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terça-feira, 9 de agosto de 2016

PARA QUE OUTRO MUNDO SEJA POSSÍVEL


Por Marcelo Barros


As Olimpíadas do Rio de Janeiro acontecem sob fortes medidas de segurança. De fato, recentemente têm ocorrido mais atentados terroristas. Assim, os impérios atuais que provocam a violência e os grupos terroristas que as disseminam já conseguiram essa vitória: criar uma situação de medo e insegurança. Depois do que ocorreu em Nice, França, qualquer pessoa pode ter medo de ir a lugares de grande concentração pública. Governos e empresas desse sistema apregoam medidas de segurança. Enquanto, nos aeroportos, os passageiros comuns são massacrados por controles mais rígidos, em países como os Estados Unidos, as armas continuam a ser vendidas livremente e policiais seguem a rotina de matar negros e torturar pobres. Na América Latina, as embaixadas norte-americanas continuam a patrocinar golpes e financiar políticos dispostos a venderem o país ao império, como se isso nada tivesse a ver com o terrorismo que os mesmos governos dizem combater.

Nessa realidade de um mundo doente e fragmentado, grande parte da humanidade, mais consciente, continua a busca de outras formas de organizar o mundo. Nessa semana, de 08 a 14 de agosto, acontecerá mais um Fórum Social Mundial. Esse encontro fraterno da sociedade civil internacional espera reunir mais de cem mil pessoas. Pela primeira vez se dará em um país rico do norte do mundo. Ocorrerá em Montreal, no Canadá. Em 2001, em Porto Alegre, pela primeira vez, milhares de pessoas comuns gritaram: "Um outro mundo é possível". Agora, quinze anos depois, o mesmo grito se ouvirá em um contexto social e cultural diferente.

As  pessoas que, nessa semana, se encontram em Montreal, sabem que o mundo precisa mudar. No entanto, tanto as pessoas que, como cidadãos do mundo, vêm a esse fórum social, como os governantes dos países ricos sabem que o pior problema do mundo atual não é o terrorismo. Por mais terrível que seja a chaga do terror, a ameaça mais grave à humanidade é a crise ecológica que atenta contra a vida de todo o planeta. Sabem também que essa crise é provocada pelo sistema econômico e social, patrocinado não pelos grupos terroristas e sim pelos governos, empresas e meios de comunicação que dominam o mundo.

No Fórum Social Mundial, as pessoas reunidas escutam as vozes dos povos indígenas. Acolhem a proposta que os índios estão fazendo à humanidade de organizar a vida não visando o lucro, a competição e a dominação da natureza, mas o Bem-viver individual e coletivo, na convivência amorosa com a Terra e todo o sistema de vida no planeta. Ali escutarão o povo zulu, vindo da África (Quênia), repetir: Ubuntu! termo sagrado que significa: "Eu sou porque você é. Se você não for, eu não posso ser".

A proposta dos fóruns sociais mundiais para a humanidade é a de revalorizar a sacralidade da vida, tanto a humana, como a de todos os seres vivos. Isso significa buscar entre nós a colaboração e não a competição, organizar a sociedade em redes e relações mais horizontais e não a hierarquia e as desigualdades entre as pessoas. Para isso, precisamos mudar nosso modo de ser e de viver para saciar em nós e nos outros as três sedes fundamentais que estão no mais íntimo de toda pessoa humana:

1 - a sede de sentido para a vida e mesmo a vida cotidiana.
2 - a sede de relações mais verdadeiras e afetuosas.
3 - a sede do mistério mais profundo que as religiões chamam de Deus e que todos chamam de Amor.


 Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países. 

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