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terça-feira, 6 de novembro de 2012

HILDEGARDA DE BINGEN: DOUTORA DA IGREJA

       
por MARIA CLARA BINGEMAN

 No último dia 7 de outubro, o  Papa Bento XVI proclamou doutora da Igreja uma extraordinária mulher:  Hildegarda de Bingen.  Alemã, nasceu em 1089 e morreu em 1179. Provinha  de uma família da pequena nobreza de Bermershein, que estava a serviço dos  condes de Sponheim. Desde muito pequena tinha visões extraordinárias e este  parece ter sido o principal motivo pelo qual seus pais a encaminharam à vida  religiosa. 

          Aos  oito anos de idade entrou  como oblata na abadia beneditina de  Disibodenberg, onde, em 1115, emitiu a profissão religiosa. Com a morte de  Jutta de Sponheim,  então magistra (mestra) do mosteiro, por volta de  1136, Hildegarda foi chamada a suceder-lhe. De saúde frágil, mas vigorosa no  espírito, comprometeu-se profundamente com uma renovação adequada da vida  religiosa. Era tal sua irradiação que trazia novas vocações ao mosteiro. Por  volta de 1150, fundou outro mosteiro na colina chamada Rupertsberg, nas  proximidades de Bingen, para onde se transferiu juntamente com vinte outras  irmãs. Em 1165,  instituiu outro em Eibingen, na margem oposta do Reno,  tendo sido  abadessa de  ambos.


          Personalidade  muito citada, mas de fato pouco conhecida pelo grande público moderno,  Hildegarda rompeu as barreiras dos preconceitos contra as mulheres e tornou-se  respeitada como autoridade em assuntos teológicos, louvada por seus  contemporâneos em altos termos. Atuou dentro do mosteiro, zelando pelo  progresso espiritual e a vida comunitária de suas irmãs, mas igualmente fora  dele.  Aí buscou fortalecer e propagar a fé cristã, enfrentando a heresia  cátara que crescia em sua época.  Seus escritos foram de grande  importância para a disciplina e a vida do clero de sua  época.

   Diferente das mulheres  de então, Hildegarda viajou para pregar em igrejas, catedrais e até mesmo em  praças públicas, primeiro autorizada pelo Papa Adriano IV e, posteriormente,  pelo Papa Alexandre III. Nos seus numerosos escritos, dedicou-se  exclusivamente a expor a revelação divina e a fazer conhecer Deus na limpidez  do seu amor. Esse conhecimento que transmitia, era fruto das numerosas visões  e graças místicas com que era dotada pelo próprio Deus.  A doutrina  hildegardiana é considerada eminente tanto pela profundidade e retidão das  suas interpretações, como pela originalidade das suas  visões.


          Para  ela, o universo era a resposta para as dúvidas da humanidade, e a humanidade  era a resposta para o enigma do universo. Mas, como ela escreveu, se a  humanidade não fizesse a pergunta, o Espírito Santo  não poderia  respondê-la. Por isso, acreditava na ciência e a praticava com rigor e  desvelo. Além de mística, teóloga e pregadora, foi poetisa e compositora  talentosa, deixando obra original de vulto. Também fez muitas observações da  natureza com uma objetividade científica até então desconhecida, especialmente  sobre as plantas medicinais, compilando-as em tratados onde abordou ainda  vários temas ligados à medicina e ofereceu métodos de tratamento para várias  doenças. Foi também compositora de música  sacra.


          A partir  de sua própria experiência de visões e conhecimento infuso, Hildegarda  transmite em sua doutrina a possibilidade real e autêntica do conhecimento de  Deus, considerando esta a tarefa fundamental da teologia. Embora Deus sempre  permanecerá mistério, pela fé o ser humano é capaz de aproximar-se dele e de  seu conhecimento. A criação desvela seu mistério, ao mesmo tempo em que não é  compreendida separadamente de Deus, já que a natureza só fornece informações  parciais, que devem ser plenificadas pela fé.
          Em sua  original antropologia, a monja, analisando o relato bíblico de Adão e Eva,  interpreta a causa do pecado original não na fraqueza e volubilidade de Eva,  como normalmente sói acontecer, mas na excessiva paixão de Adão em relação à  mulher que Deus lhe dera. E declara que a imitação de Cristo é a condição dada  a todo ser humano de viver uma vida plenamente virtuosa.  O Espírito  Santo será a garantia de que a existência humana pode e deve tornar-se  cristiforme.  


          Na Carta  Apostólica em que a declara doutora da Igreja, o Papa Bento XVI exalta as  virtudes e qualidades desta mulher que, segundo ele, “ tem um grande  significado para o mundo de hoje e uma extraordinária importância para as  mulheres. Em Hildegarda resultam expressos os valores mais nobres da  feminilidade: por isso também a presença da mulher na Igreja e na sociedade é  iluminada pela sua figura, tanto na ótica da pesquisa científica como na da  ação pastoral. A sua capacidade de falar a quantos estão distantes da fé e da  Igreja fazem de Hildegarda uma testemunha credível da nova evangelização.”  



Maria Clara Bingemer é autora de "A Argila e o  espírito - ensaios sobre  ética,   mística e poética" (Ed.  Garamond), entre outros livros.

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