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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

BURGUESIA NA CONTRA-MÃO DA HISTÓRIA

 



Prof. Martinho Condini

 

Lá nos idos de 1964, a burguesia saiu às ruas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, foram manifestações públicas ocorridas entre março e junho de 1964 no Brasil, apoiadas por militares, latifundiários, empresários, ala conservadora da igreja católica e a classe burguesa dos grandes centros urbanos do país. Esses setores achavam que havia uma ameaça comunista representada pelas ações dos grupos de esquerda que apoiaram a fala do então presidente João Goulart em 13 de março daquele mesmo ano, quando Jango mencionou  a necessidade da realização de uma reforma agrária no país. Tivemos então o golpe militar de 1964, onde por vinte um anos os militares governaram esse país com mão de ferro, onde a democracia e a liberdade de expressão deram lugar a tortura, a censura e a perseguição política àqueles que se opunham ao regime ditatorial imposto à sociedade pelos militares. Foram anos muitos difíceis. E durante esses vinte e um anos essa burguesia sobre as botas dos generais, não enxergavam o que estava ocorrendo no país, só tinham olhos para as suas preocupações mundanas, qualquer informação que não os agradavam era coisa de “subversivos” e em sua maioria liam o mundo através da lente do JN e da fala do jornalista e parlamentar chapa branca Amaral Neto defensor da pena de morte.

Ao final dos anos setenta com a “lei da anistia”, somado a crise econômica ainda em conseqüência da crise do petróleo de 1973, as greves dos metalúrgicos no ABC paulista, essa mesma burguesia entra no novo embalo e vai para as ruas junto com a classe trabalhadora, grupos de esquerda e estudantes pedir o fim da ditadura e eleições diretas para presidente da república. Os mesmo que há vinte um anos apoiaram o famigerado golpe militar,  agora mudaram de lado. Mudança de postura ideológica, claro que não, mais uma vez colocam os seus interesses acima de qualquer outra coisa, sem se importar a quem estão apoiando, mas sim preocupados em saber quem irá garantir a manutenção dos seus privilégios. 

Chegamos em mil novecentos e oitenta quatro e as “Diretas já” não foi aprovada, mas um ano depois, foi eleito pelo congresso o primeiro presidente civil após vinte e cinco anos, Tancredo Neves. Mas quem assumiu foi o seu vice, um filhote histórico da ditadura José Sarney. A burguesia dá o seu apoio inconteste. E a partir desse período chamado de nova república a hiper inflação e a insegurança econômica marcaram inicio da nossa redemocratização.

No processo eleitoral de mil novecentos e oitenta e nove, essa burguesia nacional apóia um candidato que se dizia “Caçador de Marajás” e que iria transformar a economia brasileira, primeiramente acabando com os altos números inflacionários. Enquanto grande parte da classe trabalhadora, apoiava uma das principais lideranças sindicais e políticas do país desde o início dos anos oitenta, o metalúrgico Lula.

A burguesia afirmava que se o ex-metalúrgico vencesse as eleições o Brasil daria uma radical guinada ao socialismo.

O “caçador de marajás” venceu as eleições e uma das primeiras medidas foi confiscar a poupança de milhões de trabalhadores brasileiros, ou seja, mais uma vez a burguesia se fez presente e colaborativa nesse processo, só que agora com o seu dinheiro confiscado. Em 1992 o “caçador de marajás” sofre um impeachment por corrupção.

Em 1994, Itamar Franco , presidente do Brasil, afim de resolver o problema de hiper inflação no país nomeia Fernando Henrique Cardoso ministro da economia por um ano, sendo um dos responsáveis pela implantação do plano real, que trouxe uma estabilidade econômica ao país e elegeu Fernando Henrique Cardoso presidente do Brasil por dois mandatos consecutivos. De mil novecentos e noventa e cinco até dois mil e dois, a burguesia apóia um governo que foi marcado pela privataria e diminuição da participação do Estado na economia, medidas essas que agradava aos interesses burgueses.

Após o período dos governos de Luiz Inácio da Silva e Dilma Roussef, mais de 40 milhões de pessoas saíram da condição de miseráveis, o Brasil deu um salto de desenvolvimento econômico e social nunca visto em nossa história. Milhares de jovens tiveram acesso ao ensino superior algo nunca acontecido nesse país. É claro que passamos longe de estar nos tornando um país desenvolvido, mas tínhamos um caminho, caminho este que se tornou tortuoso em função de escândalos de corrupção por parte da classe política atrelados a grandes empreiteiros e doleiros neste país.

Isso culminou com um golpe político que impediu que a presidenta Dilma Roussef terminasse o seu mandato. É claro que o processo de impedimento também teve apoio maciço da burguesia.

Chegamos em 2018 e a burguesia teve papel importante na vitória do paraquedista Jair Bolsonaro para a presidência da república. Afinal de contas se encantaram, com o candidato conservador, cristão e defensor da família e dos bons costumes, que tinha como lema de campanha “acabar com a corrupção no Brasil e com a velha política”. Após vinte meses de mandato acredito que a burguesia já conseguiu perceber quem ela ajudou a colocar no poder. Um desqualificado que faz um desgoverno, que até agora não teve uma atitude que merecesse um voto de confiança daqueles que o elegeram. A corrupção e a velha política estão ai mais forte do que nunca. E a pandemia demonstrou o quanto esse paraquedista está longe de ser um estadista na melhor concepção da palavra. Já temos mais de cento vinte e dois mil mortos. Diante desse quadro, nos resta aguardar, para ver o que a burguesia irá aprontar nas eleições de 2022?           

 

 O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com

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