudem os seus próprios membros a se converterem e, assim, possam ser ensaios de um mundo novo possível.

O desafio permanente para todos os nossos grupos é sempre partir do interior de cada irmão e irmã, membro do grupo. Vivemos em comunidade porque precisamos nos converter sempre. Assim como aconteceu com os primeiros cristãos,  as pessoas que nos veem podem perceber nossa fragilidade e nossos defeitos (somos iguais a eles e elas). Mas é importante que, seja como for, possam dizer como se dizia dos primeiros cristãos: "Vejam como eles se amam".



Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26 livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

ESTÁ CONFUSO MAS EU SONHO




Por Leonardo Boff
“Faz escuro mas eu canto porque a manhã vai chegar”, proclamou o poeta Thiago de Mello na época sombria da ditadura civil-militar de 1964.
”Está confuso mas eu sonho” digo eu, nestes tempos não menos sombrios. O sonho ninguém pode prender. Ele antecipa o futuro e anuncia o amanhã.
Ninguém pode dizer o que vai ser deste país após o golpe parlamentar-jurídico-mediático de 2016. Faz escuro e tudo está confuso mas eu sonho. Este sonho está rodando em minha cabeça há muitos dias e resolvi expressá-lo para alimentar a nossa inarredável esperança.
Sonho ver um Brasil construído de baixo para cima e de dentro para fora, forjando uma democracia popular, participativa e sócio-ecológica, reconhecendo como novos cidadãos com direitos, a natureza e a Mãe Terra.
Sonho ver o povo organizado em redes de movimentos, povo cidadão, com competência social para gerar as suas próprias oportunidades e moldar o seu próprio destino, livre da dependência dos poderosos e resgatando a própria auto-estima.
Sonho ver a utopia mínima plenamente realizada de comer pelo menos três vezes ao dia, de morar com decência, de ter frequentado a escola por oito anos, de cursar a universidade e a pós-graduação, de receber por seu trabalho um salário que satisfaça as necessidades essenciais de toda a família, de ter acesso à saúde básica e depois de ter labutado por toda uma vida, ganhar uma aposentadora digna para enfrentar, serenamente os achaques da velhice.
Sonho ver  celebrado o casamento entre o saber popular, de experiências feito, com o saber acadêmico, de estudos feito, ambos construindo um país para todos, sem excessos e também sem carências.
Sonho ver o povo celebrando suas festas com muita comida e alegria, dançando o seu São João, o seu Bumba-meu-Boi, seu samba, seu frevo, seu funk e seu esplêndido carnaval, expressão de uma sociedade sofrida mas que se encontrou na fraternura e na alegre celebração da vida.
Sonho ver aqueles que foram condenados  a sempre perder, sentirem-se vitoriosos porque o sofrimento não foi em vão e os amadureceu para, com outros, construírem um Brasi diferente, uno e diverso, hospitaleiro e alegre.
Sonho contar com políticos que se abaixam para estar à altura dos olhos do outro, despojados de arrogância, conscientes de representar as demandas populares, fazendo da política cuidado diligente da coisa pública.
Sonho andar por aí à noite sem medo de ser assaltado ou vítima de balas perdidas podendo desfrutar da liberdade de poder falar e criticar nas redes sociais  sem logo ser  ofendido e  difamado.
Sonho contemplar nossas florestas verdes, nossos imensos rios regenerados, nossas soberbas paisagens e a biodiversidade preservada, renovando o pacto natural com a Mãe Terra que tudo nos dá, reconhecendo seus direitos e por isso tratá-la com veneração e cuidado.
Sonho ver o povo místico e religioso, venerando a Deus como gosta, sentindo-se acompanhado por espíritos bons, por forças portadoras da energia cósmica do axé, dando um caráter mágico à realidade com a convicção de que, no fim, por causa de Deus-Pai-e-Mãe de infinita bondade e misericórdia, tudo vai dar certo.
Sonho que este sonho não seja apenas um sonho  mas uma realidade ridente e factível, fruto maduro de tantos séculos de resistência, de luta, de lágrimas, de suor  e de sangue.
Só então, só então, poderemos rir e cantar, cantar e dançar, dançar e celebrar um Brasil novo, o maior país latino do mundo, uma das províncias mais ricas e belas da Terra que a evolução ou Deus nos entregara.
Termino com o grande cantor das Comunidades eclesiais  de base, Zé Vicente               de  Crateús:
Sonho que se sonha só pode ser pura ilusão, mas sonho que se sonha junto é sinal de solução. Então vamos sonhar companheiros e companheiras, sonhar ligeiro, sonhar em mutirão” (Zé Vicente de Crateús)
Assim o quer o povo brasileiro e nos ajude Deus.

Leonardo Boff é escritor e publicou: Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependênca (Vozes) 2018.



quinta-feira, 26 de julho de 2018

USO DO ESTADO PELA IGREJA



por Frei Betto

      O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, promoveu reunião secreta com mais de 200 pastores evangélicos, a 4 de julho, para instruí-los sobre o uso da máquina estatal, a fim de obterem vantagens a templos e fiéis, como isenção de impostos e prioridade em exames de saúde. O abuso resultou-lhe em pedido de impeachment por parte do legislativo carioca.
      A relação Igreja e Estado foi sempre conturbada. O Cristianismo nasceu da ruptura de Jesus com dois estados: o Sinédrio judaico, pelo qual foi condenado, e o poder romano, pelo qual foi executado na cruz.
      Durante três séculos os cristãos, perseguidos pelo Império Romano, foram obrigados a manifestar sua fé nas catacumbas. Em 313, o imperador Constantino deu um golpe de mestre: devido à popularidade dos cristãos, aliou-se a eles. 
      A meu ver, a Igreja não converteu Constantino à fé cristã. Foi o imperador romano que converteu a Igreja às mordomias imperiais. É o que retratam as cartas de São Jerônimo. Os bispos passaram a merecer a honra de príncipes, e o papa se tornou monarca absoluto, a ponto de, em 800, o papa Leão III coroar o imperador Carlos Magno, fundador do Sacro Império Romano-Germânico, que dominou a Europa pelos sete séculos posteriores.
      Ao longo da história, Estado e Igreja sempre tentaram cooptar um ao outro, como o comprova o período colonial brasileiro até 1872, quando o imperador tinha a prerrogativa de nomear bispos.
      Na União Soviética, após tentativa fracassada de erradicar a religião, Stálin se empenhou em cooptar a Igreja Ortodoxa Russa, sem sucesso.
      Nos países capitalistas, fez-se um acordo de cavalheiros. O Estado concede privilégios à Igreja, como isenção de impostos e direito de manter escolas e universidades que mercantilizam a educação. A Igreja, por sua vez, adota obsequioso silêncio diante das mazelas e dos abusos do Estado.
      Atuei dez anos na retomada do diálogo entre governo e Igreja Católica em Cuba. Frente ao distanciamento crítico dos bispos em relação ao socialismo, certa vez um deles indagou se meu propósito era ver a Igreja apoiar a Revolução.
      Respondi que o papel da Igreja, segundo o Evangelho, não é dar apoio ou se opor ao Estado. É servir ao povo, sobretudo os mais pobres e excluídos, como fez e propôs Jesus. Caso o Estado oprima o povo, haverá inevitável conflito com a Igreja, como ocorreu no Brasil após a ditadura militar promulgar o AI-5. Caso o Estado sirva e promova o povo, haverá harmonia entre as duas instituições.
      O direito do pobre é o critério evangélico de avaliação do Estado. Nessa sociedade secularizada e plural, a Igreja não tem o direito de pretender impor seus preceitos por via da lei civil, nem querer reduzir os espaços de outras denominações religiosas.
      Uma Igreja que coloca seus interesses corporativos e patrimoniais acima das necessidades e dos direitos do conjunto da população não entendeu a proposta do Evangelho. Jesus foi enfático: “Vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (João 10, 10). Leia-se: alimentação, saúde, educação etc. para todos. Ele não disse: “Vim para privilegiar vida a meus discípulos, e os demais que se virem.”
      O aparelhamento do Estado por religiões é um retrocesso histórico que reacende fogueiras inquisitoriais.

Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
 Copyright 2018 FREI BETTO Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-losem qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) 

 http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.
Você acaba de ler este artigo de Frei Betto e poderá receber todos os textos escritos por ele - em português, espanhol ou inglês - mediante assinatura anual via mhgpal@gmail.com

terça-feira, 24 de julho de 2018

VIVER É CUIDAR




Por Marcelo Barros

Somos todos filhos e filhas do cuidado. Ninguém sobrevive sem ter, ao menos nos primeiros dias, uma pessoa que lhe garanta os cuidados necessários. Mesmo depois, a criança continua precisando de uma mãe ou/e pai. Na Índia, do século V antes de nossa era, Sidharta Guatama, o Buda, afirmava: "Todos/as somos chamados a olhar  a outra pessoa como uma mãe carinhosa olha o filho que está em seu útero".

Desde os tempos antigos até filósofos do século XX como Heidegger, compreenderam: o que mais define o ser humano não é a capacidade de pensar ("O ser humano é um animal racional). Nem é a possibilidade de criar. O ser humano se define, principalmente, pela vocação de cuidar.

Nos anos 60, o psicólogo Carl Rogers afirmava que nascemos indivíduos e, somente através da relação com os outros, nos tornamos pessoas. O que nos torna pessoas é a relação do cuidado, recebido e compartilhado.. O outro do qual devemos cuidar é todo ser humano. No entanto, é também a Terra, a água e todos os seres vivos, com os quais formamos o que Leonardo Boff denomina "a comunidade da vida".  

É urgente lembrar isso para compreender melhor as raízes da crise social e política em que estamos mergulhados. A sociedade contemporânea se desenvolveu muito no plano técnico e científico. Aprimorou a comunicação virtual e isso é maravilhoso. No entanto, nem o conforto proporcionado pela riqueza, nem as facilidades obtidas pelo computador e celular preenchem o imenso vazio que as pessoas sentem.

No século IV, Santo Agostinho orava a Deus: "O coração humano nunca se saciará enquanto não repousar em Ti". No entanto, atualmente, parece que a maioria das pessoas não se mostra tão interessada nessa relação. Provavelmente, um dos motivos foi que, no decorrer da história, muitas vezes, as religiões apresentaram a Deus como um ser distante da nossa vida. Falaram de uma divindade  todo-poderosa. Ensinaram que Deus é amigo de seus amigos e cruel com as pessoas que não o conhecem. Essas imagens mesquinhas de Deus afastaram dele grande porção da humanidade. E essa continua com fome e sede de amor.

Todo mundo quer ser feliz, mas procura a felicidade no consumo e na ambição do possuir. As pessoas correm atrás do lucro, da eficiência e da produtividade. Trocam a emoção genuína do bem-querer pelas conveniências sociais de boas maneiras. Preferem tirar fotografias e selfies aqui e ali, no lugar de conviver e curtir a natureza. No plano da Política, o fato de oito pessoas possuírem o equivalente à metade de toda a humanidade é considerado legal. Não se considera ilegal que governos europeus deixem migrantes africanos se afogarem no Mar Mediterrâneo. De junho a julho, agora, calculam-se em 600 pessoas afogadas pela rejeição dos governos europeus em resgatá-las vivas do mar. Nos Estados Unidos e no mundo, nesses meses, o presidente Trump jogou 3900 crianças latino-americanas, menores de dez anos, separados de seus pais, em campos de concentração. No mundo inteiro, isso provocou um sentimento de indignação, mas ninguém disse que esse louco e criminoso fere as leis vigentes.

O sistema dominante exilou a ética das discussões sobre o viver/l. Ao desprezar a ética como base da organização social, de certa forma, a sociedade humana deserta da própria possibilidade de vida tanto em comum, como mesmo no plano da sobrevivência pessoal e ameaça a continuidade da vida no planeta.

Quem crê em Deus sabe que o seu Espírito se manifesta em todo ato de cuidado e solidariedade. Muitas vezes, as Igrejas têm a pretensão de dizer aos cristãos e ao mundo como devem se comportar na totalidade de suas vidas. No entanto, elas fazem isso no plano da moral pessoal. No âmbito social e político, os que se dizem crentes se preocupam mais com a moralidade das relações pessoais do que com a ética da justiça e da paz. Atualmente, o papa Francisco tem insistido: a ética de Jesus se fundamenta no amor e na misericórdia. Na época de Jesus, muitos dos que representavam a religião usavam  Deus e a Bíblia para legitimar o seu poder e seus interesses sociais e econômicos. No Congresso Nacional, a chamada "bancada evangélica" se associa ao que há de pior na política brasileira para defender seus interesses. Lutam por pautas contra os direitos das minorias e a favor de liberar a venda de armas no Brasil. E vários deles se sentem com direito de entrar em negócios escusos, desde que o dinheiro da falcatrua seja colocado em uma empresa que tenha por nome Jesus.com

Sobre esses fariseus e escribas de hoje, católicos e evangélicos, o evangelho repete a palavra de Jesus: "esse povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim" (Mt 15, 8). E sem excluir os próprios discípulos, chegou a afirmar: "Em verdade vos digo, os publicanos e as prostitutas chegarão antes de vocês no reino dos céus" (Mt 21, 31). As sociedades indígenas da América Latina propõem como critério de organização social o Bem-viver. Esse paradigma parte do cuidado na relação interpessoal, na organização social e na busca da comunhão com o universo. É um caminho de espiritualidade ecumênica no qual contemplamos e testemunhamos o Espírito que, como diz o livro bíblico da Sabedoria, “enche todo o universo e está presente em toda relação humana” (Sb 1, 7). 


Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26 livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

A CAVERNA, O MONGE E A ESPIRITUALIDADE






                             Maria Clara Bingemer 


            Para quem anda descrente da humanidade, o recente episódio do resgate de doze adolescentes tailandeses de uma caverna inundada foi uma bela surpresa.  Uma onda de solidariedade se fez presente de um ponto a outro do planeta.  

Uma corrente de desejos e sentimentos positivos apontava de todas as partes na direção da caverna onde os meninos e seu treinador estavam confinados. O heroísmo de tantos, que vieram de outros países para ajudar no salvamento, foi admirável. Em época tão conturbada como a que vivemos, trata-se de um autêntico reencontro da humanidade consigo mesma, como disse a acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira em recente artigo. 

Os doze meninos e seu treinador permaneceram na caverna onde as fortes inundações os surpreenderam isolados por longos dias com comida escassa e em condições muito precárias. Quando foram encontrados, o mundo inteiro ficou impressionado por estarem em boas condições físicas naquela situação limite que viviam.  Mas, para além disso, chamaram mais ainda a atenção de todos pela calma e equilíbrio que demonstraram durante todo o processo de encontro, resgate e salvamento.

De um grupo de adolescentes que formavam um time de futebol seria normal esperar medo, pânico e agitação ao se perceberem confinados em uma caverna escura por vários dias, sem saber como fazer para sair dali e salvar-se.  A insegurança, aliada àescassez de recursos alimentícios e àexiguidade do espaço seco em meio àcaverna alagada, tudo contribuía para que os meninos estivessem abalados e vulneráveis.

No entanto, o que se viu foi um grupo de crianças calmas, vivendo a dificuldade pela qual passavam com um sorriso nos lábios e muita serenidade. Nenhum chorava ou tinha qualquer reação de angústia e aflição. E assim permaneceram ao longo de toda a operação de resgate com muita expectativas e adiamentos sem fim. 

Qual o segredo dessa paz, desse equilíbrio?  Que espírito adejava por aquela caverna a ponto de conseguir tranquilizar desta maneira doze crianças em perigo? Cremos que a resposta se encontra em algo que acompanha o ser humano desde suas origens e que ao longo da história tomou formas e configurações diversas e fascinantes: a espiritualidade.  Ou seja, a capacidade do ser humano de elevar-se além do sensorial e do racional, e experimentar a transcendência. 

No caso do time dos “Javalis Selvagens” que comoveu o mundo, parece que a fonte imediata daquele enfrentamento admirável de uma situação tão adversa encontra sua raiz na pessoa do treinador Ekapol Chanthawong. Foi ele quem os levouà excursão que acabaria isolando-os dentro da caverna.  Mas foi igualmente ele que os liderou no processo de resistência que lhes permitiu conservar a vida e as energias, de modo que pudessem ser salvos e reconduzidos a suas famílias. 

O treinador, antes de ocupar-se de times de futebol, foi monge budista e viveu desde os doze anos em um mosteiro.  Dali saiu para cuidar de sua avódoente. Ali também aprendeu as técnicas e o método da meditação budista durante uma década.  E quando saiu, levou consigo a espiritualidade que havia vivido no mosteiro. O mosteiro ficou gravado em seu interior  e o faz atéhoje manter contato com a comunidade que ali reside. Segundo o abade do mosteiro, Chanthawong continua meditando regularmente. 

Parece que, ao constatar a situação de isolamento em que se encontrava junto com os meninos, passou a ensinar-lhes a meditar.  O objetivo era mantê-los calmos e preservar suas energias enquanto ali estivessem.  Assim se passaram duas semanas. Cada um fazia uma hora de meditação ao dia, e isso os ajudou a resistir durante todo o tempo em que estiveram na caverna até serem encontrados e resgatados. 

Além de ajudar os meninos dando-lhes o que tem de melhor – sua espiritualidade – o treinador deu-lhes vida concreta retirada de sua própria vida. Jejuou e não se alimentou durante os dias de reclusão, a fim de que sobrasse mais dos poucos alimentos de que dispunha o grupo para os meninos.  E foi oúltimo a ser libertado e ver novamente a luz do sol. Certamente seus longos anos de ascese no mosteiro foram fundamentais nessa atitude e nessa prática. 

Neste momento, quando ainda vivemos, juntamente com a euforia da Copa do Mundo, o alívio e a alegria de ver a todos os personagens da caverna finalmente sãos e salvos, somos levados a refletir sobre a importância da espiritualidade para nossas vidas. 

A rica, admirável e milenar tradição budista pretende conduzir as pessoas em direção à iluminação e à paz de espírito. Poderia ter sido outra tradição.  O importante neste caso é perceber a grandeza de nossa condição humana.  Tão precária e frágil a ponto de contar com forças limitadas para sobreviver em situações difíceis.  Mas tão incrivelmente bela e elevada de forma a enfrentar grandes dificuldades graças ao espírito que anima uma corporeidade finita e mortal. 

O time dos Javalis Selvagens e seu treinador nos sinalizam algo da maior importância.  É preciso cultivar o espírito, investir na vida espiritual, seja em que tradição religiosa for, ou mesmo fora de qualquer uma.  Certamente faz a vida mais digna desse nome.  E pode ajudar-nos muito quando nos virmos isolados em alguma caverna escura e inundada sem vislumbrar saídas evidentes. 


Maria Clara Bingemer é teóloga, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio e autora de de “Simone Weil – Testemunha da paixão e da compaixão" (Edusc)

 Copyright 2018 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato: agape@puc-rio.br>


sexta-feira, 20 de julho de 2018

O DESAFIO ATUAL: CONTRA O ESTADO PÓS-DEMOCRÁTICO, RESGATAR A DEMOCRACIA




 Por Leonardo Boff  

Não são poucos os analistas sociais e juristas da maior qualidade que denunciam o atual situação política do Brasil como a instauração de um Estado de exceção. O golpe parlamentar,jurídico e mediático de 2016 permitiu que os golpistas passassem por cima da Constituição, modificassem as leis trabalhistas em favor dos patrões, engesassem o país com o teto de gastos, em saúde e educação, impedindo que se crie um Estado de Bem Estar Social.
A justiça deixou de ser imparcial e, mesmo nos níveis mais altos, mostra ter lado, contra o PT e a figura carismática de Lula. O que o juiz federal de primeira instância Sérgio Moro faz, é a aplicação deslavada do lawfare e não esconde o ânimo persecutório ao ex-Presidente, condenando-o sem provas materiais irrefutáveis. Por isso é considerado um prisioneiro político..
Importa observar que este tipo de política obedece a uma ampla estratégia pensada a partir dos interesses do Império com os aliados internos de nosso pais. O Brasil é decisivo em termos de geopolitica e de abundantes bens e serviços naturais, capazes de garantir a base físico-química que sustenta o sistema-vida e o sistema-Terra, já em alto gru de erosão.
O golpe foi dado sob a égide do mais rigoroso neoliberalismo e da voracidade do capital especulativo de cariz capitalista que domina a políitica no mundo inteiro.
É sabido que a ordem capitalista, por seu individualism e a fúria de acumulação nunca se deu bem coma democracia. Se democracia implica mais que o direito de votar, mas de buscar a igualdade de todos os cidadãos com referência às leis, aos direitos basicos, à justiça social e às garantias fundamentais, devemos dizer que ela é antes um engodo que uma realidade. A democracia moderna se construiu como representativa de toda a sociedade. Na verdade, em geral, representou os interesses dos poderosos e sub-representou os do povo trabalhador ou pobre.
Dados de várias entidades sérias nos relatam que cerca de 8 bilhardários controlam grande parte da economia mundial, deixando milhões e milhões na pobreza e na fome. Como a lógica capitalista é a competição e não a solidariedade, entramos numa era de barbárie e de grande desumanidade,
Esse tipo de capitalismo necessita de demcracias de baixíssima intensidade, com um Estado submetido ao mercado, com a menor participação popular possível. A estratégia dos países capitalistas visam a recolonizar a América Latina e o Brasil condenados a ser meros exportadores de commodities (alimentos, minérios e outros)
O golpe de 2016 foi dado com esse propósito, em si, anti-patriótico, anti-popular e profundamente injusto, em benefício dos endinheirados e herdeiros da Casa Grande. Esse golpe liquidou com o Estado democrático de direito. Guardou as aparências e as instituições. Mas não funcionam como a Constitição prevê ou funcionam sem imparcialidade.
Inaugurou-se o “pós-Estado democrático”, categoria usada por Rubens Casara, juz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e professor universitário, com notável capacidade teórica de pensar o desastre da democracia brasileira e sua ideologia subjacente. Agora vigora de fato um Estado de exceção, à moda do jurista alemão Carl Schmitt (1888-1985) que justificava o regime de Hitler,pois para ele o critério do político reside na definição do inimigo a ser satanizado e destruido (cf. O conceito do político,Vozes 1992,51-53). Acima de todas as leis está o “Führer” ou o “Ducce”, que sempre têm razão.
A consequência se lê no sub-título do livro:”neo-obscurantismo e gestão dos indesejáveis”. Quer dizer, mantem-se a farsa democrática e se castigam os mais pobres, pois são indesejáveis ao sistema de acumulação e de consumo.
O desafio atual consiste em resgatar a democracia mínima (nem aquela “sem fim” de Boaventura de Souza Santos ou como “valor universal” de Norberto Bobbio, nem a democracia “sócio-ecológica” de Zaffaroni e minha) mas simplesmente a pura e simples democracia, expressa no Estado Democrático de Direito. Devemos repudiar o Estado pós-democrático como excrecência da democracia e outro nome para o regime de exceção.
Leonardo Boff escreveu: “Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependência”, Vozes 2018.


quinta-feira, 19 de julho de 2018

O BRASIL SAIRÁ DO BURACO?




por Frei Betto

         Em ano de eleição presidencial mais importante do que discutir qual o melhor candidato é debater que projeto queremos para o Brasil superar a atual crise agravada pelo desastrado governo Temer, que fez o país voltar 20 anos em dois. 

         Não acredito em saídas para a crise de olho apenas nos índices do mercado financeiro. Como falar em melhoras na economia se o PIB recua, o desemprego aumenta, a dívida pública e a inflação sobem e o dólar vai às alturas?

         Para o Brasil sair do buraco, ou seja, livrar toda a sua população dos apertos atuais, é preciso isentar de impostos todos que ganham até 10 salários mínimos por mês, de modo a aquecer a demanda interna. E taxar o imposto de renda em 10% para quem recebe de 10 a 20 salários mínimos por mês; 20 para quem ganha de 20 a 30; 30 para os remunerados de 30 a 40 salários mínimos; e 40% de taxação para todos que embolsam mais de 40 salários mínimos por mês.

         Há que imprimir progressividade também no pagamento do IPTU. Quem aluga imóvel ficaria livre de IPTU. Quem possui até três imóveis, com menos de 150 m2 cada um, deveria merecer um acréscimo de 20%. Acima desta área, 30%. Para quem tem até cinco imóveis, 40%. E para quem é dono de mais cinco, seja qual for o tamanho, acréscimo de 60%. 
         Isso reduziria a especulação imobiliária. O Brasil tem um déficit de 6,2 milhões de moradias. E há 7 milhões de imóveis vazios, incluídos os que são ocupados por breve espaço de tempo ao longo do ano, como os situados em beira de praias.

         As propriedades agrícolas não produtivas deveriam merecer 50% de aumento no imposto rural. Este imposto seria progressivo em mais 10% a cada ano. Ao atingir 100%, e comprovada a improdutividade, o imóvel rural seria confiscado para efeito de reforma agrária. 

         Todos os recursos privados remetidos ao exterior deveriam ser taxados em 40%, bem como as fortunas acima de R$ 2 milhões. Quem possui dois veículos de transporte individual pagaria 50% a mais no IPVA. Em contrapartida, as passagens de transportes coletivos seriam reduzidas pela metade.

         Cobrança imediata de todas as dívidas com o INSS e a Receita Federal. Auditoria das dívidas pública e externa. Todas as empresas privadas envolvidas em corrupção passariam a ter 49% de seu controle acionário em mãos do poder público. 

         Fim do foro privilegiado em todas as instâncias; do auxílio moradia para quem possui imóvel no município em que trabalha; do auxílio “salsicha” (refeições e lanches) em todas as instâncias da administração pública; e de uso de veículos oficiais, exceto para os presidentes dos três poderes republicanos.

         Com tais medidas, o Brasil teria recursos suficientes para aprimorar seus sistemas de saúde e educação e reimplantar políticas sociais que assegurem inclusão social da população empobrecida. 

Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros livros.

  Copyright 2018 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) 

 http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.
Você acaba de ler este artigo de Frei Betto e poderá receber todos os textos escritos por ele - em português, espanhol ou inglês - mediante assinatura anual via mhgpal@gmail.com



quarta-feira, 18 de julho de 2018

08 DE JULHO de 2018: OS OLHOS DE MILHÕES SE ABRIRAM NESTE DOMINGO



Por Artur Peregrino*

Acabo de chegar de uma peregrinação (de 01 a 08 de julho) no Baixo São Francisco, Estado de Sergipe. Éramos 10 peregrinas e peregrinos que caminhamos em um raio de 100 quilômetros em direção a foz do Rio São Francisco. Escutamos muito a população. No que toca a questão da prisão de Lula é impressionante. Ainda na estrada percebi uma vibração do povão, pé no chão, que vibrou com a possibilidade de Lula ser solto. A vibração não vinha de estudantes universitários ou militantes. Mas vinha do povo “lascado”. Vimos claramente que os pobres não abandonaram Lula.

Com o episódio que assistimos nesse domingo percebemos que no Brasil, a Justiça e o direito perderam muito neste processo. Tivemos mais um abusivo desrespeito ao devido processo legal e aos direitos e garantias individuais. Ficou escancarada a manipulação do sistema judicial contra um cidadão. Lula não saiu, mas está maior ainda na sua luta contra o arbítrio e a injustiça.

Alguns juízes abandonaram todos os princípios da magistratura, rasgaram a toga e golpearam fortemente e mais uma vez o frágil estado democrático de direito no país. E isso tudo acontecendo com o STF assistindo de camarote. Se alguém, das pessoas que acompanha minimamente a política, tinha dúvida que estamos vivendo o reino da mais completa arbitrariedade agora não tem mais dúvida. Fica muito claro que estamos vivendo um golpe sem máscaras. O golpe é um ato de violação aos direitos básicos do povo. E que está se concentrando    em um dos maiores líderes populares da história do Brasil.

O país se incendiou nesse domingo com a decisão do desembargador Rogério Favreto. As elites não aguentam ver Lula solto. Foi ficando claro que a decisão do desembargador não se concluiu por questão política. O caso do juiz Moro (juiz de primeiro piso) é de insubordinação judicial. É um claro descumprimento de regras judiciais. É algo profundamente escandaloso. Aprofundou-se uma fissura histórica no âmbito das instituições.

Hoje há uma anarquia do poder judiciário no Brasil. Isso porque um juiz de primeira instância manda no país, manda no judiciário e manda na polícia federal. Manda desobedecer uma ordem de hierarquia superior. Estão brincando de atirar fogo no país.

Estamos vivendo uma violenta ilegalidade jurídica. A constituição brasileira está sendo pisoteada. Pisotearam o que restava do sistema de justiça. Claramente o Brasil vive sobre um regime de exceção. O regime de exceção numa ditadura aberta está em curso no Brasil. Estamos vivendo um tipo de ditadura do século XXI. O golpe de 2016 arrebentou a Carta Magna de 1988 e está destruindo o estado democrático de direito que já se encontra em um estado avançado de destruição.

O que percebemos é que as condições políticas que determinam a hegemonia das forças conservadoras, seja no aparato do Estado ou seja no sistema de justiça, estão se deteriorando com muita rapidez. O que é o Partido do Golpe?

O Partido do Golpe é formado de cinco fatores: a. pelos partidos tradicionais de direita, sobretudo o DEM e o PSDB; b. pelo capital financeiro; c. pelos meios monopolistas de comunicação (da grande mídia opressiva); d. pelo sistema de justiça; e. pelo imperialismo norte americano. A confluência desses cinco fatores é clara: tem que tirar Lula do páreo eleitoral. Por isso é correto não abrir mão da candidatura do Lula em quaisquer circunstâncias.

Quais são as forças que querem manter Lula preso? Até que ponto o sistema jurídico brasileiro pode suportar a sua completa desmoralização? O medo do Lula não é outra coisa a não ser ver o Brasil, de novo, ser governado para os menos favorecidos, para os miseráveis, para os invisíveis.

Importante destacar que a Fundação Internacional dos Direitos Humanos, organismo não-governamental sediado em Madri (Espanha) com presença em 15 países, emitiu uma declaração no domingo (8) em que diz que passa a considerar o ex-presidente Lula como “prisioneiro de consciência” em razão do não cumprimento do habeas corpus concedido pelo desembargador. Essa percepção já se alarga no mundo: Lula é um prisioneiro político. A farsa foi descoberta: o caráter político da prisão de Lula que não tem nenhuma base jurídica. Esse acontecimento ajudou milhões de pessoas abrirem os olhos. No Brasil, a democracia precisa ser reinventada. O Papa Francisco ao reunir-se com os movimentos sociais latino-americanos em Santa Cruz de la Sierra na Bolívia, lançou um desafio: não esperem nada de cima pois virá sempre mais do mesmo; sejam vocês mesmos os profetas do novo, organizem a produção solidária, especialmente a orgânica, reinventem a democracia.



* Doutorando em Ciências da Religião pela UNICAP e Mestre em Antropologia pela UFPE; Licenciado em Filosofia pela UNICAP; Bacharelado em Filosofia pela UNICAP e Bacharelado em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife - ITER; Especialista (SENAC) e docente (UNICAP) em EaD; prof. do Curso de Teologia na UNICAP e integrante do Instituto Humanitas - IHU UNICAP; prof. Extensionista; pesquisador do Grupo de pesquisa UNICAP/CNPq Religiões, identidades e diálogos, na linha de pesquisa Diálogos inter-religiosos; membro do Grupo de Peregrinas e Peregrinos do Nordeste – GPPN. Email: arturperegrino@gmail.com