Por Marcelo Barros
Nesses
dias, muitas pessoas procuram oráculos que consultam búzios ou cartas para
predizer como será o ano novo. A busca por uma vida mais feliz e de paz é justa
e Deus abençoa. A Bíblia guardou a memória de pessoas que procuravam prever o
futuro. Uma das mais antigas profecias da vinda do Messias foi feita por
Balaão, vidente estrangeiro que profetizou para o povo de Israel a vitória
sobre seus inimigos (Livro dos Números, 22 – 24).
Desde
os tempos antigos, no mundo inteiro, muitas comunidades festejam a mudança de
ano com um banho regenerador que simboliza renovação interior. Até hoje,
multidões se aglomeram nas praias para saudar o novo ano. Em outras culturas,
as pessoas vestem roupas novas para simbolizar que assumem posturas novas de
vida. Há também regiões nas quais o ano novo é celebrado com refeições
cultuais. Existem alimentos específicos do ano novo, como, por exemplo, em
alguns países da Europa, saborear ostras. Estas vêm fechadas e se abrem, assim
como o mistério do tempo que, no 1º de janeiro, pode iniciar uma época nova
para quem a acolhe.
Todos
esses costumes são válidos, desde que não vivamos o ano novo apenas como um dia
que o calendário traz e, assim como chegou, em breve, terá passado. As Igrejas
cristãs costumam falar em “ano da graça de 2014”. É um modo de dizer que o
importante do tempo não é a contagem quantitativa, mas a sua densidade. Paulo
escreveu à comunidade cristã de Roma que “a escuridão da noite quase passou e o
dia está chegando. Devemos, então, ser como pessoas que despertam na madrugada
e organizam suas vidas não como quem vive na escuridão e sim à luz do dia (Rm
13, 13). É um modo de dizer que temos de ser lúcidos (o próprio termo lucidez
vem de luz), aprimorar o espírito crítico e refinar a consciência para saborear
a vida como algo sempre novo e que nos leva à comunhão com os outros e com a
natureza.
Na
Bíblia, com o passar do tempo, aqueles que o povo bíblico chamava de videntes e
adivinhos passaram a ser chamados de profetas. O profeta ou profetiza procura
não somente predizer a sorte das pessoas, mas descobrir qual a promessa de Deus
para o tempo novo que se aproxima. Em geral, eles se preocupam com a vida, a
saúde e o bem estar de cada pessoa, mas ligam isso com a vida e o bem de todo o
povo. Desde os tempos imemoriais, as festas de mudança do ano dão lugar a
predições, mas também a promessas e desejos de felicidade no ano novo.
Evidentemente, ninguém muda a história só pela força do desejo, mas esse pode
sim criar uma mística transformadora. Na sociedade internacional (ONU) e na
Igreja Católica, o dia 1 de janeiro é dedicado à oração e reflexão pela paz do
mundo e pela irmandade entre os povos.
Para
o Brasil, 2014 será um ano eleitoral no qual deveremos eleger nossos representantes
no governo federal (presidente) e nos Estados, além de boa parte do
legislativo. Sem dúvida, as
transformações sociais e políticas mais substanciais só podem vir da sociedade
civil e dos movimentos do povo organizado. Entretanto, é importante um governo
que dialogue com os movimentos sociais e se ponha verdadeiramente como nosso representante
e como defensor, principalmente, das parcelas mais frágeis e sem voz da
população.
Nossos
votos de feliz ano novo serão mais eficazes se forem acompanhados de instrumentos
para que o povo brasileiro se torne mais capaz de uma visão crítica da realidade
e progrida no caminho da integração latino-americana sonhada por Simon Bolívar.
Assim, conquistemos uma pátria grande de justiça, paz e comunhão com a natureza.
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 45
livros publicados, entre os quais “O Amor fecunda o Universo (Ecologia e
Espiritualidade) com co-autoria de Frei Betto. Ed Agir, 2009.
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