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sexta-feira, 6 de abril de 2012

O PAPA EM CUBA: RENOVAÇÃO E ESPERANÇA



por Maria Clara Bingemer






O mundo acompanha com curiosidade e atenção a visita do Papa Bento XVI a Cuba. Após a visita de seu antecessor, João Paulo II, que levou às ruas da ilha caribenha verdadeiras multidões, a visita de Bento XVI igualmente levanta interesse e resposta intensa da população cubana.



Já mesmo antes da visita de Bento XVI à Ilha, a movimentação feita pela Igreja Católica em torno da celebração dos 400 anos de devoção à Virgen de la Caridad del Cobre (Cachita, como a chamam carinhosamente os cubanos) se fazia sentir. Em cada cidade por onde passava a imagem da Virgem, as ruas se enchiam de peregrinos que a seguiam com orações, cânticos e alegria.



Assim também acontece com a visita papal. O povo cubano, que havia mostrado sua alma religiosa com a visita do Papa João Paulo II, faz o mesmo com este. Sai às ruas e acompanha os discursos, missas e gestos do Pontífice, com respeito e atenção carinhosa.


E todos que se puseram à escuta do homem de branco que se dirigiu ao santuário de Cachita - a virgem mambisa -, em Santiago de Cuba, ouviram o que ele narrava de sua oração à padroeira da ilha: “Fazei saber, a quantos se encontram perto ou longe, que confiei à Mãe de Deus o futuro da sua Pátria, pedindo-Lhe que avance por caminhos de renovação e de esperança para o maior bem de todos os cubanos.”


Como de costume, Bento XVI aplica sua inteligência e percepção na visita pastoral que realiza, evitando provocações, conflitos, e avançando com extrema prudência nas mensagens que deseja que finquem raízes no coração dos fiéis. As palavras acima deixam claro que o Papa entende que a ilha vive neste momento um processo novo.



Não apenas tem um novo governante, não mais aquele que a regeu por quase 50 anos e que, apesar de seguir a mesma linha do irmão e predecessor, imprime um estilo diferente a muitos aspectos da vida da Ilha, mas também abre novos caminhos para a vida de seus habitantes.


A Cuba de hoje é diferente em muitos pontos da que João Paulo II encontrou em 1998. O governo estuda seriamente uma reforma econômica, da qual alguns efeitos já se fazem sentir, sobretudo na permissão de adquirir bens duráveis de consumo, como automóveis; ou de usar telefones celulares. Igualmente a situação dos dissidentes e presos políticos tem conhecido alguns avanços, tendo sido postos em liberdade pessoas que se encontravam há bastante tempo no cárcere.


A Igreja, longe de estar afastada do diálogo com o governo cubano, hoje é interlocutora privilegiada do mesmo. O hábil Cardeal de Havana, Jaime Ortega, vive relação de estreita proximidade e mesmo amizade com o presidente Raúl Castro. Articulador de toda a visita papal, o cardeal tem atuado com extrema prudência e habilidade, empenhando-se em jamais romper o diálogo iniciado e mantendo uma atitude respeitosa e aberta diante do regime.



Isto, sem dúvida, tem contribuído para abrir brechas para a atuação da Igreja, que passa a ser olhada com abertura e mesmo simpatia pelos membros do governo, facilitando a atuação pastoral e a organização dos organismos eclesiais na Ilha. Bento XVI, sem dúvida, está informado e consciente disso. E em sua visita adota este mesmo tom respeitoso e prudente, conclamando os fiéis que o escutam a uma atitude positiva, de esperança e colaboração, para uma abertura que parece despontar no horizonte e pela qual todos anseiam.


Os cubanos são um povo digno e consciente de seu valor. Ao mesmo tempo, cientes das conquistas positivas que sua revolução e seu sistema político alcançaram, e das quais não desejam abrir mão. O fato de estarem dispostos a realizar reformas demonstra uma atitude madura de quem sabe não haver ainda atingido o que seria ideal em muitos aspectos. Mas ao mesmo tempo, não toleram que se lhes imponha coisas e atitudes desde fora e de forma arbitrária.


Bento XVI, homem inteligente e perspicaz, percebe esse ambiente, que é o pano de fundo de sua visita. E discursa sobre a excelência da liberdade que todos respeitam, até mesmo o próprio Deus. E em seu discurso de chegada deixa registrado que na Ilha, desde a visita de seu predecessor, inaugurou-se uma nova etapa nas relações entre a Igreja e o Estado cubano, em termos de maior colaboração e confiança. Porém, acrescenta que há ainda muitos aspectos nos quais é possível avançar, “especialmente no que diz respeito à contribuição imprescindível que a religião é chamada a prestar no âmbito público da sociedade. “



Certamente a visita pontifícia será um passo importante e positivo neste avanço. É o que esperamos todos que olhamos para a pérola do Caribe com confiança e esperança.



Autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco). Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

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