Marcelo Barros
Nesta próxima semana, ao mesmo tempo que, por todo o Brasil,
acontecem cerimônias e eventos que recordam a independência do nosso
país, também as categorias mais pobres expressarão o seu grito por Vida e
por Libertação. Desde 1995, as comemorações da independência do Brasil
têm sido marcadas pelas manifestações populares que se chamam Grito dos
Excluídos. Esse evento teve origem em meio às pastorais sociais ligadas à
CNBB na realização da 2ª Semana Social Brasileira. E embora tenha sido
iniciativa das pastorais sociais, desde o começo, o Grito dos Excluídos e
excluídas se abriu à participação dos movimentos populares e de entidades
cristãs ecumênicas como o CONIC, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs.
Neste ano, o 29º Grito tem como sempre o tema: “Vida em
Primeiro Lugar” . O lema é a pergunta: “Você tem Fome e Sede de Quê?”.
A ideia é provocar entre o povo o diálogo baseado na escuta sobre essas
questões. O objetivo é responder quais as fomes e sedes que o nosso povo
sente. Assim, a partir dos anseios do povo mais empobrecido, poderemos
buscar soluções que acabem com toda forma de exclusão e violência.
Atualmente, de norte a sul, em todo o país, há mobilizações do
Grito dos Excluídos. Realiza-se como manifestação coletiva que se soma à
construção em processo da 6ª Semana Social Brasileira. Estão mobilizadas
as pastorais de Igrejas cristãs, movimentos populares e pessoas de boa
vontade sensíveis aos sofrimentos dos mais pobres para que possamos
defender e garantir os direitos dos pobres e marginalizados. Desde os seus
inícios, o Grito dos Excluídos e excluídas nos confirma que não há
verdadeira independência do país, se a imensa maioria do povo vive em
condições de pobreza injusta e de insegurança alimentar. Só poderemos
considerar o país independente no dia em que conseguirmos superar a
imensa desigualdade social e garantir os direitos fundamentais à Vida, à
alimentação, à educação, à moradia e à saúde para todos os brasileiros e
brasileiras.
Essa realidade que vivemos hoje tem profundas raízes no sistema
da colonização que se instalou em nosso continente há mais de 500 anos e
se fortaleceu através das tentativas de extermínio dos povos indígenas e da
escravização dos povos sequestrados na África. Infelizmente, ao legitimar
essa estrutura iníqua, a Igreja Católica e outras Igrejas cristãs contraíram
uma dívida histórica com as populações vítimas desse sistema. Cumpre
agora saldar essa dívida.
Desde tempos imemoriais, os impérios usaram as religiões e os
cultos para se perpetuarem no poder. Por isso, durante toda a história, em
diversas culturas e nas mais diferentes linguagens espirituais, surgiram
profetas e profetizas que protestaram contra a religião usada como
instrumento do poder para dominar as pessoas. Na Bíblia, os antigos
profetas e profetizas sempre insistiram que o nome de Deus é Justiça
libertadora. Maria, mãe de Jesus cantou que se Deus é Deus, derruba do
trono os poderosos e eleva os pequenos. Na sinagoga de Nazaré, Jesus
afirma que o Espírito Divino desceu sobre ele para realizar a libertação de
todas as pessoas oprimidas. Não foi por engano que os funcionários do
templo e da religião ritual o prenderam e o entregaram aos militares
romanos para ser condenado a morrer na cruz!
Atualmente, Francisco, bispo de Roma, propõe uma Igreja em
saída que cuida dos migrantes, dos pobres e das populações excluídas,
apesar de um grande número de padres e bispos se agarrarem a uma
religião autocentrada e tentarem reativar o Catolicismo barroco de tempos
passados.
Diante disso, cristãos de várias Igrejas têm sentido o chamado divino para
reafirmar o caráter profético da fé cristã e querem unir as suas vozes ao 29º
Grito dos Excluídos através do Mutirão da Profecia.
É preciso dizer claramente ao mundo que a fé e a espiritualidade
devem tornar as pessoas mais humanas e atentas ao cuidado dos pobres.
Para isso, temos os sacramentos da Igreja, que, ou são sinais de partilha e
comunhão de vida para todos e todas, ou não são de Jesus Cristo. Assim, a
fé no Evangelho que Jesus anunciou como boa nova de libertação para toda
a humanidade nos levará a clamar que ninguém passe fome nem sede.
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