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domingo, 24 de junho de 2012

DESAFIOS À RIO+20

por Frei Betto
      


Iniciada há poucos dias, Rio+20 abriga chefes de Estado, e ambientalistas e movimentos  sociais na Cúpula dos Povos. O evento corre o risco de frustrar expectativas  caso não tenha, como ponto de partida, compromissos assumidos na Agenda 21 e  acordos firmados na Eco-92 e reiterados na Conferência de Johannesburgo, em  2010.
      Há verdadeira conspiração de  bastidores para, na Rio+20, escantear os princípios do desenvolvimento  sustentável e os Objetivos do Milênio, e impor as novas teses da “economia  verde”, sofisma para encobrir a privatização dos recursos naturais, como a  água, e a mercantilização da  natureza.

      O enfoque dos trabalhos  deverá estar centrado não nos direitos do capital, e sim na urgência de  definir instrumentos normativos internacionais que assegurem a defesa dos  direitos universais de 7 bilhões de habitantes do planeta e a preservação  ambiental.
      Cabe aos governos reunidos  no Rio priorizar os direitos de sustentabilidade, bem-estar e progresso da  sociedade, entendidos como dever de garantir a todos os cidadãos serviços  essenciais à melhor qualidade de vida. Faz-se necessário modificar os  indicadores de desenvolvimento, de modo a levarem em conta os custos  ambientais, a equidade social e o desenvolvimento humano  (IDH).

      A humanidade não terá futuro sem  que se mudem os padrões de produção, consumo e distribuição de renda. O atual  paradigma capitalista, de acumulação crescente da riqueza e produção em função  do mercado, e não das necessidades sociais, jamais haverá de erradicar a  miséria, a desigualdade, a destruição do meio ambiente. Migrar para  tecnologias não poluentes e fontes energéticas alternativas à fóssil e à  nuclear é imperativo prioritário.

      Nada  mais cínico que as propostas “limpas” dos países ricos do hemisfério Norte.  Empenham-se em culpar os países do hemisfério Sul quanto à degradação  ambiental, no esforço de ocultar sua responsabilidade histórica nas atividades  de suas transnacionais em países emergentes e pobres. Há que desconfiar de  todas as patentes e marcas qualificadas de “verdes”. Eis aí um novo mecanismo  de reafirmar a dominação  globocolonialista.

      O momento requer uma  convenção mundial para controle das novas tecnologias, baseada nos princípios  da precaução e da avaliação participativa. Urge denunciar a obsolescência  programada, de modo a dispormos de tecnologias que assegurem o máximo de vida  útil aos produtos e beneficiem a reciclagem, tendo em vista a satisfação das  necessidades humanas com o menor custo  ambiental.

      À Rio+20 se impõe também o  desafio de condenar o controle do comércio mundial pelas empresas  transnacionais e o papel da OMC (Organização Mundial do Comércio) na imposição  de acordos que legitimam a desigualdade e a exclusão sociais, impedindo o  exercício de políticas soberanas. Temos direito a um comércio internacional  mais justo e em consonância com a preservação  ambiental.

      Sem medidas concretas para  frear a volatilidade dos preços dos alimentos e a especulação nos mercados de  produtos básicos, não haverá erradição da fome e da pobreza, como preveem, até  2015, os Objetivos do Milênio.

      Devido à  crise financeira, parcela considerável do capital especulativo se dirige,  agora, à compra de terras em países do Sul, fomentando projetos de exploração  de recursos naturais prejudiciais ao meio ambiente e ao equilíbrio dos  ecossistemas.
      A Rio+20 terá dado um  passo importante se admitir que, hoje, as maiores ameaças à preservação da  espécie humana e da natureza são as guerras, a corrida armamentista, as  políticas neocolonialistas. O uso da energia nuclear para fins pacíficos ou  bélicos deveria ser considerado crime de  lesa-humanidade.

      Participarei da Cúpula  dos Povos para reforçar a proposta de maior controle da publicidade comercial,  da incitação ao consumismo desmedido, da criação de falsas necessidades, em  especial quando dirigidas a crianças e jovens.  

      Educação e ciência precisam estar a  serviço do desenvolvimento humano e não do mercado. Uma nova ética do consumo  deve rejeitar produtos decorrentes de práticas ecologicamente agressivas,  trabalho escravo e outras formas de  exploração.
      Enfim, que se faça uma  reavaliação completa do sistema atual de governança ambiental, hoje incapaz de  frear a catástrofe ecológica. Um novo sistema, democrático e participativo,  deve atacar as causas profundas da crise e ser capaz de apresentar soluções  reais que façam da Terra um lar promissor para as futuras gerações.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de  “O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade” (Agir), entre outros  livros.
www.freibetto.org <http://www.freibetto.org>  Twitter:@freibetto.

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– FREI BETTO –
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