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sábado, 12 de fevereiro de 2022

Que porra é essa!

 


Prof. Martinho Condini

Há três anos estamos vivendo sobre as rédeas (itens de aderência para ser utilizadas em cavalos, burros ou mulas) do pior governo da história brasileira, sem contar é claro, com os séculos da escravização dos negros africanos (a maior vergonha da nossa história) e a excrescência da Ditadura Militar, admirada por tantos brasileiros e brasileiras, para minha surpresa, muitos deles cristãos.     

Há mais de trinta anos como professor de história e de formação de professores, confesso nunca ter ouvido e lido tanta asneira, principalmente nas redes sociais, uma terra de ninguém. Coincidência ou não, essas falas e escritas se acentuaram a partir do momento em que os simpatizantes da direita e das práticas e ideias bolsonarentas, ou seja, os anti vacinas, negacionistas, terraplanistas, armamentistas, sexistas e homofóbicos resolveram compartilhar suas reflexões e opiniões, muitas delas embasadas no pensamento do guru bolsonarento, o picareta, desqualificado e falecido Olavo de Carvalho.  

 Soma-se a esse espetáculo dos horrores às atitudes que esse desgoverno bolsonarento vem fazendo desde sua posse e irá fazer até o final desse ano. E chegamos à conclusão de que nada mais pode ser tão ruim.  Aí está o grande engano, se as coisas estão ruins podem ficar ainda pior.  Colaboradores para isso não faltam nesse Brasil desatinado e tão maltratado nesses últimos anos.

A afirmação acima se justifica a partir da leitura que fiz ao abrir um jornal de circulação nacional dias atrás, quando me deparei com um artigo sobre o Racismo Negro.

 Que porra é essa?

Onde esses supremacistas brancos querem chegar? Será que todo esse histórico de domínio da elite branca colonial judaico-cristã capitalista em nossa sociedade não foi o suficiente para deixar as maculas da pouca vergonha por eles realizadas. Será que o vergonhoso processo de embraquecimento da nossa sociedade a partir da imigração europeia no último quarto do  século XIX,  e a criação e consolidação desse racismo estrutural que nos atormenta diuturnamente com as atrocidades que são feitas com afro descentes de norte a sul desse Brasil desde sempre não foram suficientes?     

Não é possível que num país que tem uma história de quase quatrocentos anos de escravidão, onde os afros descentes até hoje não são tratados de maneira digna pelo Estado, temos que aceitar que um desinfeliz venha ter espaço para escrever um texto supremacista, reacionário, imoral, antiético e estapafúrdio no atual momento da nossa história? Um artigo que serve apenas para acalentar a classe média burra e a elite branca reacionária.

Estamos desde o golpe da presidenta Dilma Rousseff lutando contra essa corja de fascistas, homofóbicos, sexistas, que respaldados por esse governo inescrupuloso ganhem cada vez mais adeptos nas redes sociais. Hoje no Brasil, temos mais de 500 grupos neonazistas. E aí vem esse desinfeliz escrever esse artigo fasistóide e nojento a troco de quê?

O mais incrível é que alguns colunistas desse mesmo jornal em que o artigo foi publicado, disseram que não viram nada demais alguém escrever um artigo com essa temática. Isso é inacreditável.

Como mencionou um colunista desse mesmo jornal, contrário ao artigo, “Em 2015, Dylann Roof, aos 21 anos, entrou numa histórica igreja negra em Charleston, na Carolina do Sul (EUA), e matou a tiros nove pessoas. Roof afirmou: "Alguém tinha que fazê-lo porque, sabe, os negros estão matando os brancos toda hora na rua". Em manifesto, relata ter buscado na internet por "crime de negros contra brancos" (black-on-white crime) e, a partir daí, nunca seria o mesmo”.

Se já não bastasse a discriminação, a perseguição e os assassinatos contra os negros no Brasil, a longa data, agora os supremacistas passam a ter também espaço nos jornais, ou seja, começam a sair das suas asquerosas bolhas para serem influenciadores nas mídias escritas.

Os antirracistas devem ficar atentos a esse tipo de publicação, enquanto eles estão falando dentro de suas bolhas para os seus pares de fasistóides é uma coisa. Mas no momento em que essas falas ganham espaço público e chegam ao gado bolsonarento, isso pode engrossar ainda mais o coro dos abestalhados da república dos canalhas.

E para esse desinfeliz que escreveu o artigo do Racismo Negro, é bom que ele saiba que entre os três últimos finais de semana de janeiro/2022, foram registrados doze linchamentos nas praias e bairros da zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

O homem negro que morreu espancado num supermercado sabe lá porquê, em Porto Alegre, em 20 de novembro de 2020 (Dia da Consciência Negra), o congolês que foi covardemente executado no quiosque porque foi cobrar o pagamento dos dias trabalhados e o trabalhador negro que foi brutalmente assassinado pelo seu vizinho sargento da marinha (um vagabundo profissional), ambos na cidade do Rio de Janeiro dias atrás e esses outros linchamentos que mencionei ocorreram por causa do Racismo Negro?

Os supremacistas brancos não tem vergonha em suas caras, e estou convencido que um dia  essa história irá mudar, porque a história é movimento e não determinismo.

Infelizmente o DNA do Brasil é de um país radicalmente racista, preconceituoso e violento, e para mudar isso acredito que demorará o dobro do período de escravização dos negros africanos em nosso país. Essa realidade é lamentável e vergonhosa para todos nós brasileiros e brasileiras que defendemos e acreditamos na igualdade e dignidade para todos os seres humanos.

 

*O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros ‘Dom Helder Camara um modelo de esperança’, ‘Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo’, ‘Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire’ e o DVD ‘ Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro ‘Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza’. Contato profcondini@g

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