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quarta-feira, 9 de julho de 2014

EQUIVOCADO SIONISMO “CRISTÃO” CONTRA CRISTÃOS PALESTINOS

por    J u r a c y   A n d r a d e


Há entre muitos protestantes uma interpretação de profecias do Antigo Testamento, segundo a qual o retorno dos judeus à Terra Santa ou Palestina está conforme os desígnios de Deus, que trata seu povo eleito como a pupila dos olhos. Para esses cristãos, o estabelecimento do Estado de Israel com uma extensão geográfica bíblica e a restauração do Templo de Jerusalém são condições exigidas para a volta de Cristo. Uma interpretação bem duvidosa que mistura e confunde o direito de os judeus terem uma pátria com a política de limpeza étnica do Estado e governo de Israel. Aos que adotam essa interpretação dá-se o nome de sionistas cristãos.

Na edição de junho da excelente revista protestante Ultimato, editada pelo pastor Elben Lenz César, há um artigo esclarecedor sobre este tema assinado por Marcos Amado, missionário e diretor para a América Latina do Movimento de Lausanne. Mas, sionista cristão? Como, se o sionismo é um movimento judaico? Seu objetivo é o retorno do povo judeu à antiga pátria aonde fora conduzido por Moisés saindo do cativeiro no Egito faraônico; e a restauração ali da soberania judaica. O sionismo dito cristão nasceu desse equívoco e só fez aumentar a aversão, frequentemente ódio mesmo, dos palestinos e outros muçulmanos contra os cristãos, o que vem desde as Cruzadas, o primeiro ímpeto colonialista europeu contra o Oriente Médio. É bom lembrar que a igreja cristã da Palestina vem dos tempos apostólicos; hoje é pequena, mas já foi grande.

Então, esse sionismo” cristão” trabalha contra os cristãos palestinos. E convém lembrar também que, quando o Estado de Israel foi criado, logo depois da 2ª Guerra Mundial, os judeus sionistas atacaram e destruíram indiscriminadamente aldeias e propriedades de palestinos muçulmanos e cristãos (que ali viviam milenarmente), destruindo suas casas; o que criou, até hoje, uma diáspora palestina espalhada pelo Oriente Médio e por vários outros países. Como escreve o historiador Ilan Pappe, a coisa foi bem planejada e incluiu sionistas considerados de esquerda como Iytzhak Rabin, Shimon Peres, Golda Meir, entre outros. Em seu livro The ethnic cleansing of Palestine (Limpeza étnica da Palestina), Pappe descreve as reuniões preparatórias a esse esbulho, com locais, datas e nomes de participantes. Ele é insuspeito de antissemitismo pois é judeu, além de cidadão israelense. 

A consequência do sionismo “cristão”, escreve Amado, é o apoio incondicional de milhões de protestantes ocidentais a praticamente todas as decisões e ações políticas do governo israelense. Inclusive a quebra dos Acordos de Oslo, que, entre outros avanços, abriam caminho para a criação, afinal, de um Estado da Palestina sem as centenas de colônias judaicas implantadas desde então. Ações desastradas da Autoridade Nacional Palestina também contribuíram para facilitar a ação sionista.

Numa interpretação literal e descontextualizada da Bíblia, esses cristãos veem o Estado de Israel e seu governo como o representante do “povo de Deus”. Assim, afirma Amado que cristãos sionistas do mundo todo enviam milhões de dólares a Israel para sustentar a implantação de assentamentos judaicos no que restou de terra palestina, considerados ilegais pela ONU, mas mantidos e ampliados com o apoio dos Estados Unidos. Além disso, fazem lóbi junto a seus governos para que aceitem sem protesto a repressão do governo israelense contra os árabes palestinos; muçulmanos e também cristãos, como vimos. É uma nova Cruzada, apesar dos tristes resultados daquelas da Idade Média. Uma Cruzada que chega a apoiar grupos ortodoxos radicais judeus para a reconstrução do Templo de Jerusalém, o que só poderia ser feito com a destruição da Mesquita de Omar e do Domo da Rocha. Podemos imaginar os resultados de uma empreitada desse tipo.

E terminando, vamos saudar mais um acerto pastoral do Hermano Francisco que, ao visitar recentemente a Terra Santa de cristãos, judeus e muçulmanos, não compactuou com o establishment sionista e pregou a paz a harmonia entre todos. Em seguida, convidou a Roma os presidentes de Israel , Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que se reuniram com o papa, oraram, plantaram uma oliveira nos jardins do Vaticano e se abraçaram. Que os gestos de Francisco deem frutos.


Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia

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