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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

PARTIDAS E CHEGADAS

 



 Maria Clara Lucchetti Bingemer

 

            O ano vai acabando com tristezas e alegrias.  Partiu a fantástica escritora e acadêmica Nélida Piñon.  Além de mulher de letras inspirada e fecunda, foi a primeira a presidir a Academia Brasileira de Letras e até hoje mantinha intensa atividade no mundo da cultura brasileira e também ibérica.  A conexão entre sua Espanha Natal e o Brasil era um ponto constante e importante de sua agenda.  

            Além disso, Nélida constituía uma quase unanimidade.  Jamais encontrei alguém que não a admirasse e estimasse.  Doce, próxima, alegre, presença agradabilíssima e enriquecedora em qualquer ambiente, tinha uma incontável legião de amigos e admiradores.  Partiu inesperadamente, em Lisboa, onde se encontrava.  E deixa um vazio grande em termos humanos e literários.  

            Fica conosco o legado de sua alegria e esperança.  Nélida já havia tido um encontro próximo com a morte há alguns anos.  Felizmente o diagnóstico que lhe foi dado não se concretizou e pudemos contar com ela novamente entre nós por mais tempo.  Desde aí, segundo seu próprio testemunho, passou a ver a vida de outra maneira e por outro ângulo.  E isso a fez ainda mais profunda e adorável. 

            Mas esse fim de ano também celebra chegadas.  Uma delas aconteceu ontem.  A tão esperada Copa do Mundo voltou para as mãos da América Latina após vinte anos.  A orquestra do time albiceleste foi dirigida com genialidade pelo maestro Leonel Messi, que também traz consigo a marca da unanimidade.  Não há quem não admire seu talento, sua força em campo.  Sobretudo admirável é sua capacidade de unir o time e fazê-lo trabalhar como realmente uma equipe. 

            Messi não faz questão de “assinar” seus gols.  Com tranquilidade e alegria leva a bola aos pés dos companheiros para que eles finalizem a jogada.  Consola um, anima outro, insiste no esforço.  Traz em si, além do talento do jogador e da disciplina do atleta, a marca do verdadeiro líder.  A equipe por ele capitaneada teve um belo desempenho e mereceu a taça que levantou após longo jejum.  Parabéns, Argentina! 

Tomara que a chegada dessa vitória entre tantas derrotas do país da albiceleste, assim como de todo o continente, nos deixe algumas lições.  A primeira seria o desprendimento que exige trabalhar em equipe.  Não importa quem marca o gol, importa que o gol seja marcado ainda que não por mim e a equipe triunfe.  Importa a união que faz realmente a força, como diz o ditado popular.  A combalida e fragmentada Argentina, dividida em polarizações várias, com a inflação pelas alturas, que luta por maior justiça e paz, hoje canta feliz com a vitória da sua seleção.  Que a beleza desse triunfo possa se refletir na sociedade do país vizinho. 

Quanto a nós, vizinhos mais ao norte, temos também lições a levar para casa após esta Copa do Qatar.  Esqueçamos por um momento a tradicional rivalidade em campo entre os dois países.  Após a sofrida derrota nas quartas de final, o Brasil poderia aprender bastante com a seleção do país ao sul. Espera-se para o futuro uma seleção mais focada em disciplina e desempenho, sem tanta frivolidade.  Queremos atletas e não celebridades.  Não se pretende aqui generalizar injustamente, apenas apontar algo que apareceu desta vez e que seria bom que mudasse para o futuro próximo. 

O mesmo acontece em nível do país.  Neste momento de transição de governos, onde as disputas por cargos se veem ferozes e devoradoras. A impressão é de que o que menos importa é o bem do país e a integração de forças para conseguir reconstruí-lo.  Interesses individuais e partidários se atravessam no caminho daquilo que poderia ser uma bela e rica reconstrução nacional.  Não importa quem faz que gol.  Importa que o placar seja cheio de gols diversos e convergentes para um futuro promissor. 

A grande chegada deste período ocorrerá, porém, daqui a alguns dias.  Temos vivido sua espera, sua preparação, e sobretudo seu ardente desejo.  Vamos celebrar o Natal que nos diz que quando nem nós acreditamos mais em nós mesmos, Deus continua apostando nessa humanidade torta, mas ao mesmo tempo tão bela que somos e que sai constantemente de Suas mãos. 

O Menino vai chegar.  Belo . Como diz João Cabral de Melo Neto: “...tão belo como um sim/numa sala negativa.../... Belo como a última onda que o fim do mar sempre adia/ é tão belo como as ondas em sua adição infinita./ Ou como o caderno novo/ quando a gente o principia./...E belo porque o novo/ todo o velho contagia...Belo porque corrompe/com sangue novo a anemia./...Infecciona a miséria/com vida nova e sadia.”

 

Maria Clara Bingemer, é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio  autora de “Santidade:chamado à humanidade” (Editora Paulinas), entre outros livros.

 

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Maria Helena Guimarães Pereira
MHP Agente Literária - Assessoria

mhgpal@gmail.com 

 

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