Por Marcelo
Barros
Há poucos dias, encerrou-se a 14ª
conferência mundial do clima. Em Varsóvia, delegações de 200 países conseguiram
definir as bases de um novo acordo sobre as mudanças climáticas no mundo. Esse
acerto deveria ir além do protocolo de Kyoto em 1997 e receber a adesão dos
países que mais poluem a atmosfera. Afinal, desde setembro, a ONU e outros
organismos internacionais emitiram vários relatórios sobre a situação atual do
aquecimento global. Entre esses, estão o IPCC, painel da ONU sobre o clima, o
Relatório sobre o estado dos Oceanos (IPSO) e, finalmente, a Organização de
Meteorologia Mundial em Genebra. Todos alertaram: os efeitos do aquecimento do
planeta estão ocorrendo de forma cada vez mais frequente e mais forte. Não se
pode provar que o aquecimento global seja a causa de fenômenos devastadores
como o tufão ocorrido há poucos dias nas Filipinas e as inundações que, nesses
dias, assolaram a Sardenha e algumas regiões dos Estados Unidos. Entretanto, os
estudiosos sabem: os ciclones se formam quando o mar chega a certa temperatura
e as pesquisas revelam: nos últimos anos, o nível de calor da água dos mares
tem subido muito. Uma das regiões que mais tem sofrido esse aquecimento é justamente
a área do Pacífico onde ficam as Filipinas. Nessa região, moram 92 milhões de
pessoas.
A frequência cada vez mais contínua e
a intensidade terrível desses fenômenos têm mostrado que a humanidade não pode
mais esperar pacientemente soluções dos governos. Esses se limitam quase
somente a assinar documentos que propõem mudanças mais simbólicas do que reais.
E, mesmo assinados, esses acordos só passam a valer depois de dois ou três anos
e por um tempo restrito. Ora, cada ano é de fundamental importância para
impedir um aumento de dois graus centígrados na temperatura mundial, ponto a
partir do qual, segundo os técnicos, a situação climática se tornará
verdadeiramente desastrosa.
Até hoje, o governo dos Estados
Unidos não aceitou assinar nenhum acordo sobre o clima. E países como Japão,
Canadá, Rússia e China que assinaram Kyoto não cumpriram o prometido. Por outro
lado, quem mais sofre com os desastres ecológicos é sempre a população mais
pobre. Os Estados Unidos, Canadá, China e Alemanha são os países que mais
poluem. No entanto, a natureza parece ter escolhido as Filipinas, a Coreia, a
costa asiática e o Caribe para mandar seus recados à humanidade. Em geral, são os
habitantes pobres de regiões periféricas que sofrem mais os desastres
ecológicos, que sejam os tufões do Oceano Índico, os furacões do Atlântico e os
ciclones do Pacífico. Mesmo quando esses torpedos da natureza se abatem sobre
áreas ricas dos Estados Unidos, Canadá e Europa, os terrenos mais atingidos e
habitações mais destruídas são sempre os que estão em áreas de risco e nas quais
a população mais pobre tenta sobreviver.
Na América Latina, os povos indígenas
e as comunidades populares sabem que não se pode esperar muito da maioria de
nossos governos. Esses ainda parecem servir mais ao interesse das grandes
empresas que se beneficiam com esse modelo de desenvolvimento depredador do que
ao conjunto dos cidadãos do país. Por isso, as organizações indígenas e de
lavradores se mobilizam em sucessivos encontros para salvar a mãe Terra. Tomam
decisões justas e acertadas para lutar contra a lógica desumana e antiecológica
do agronegócio, assim como contra a difusão das sementes transgênicas e
agrotóxicos.
Para as comunidades cristãs, o Natal
celebra o nascimento de Jesus, mas a festa começou com as comemorações do
solstício do inverno e a celebração da vida que começa a renascer. Hoje, diante
da crise ecológica que ameaça o planeta, é bom que nossa festa de Natal, sem
deixar a memória do nascimento de Jesus, retomasse a dimensão de cuidado com a
terra, a água e toda a natureza que nos cerca.
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos
quais “O Espírito vem pelas Águas",
Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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