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domingo, 25 de setembro de 2011

ESTRADA DE AMORES INCONFESSOS



por Assuero Gomes







Estrada de amores inconfessos, réus amantes caminham pelos becos da vida, parando em cada esquina. Quantos goles já beberam nesta noite de meia luz? Partem sem destino como vagabundos esperando o que deste amor? Quantos ritmos já dançaram sem música nem choro, às escondidas, como assassinos de famílias bem constituídas? Tantas perguntas, tantos arroubos místicos, tanto sofrimento esparramado em copos de whisky ou runs baratos, refletindo luzes apagadas, assinaturas falsificadas, devaneios lúdicos, promessas impossíveis, juras profanas e hereges.


Qual futuro para dois restará senão uma migalha de lembrança perdida e escondida? Com que retalhos remendarão os corações, se não há retalhos? Apenas cortes profundos, proibidos de sangrar, para não marcar os caminhos. Hoje já não será amanhã. E amanhã não haverá. Ontem não há, pois não pode ser dito nem escrito.


O instante de estar juntos, no entanto, vale cada centímetro de dor, pois é fogo que não se apaga e que queima sem doer. É brisa que não refresca, é insônia que acalma, é ausência de tempo, um mergulho na eternidade.


Sentir o hálito exalado entre os lábios e respirar uníssono, ofegante, as partículas como nadadoras de ritmo sincronizado, no descompasso de corações aflitos. Afundar de vez em apneias cada vez mais prolongadas e suicidas, num poço transparente de águas brilhantes. Ser um do outro sem ser de ninguém.


Uma estrada de amores inconfessos leva aonde? Talvez a estrada seja já, o chegar, o próprio destino de quem não sabe onde ir. Pode o mar ser o próprio porto sem que a embarcação naufrague? Uma estrada como um soneto inacabado, partido na sua essência, mas belo, tremendamente belo, imoralmente belo, como a própria lua às vezes ousa ser e se apresentar aos olhos dos amantes desnudos, sem pudor, sem nada, apenas bela, apenas bela...


Sem perdão aos olhos cúpidos dos olhares do mundo, talvez esse amor nem esteja incrustado no diadema celestial do Amor, que congrega todas as formas do Amor, e se estiver talvez seja uma pequena gema com jaça, ofuscada pelos brilhos de outras pedras, como rimas preciosas de um verso perfeito, mas terá seu valor, terá sua luz própria, terá sua rima fácil num poema impossível. Brilhará, mesmo que oculta, e iluminará a quem nasceu para iluminar, a escuridão dos corações de dois amantes, e seus caminhos já não serão tão inconfessos, pois terão um ao outro, mesmo que os outros não enxerguem a estrada por onde caminham.

Assuero Gomes
assuerogomes@terra.com.br

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