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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Afinal o Concílio vai ser implementado e ter validade






Por    J u r a c y   A n d r a d e


     Estava tardando esta infeliz notícia. Mas já se esperava, dada a grande intimidade e cumplicidade entre a máfia ou máfias italianas e a Cúria Romana em processo de desmonte. Um promotor italiano lançou a advertência de que o papa Francisco está jurado de morte pela máfia, que terá sua lavanderia de dinheiro prejudicada com a devassa no IOR (Banco do Vaticano). Resta-nos torcer e orar para que ele tenha longa vida e consiga expulsar os vendilhões do templo, possa restaurar simbolicamente a igrejinha da Porciúncula, que seu patrono e xará São Francisco reconstruiu outrora em Assis. Que não lhe aconteça o que vitimou o brevíssimo papa João Paulo 1º. Amém.
     Dois livros de que já falei aqui do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi (Sua Santità – Le carte segrete di Benedetto XVI e Vaticano SpA) nos dão conta de toda a corrupção e propinoduto, inclusive lavagem de dinheiro mafioso e de outras procedências, no IOR (Banco do Vaticano). Certamente a máfia e outros clientes barra pesada do IOR não estão nada satisfeitos com as providências do Hermano Francisco para acabar com os abusos curiais e com as sujeiras dessa excrescência que é o Banco do Estado da Cidade do Vaticano. Consequentemente, a advertência do promotor italiano tem todo o fundamento e credibilidade.

     No segundo dos referidos livros de Nuzzi, ele conta revelações feitas por Massimo, filho Vito Ciancimino, que era da Democracia Cristã (partido nada cristão) e foi prefeito de Palermo, e amigo próximo de don Bernardo Provenzano, capo já falecido da região de Palermo e Caltanissetta. Segundo Massimo, que era uma espécie de secretário do pai e acompanhava tudo, por intermédio das amizades que Ciancimino e sua corrente política tinham no IOR, foram abertos ali dois cofres de segurança. Também havia contas no IOR para discretas remessas de dinheiro e para pagar propinas na gestão dos contratos de obras públicas. O pai de Massimo financiava muitos prelados e explicava que a atividade financeira do IOR era coberta por imunidade diplomática e seus cofres impenetráveis, imunes a cartas precatórias.

      Por essse singelo exemplo e lembrando as criminosas estripulias de Monsignore Marcinkus (longamente presidente do banco), que incluem até assassinato, podemos imaginar as tenebrosas transações praticadas no banco do papa. Felizmente e em tempo, o Hermano Francisco já tomou as devidas providências para enquadrar essa grande lavanderia de dinheiro sujo. E no dia 26 de novembro passado, o papa lançou uma exortação apostólica que tira dúvidas que ainda houvesse sobre sua determinação de por em prática, com meio século de atraso, as conclusões e determinações do Concílio dos anos 1960. A Evangelii Gaudium foi escrita de próprio punho, em espanhol, por Francisco.e é um programa ambicioso para fazer com que a Igreja de Cristo “saia de si mesma”. É o que ele chama de “nova evangelização” que visa atrair não cristãos e fiéis não praticantes. Ele aposta na descentralização da Igreja, o que significa uma heresia para a Cúria Romana. “Uma centralização excessiva, em vez de ajudar, complica a vida da Igreja e sua atribuição missionária”. Como nenhum outro predecessor jamais falou, ele afirma que o papado é incapaz  de dar todas as respostas no mundo de hoje. Outra abertura conciliar dele é no sentido de dar muito mais força às conferências episcopais, cujas deliberações e conclusões só têm validade atualmente quando chanceladas por tecnoburocracia da Cúria Romana. A linguagem de Francisco lembra a dos profetas israelitas do Antigo Testamento, quando fustiga os grandes e poderosos.

      Para não me alongar mais, chamo atenção para sua ênfase na graça sobre a lei; para seu reconhecimento de que certos costumes próprios não são diretamente ligados ao núcleo do Evangelho (um desses é o celibato clerical); para que a Eucaristia não é um prêmio aos perfeitos, mas um generoso alimento e remédio para os fracos; para a opção preferencial pelos pobres (tão cara à Teologia da Libertação); para a deseuropeização da Igreja.



Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia
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