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sábado, 18 de junho de 2022

Folha em branco

 


Prof. Martinho Condini


Durante os séculos XX e XXI vários esportistas negros se manifestaram de maneiras diferentes contra o racismo e a favor de políticas antirracistas em seus países.         

Em 1968, nos jogos olímpicos da cidade do México os atletas negros norte-americanos Tommie Smith e John Carlos protagonizaram uma das cenas mais emblemáticas da história dos jogos olímpicos. Ao subirem ao pódio e receberem as medalhas de ouro, e ao tocar o hino do seu país baixaram a cabeça e ergueram o punho usando luvas pretas, saudação dos Panteras Negras (organização política socialista e revolucionária estadunidense). Um gesto de protesto contra o racismo, o preconceito e a violência contra os negros nos Estados Unidos.

Lembrando que na década em que ocorreram os jogos olímpicos no México os ativistas e líderes negros Malcolm X e o pastor protestante Martin Luther King foram assassinados.

         Nesta mesma década, o pugilista negro Cassius Clay (que posteriormente mudou o seu nome para Mohammed Ali) campeão olímpico e mundial de boxe perdeu seu cinturão por se negar a ir lutar na Guerra do Vietnã (1955-1975). Mohammed Ali sempre foi uma voz importante na luta contra a violência aos negros norte-americanos.

         Em 2020 os jogadores de basquete negros e brancos do Milwakee Bucks boicotaram as partidas dos playoffs da NBA, em protesto pelo assassinato de um cidadão negro, George Floyd, por um policial branco. 

         Um dos astros do basquete norte americano, o negro Lebron James do Los Angeles Lakers frequentemente utilizou as quadras como espaço do movimento ativista afro americano Black Lives Mater.

         Nos jogos olímpicos na cidade de Tóquio, em 2021, a atleta americana, a negra  Raveb Saunders medalhista de prata no arremesso, ao receber a medalha levantou os braços e cruzou os punhos sobre a cabeça como um gesto de apoio e solidariedade em favor dos oprimidos espalhados pelo mundo.

         Esses relatos me despertaram o interesse em escrever um artigo sobre a história do ativismo dos atletas brasileiros contra o racismo ou em apoio a práticas antirracistas.  

         A folha em que eu ia começar a escrever este artigo está em branco até agora.

         Será que o Brasil é um país diferente dos Estados Unidos? Será que aqui não há racismo, preconceito, violência contra a população negra? Ou vivemos numa democracia racial como sugere Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala?

         Se partirmos do princípio que nossos atletas cresceram profissionalmente em bolhas alienantes em relação às questões sociais e raciais, esses atletas, em algum momento se não vivenciaram ou presenciaram situações de preconceito e racismo, pelo menos sabem que elas ocorrem diuturnamente em nosso país desde sempre.         Nós sabemos o quanto é forte a voz de um atleta, de um astro do esporte. A sua fala repercute e ecoa por todos os cantos, principalmente para os milhares de jovens que os tem como ídolos e em muitos casos querem ser como eles.

         Muitos atletas poderiam ter se tornado protagonistas, ou melhor, ainda podem, mas se calam. Isso é uma constatação, não é uma crítica, afinal de contas, todas as pessoas são livres para agirem da maneira que bem entendem.

         Mas tenho a impressão que se  esses atletas não tivessem se calado, a história da luta contra o racismo e da construção de políticas antirracistas no Brasil poderia estar mais fortalecida.

As vozes de lideranças do esporte fazem muita diferença nas lutas contra todos os tipos de injustiças, porque eles são porta vozes dos que não tem vez e voz.

         Mas infelizmente, a minha folha continua em branco.

          

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