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terça-feira, 11 de outubro de 2022

Refundar a Política

 Marcelo Barros


 

No mundo inteiro, cresce o número de pessoas e grupos que sentem a necessidade de restituir à Política um espírito e modo de atuar que parecem esquecidos ou desvalorizados. No Brasil, as pastorais sociais ligadas à Igreja Católica e a algumas confissões evangélicas desenvolveram o projeto “Reencantar a Política”. Isso significa aprofundar a ação política como caminho de participação de toda sociedade na construção do bem comum. A Política parlamentar e representativa supõe um trabalho político de base que vai suscitando uma Política participativa e, o quanto possível, mais direta.

Na Itália, no início de setembro, na Città di Castelo, um congresso de organizações sociais tinha como tema: “A urgência da Política”. Apesar disso, no domingo, 25 de setembro, o povo italiano elegeu como governo uma coalizão de direita, populista e com ideias neofascistas, que apontam no sentido contrário.  

No Brasil, as eleições nacionais de 2 de outubro, mais do que apenas representar a escolha de candidatos, revela que a maioria do povo sente a necessidade de retomar a dignidade da Política, como campo no qual pessoas e grupos das mais diferentes correntes sociais debatem com liberdade e respeito ao diferente sobre a construção de uma pátria comum que cuide da mãe Terra e promova a justiça eco-social, a mais integral possível.

Neste caminho, a Política se exerce como em duas dimensões:

A mais imediata é restabelecer a humanização da convivência política na pluralidade de partidos e de tendências humanas, sem demonizar o diferente. Isso supõe o embate entre propostas e projetos políticos, nos quais dos dois lados, as pessoas respeitem a Ética e o caráter laical da sociedade, sem dar lugar ao ódio, à intolerância e desumanização do outro.

Ao mesmo tempo que a Política é a arte de construir o que é possível nas condições atuais, ela tem como vocação apontar para a ousadia de promover a justiça eco-social, baseada em maior igualdade entre as pessoas e o respeito aos direitos individuais e comunitários de toda pessoa humana e dos povos como sujeitos coletivos.  Essa Política com P maiúsculo é a grande Política que traduz mais profundamente a solidariedade que, como Pedro Casaldáliga dizia, expressa a ternura no nível coletivo e comunitário. Este patamar da Política abre a porta para outro horizonte que responde à vocação humana de construir a utopia.

Cada vez mais cresce o número de pessoas que, fieis aos diversos caminhos da espiritualidade descobrem que a fé se vive na adesão ao projeto que Deus revelou na Bíblia e em outros livros sagrados. Trata-se de construir um mundo de Paz, Justiça e Amor. Nos evangelhos, Jesus propõe que peçamos a Deus que “o seu reino venha” e nos encarrega de sermos testemunhas do reinado divino na construção social e política de um mundo novo possível. Que nossa inserção na Política seja expressão dessa esperança maior.

 

 

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