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domingo, 1 de maio de 2022

LEMBRANÇAS E BANDEIRAS

 


Marcelo Mário de Melo


 

Tremulam as bandeiras da lembrança.

 

Os estudantes de direito carregando a bandeira de Demócrito de Souza Filho nas passeatas e a levantando, frente aos pelotões da polícia do governo de Cid Sampaio e das tropas do Exército, quando foram expulsos a coronhadas da Faculdade, por ordem do presidente Jânio Quadros, em 1961, durante o movimento nacional que reivindicava a representação estudantil de 1/3 nos conselhos universitários.

 

Na tarde de 1º de abril de 1964, depois de uma assembléia na Escola de Engenharia, ainda funcionando na R. do Hospício, seguíamos em passeata para o Palácio das Princesas, no intento de defender o Governo de Miguel Arraes.

 

Carregando a bandeira brasileira e cantando o hino nacional, formos atingidos por tiros de fuzil, restando mortos os estudantes comunistas Jonas Barros, do Ginásio Pernambucano, e Ivan Aguiar, aprovado no vestibular para Engenharia, e que não chegou a iniciar o curso. Passando por diversas mãos,  restou caída e manchada de sangue, a bandeira brasileira.

 

Em 1964, quando os militares quiseram fazer com o governador Miguel Arraes uma negociata política em troca da sua liberdade, ele lhes respondeu que tinha sido eleito pelo povo e não reconhecia neles autoridade para lhes dar ordens de governo, que tinha nove filhos e, um dia, queria poder lhes contar essa história olhando nos olhos. O governador Miguel Arraes foi coerente com as suas bandeiras e fiel aos seus compromissos com o povo. Os militares o levaram para a prisão em Fernando de Noronha.

 

Quando o Coronel Ibiapina, em 1964, disse na porta da cela do menino David Capistrano Filho, com 16 anos, que a culpa da sua situação era do seu pai, um comunista irresponsável, teve a resposta de que o seu pai era um homem sério e honesto, e ele é que era um golpista. O coronel mandou retirar o colchão de David e o transferiu para o juizado de menores, onde passou três meses, preso entre meninos infratores.

 

Naquele momento histórico, um homem maduro, governador de estado, pai de dez filhos, e um menino, estudante de colégio, foram fieis às bandeiras do povo. mostrando que coerência não tem idade. E também que as bandeiras podem e devem passar de pai para filho, de avô para neto.

 

As conjunturas mudam e há necessidade de se atualizarem estratégias, táticas e formas de luta no processo de mobilização por liberdade, democracia e mudança social. Mas é fundamental que isto ocorra sob a base de uma linha de coerência e continuidade histórica em matéria de campos e objetivos centrais.

 

Acima e além dos interesses de facções e da promoção de grupos ou personalidades, a ampliação dos espaços para as camadas populares, nos dispositivos legais, nas políticas públicas e nas representações políticas formais e informais, deve fundamentar o critério de avaliação. Aí está a substância da simbologia das bandeiras.

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