Por Marcelo Barros
A
ONU consagra o 17 de outubro como o dia da erradicação da pobreza. No ano 2000,
a assembleia geral da ONU tinha proposto como uma das oito metas do milênio
reduzir a pobreza pela metade até o ano 2015. Agora que esse ano se aproxima,
se constata que, com exceção da América Latina, no mundo inteiro, o número de
pobres tem aumentado. Isso ocorre não como uma fatalidade do destino ou
acidente da natureza e sim como consequência do modo de organização injusta da
sociedade. O Capitalismo é, por natureza, excludente e por seu próprio modo de
ser agrava a diferença entre pobres e ricos. Atualmente, se considera mais
próspera a empresa que menos necessita de funcionários, porque assim dá mais
lucro. Então, o desemprego se torna destino de uma imensa multidão de homens e
mulheres que têm suas condições de vida deterioradas. Nesses dias, um relatório do Instituto da ONU
que pesquisa o clima informou: as péssimas condições de tráfego de nossas
cidades têm agravado os problemas de saúde da população e a realidade econômica
já difícil de nossos países. A ONU declara que, com 300 bilhões de dólares,
poderia superar a pobreza no mundo. Ora essa soma é apenas a terceira parte do
que as grandes potências gastam com armamentos e a indústria da guerra. Nenhum
dos países ricos está disposto a diminuir esses gastos. No plano econômico, há
três anos, os governos destinaram 180 bilhões de dólares para salvar bancos
privados em crise por causa da corrupção de seus dirigentes que, aliás, em nenhum
momento, tiveram diminuídos seus astronômicos salários. O papa Francisco tem
chamado a atenção para o fato de que se a bolsa de Londres ou Tóquio perde 10%
é uma calamidade. Mas, se, como ocorreu na semana passada, centenas de
africanos perdem a vida nas praias de Lampedusa, a maioria da sociedade
europeia não dá a menor importância a isso.
Na
Itália, a Universidade do Bem Comum tem proposto que os movimentos sociais e
grupos da sociedade civil comecem a pressionar para que, em todos os países, passe
a ser considerada ilegal toda política que gera ou aumente a pobreza. Por trás
de todo processo de empobrecimento, há uma estrutura iníqua de distribuição
desonesta da riqueza. A pobreza que se espalha no mundo atual atenta contra ao
menos cinco dos direitos fundamentais proclamados pela ONU em 1948. Há quase 70
anos, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ONU já afirmava que toda
pessoa humana tem direito à segurança alimentar, à moradia, ao trabalho, à
saúde e à educação. Atualmente, mesmo países que tradicionalmente garantiam
alguns desses direitos básicos de seus cidadãos destruíram o chamado “estado de
bem estar social” e, hoje, têm sucateado seus serviços de saúde, de educação e
de assistência social.
A
pobreza pode ser combatida por medidas conjunturais, mas se não vamos até a
raiz doente da árvore, não conseguiremos curá-la. Se um sistema social está envenenado
não pode ser sanado pelo uso do mesmo veneno que o deixou mal. Não será o
Capitalismo que pode tirar o mundo dessa crise estrutural. Conforme a ONU, na
América Latina, os países que, nos anos recentes, mais conseguiram diminuir a
pobreza e a desigualdade social foram os que optaram claramente pelo novo
processo bolivariano, especificamente a Venezuela, o Equador e a Bolívia.
Essa
própria realidade grita à consciência da humanidade e de toda pessoa que busca
aprofundar um caminho espiritual. Só a solidariedade social e política poderá
nos unir no grande mutirão para libertar a humanidade da pobreza, da fome e da
desigualdade social. Quem segue a fé cristã vê nesse caminho uma antecipação do
projeto divino para o mundo, mesmo se ainda parcial e com defeitos. Conforme o
evangelho, Jesus afirmou: “O reino de Deus não virá de fora. Ele está entre vós
e em vós” (Lc 17, 21).
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