O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

AVANÇO DEMOCRÁTICO

por Frei Betto

     A 26 de maio a presidente Dilma assinou o decreto que obriga todos os “órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta” a realizar “consulta pública” antes de qualquer decisão de interesse da “sociedade civil”.

     Essa medida, intitulada Política Nacional de Participação Social, vale para ministérios, autarquias e agências reguladoras, e visa, segundo o decreto, a “consolidar a participação social como método de governo” e aprimorar “a relação do governo federal com a sociedade”.

     Fruto das manifestações iniciadas em 2013, trata-se de um passo importante para aprimorar a democracia brasileira. Pena que seja colhido somente 11 anos depois de o PT chegar à presidência da República e às vésperas das eleições presidenciais.

     Hoje, o Planalto é praticamente refém do Congresso, onde a maioria dos parlamentares julga equivocadamente que os partidos devem ser os únicos interlocutores do Executivo.

     Lula tentou quebrar essa ponte exclusiva entre os dois poderes ao criar o Conselhão, do qual participavam representantes de todos os segmentos da sociedade brasileira. Com o tempo, tornou-se um espaço no qual apenas o empresariado tem voz, provocando a evasão dos líderes de movimentos sociais.

     Na gestão Dilma, o Conselho perdeu mais ainda seu caráter consultivo. Tornou-se um palanque obsequioso, no qual a presidente e seus ministros dão seus recados.

     Os movimentos sociais sempre se queixam da dificuldade de diálogo com o Executivo federal. Prova disso é que este foi pego de surpresa com as manifestações de junho de 2013.

     Deputados federais e senadores raramente mantêm consultas às suas bases eleitorais e, com frequência, exercem sua atividade pública em função de interesses privados.

     Agora, a PNPS introduz na estrutura do Estado um mecanismo de consulta popular. Como decisões de governo custam a passar do papel à prática, tomara que medida democrática como esta vença o cipoal burocrático.

     O que temos hoje no Brasil é uma democracia delegativa, pouco representativa e nada participativa. A “representatividade” se reduz, de fato, a lobbies corporativos, como os das armas e do latifúndio.

A maioria dos eleitores, por força do poder econômico, como campanhas financiadas por empresas, acaba votando em candidatos e não em propostas, o que é uma forma moderna de voto de cabresto.

O PNPS pode ajudar a quebrar esse ciclo vicioso e tornar nossa democracia mais participativa.

 Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

 http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.
Você acaba de ler este artigo de Frei Betto e poderá receber todos os textos escritos por ele - em português, espanhol ou inglês - mediante assinatura anual via mhgpal@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário