por
Juracy Andrade
Ao longo da história da Igreja, nunca deixou
de haver santos e santas, independente de carimbos do Vaticano, realmente com
espírito cristão e seguidores fiéis da mensagem de Jesus Cristo. Mesmo nas
épocas mais tenebrosas para as comunidades cristãs, com papas imperadores e
bispos príncipes, que tinham seus exércitos e massacravam os inimigos, também
cristãos, em nome do Senhor. Se massacravam irmãos na fé, com muitos mais
entusiasmo investiam contra muçulmanos, nas infames Cruzadas, e tornavam muito
difícil a vidas das comunidades judaicas que habitavam em suas jurisdições. Como
hoje faz o governo sionista contra os palestinos, que não são culpados pelo
Holocausto. Sempre houve gente como Francisco de Assis, Vicente de Paulo, bem
lembrados da partilha do pão dos tempos apostólicos, indissoluvelmente ligada à
eucaristia. Uma não pode existir sem a outra e não dá para entender e aceitar
que, hoje, haja cristãos com fome e cristãos milionários; que se faça política
suja afirmando que é “democracia cristã”, como ocorreu por décadas na Itália;
que cristãos de bater no peito e comungar aceitem gostosamente uma disparidade
de renda imoral, como a que temos aqui no Brasil e por toda parte.
Quando eu estudava em Roma, vi a posse de uma
nova fornada de cardeais. Era inverno brabo e, nas periferias pobres e favelas
de Roma Gelsominas e Cabirias tiritavam de frio e fome. Enquanto isso, os
cardeais se afogavam em púrpuras e banquetes capitaneados pelo imperial Pio 12.
Estou só esperando para ver o Hermano Francisco acabar com essa incabível
instituição medieval que rouba o papel do Colégio Apostólico e do Sínodo dos
Bispos. Acredito que, em outubro, haverá grandes mudanças no Sínodo convocado
pelo papa, ao qual bispos do mundo inteiro comparecerão com os resultados de
uma pesquisa encomendada por ele a respeito de celibato, aborto e tantos outros
temas controversos.
A recente visita de Francisco à Terra Santa
nos mostrou claramente sua face de homem religioso e compassivo. Claro que suas
palavras e atitudes tiveram repercussões políticas, mas ele não foi ali para
apoiar a política sionista e estadunidense de fingir que está buscando a paz
com os palestinos enquanto vai ocupando cada vez mais espaços do que restou aos
árabes da Palestina. E o que ele disse, junto com seus gestos, foi no sentido
de uma paz ampla e definitiva, que nada tem em comum com a hipocrisia do
governo do Estado de Israel.
Faço aqui minhas algumas palavras do jornal Igreja Nova, que acompanho desde que o
Vaticano, aconselhado por dom Eugênio Sales, nos enviou para Olinda e Recife um
mau pastor que só causou escândalos ao povo de Deus:
“Desde João 23 não se via um pontificado tão
esperançoso para os caminhos da Igreja Católica como o do papa Francisco. João
23 foi um divisor de águas entre o Concílio de Trento (1535) e a Igreja atual
pós-Concílio Vaticano 2º (1962-65).
Materializando seu ideal de libertação, – ‘Abri as portas do Vaticano
para que os ventos da história soprassem a poeira do trono de Pedro’ – João 23
aproximou a Igreja da realidade do mundo numa renovação jamais vista.
Agora temos o papa Francisco, outro divisor
de águas, com um pastoreio tão surpreendente que desde a primeira hora de sua
sagração tem suscitado constantemente frases do tipo: ‘Viram o que o papa fez?’,
‘Leram o que o papa escreveu?’, ‘Este papa é demais!’. Enfim, Francisco nos
aparece como um bom pastor que conduz suas ovelhas com afeto, se preocupa com a
que se perdeu e é, para os cristãos comprometidos, um irmão até muito íntimo.
Que Deus o proteja!”.
E vamos esperar pelo Sínodo dos Bispos.
Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia
e teologia
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