por Marcelo Barros
Para
a maioria dos brasileiros, 12 de outubro lembra o dia das crianças. Para quem
tem tradição católica, é a festa de Nossa Senhora Aparecida. No Brasil, é menos
comum lembrar que, nesse dia, se celebra a memória da conquista da América
pelos espanhóis e portugueses. Na maioria dos países da América Latina, ao
invés de destacar a colonização e a conquista, o calendário prefere chamar 12
de outro “o dia da raça”, isso é o dia da resistência dos povos indígenas. Essa
resistência foi heroica e admirável, mas, atualmente, temos a celebrar um passo
a mais do que a simples resistência. É a construção de algo novo que une todos
os países da América Latina e Caribe em uma única pátria grande, no respeito às
autonomias locais de cada nação e cria uma irmandade solidária entre todos os
latino-americanos e caribenhos. Nesse sentido, talvez, em breve, o 12 de
outubro deixe de lembrar apenas a resistência das etnias autóctones e passe a
comemorar a integração bolivariana dos povos da América Latina e Caribe. De
poucos anos para cá, a partir da liderança e do empenho pessoal do presidente
Hugo Chávez, nós, latino-americanos de todos os países, temos a ALBA (Aliança
Bolivariana para as Américas), a UNASUR (União das Nações Sulamericanas), CELAC
(Comunidade de estados latino-americanos e caribenhos), sem falar no BANSUR
(Banco do Sul) e na TELESUR, um canal de televisão que tem como lema: “O nosso
norte é o sul” e já transmite para vários países da América Latina e Caribe,
com uma programação não centrada na violência, ou predominantemente no
noticiário policial de cada dia como fazem as nossas televisões brasileiras e
sim nos acontecimentos culturais, sociais e políticos de nossos povos.
O
cientista político Boaventura de Sousa Santos tem afirmado: “A América Latina
tem sido o continente, onde o socialismo do século XXI entrou na agenda
política”. E o professor português afirma que esse novo processo social e
político, que transforma a história de países como Bolívia, Equador, Venezuela
e outros, tem três etapas ou dimensões importantes: 1º - a libertação do
colonialismo, seja europeu e norte-americano, seja interno. 2º - o
aprimoramento e até radicalização da democracia, completando a democracia
parlamentar com processos de democracia participativa na qual as comunidades de
bairro e organizações de base podem participar das decisões políticas do Estado.
Finalmente o 3º elemento é o caminho concreto para um novo socialismo,
alcançado através da reforma agrária, de uma mais profunda e justa distribuição
de renda e outros instrumentos conquistados de forma democrática e cidadã.
Evidentemente, esse caminho não se faz sem
enfrentar imensas dificuldades e oposições. É tarefa urgente das Igrejas e
grupos espirituais testemunharem que, de acordo com a revelação divina, o amor
de Deus, justamente por ser universal e ofertado a todos, coloca-se sempre do
lado dos empobrecidos e injustiçados. Conforme uma parábola de Jesus, no dia em
que julgará o mundo, ele dirá às pessoas que, mesmo sem crer, forem solidárias
aos sofredores: “Vinde, benditos do meu pai. Tomai posse do reino para vós
preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 31 ss). Por isso, na América Latina
de hoje, o Espírito Divino é bolivariano e conduz nossos povos a uma integração
nova e libertadora.
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos
quais “O Espírito vem pelas Águas",
Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário