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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

IGREJA NOVA: BONS PRESENTES, MUITOS, PARA O POVO DE DEUS


 Por Juracy Andrade


Taí um jubileu que não deve passar em branco, o do Grupo Igreja Nova e de seu jornal Igreja Nova. Há 25 anos, com a saída compulsória de Dom Helder do pastoreio desta arquidiocese de Olinda e Recife, chegava por aqui Dom José Cardoso, como quem não queria nada, mas determinado e comissionado para o desmonte de tudo quanto aqui havia sido montado para implementar os caminhos abertos pelo Concílio dos anos 1960. O que inclui as pastorais, o movimento Justiça e Paz, a vinda para cá de padres atraídos pelo carisma e o ecumenismo do nosso inesquecível pastor, enfim a opção preferencial pelos pobres no amplo e generoso contexto da Teologia da Libertação. O então cardeal-arcebispo do Rio, Dom Eugênio Sales, que se dizia xerox do papa e vivia numa Igreja medieval, trouxera de Roma (ele mandava no Vaticano) aquele professor de direito canônico (será que Dom Dedé, como era conhecido em Caruaru, sabia oura coisa?) e aconselhara o papa João Paulo 2º a colocá-lo numa obscura diocese daquele Grande Sertão de Guimarães Rosa, enquanto aguardavam a saída de Dom Helder.

Na época eu trabalhava no Jornal do Commercio e logo aproveitei o espaço que me era concedido nas páginas de opinião (até hoje escrevo, mas agora só uma vez por mês) para iniciar uma série de artigos tratando do tema geral “Desmonte eclesiástico”. Durante algumas semanas, pude fazê-lo, mas logo o intolerante arcebispo procurou enquadrar-me pedindo ao sr. João Carlos Paes Mendonça a minha demissão. Padre Edvaldo, pároco de Casa Forte, que conhecia o presidente do jornal, trabalhou para contornar a situação. Lembro a vocês que Padre Edvaldo ganhou há pouco uma biografia, escrita a quatro mãos por ele e minha amiga a jornalista Vera Ferraz.

Aquela série de artigos me aproximou daqueles cristãos e grupos organizados que não aceitavam o direito canônico como substituto do Evangelho. Foi quando conheci o Igreja Nova, os Trapeiros de Emaús, padre Edvaldo, que, como pároco (popularmente vigário colado, que só pode ser descolado com processo canônico), podia se contrapor a alguns desmandos de Dom José Cardoso sem ser imediatamente enxotado da arquidiocese, como tantos foram. Mais tarde, o jurista (e cadê o Evangelho?) tentou atingi-lo por ter concelebrado missa com um bispo da Igreja Episcopal, que é a Igreja da Inglaterra, quase tão antiga quanto a Romana.

Dom Helder, que não tinha nada de ingênuo, já havia previsto que “Quem deseja viver o Concílio prepare-se para enfrentar desertos”. E bote deserto nisso. O paladino de dom Eugênio, sempre se escondendo por trás do Vaticano, é responsável pelo fechamento do Instituto de Teologia do Recife (Iter), do Seminário Regional do Nordeste, instituições engajadas com o Concílio e que procuravam formar padres muito além dos moldes tridentinos, aqueles fixados pelo Concílio de Trento no longínquo século 16. O Iter também aceitava como alunos freiras e leigos/as.

Acusei-o, em artigo na revista Algomais, de praticar uma “pastoral imobiliária”: torrar bens da arquidiocese e apossar-se de bens de paróquias. Ninguém sabe pra onde foi o dinheiro. Sua “tesoureira” era uma irmã dele que, ao que consta, teria sido expulsa de um convento. “E não me perguntes mais”, como naquele bolero que fala também da “ponta de um torturante band-aid no calcanhar” Seu sucessor, dom Fernando Saburido, um homem de Deus, cala a respeito por imposição do direito canônico. Sempre o direito. Cadê o Evangelho? O arcebispo me processou pela Lei de Imprensa, mas não deu em nada.

Destaco o trabalho do Grupo Igreja Nova e do seu jornal nos caminhos do Concílio, como a fraternidade e reuniões de seus membros, as 13 Jornadas Teológicas de 1998 a 2010, entre tantas outras realizações. Muitos amigos e pessoas ligadas ao grupo se manifestaram com júbilo na passagem deste jubileu (jubileu rima com júbilo). Destaco padre João Pubben, missionário por longos anos no Brasil, inclusive entre os pobres de Dois Unidos, e que, infelizmente, teve de voltar à sua Holanda natal por motivo de saúde. Eis o que ele disse: “Apresenta-se, após 25 anos, a pergunta ‘O que o Igreja Nova significou em sua caminhada?’ Considero  ponto alto das sementes jogadas ao chão a concretização das 13 Jornadas Teológicas Dom Helder Câmara [...]. Foram ocasiões privilegiadas e valiosas em que palestrantes especiais orientaram, guiaram, enriqueceram e animaram um número bastante grande de pessoas de boa vontade para viver mais e melhor a Boa Nova na realidade nua e crua de cada dia. Penso que esta oferta do Igreja Nova foi seu melhor presente ao povo de Deus”.

PS – Dia 11 deste mês às 10h, no Espaço Dom Lamartine da Igreja das Fronteiras, será lançada a 13ª edição do Calendário do IDHeC, com fotos e frases de Dom Helder.



O autor é jornalista com formação em filosofia e teologia

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