Por Maria Clara Bingemer
O Papa
Francisco acordou dia 17 de dezembro de 2013 um ano mais velho. São 77
anos bem vividos, a maior parte deles a serviço do povo de Deus ao qual se
consagrou, seguramente objeto de sua ação de graças ao Deus que o criou e a
quem agradece o grande presente da vida.
É o
seu primeiro aniversário como bispo de Roma e recebeu carinhosas felicitações e
presentes de fiéis e admiradores do mundo inteiro. Desde uma canção que
lhe ofereceu a grande cantora italiana Laura Pausini até a vigília ininterrupta
durante 24 horas diante do Santíssimo Sacramento que os jovens de Roma, sua
diocese, lhe deram de presente.
Celebrado e querido no mundo inteiro por seu estilo diferente, comunicativo,
amigo e próximo às pessoas, Francisco tem sido elogiado e olhado com sincera
admiração. Sua passagem pelos países que visitou, entre eles o Brasil
(onde esteve na cidade do Rio de Janeiro durante a Jornada Mundial da Juventude
no último mês de julho) tem surpreendido os analistas mais céticos. É
realmente uma personalidade carismática, que arrasta corações com seu estilo despojado
e alegre.
Mesmo
a mídia teve que curvar-se ao charme do Papa. Capa da revista Time como
personalidade do ano e do periódico The New Yorker, o Pontífice encontrou um
lugar de destaque nos corações não apenas dos católicos, mas de todos os habitantes
do planeta. É compreensível que sua data natalícia tenha atraído gestos e
manifestações de carinho as mais diversas.
No
entanto, o que mais chama a atenção neste
aniversário do Papa é a maneira como quis começar seu dia festivo.
Organizou uma celebração inusitada e que certamente deve ter surpreendido a
muitos. Pela manhã, o aniversariante mandou chamar, através do arcebispo Konrad
Krajewski, que se encontra à frente do "serviço de primeiros
socorros" do Vaticano e se ocupa das esmolas aos pobres que vivem nos
muros do Vaticano, quatro moradores de rua que permanecem nas vizinhanças da
Casa Santa Marta, onde o Papa reside e diariamente preside missa pela
manhã.
A missa
papal teve novos convidados - os quatro mendigos sem teto - que participaram da
Eucaristia e, em seguida, tomaram café da manhã festivo com o pontífice no
refeitório da residência papal.
O
mundo inteiro pode, portanto, ver Francisco colocando em prática aquilo que
prega em seus discursos: partilhar sua mesa, sua intimidade, sua festa de
aniversário em clima de afeto familiar com quatro mendigos. Com isso,
torna-se bem próximo do Evangelho de Jesus de Nazaré, que não hesitava em fazer
comunhão de mesa com ladrões, publicanos e prostitutas, começando pelo próprio
grupo que o seguia.
Mas
também corrobora suas declarações recentes na entrevista que concedeu ao jornal
La Stampa, na qual se mostra extremamente preocupado e mobilizado com a
tragédia da fome no mundo. Convicto de que essa tragédia tem solução se houver
a cooperação de todos, Francisco exorta os católicos a darem de comer aos
famintos, como manda o Evangelho de Jesus.
Certo
de que com os alimentos desperdiçados diariamente se poderia dar de comer a
muitas pessoas e fazer com que as crianças famintas não chorem mais com seus
estômagos vazios, Francisco clama para que as pessoas se unam,
independentemente de credo, ideologia, grupo de pertença, para atacar esse
problema maior que escandaliza o mundo de hoje.
Essa
centralidade dos pobres e necessitados em sua vida explica bem a razão pela
qual o Papa, em seu aniversário, resolveu fazer-se acompanhar pelos mendigos
sem teto das ruas de Roma em lugar de chefes de governo e pessoas da alta
sociedade romana, como poderia tê-lo feito. Com este gesto quis mostrar
claramente ao mundo o que significa ser discípulo de Jesus Cristo.
Trata-se de priorizar concretamente aqueles que ninguém prioriza; ser a voz dos
que não têm voz nem ninguém que fale por eles: tornar-se advogado dos que se
encontram mais desamparados.
Esta é
a melhor maneira deste argentino vindo do fim do mundo e que conhece a pobreza
por ter convivido com os pobres lado a lado celebrar o dom da vida.
Partilhar a mesa com esses que ninguém convida a estar presentes para tomar
parte em uma refeição. Fazer comunhão de mesa, segundo a Bíblia, é fazer
comunhão de vida. Francisco sabe disso e quer que todos saibamos e pratiquemos.
Feliz
aniversário, Santidade! E continue a edificar-nos e a recordar-nos o
coração do Evangelho.
Maria
Clara Bingemer, Professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, teóloga
e autora de “Ser cristão hoje" (Editora Ave Maria).
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