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terça-feira, 21 de novembro de 2017

DOS POBRES VEM A SALVAÇÃO



Por Marcelo Barros

No domingo passado, em Roma, o papa Francisco encerrou uma Semana especial de comunhão e solidariedade com os pobres para cumprir a proposta de, a cada ano, no domingo anterior à festa de Cristo Rei, todas as comunidades católicas celebrarem "o dia mundial dos pobres". Nesse ano, o tema escolhido para a reflexão foi a palavra da carta de João: "Não amemos somente com palavras...".

Mesmo dentro da Igreja, grupos tradicionalistas acusam o papa de "pauperismo", uma preocupação exagerada com os pobres que, em si, a Igreja sempre ajudou, mas não deveria fazer disso seu único discurso. Mesmo consciente dessas críticas, o papa Francisco se mantém fiel à sua opção profética de lembrar ao mundo que o único caminho para a paz é a solidariedade e a superação do egoísmo e desumanidade de uma sociedade dominante que só visa o lucro. Na sua carta sobre a alegria do evangelho, ele escreveu: "Às vezes, sentimos a tentação de ser cristãos mantendo uma distância prudente das chagas do Senhor. Jesus quer que toquemos na miséria humana, na carne sofredora das pessoas. Ele espera que renunciemos à tendência de ficar distantes dos dramas humanos. Devemos nos manter ligados à vida dos outros. Assim, conheceremos a força da ternura. Ao fazermos isso, a vida se complica, mas é maravilhoso e vivemos a experiência de ser povo" (EG 270). 
Aos cristãos que se perguntam se isso seria missão de uma comunidade cristã, o papa responde: "A Igreja é a única sociedade que existe para aqueles que não fazem parte dela". É o que ele chama de "Igreja em saída" (E G 24).

Nesses dias, o comitê internacional que prepara o próximo Fórum Social Mundial confirma: A forma de organizar o mundo a partir do Capitalismo e da competição está fracassando. A concentração da riqueza nas mãos de apenas sessenta ricos do mundo, o desemprego estrutural provocado por esse modelo de desenvolvimento e a destruição da Terra e da natureza determinam um aumento da insegurança que toma conta das cidades. Isso põe em risco o futuro do planeta e da vida sobre a terra.

No Brasil, o governo e o congresso  nos fazem retroceder às leis existentes antes da abolição da escravatura. Os meios de comunicação social repetem mentiras sobre a necessidade da reforma da previdência. As privatizações a entrega das riquezas nacionais nas mãos do Império e das empresas multinacionais se multiplicam. Diante de tudo isso, os movimentos sociais e as comunidades de base resistem insistindo: "Nenhum direito a menos". 

Mesmo sendo vítimas de uma cada vez maior escalada de violências, os povos indígenas propõem para toda a humanidade um caminho novo: reorganizar as sociedades a partir do paradigma do Bem-viver. Nos morros cariocas e nas periferias de nossas cidades, jovens formam grupos musicais de reggae e hip-hop e criam um ambiente de solidariedade e uma cultura de resistência. Mesmo em meio a riscos de vida e a um ambiente de muita violência, esses grupos alternativos revelam que o amor é possível e, mesmo depois de todos os perigos, as luzes se acendem na madrugada do mundo. Essas pessoas e seus grupos escutam ainda hoje aquilo que, conforme o evangelho, Jesus disse aos discípulos. Após lavar os seus pés, Jesus afirmou: "Vocês serão felizes se fizerdes uns com os outros isso mesmo que eu fiz a vocês: abaixar-se diante dos outros e os servir" (Cf. Jo 13, 17).

Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26 livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.br

  

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