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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Cultura do Egoísmo



por Frei Betto



      É bem conhecida a Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37), provavelmente baseada em um fato real. Um homem descia de Jerusalém a Jericó. No caminho, foi assaltado, espoliado, surrado, e deixado à beira da estrada. Um sacerdote por ali passou e não o socorreu. A mesma atitude de indiferença teve o levita, um religioso. Porém, um samaritano – os habitantes da Samaria eram execrados pelos da Judeia –, ao avistar a vítima do assalto, interrompeu sua viagem e cobriu o homem de cuidados.

      Jesus narrou a parábola a um doutor da lei, um teólogo judeu que sequer pronunciava o vocábulo samaritano para não contrair o pecado da língua... E levou o teólogo a admitir que, apesar da condição religiosa do sacerdote e do levita, foi o samaritano quem mais agiu com amor, conforme a vontade de Deus.
      Na Itália, jovens universitários expuseram à beira da estrada cartaz advertindo que, próximo dali, um homem necessitava ser urgentemente transportado a um hospital. Todos os motoristas eram parados adiante pela Polícia Rodoviária para responderem por que passaram indiferentes. Os motivos, os de sempre: pressa, nada tenho a ver com desconhecidos, medo de doença contagiosa ou de sujar o carro.
      Quem parou para acudir foi um verdureiro que, numa velha camionete, transportava seus produtos à feira. Comprovou-se que os pobres, assim como as mulheres, são mais solidários que os homens burgueses.
      Em uma escola teológica dos EUA, seminaristas foram incumbidos de fazer uma apresentação da Parábola do Bom Samaritano. No caminho do auditório ficou estendido um homem, como se ali tivesse caído. Apenas 40% dos seminaristas pararam para socorrê-lo. Os que mais se mostraram indiferentes foram os estudantes advertidos de que não poderiam se atrasar para a apresentação.  No entanto, se dirigiam a um palco no qual representariam a parábola considerada emblemática quando se trata de solidariedade.
     A solidariedade é uma tendência inata no ser humano. Porém, se não for cultivada pelo exemplo familiar, pela educação, não se desenvolve. A psicóloga estadunidense Carolyn Zahn-Waxler verificou que crianças começam a consolar familiares aflitos desde a idade de um ano, muito antes de alcançarem o recurso da linguagem.
      A forma mais comum de demonstrar afeto entre humanos é o abraço – dado em aniversários, velórios, situações de alegria, aflição ou carinho. Existe até a terapia do abraço.

      Segundo notícia da Associated Press (18/06/2007), uma escola de ensino médio da Virginia, EUA, incluiu no regulamento a proibição de qualquer contato físico entre alunos e entre alunos e professores. Hoje em dia, em creches e escolas dos EUA educadores devem manter distância física das crianças, sob pena de serem acusadas de pedofilia...
      As crianças e os grandes primatas – nossos avós na escala evolutiva – são capazes de solidariedade a pessoas necessitadas. É o que comprovou a equipe do cientista Felix Warneken, do Instituto Max Planck, de Leipzig, Alemanha (2007). Chimpanzés de Uganda, que viviam soltos na selva, eram trazidos à noite ao interior de um edifício. Um animal por vez. Ele observava um homem tentando alcançar, sem sucesso, uma varinha de plástico através de uma grade. Apesar de seus esforços, o homem não conseguia pôr as mãos na varinha. Já o chimpanzé ficava em um local de fácil acesso à varinha. Espontaneamente o animal, solidário ao homem, apanhava a varinha e entregava a ele.
      É bom lembrar que os chimpanzés não foram treinados a isso nem recompensados por assim procederem. Teste semelhante com crianças deu o mesmo resultado. Mesmo quando a prova foi dificultada, obrigando crianças e chimpanzés a escalar uma plataforma para alcançar a varinha, o resultado foi igualmente positivo.
      A 16 de agosto de 1996, Binti Jua, gorila de oito anos de idade, salvou um menino de três anos que caíra na jaula dos primatas no zoológico de Chicago. O gorila sentou em um tronco com o menino no colo e o afagou com as costas da mão até que viessem buscar a criança. A revista Time elegeu Binti uma das “melhores pessoas” de 1996...
      Frente a tais exemplos, é de se perguntar o que a nossa cultura, baseada na competitividade, e não na solidariedade, faz com as nossas crianças e que tipo de adultos engendra. Os pobres, os doentes, os idosos e os necessitados que o digam.


Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.

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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Duas forças em tensão: a auto-afirmação e a integração



Por Leonardo Boff


     Biologicamente nós humanos, somos seres carentes (Mangelwesen). Não somos dotados de nenhum órgão especializado que nos garanta a sobrevivência ou nos defenda de riscos, como ocorre com os animais. Alguns biólogos chegam a dizer que somos “um animal doente”, um “faux pas”, (um passo em falso), uma “passagem” (Übergang) para outra coisa, por isso nunca fixado, inteiros mas  incompletos.

     Tal verificação nos obriga a continuamente a garantir a nossa vida, mediante o trabalho e a inteligente intervenção na natureza. Deste esforço, nasce a cultura que organiza de forma mais estável as condições  infra-estruturais e também humano-espirituais para vivermos humanamente em sociedade.

      Acresce ainda outro dado, presente também em todos os seres do universo, mas que no nível humano ganha especial relevância. Vigoram duas forças: a primeira é  auto-afirmação, a segunda, a integração. Elas atuam sempre em conjunto num equilíbrio difícil e sempre dinâmico.

      Pela força da auto-afirmação cada ser se centra em si mesmo e seu instinto é conservar-se, defendendo-se contra todo tipo de ameaça contra sua integridade e a sua vida. Ninguém aceita morrer. Quer viver, evoluir e se expandir. Essa força explica a persistência e a subsistência do indivíduo.

      Precisamos neste ponto superar totalmente o darwinismo social segundo o qual somente os mais fortes e adaptáveis triunfam e permanecem. Essa é uma meia verdade que está na contramão do processo evolucionário. Este não privilegia os mais fortes e adaptáveis. Se assim fora, os dinossauros estariam ainda entre nós. O sentido da evolução é permitir que todos os seres, também os mais vulneráveis, expressem virtualidades latentes dentro da evolução. Esse é  o valor da interdependência de todos com todos e da solidariedade cósmica. Todos, fracos e fortes, se entreajudam para coexistir e coevoluir. 

      Pela segunda força, a da da integração, o indivíduo se descobre envolto numa rede de relações, sem as quais,  sozinho como indivíduo, não viveria nem sobreviveria. Existe o individuo mas ele vem de uma família, se insere num grupo de trabalho, mora numa cidade e habita um país com um tipo de organização social. Ele está ligado a toda esta cadeia de relações. Assim todos os seres são interconectados e vivem uns pelos outros, com os outros e para os outros. O indivíduo se integra, pois, por natureza, num todo maior. Mesmo que o indivíduo morra, o todo garante que a espécie continue permitindo que outros representantes venham a nos suceder. 

      Sabedoria humana é reconhecer o fato de que chega certo momento na vida no qual  a pessoa deve se despedir para deixar o lugar, até fisicamente,  a outros que virão.

      O universo, os reinos, os gêneros e as espécies e também os indivíduos humanos se equilibram entre estas duas forças: a da auto-afirmação do indivíduo e a da integração num todo maior. Mas esse processo não é linear e sereno. Ele é tenso e dinâmico. O equilíbrio das forças nunca é um dado, mas um feito a ser alcançado a todo o momento. 

      É aqui que entra o cuidado responsável. Se não cuidarmos ou pode prevalecer a auto-afirmação do indivíduo à custa de uma insuficiente integração e então predomina a violência e a autoimposição ou, ao contrário, pode triunfar a integração a preço do enfraquecimento e até anulação do indivíduo e então ganha a partida o coletivismo e o achatamento das individualidades. O cuidado aqui se traduz na justa medida e na autocontenção para não privilegiar nenhuma destas forças.

      Efetivamente, na história social humana, surgiram sistemas que ora privilegiam o eu, o individuo, seu desempenho, sua capacidade de competição e a propriedade privada como é o caso da ordem capitalista ou ora  prevalece o nós,  o coletivo, a cooperação e a propriedade social como é o caso do socialismo real que foi ensaiado na União Soviética e ainda persiste, em parte, na China. 

       A exacerbação de uma destas forças em detrimento da outra, leva a desequilíbrios, conflitos, guerras e tragédias sociais e ambientais. Com referência ao meio ambiente tanto o capitalismo quanto o socialismo foram depredadores e pioraram as condições de vida da maioria das populações. Em ambos os sistemas o cuidado responsável desapareceu para dar lugar à vontade de poder, ao enfrentamento entre ambos e até a brutalidade nas relações mundiais visando a corrida armamentista e a dominação do curso do mundo.

     Qual é o desafio que se dirige ao ser humano? É o cuidado responsável de buscar o equilíbrio construído conscientemente e fazer desta busca um propósito, uma atitude de base e até um projeto político. Portador de consciência e de liberdade, o ser humano possui esta missão que o distingue dos demais seres. Só ele pode ser um ser ético, um ser que cuida de si e que se responsabiliza pela comunidade de vida. Ele pode ser hostil à vida, colocar-se, como indivíduo dominador, sobre as coisas. Mas pode ser também o anjo bom que se sente integrado na comunidade de vida, junto com as coisas. Depende de seu empenho manter o equilíbrio entre a auto-afirmação e a integração num todo e não permitir que forças dilaceradoras dirijam a história.

     Por ser ético, coloca-se ao lado daqueles que tem dificuldades em se autoafirmação e assim sobreviver e impedir uma integração que destrói as individualidades em nome de um coletivo  amorfo. Eis uma síntese sempre a ser construida.

Leonardo Boff escreveu: O despertar da águia: o sim-bólico e o dia-bólico na construção do real, Vozes 2010.
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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MARE NOSTRUM

 Por Maria Clara Lucchetti Bingemer


  
          Mare Nostrum era o nome dado pelos romanos ao Mar Mediterrâneo, que unia e comunicava África e Europa. Muitos se utilizaram desta nomenclatura para denominar o mar de tantas conquistas e glórias.  Desde os nacionalistas italianos, que acreditavam que a península em forma de bota era sucessora direta do Império Romano, proprietária de todos os seus territories, até Benito Mussolini, que na sua propaganda fascista reivindicava a posse do Mediterrâneo como Duce.

          Quando a Itália entrou na Segunda Guerra Mundial, o país já era uma das principais potências mediterrâneas e controlava as costas sul e norte da bacia central.  A ocupação da França eliminou a principal ameaça ao país, e a invasão da Albânia, da Grécia e do Egito estendeu o controle das forças do Eixo, formado por Alemanha e Itália até a região oriental do mar. O sonho de Mussolini era, através do Mare Nostrum, promover um Império Italiano que iria do Egito até o oceano Indico, a Somália e o Quênia. Esses sonhos de poder, no entanto, foram derrotados pelas marinhas aliadas e o projeto nazifascista nunca foi realizado, desaparecendo com a derrota final em 1943.

        Ultimamente o Mediterrâneo, Mare Nostrum, tem sido foco novamente do noticiário.  Mas não para contar vitórias e glórias militares.  Macabra e tristemente vem se transformando em autêntico cemitério.  Não há dia em que não se leia ou escute a história terrível de embarcações que naufragam com dezenas ou mesmo centenas de imigrantes que buscam o solo italiano com a esperança de  construir um futuro melhor.

          A ilha de Lampedusa, no arquipélago das Ilhas Pelágias, no Mediterrâneo, vem sendo vista e concebida como paraíso turístico, bem como local de desembarque de imigrantes clandestinos vindos do norte da África, etíopes e de outros países.

          O paraíso turístico transformou-se em cemitério, o poderoso Mare Nostrum em túmulo de várias centenas de pessoas anônimas, que sepultam seu sonho europeu nas águas profundas e azuis, sem esperança de volta. Muitos atravessam em condições precárias e perigosas. E acabam encontrando a morte.  Preferem esse risco à vida de miséria e indigência que levavam.

          O Papa Francisco, fiel à sua missão de ser embaixador da misericórdia de Deus, foi à ilha denunciar a globalização da indiferença e convocar a um despertar das consciências. Foi sua primeira viagem apostólica e é significativo que tenha escolhido Lampedusa para a primeira viagem apostólica de seu pontificado.

          Em suas palavras, foi ali para “chorar os mortos que ninguém chora”, aqueles que se evadem de suas terras, no Oriente Médio e no norte da África. Acompanhado apenas de seus secretários particulares, percorreu de barco parte da costa até a Porta da Europa, monumento erguido em memória de todas as vítimas de naufrágios.

          Mas não só de lágrimas e de luto foi feita a visita do Papa.  Também de denúncia profética e convocação enérgica. Ressaltando o fato de Lampedusa ser exemplo para o mundo por ter a coragem de acolher aqueles que chegam em busca de uma vida melhor, criticou os traficantes e mercadores de vida, que exploram a pobreza alheia, cobrando por uma travessia que muitas vezes desemboca na morte.

     As lágrimas do Papa desejavam provocar as nossas, tirar-nos da indiferença em que estamos mergulhados diante dos que fogem da escravidão, da fome e encontram a morte no fundo do mar.

      A orgulhosa e aristocrática Europa treme, amedrontada.  Já mal consegue administrar sua crise interna. Deverá também acolher estrangeiros que vêm colocar em risco o conforto e o “status” de vida de seus habitantes?  A xenofobia cresce e os movimentos de exclusão se consolidam. Desde janeiro, 4 mil imigrantes chegaram à ilha, número três vezes maior do que os que ali aportaram em 2012.

       Não pode ser chamado de nosso (nostrum) um mar que sepulta vidas humanas em vez de transportá-las aos lugares desejados como espaços de liberdade.  Não pode ser orgulho de uma ou das várias nações que suas águas banham esse mar onde tantos futuros foram afogados. 

     Para que seja nosso, o Mediterrâneo tem que ser de todos, e estar ao serviço do trânsito, do ir e vir das pessoas que buscam uma vida melhor e menos sofrida. Essa é a verdadeira vitória: a da vida.  Não a do egoísmo que deseja acumular bem estar e riqueza com a exclusão das vítimas do progresso e dos estrangeiros das benesses socioeconômicas.  

    Mare Nostrum, devolve seus mortos, para que tenham sepultura digna e  possam interpelar aqueles cuja consciência ainda não está totalmente adormecida.
          
Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio/  A   teóloga é autora de “Crônicas de cá e de lá” (editora Subiaco), que  pode ser  encomendado diretamente pelo e-mail –  agape@puc-rio.br

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Eleição 2014 e a Religião




Por Frei Betto


      Na campanha presidencial de 2014, veremos reprisar o que tanto afetou a de 2010: o fator religioso. O debate em torno da questão do aborto assumiu muito mais importância do que demandas urgentes, como melhoria da saúde e da educação, ou projetos de emancipação nacional, como a reforma agrária e a preservação da Amazônia.

       O aborto e outros temas ligados aos direitos reprodutivos e à sexualidade são apenas o biombo que encobre algo muito mais ameaçador: o fundamentalismo religioso como força política.
       A globocolonização neoliberal, ao se impor ao planeta hegemonizada pelo capitalismo como sistema ideal de sociedade, se chocou com princípios religiosos de Estados e sociedades islâmicas que não distinguem laicidade e religiosidade.

       No Brasil, embora a “questão religiosa” esteja formalmente equacionada desde o século XIX, quando houve a separação oficial entre Igreja e Estado, há um óbvio ressurgimento da apropriação do espaço público por instituições religiosas.

       Não cabe aqui a distinção dicotômica entre esfera pública reservada ao Estado e a esfera privada à religião. Público e privado são duas faces de uma mesma moeda e, embora diferenciadas, não podem ser separadas.

       A religião goza, sim, do direito de expressão pública e de recusar ao Estado o monopólio do controle da sociedade. Porém, assim como o Estado, à luz da laicidade moderna, não tem o direito de “professar” uma religião e atuar contra o pluralismo religioso, não se pode admitir que a religião se aproprie do Estado para universalizar, via legislação civil e mecanismos de controle, seus princípios e normas doutrinários.

       O fundamentalismo religioso nasceu nos EUA, no início do século XX, com o objetivo de evitar a erosão, pelo secularismo, das crenças fundamentais da tradição protestante, como a expiação substitutiva realizada pela morte de Jesus e o seu iminente regresso para julgar e governar o mundo, e a infalibilidade da Bíblia tomada em sua literalidade, como a criação direta do mundo e da humanidade por Deus, em oposição ao evolucionismo e ao darwinismo.

       Em meados do século passado, os fundamentalistas cristãos se convenceram de que não bastava pregar no interior dos templos e converter corações e mentes. Era preciso impor à sociedade tudo isso que concorre para o “bem dela”, como a criminalização do aborto e da homossexualidade, do uso do álcool e do fumo, do entretenimento pornográfico, e até mesmo de projetos que visam a reduzir a desigualdade social, considerada reflexo da vontade divina.

       Tal empreitada só é possível pelo controle das instituições políticas que, de fato e de direito, decidem o que é legal (bem) e o que é ilegal (mal) ao conjunto da sociedade. Um pastor ou padre pode convencer seus fiéis de que ingerir bebidas alcoólicas é contrário ao mandamento divino. Um governante pode muito mais: decretar a lei seca e entregar às garras da Justiça todos que produzirem e comercializarem produtos etílicos.

       Nos nichos religiosos fundamentalistas do Brasil, se choca o ovo da serpente, à semelhança do que ocorre em países em que princípios derivados de tradições religiosas dispensam a formalidade de um texto constitucional e nos quais não se concebe uma laicidade independente da religiosidade.
       Até agora os possíveis candidatos à Presidência da República em 2014 ensaiam seus discursos na defesa do governo petista, na crítica a este governo ou na promessa de aprimorar o que já se fez, como as políticas sociais. Por enquanto, trata-se de obter meios, como coligações partidárias que assegurem mais tempo de campanha eleitoral na TV e posterior condições de governabilidade.

       Ano que vem, definidas as candidaturas, elas terão de tratar também dos fins, ou seja, dizer a que vieram e para que vieram. Aí é que a porca torce o rabo. Na caça aos votos, os candidatos serão pressionados pelos lobbies religiosos, que se julgam os únicos intérpretes da vontade divina, a darem mais importância à temática do moralismo farisaico, que insiste na pureza das mãos sem que se abram os braços aos pobres e excluídos caídos à margem da sociedade, na contramão do que ensina a Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37).

 Frei Betto é escritor, autor de “Fome de Deus – fé e espiritualidade no mundo atual” (Paralela), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.
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