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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Festa de Aniversário



 Por Maria Clara Bingemer 

 
 
          O Papa Francisco acordou dia 17 de dezembro de 2013 um ano mais velho.  São 77 anos bem vividos, a maior parte deles a serviço do povo de Deus ao qual se consagrou, seguramente objeto de sua ação de graças ao Deus que o criou e a quem agradece o grande presente da vida.

          É o seu primeiro aniversário como bispo de Roma e recebeu carinhosas felicitações e presentes de fiéis e admiradores do mundo inteiro.  Desde uma canção que lhe ofereceu a grande cantora italiana Laura Pausini até a vigília ininterrupta durante 24 horas diante do Santíssimo Sacramento que os jovens de Roma, sua diocese, lhe deram de presente.

          Celebrado e querido no mundo inteiro por seu estilo diferente, comunicativo, amigo e próximo às pessoas, Francisco tem sido elogiado e olhado com sincera admiração.  Sua passagem pelos países que visitou, entre eles o Brasil (onde esteve na cidade do Rio de Janeiro durante a Jornada Mundial da Juventude no último mês de julho) tem surpreendido os analistas mais céticos.  É realmente uma personalidade carismática, que arrasta corações com seu estilo despojado e alegre.

          Mesmo a mídia teve que curvar-se ao charme do Papa.  Capa da revista Time como personalidade do ano e do periódico The New Yorker, o Pontífice encontrou um lugar de destaque nos corações não apenas dos católicos, mas de todos os habitantes do planeta.  É compreensível que sua data natalícia tenha atraído gestos e manifestações de carinho as mais diversas.

          No entanto, o que mais chama a atenção neste  aniversário do Papa é a maneira como quis começar seu dia festivo.  Organizou uma celebração inusitada e que certamente deve ter surpreendido a muitos. Pela manhã, o aniversariante mandou chamar, através do arcebispo Konrad Krajewski, que se encontra à frente do "serviço de primeiros socorros" do Vaticano e se ocupa das esmolas aos pobres que vivem nos muros do Vaticano, quatro moradores de rua que permanecem nas vizinhanças da Casa Santa Marta, onde o Papa reside e diariamente preside missa pela manhã. 

         A missa papal teve novos convidados - os quatro mendigos sem teto - que participaram da Eucaristia e, em seguida, tomaram café da manhã festivo com o pontífice no refeitório da residência papal.

          O mundo inteiro pode, portanto, ver Francisco colocando em prática aquilo que prega em seus discursos: partilhar sua mesa, sua intimidade, sua festa de aniversário em clima de afeto familiar com quatro mendigos.  Com isso, torna-se bem próximo do Evangelho de Jesus de Nazaré, que não hesitava em fazer comunhão de mesa com ladrões, publicanos e prostitutas, começando pelo próprio grupo que o seguia. 

          Mas também corrobora suas declarações recentes na entrevista que concedeu ao jornal La Stampa, na qual se mostra extremamente preocupado e mobilizado com a tragédia da fome no mundo. Convicto de que essa tragédia tem solução se houver a cooperação de todos, Francisco exorta os católicos a darem de comer aos famintos, como manda o Evangelho de Jesus.

          Certo de que com os alimentos desperdiçados diariamente se poderia dar de comer a muitas pessoas e fazer com que as crianças famintas não chorem mais com seus estômagos vazios, Francisco clama para que as pessoas se unam, independentemente de credo, ideologia, grupo de pertença, para atacar esse problema maior que escandaliza o mundo de hoje.

          Essa centralidade dos pobres e necessitados em sua vida explica bem a razão pela qual o Papa, em seu aniversário, resolveu fazer-se acompanhar pelos mendigos sem teto das ruas de Roma em lugar de chefes de governo e pessoas da alta sociedade romana, como poderia tê-lo feito.  Com este gesto quis mostrar claramente ao mundo o que significa ser discípulo de Jesus Cristo.  Trata-se de priorizar concretamente aqueles que ninguém prioriza; ser a voz dos que não têm voz nem ninguém que fale por eles: tornar-se advogado dos que se encontram mais desamparados. 

          Esta é a melhor maneira deste argentino vindo do fim do mundo e que conhece a pobreza por ter convivido com os pobres lado a lado celebrar o dom da vida.  Partilhar a mesa com esses que ninguém convida a estar presentes para tomar parte em uma refeição.  Fazer comunhão de mesa, segundo a Bíblia, é fazer comunhão de vida.  Francisco sabe disso e quer que todos saibamos e  pratiquemos.

          Feliz aniversário, Santidade!  E continue a edificar-nos e a recordar-nos o coração do Evangelho.



 Maria Clara Bingemer, Professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio,  teóloga e autora de “Ser cristão hoje" (Editora Ave Maria).



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