Por Marcelo
Barros
A cada ano, quatro
semanas antes do Natal, no Ocidente, as Igrejas cristãs mais antigas começam um
novo ciclo de celebrações que formam o chamado “ano litúrgico”. As comunidades
começam esse tempo novo, chamado “Advento”. Seu objetivo é preparar a festa do
Natal e realimentar nas pessoas a esperança da realização nesse mundo do
projeto divino de paz, justiça e comunhão com o universo.
Em cada época de
mudanças, seja de calendário, seja de acontecimentos sociais ou políticos,
sempre surgem aqui e ali formas novas de pensamento apocalíptico ou até
milenarista. Diante de notícias como um tufão que provoca destruições nas
Filipinas ou um asteroide espacial que ameaça desabar sobre alguma parte da
terra, imediatamente há pessoas que dizem: “é o fim do mundo que se aproxima”.
Ainda mais: uma leitura fundamentalista e ao pé da letra de algumas
passagens dos evangelhos confirmam essa convicção de que estamos nos últimos
tempos da história. Vários movimentos pregaram isso e se decepcionaram ao ver
que o dia seguinte amanheceu como sempre e a nossa história continua com todos
os seus desafios.
Em uma compreensão
vulgar do termo, apocalipse se tornou sinônimo de catástrofe. Não é esse o
sentido verdadeiro dessa palavra que originalmente significava: “tirar o véu
que encobre a história e descobrir o sentido mais profundo dos acontecimentos”.
No ponto de vista bíblico, o que caracteriza a visão apocalíptica é uma
profunda insatisfação com a realidade atual e a esperança firme de que, se
existe Deus, podemos contar com sua intervenção libertadora que transformará
essa situação. É claro que há quem compreenda a vinda de Deus na história como
algo extraordinário que rompe as leis da natureza e muda tudo, como um milagre
inesperado. Outras pessoas, que procuram ligar fé e vida, não buscam milagres
extraordinários. Aprendem a discernir nos próprios acontecimentos do dia a dia
os sinais da presença íntima e discreta do Espírito que se insere na história
através das pessoas que aceitam ser instrumentos da atuação divina. A primeira
carta de Pedro diz que, pela ressurreição de Jesus, Deus nos regenera e nos faz
realizar concretamente o seu projeto através de uma força que é a esperança.
Mesmo no meio das situações mais adversas, é possível esperar contra tudo o que
seria a expectativa normal. A realidade é, de fato, problemática e teríamos
razões para ter medo. No entanto, optamos por crer. Por isso vivemos a
esperança da realização do projeto divino no mundo e ninguém poderá nos roubar
a confiança de que o reino de Deus virá. Isso se concretizará aqui e agora, no
fato de que outro mundo será, sim, possível. Conforme o apóstolo, essa
esperança tem três características: não se corrompe, não se desgasta, nem se
dilui (1 Pd 1, 3- 12). Ela nos convoca a nos manter unidos/as em comunidades e
a antecipar nos sinais da celebração litúrgica aquilo que queremos viver no dia
a dia do mundo: a comunhão.
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos
quais “O Espírito vem pelas Águas",
Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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